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Atividades realizadas no tempo livre e tipo de deslocamento para a 

escola: um estudo com escolares do município de Santa Cruz do Sul, RS

Actividades realizadas en el tiempo libre y forma de desplazamiento a la escuela:
un estudio con escolares del municipio de Santa Cruz do Sul, RS

 

*Acadêmica do Curso de Educação Física

da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC)

**Farmacêutica. Mestranda em Promoção da Saúde

da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC)

***Farmacêutica

****Docente do Departamento de Educação Física e Saúde

e Coordenadora do Mestrado em Promoção da Saúde

da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC)

Doutora em Ciências da Educação e Doutora

em Ciências da Motricidade Humana

Letícia Borfe*

lborfe@unisc.br

Cézane Priscila Reuter**

cpreuter@hotmail.com

Francielle Pasqualotti Meinhardt***

fran2403@hotmail.com

Miria Suzana Burgos****

mburgos@unisc.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo deste estudo, de caráter descritivo-exploratório, é identificar, descrever e associar a forma de deslocamento até a escola e as atividades mais praticadas no tempo livre dos alunos de escolas públicas e particulares de Santa Cruz do Sul. A pesquisa envolveu 276 escolares, sendo 118 do sexo feminino e 158 do sexo masculino. Para a coleta dos dados foi utilizado o questionário Estilo de Vida, Saúde e Bem-Estar, adaptado de Barros e Nahas (2003). Como resultado deste estudo, constatou-se que entre as atividades mais realizadas pelos escolares masculinos, no seu tempo livre (lazer), está o futebol (27,6%), andar de bicicleta (12,7%) e olhar TV (12,7%). Entre as meninas, destaca-se o olhar TV (14,6%) e brincar/brincadeiras (13,7%). Quanto ao deslocamento passivo/ativo para a escola, não obteve-se diferenças notórias em relação ao sexo ou a idade dos escolares, porém observa-se que o deslocamento ativo foi mais relevante em estudantes da periferia, zona rural e centro, respectivamente. Desta forma, conclui-se que os sujeitos das escolas públicas da zona rural e periferia da cidade de Santa Cruz do Sul apresentaram um estilo de vida mais ativo em seu tempo de lazer e que os escolares da escola privada possuem um estilo de vida mais sedentário na análise das atividades realizadas no tempo livre e também no deslocamento diário à escola.

          Unitermos: Escola. Tempo livre. Deslocamento.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 163, Diciembre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O lazer caracteriza-se pelo tempo em que há ausência de obrigações e deveres profissionais, familiares, religiosos ou outros. Em conseqüência disso, pode-se caracterizá-lo como espaço para atividades lúdicas, prazerosas, vinculadas à satisfação pessoal, atividades que expressam a cultura de um grupo ou sociedade (MELO; ALVES JÚNIOR, 2003).

    Sedentarismo no lazer pode ser identificado como a não participação em atividades físicas nos momentos de lazer, considerando atividade física como qualquer movimento corporal produzido pela musculatura esquelética que resulte em gasto energético (PITANGA; LESSA, 2005).

    Para Nahas (2003), a adoção de um estilo de vida ativo passou a ser essencial para a redução da mortalidade e a promoção da saúde, entretanto, apesar dos grandes avanços e do desenvolvimento da saúde pública, nas ultimas décadas, grande parte dos riscos ainda estão atrelados ao comportamento individual e afetam de forma negativa a qualidade de vida. Peres et al. (2005) afirmam que atividades de lazer e culturais também podem influenciar o processo saúde/doença.

    Saúde significa bem-estar e qualidade de vida, e não simplesmente ausência de doença. Proporcionar saúde significa, além de evitar doenças e prolongar a vida, assegurar meios e situações que ampliem a qualidade da vida "vivida", e o lazer é uma forma de conseguirmos isso, desde que bem aproveitado. O lazer é a vivência do tempo livre, por decisão autônoma, com atividades de entretenimento geradas por atitudes e valores pessoais (BURGOS; BIGUELINI; MACHADO, 2002).

    A inatividade física resulta em maior custo econômico para o indivíduo, família e sociedade. O sedentarismo, em crianças e adolescentes, é considerado um problema de saúde pública devido à sua associação com a obesidade na infância e maior morbidade na idade adulta (FONSECA; SICHIERI; VEIGA, 1998). As crianças tornaram-se menos ativas nas últimas décadas, incentivadas pelos avanços tecnológicos. Tem-se constatado uma relação positiva entre o tempo gasto assistindo televisão e o aumento da gordura corporal em escolares (PINHO; PETROSKI, 1999).

    O tipo de deslocamento diário de crianças até a escola pode contribuir para um estilo de vida ativo ou passivo. Em estudo realizado em Pelotas, região sul do Brasil, 72,8% dos adolescentes utilizavam a caminhada ou a bicicleta como meio de transporte ativo para ir à escola (HALLAL et al., 2006). Mas, apesar de evidências mostrarem que mudanças em simples hábitos diários, como caminhar de casa até a escola, influenciam positivamente nos hábitos de vida das crianças, é comum vermos um elevado número de pais levarem os filhos à escola de automóvel.

    Esta pesquisa tem como objetivo geral descrever e associar a forma de deslocamento até a escola e as atividades mais praticadas no tempo livre dos alunos de escolas públicas e particulares de Santa Cruz do Sul - RS.

Método

    Constituem-se sujeitos do presente estudo transversal, 276 escolares, de ambos os sexos, crianças e adolescentes com idades entre 7 e 15 anos, sendo 118 (42,8%) do sexo feminino e 158 (57,2%) do sexo masculino, pertencentes a 3 escolas, uma particular, situada em bairro nobre da cidade e 2 escolas públicas, uma situada na periferia e outra em zona rural do município de Santa Cruz do Sul - RS.

    Para a coleta dos dados, foi utilizado o questionário Estilo de Vida, Saúde e Bem-estar-criança/adolescente, adaptado de Barros e Nahas (2003). O presente estudo foi previamente encaminhado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Santa Cruz do Sul, sob protocolo nº 4.913/07 e ofício nº 261/07. Os pais ou responsáveis pelos escolares avaliados assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, autorizando a participação dos sujeitos na pesquisa.

    Para a análise dos dados, foi utilizada a estatística descritiva (frequência e percentual), através do programa SPSS v. 18.0.

Resultados

    Na tabela 1, são apresentadas as atividades mais realizadas pelos escolares do sexo masculino no seu tempo livre (lazer). De maneira geral, as atividades mais praticadas são jogar futebol (27,6%) em primeiro lugar, seguido por olhar TV (12,7%) e andar de bicicleta/patins/skate (12,7%).

    Na região da periferia, a atividade mais praticada pelos estudantes é o futebol (32%), empatadas com o mesmo percentual estão às atividades de andar de bicicleta/patins/skate e olhar TV (12%). No interior, destaca-se também como atividade mais praticada o futebol (30,6%), seguido de andar de bicicleta/patins/skate (19,1%) e olhar TV, em terceiro lugar (13,5%). Na região central, a atividade que se destaca, em primeiro lugar, é o futebol (20,5%), seguido de usar o computador/internet (15,4%) e olhar TV (12,9%).

    Os resultados obtidos neste estudo demonstram que, em relação às principais atividades praticadas no tempo livre dos escolares, é possível afirmar que, entre o sexo masculino, a região do centro demonstrou ser menos ativa que as regiões da periferia e do interior da cidade, tendo práticas mais relevantes no tempo de lazer, atividades passivas como usar o computador/internet e olhar TV. Já os escolares da periferia e da zona rural demonstram ser mais ativos, pois afirmam que em seu tempo livre preferem atividades como jogar futebol e andar de bicicleta/patins/skate.

    É notório que os meninos dão mais ênfase às atividades esportivas se comparado às respostas fornecidas pelas meninas, corroborando os resultados obtidos na pesquisa realizada com jovens das cidades de Piraquara e Araucária (CAVICHIOLLI et al., 2006).

Tabela 1. Atividades realizadas no tempo livre (lazer)* - Meninos

    A tabela 2 mostra as atividades mais praticadas pelos escolares do sexo feminino no seu tempo livre (lazer). De maneira geral, a atividade mais praticada é o olhar TV (14,6%), seguido de brincar/brincadeiras (13,7%) como pular corda, pega-pega, caçador e em terceiro lugar outras atividades (13,1%), onde estão associadas atividades diversas como escutar música, dançar, realizar atividades domésticas, entre outras.

    Na região da periferia, as atividades mais praticadas pelas meninas é o futebol (20,2%), brincar/brincadeiras (19,1%) e com igual percentual segue o olhar TV e jogar vôlei (12,8%). No interior, a atividade predominante é jogar futebol (18,5%), outras atividades (15,5%) e andar de bicicleta/patins/skate (16,6%). Na região do centro, destacam-se entre as meninas, como atividades mais praticadas, o olhar TV (18,1%), outras atividades (14,5%) e usar o computador/internet (12,3%).

    Entre as meninas, destacam-se como mais ativas as escolares da periferia, pois afirmam ter como atividades no tempo de lazer o jogar futebol e brincar/brincadeiras seguidas de olhar TV e jogar vôlei. Na região do interior, observam-se como atividades mais praticadas o jogar futebol, andar de bicicleta/patins/skate e outras atividades variadas. Já as estudantes de escola particular têm atividades predominantes de caráter passivo, como olhar TV e usar o computador, seguindo outras atividades.

    No presente estudo, alunos das escolas públicas dedicaram menor tempo em frente da televisão/computador do que aqueles pertencentes à escola particular. Tal achado é semelhante com outro estudo nacional, onde estudantes matriculados em escolas públicas e de níveis socioeconômicos mais baixos apresentaram valores maiores de gasto energético, quando comparados aos da rede privada e de maior nível socioeconômico (RIBEIRO et al., 2006). Na pesquisa realizada por Burgos et al. (2006), com escolares de Santa Cruz do Sul – RS, identificou-se que a maior parte realiza atividades sedentárias no seu lazer, como assistir televisão (centro e periferia), conversar/brincar com amigos (centro) e escutar música (periferia e zona rural). Estudo realizado com crianças americanas identificou que 49,3% destas possuem TV em seu quarto, o que propicia um aumento dessa atividade na infância e adolescência (SISSON et al., 2011).

    Em pesquisa realizada por Mello (2004), observou-se que a prevalência de obesidade em crianças que assistem TV por menos de uma hora diária é de 10%, enquanto que, se o hábito aumentar por 3, 4, 5 ou mais horas por dia, pode estar associado a uma prevalência de obesidade de cerca de 25%, 27% e 35%, respectivamente.

    Assim, o hábito frequente de assistir TV é bastante preocupante, pois a televisão ocupa horas em que a criança poderia realizar outras atividades. Entre as atividades realizadas em frente ao televisor, a alimentação é umas das mais frequentes, podendo ocorrer a indução da criança por alimentos não nutritivos, pois grande parte das propagandas oferece alimentos ricos em calorias (MELLO, 2004). Grazini e Amâncio (1998) analisaram o teor das propagandas veiculadas em horários de programas para crianças, em que foi verificando que a maioria delas (53%) era de lanches e refrigerantes.

Tabela 2. Atividades realizadas no tempo livre (lazer)* - Meninas

    Na tabela 3, percebe-se que dos estudantes do sexo masculino, 55,7% afirmam deslocar-se ativamente para a escola, a pé ou de bicicleta, sendo que 64% levam de 10 a 20 minutos no deslocamento. Quanto às meninas, 55,9% são ativas no deslocamento para a escola, sendo que 63,6% levam de 10 a 20 minutos. Dos estudantes de 07 a 11 anos, 54,8% deslocam-se ativamente a escola e, entre os adolescentes de 12 a 15 anos, resultados semelhantes foram encontrados, com 56,7%. Estudo realizado com adolescentes colombianos demonstrou que 50,3% se deslocam passivamente para a escola (PIÑEROS; PARDO, 2010). Outro estudo, realizado com adolescentes dinamarqueses, identificou resultados mais positivos, sendo que 64,4% realizam ativamente seu transporte à escola, diariamente (STOCK et al., 2011). Na Irlanda, porém, é alto o percentual de crianças que se deslocam passivamente para a escola, principalmente de carro (62,1%) (MURTAGH; MURPHY, 2011).

    Dos estudantes que estudam em escola pública na periferia da cidade, 98,9% afirmar ter seu deslocamento à escola de forma ativa. Quanto aos alunos da escola situada na zona rural, apenas 50,7% deles desloca-se ativamente a escola. Já, entre os estudantes da escola particular, situada no centro da cidade, apenas 24% deslocam-se ativamente à escola, tendo a maioria destes um deslocamento passivo (76%). Segundo Hallal et al. (2006), um dos principais fatores que se relaciona diretamente com o deslocamento à escola é o nível econômico ao qual o adolescente pertence. Estudo de Silva e Lopes (2008), realizado com crianças de João Pessoa, na Paraíba, também demonstrou que escolares da rede privada se deslocam, em sua maioria, passivamente para a escola (59,4%); escolares da rede pública, por sua vez, apresentaram percentual menor (16,6%). Pabayo, Gauvin e Barnett (2011), ao avaliarem o transporte à escola de crianças e adolescentes canadenses, observaram que a baixa renda é um dos fatores preditivos para o deslocamento ativo.

    No presente estudo, não se observam diferenças percentuais no deslocamento ativo à escola em relação à faixa etária e o sexo dos estudantes. Já no estudo de Souza (2010), realizado com escolares adolescentes de Itabuna, no estado da Bahia, observou-se associação da frequência do deslocamento passivo com o gênero, sendo que as meninas referiram com maior frequência deslocar-se passivamente em relação aos meninos.

    Estratégias de intervenção, promovendo ações educativas junto aos escolares, pais e escolas em geral, esclarecendo a importância da adoção de práticas mais ativas, são fundamentais. Estudo piloto realizado no Canadá, através de um programa de intervenção junto a 12 escolas, relata que houve um aumento de 43,8% para 45,9% no transporte ativo para a escola. Para que este aumento seja maior, é necessário, ainda, promover ações junto à comunidade em geral, além da criação de ambientes adequados e seguros para o transporte ativo à escola (BULIUNG et al., 2011).

Tabela 3. Atividade física no deslocamento à escola, por sexo, faixa etária e tipo de escola

Conclusão

    Ao término deste estudo, pode-se concluir que, em relação ao estilo de vida dos estudantes, podemos observar que os meninos têm um estilo de vida mais ativo que as meninas, sendo que as meninas estudantes da escola particular localizada no centro da cidade têm um perfil de característica mais sedentária, com a prática de atividades mais relevantes como olhar TV e usar o computador. Os sujeitos das escolas públicas estudadas da zona rural e periferia da cidade de Santa Cruz do Sul apresentaram um estilo de vida mais ativo em seu tempo de lazer em relação aos estudados da escola particular.

    A grande maioria dos alunos que estudam na escola da periferia desloca-se ativamente para a escola e apresentam um estilo de vida mais ativo em seu tempo de lazer. O avanço tecnológico nos meios de comunicação e transporte contribui para alguns resultados desta pesquisa, observando que na escola particular, obteve-se um estilo de vida mais sedentário na análise das atividades realizadas no tempo livre e também no deslocamento diário a escola.

    Acredita-se que as formas de promoção de um estilo de vida saudável que envolva atividades com maior gasto calórico no tempo livre (lazer) sejam eficazes, pois os prováveis fatores que prejudicam a saúde dos alunos podem ser prevenidos por meio de orientações que estabeleçam hábitos e rotinas, na perspectiva de um estilo de vida saudável, como por exemplo, incentivar o deslocamento ativo a escola e ocupar o tempo livre com atividades que envolvam maior gasto calórico.

Referências

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