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Mulher, futebol e arbitragem: um espaço
de conquista, tensão e resistência

Mujer, fútbol y arbitraje: un espacio de conquista, tensión y resistencia

 

*Licenciado em Educação Física. Mestre e Doutor em Educação pela USP

Professor Adjunto I do Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Lavras, UFLA

**Licenciado em Educação Física. Mestre em Educação pela PUCCAMP

Professor e coordenador dos Cursos de Bacharela e Licenciatura

em Educação Física da Faculdade de Pindamonhangaba, FAPI

Prof. Dr. Fabio Pinto Gonçalves dos Reis*

fabioreis@def.ufla.br

Prof. Ms. Ivan Eduardo de Abreu Arruda**

profivanarruda@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O texto propõe uma discussão sobre as relações entre o universo feminino e o futebol brasileiro por intermédio de fontes oficiais, destacando as conquistas, os espaços de resistência e as tensões que constantemente assolam as atletas, arbitras e àquelas que arriscam a serem técnicas em um contexto hegemonicamente masculino.

          Unitermos: Futebol. Mulheres. Arbitragem.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 162, Noviembre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    As tradições machistas, que sempre limitaram a participação das mulheres nos diferentes esportes, não conseguiram impedir suas ações, uma vez que as normas e preconceitos foram sendo derrubados por inúmeras delas ao longo destes anos. A evolução é silenciosa, no qual o esporte moderno, aos poucos, vem abrindo espaço não apenas para os homens, mas também para as mulheres em todos os níveis, sejam como atletas e como integrantes das equipes de arbitragem no futebol brasileiro.

As atletas brasileiras de destaque no futebol

    As atletas brasileiras conquistaram, no decorrer destas últimas décadas, títulos importantes para o esporte brasileiro, como são os casos de Magic Paula e Hortência, campeãs mundial de basquete, Sandra e Jaqueline, campeãs olímpicas de vôlei de praia, Daniele Hypólito e Dayane dos Santos, colecionadoras de medalhas de ouro em competições de ginástica olímpica mundial e, Milene Comini da Silva, pentacampeã no Troféu Finkel, recordista Sul-americana e vice-campeã da Copa do Mundo de 1999, entre outras mais atletas que não foram aqui mencionadas.

    Entretanto, não podemos esquecer das nossas heroínas da Seleção Brasileira de Futebol Feminino, as quais conquistaram duas vezes a 4º colocação, nas Olimpíadas de Atlanta e de Sidney, e uma honrosa medalha de prata nas Olimpíadas de Atenas; títulos estes que o futebol masculino brasileiro até o momento não conseguiu alcançar, devido a atuações não significativas nas eliminatórias para as Olimpíadas e na própria competição.

    Nesse sentido, a presença da mulher no meio futebolístico vem ganhando dimensões diferentes, mundialmente, nas últimas duas décadas. Nos países europeus, a prática do futebol feminino vem intensificando-se cada vez mais. A criação de ligas européias e norte-americanas de futebol feminino e o aumento do interesse pela mídia na cobertura de torneios e campeonatos mundiais, torna evidente a afirmação de que o papel reservado para a mulher no cenário futebolístico está presente de maneira inevitável como dimensão lúdico-esportiva e como oportunidade de mercado.

    De acordo com Daolio (2005), nos Estados Unidos, o futebol tornou-se uma área reservada feminina, reforçando a idéia de que o “futebol é coisa pra mulher”, onde o futebol feminino solidifica-se no ambiente universitário, como a maioria dos esportes praticados neste país. Depois de ganharem a medalha de ouro nas Olimpíadas de Atlanta em 1996 e na Copa do Mundo de 1999 e, a medalha de prata nas Olimpíadas de Sidney em 2000, a modalidade elevou-se a nível profissional entre os norte-americanos.

    Afinal, as conquistas do futebol feminino brasileiro nas três últimas Olimpíadas são reflexos de uma evolução em relação à participação da mulher no meio futebolístico nacional? As mulheres há muito estão presentes no futebol brasileiro. Vão aos estádios, assistem campeonatos, acompanham o noticiário, treinam, fazem comentários, divulgam notícias, arbitram jogos, são técnicas, compõem equipes dirigentes... enfim, participam deste universo e isso não há como negar, pois o mundo todo está abrindo espaço para as mulheres em seus diversos talentos, incluindo o futebol e, no Brasil não poderia ser diferente, mesmo com todas as suas dificuldades.

    A nossa seleção Brasileira de Futebol Adulto Feminino é campeã pan-americana, campeã da Copa Ouro – CONCAF, várias vezes campeã sul-americana e sempre favorita na conquista do título do Mundial. As categorias menores também fizeram e fazem bonito em competições internacionais; a seleção Sub-19 conquistou a 4ª colocação no Mundial do Canadá e da Tailândia, em 2002 e 2004 respectivamente, e conquistaram o Campeonato Sul-Americano. Já a seleção Sub-20 garantiu a medalha de bronze na Mundial Feminino da Rússia que foi realizado pela primeira vez este ano, tornando a Seleção Brasileira de Futebol Feminino Sub-20 a 3ª colocada no ranking da FIFA.

    Em estados brasileiros, existem anualmente campeonatos estaduais de futebol feminino, tanto na modalidade campo quanto na modalidade salão, como é o caso da Bahia, Distrito Federal, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo, onde os dois últimos estados apresentam maior concentração de equipes em seus torneios, portanto, possuem mais visibilidade do que os demais estados.

    No estado de São Paulo encontramos um dos maiores clubes de futebol feminino do país, o Saad Esporte Clube, que possui equipes de futebol de campo e futsal em diversas categorias, o qual coleciona uma gama de títulos estaduais, nacionais e até internacionais, entre competições disputadas nos Estados Unidos. O Saad E.C. desenvolveu entre os anos de 1998 e 1999 um projeto bastante audacioso, no qual o clube pretendia lançar uma equipe brasileira na liga profissional feminina dos Estados Unidos, a WUSA.

    O projeto só conseguiu ser posto em prática devido a uma parceria afirmada pelo Saad com a National American University (NAU), que cedeu suas instalações para os treinamentos e hospedagem da equipe brasileira na cidade de Rapid City. Em troca, coube ao Saad prover atletas brasileiras para as disputas das competições universitárias, o que fez do NAU uma das principais forças Desporto Universitárias do Meio-Oeste Americano.

    O Saad manteve equipes femininas em duas modalidades distintas: Futebol de Campo e Futebol Indoor, além da equipe de Futebol de Campo “Co-ed”, que reúne homens e mulheres lado a lado no mesmo time. Devido a este projeto e as suas belas atuações na Seleção Brasileira nas Olimpíadas, quatro jogadoras brasileiras participaram da WUSA em 2002: Delma Gonçalves – Pretinha, Roseli de Belo, Kátia Cilene Teixeira e Sisleide Lima do Amor – Sissi. Na temporada 2003 da WUSA, duas das principais jogadoras estrangeiras eram as brasileiras Sissi e Kátia Cilene, que atuam no San Jose Ciber Rays.

    Outras atletas se beneficiaram com este projeto como é o caso de Talita e Michele, que defenderam a Seleção da Região II dos Estados Unidos no US Soccer Festival. A defensora Michele ganhou destaque na competição e foi relacionada na lista “B” da Seleção Nacional dos EUA.

    No momento atual, o Saad abandonou a idéia de manter equipes no exterior a fim de adquirir uma franquia na WUSA, porém continua promovendo o intercâmbio com as universidades americanas, abrindo as portas para as craques brasileiras que quiserem começar a trilhar um caminho de sucesso nos EUA, oferecendo bolsas de estudos para as atletas.

    Como foi relatado anteriormente, algumas de nossa atletas passaram a atuar no futebol internacional, como é o caso de Marta Vieira da Silva, jogadora da seleção brasileira, nascida no interior de Alagoas, destaque no futebol sueco, campeã da edição da Copa UEFA, que foi eleita várias vezes a melhor jogadora de futebol de mundo pela FIFA.

    Um outro exemplo de atleta brasileira que construiu uma carreira sólida no exterior é a mineira Luciana Silva, ex-seleção brasileira universitária, ela é meio-campista do Keynsham Town da Inglaterra, companheira de equipe da também brasileira Sheila Rocha. Luciana graduou-se em Educação Física na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), realizou os cursos de Técnica de Futebol Profissional e o de Árbitra de Futebol Profissional da Federação Inglesa e, atualmente realiza mestrado em “Sports Coaching”. Além de atleta da equipe principal, treina a equipe Sub-10 do Keynsham Town.

    Em entrevista extraída do artigo “O lado frágil do futebol” de Ema Raisa, Alexandre Mathias, ex-Coordenador de competições nacionais pela CBF e atual dirigente da equipe carioca de futebol feminino Team Chicago Brasil comenta sobre a exportação de atletas de futebol feminino:

    Como alguns países possuem desenvolvimento profissional na área, as meninas passam a sonhar em jogar no exterior e isso já é uma grande realidade! Temos meninas brasileiras abrilhantando os espetáculos futebolísticos na Inglaterra, Suécia, Alemanha, Espanha e no grande eldorado: Estados Unidos”. (Agência Universitária de Notícias, 2006).

    Não podemos esquecer do futsal feminino, esporte amplamente praticado no Brasil, devido ao fato de a população ter contato com a modalidade por meio das aulas de Educação Física escolar, tendo a sua disposição mais facilmente as quadras poliesportivas do que os campos gramados, fator este que vem elevando o número de adolescentes interessadas pela modalidade a cada ano. O futsal feminino é disputado profissionalmente em torneios universitários, estaduais e locais, possuindo também algumas competições nacionais muito importantes, como a Liga de Futsal Feminina, Taça Brasil de Clubes e o Campeonato Brasileiro de Seleções de Futsal Feminino, realizados anualmente, sob organização e supervisão da Confederação Brasileira de Futebol de Salão (CBFS).

    A primeira edição da Liga de Futsal Feminina aconteceu em 2005, com equipes oriundas de diversos estados brasileiros, os quais para participarem da competição precisam primeiro estar filiados a uma Federação Estadual, para depois adquirirem uma franquia da Liga, através da compra da mesma, ou sendo indicado por uma empresa (uma espécie de patrocinador) ou sendo convidado pela própria comissão organizadora do torneio. As equipes campeãs da Liga, recebem uma premiação em dinheiro, um scudetto criado pela CBFS e representam o país no Sul-Americano e no Mundial. Algumas instituições conhecidas em nosso país possuem equipes na Liga, como a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo - SABESP, DalPonte, Universidade Paulista – UNIP, e o Sport Clube Corinthians Paulista.

    A Taça Brasil de Clubes já chegou a ser disputada por equipes de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerias, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná, Distrito Federal, Maranhão, Pará e Ceará, sendo que algumas clubes chegam a ser representada por mais de uma equipe nesta competição. Os clubes de São Paulo são os recordistas de presença nesta Taça, sempre possuindo equipes nas quatro primeiras colocações, sendo que as equipes que representam a SABESP passaram a dominar o pódio da competição a partir de 1997, tornando-se a maior ganhadora deste torneio. Já o Campeonato Brasileiro de Seleções é disputado por equipes montadas com as melhores atletas de um estado, a fim de representá-lo na competição. Este ano o campeonato contará com a participação de 14 seleções, dos seguintes estados: RS, PR, SC, SP, MT, GO, PE, PB, SE, PI, RN, AC, BA e AM.

    A prática do futsal por mulheres trouxe benefícios até para um time de meninas pobres de Recife que, passaram a conviver melhor com as outras pessoas, valorizaram seus talentos e aumentaram as suas esperanças de se tornarem alguém na vida, de acordo com a matéria “O campo dos Sonhos” de Sandra Boccia na Revista Marie Claire de junho deste ano. Dois professores de Educação Física da região, em fevereiro de 2005, desenvolveram um projeto de futebol feminino para ex-alunas que tivessem feito aulas de educação física com eles em várias escolas, onde elas passariam a treinar futsal no Ginásio Municipal da Prefeitura, conhecido como Geraldão, formando uma equipe que representaria o município em competições.

    Desde que o projeto vingou, quatro jogadoras conseguiram uma bolsa de estudos, através de convênios firmados com prefeitura, onde as meninas passaram a disputar os jogos com a camisa do colégio e, em troca, não pagam as mensalidades nem do cursinho pré-vestibular nem do colegial. A grande maioria das atletas do “Geraldão” moram nas várias periferias de Recife, muitas até não possuem dinheiro suficiente para pagarem a sua própria condução, muito menos para comprarem os tênis e meias para os treinos, mesmo assim elas não desistem, estão sempre correndo atrás de seus sonhos.

    De um total de 16 jogadoras, seis delas recebem um salário para trabalharem como monitoras de futsal, duas vezes por semana, coordenando escolinhas de futebol para meninos e meninas pobres de outras comunidades carentes. Algumas sofreram algumas discriminações quando iniciaram a trabalho com meninos, mas após algum tempo, todas elas mostraram que entendiam do assunto, e assim seus alunos passaram a respeitá-las e admirá-las.

    Esta equipe conquistou diversos títulos locais, entre eles a Copa Olinda de 2005, e possui também duas atletas que se destacaram nesta mesma temporada: Débora, que ganhou o troféu de melhor goleira da Federação Pernambucana e, Gabrielle, a camisa 10 do time que foi eleita revelação do Campeonato Pernambucano de Futebol Feminino de 2005. E assim, todas elas vão vencendo obstáculos que a vida os impôs, buscando um futuro melhor para elas e para suas famílias, afastando-se da marginalidade, das drogas e da prostituição.

    Em pesquisa realizada pelo o Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), o autor do estudo o professor Jorge Dorfman Knijnik, verificou que as atletas de futebol de campo ou de salão se afirmam enquanto jogadoras, mesmo apontando o preconceito como a principal causa de estresse emocional entre elas, em que as desportistas mais jovens mostraram uma melhor perspectiva em relação à participação feminina no futebol, o que demonstra avanços na questão da mulher no futebol.

Para além da quadra e do campo: as primeiras treinadoras, árbitras e bandeirinhas

    Engana-se quem acha que a participação atual da mulher no futebol brasileiro é apenas como atleta, pois não podemos deixar de mencionarmos as nossas árbitras, que ao longo destes anos, demonstraram que são capazes de atuar dentro de um campo, sendo tão qualificadas quanto qualquer outra pessoa que atue na arbitragem do futebol profissional. Atuando no futsal, nós podemos encontrar uma quantidade maior de mulheres arbitrando pelas suas Federações Estaduais, quando se comparado às árbitras que atuam no futebol de campo. Estas mulheres que atuam no futsal são árbitras e anotadoras/cronometristas que trabalham em jogos femininos ou masculinos de competições de grande importância nacional.

    As árbitras e assistente de futebol de campo também atuam em campeonatos femininos ou masculinos, em diversas divisões, de acordo com a escala montada por suas Federações. O número destas profissionais é um pouco inferior quando se comparada com as árbitras de futsal, porém as árbitras de futebol de campo conseguem atuar mais em competições masculinas importantes, como por exemplo o Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil e a Copa Sul-Americana, do que as mulheres que atuam no futsal. Só neste ano, 10% das pessoas inscritas no curso de arbitragem da Federação Paulista de Futebol eram mulheres, ou seja, das 400 pessoas inscritas, 40 eram mulheres, número este que vem crescendo ao longo dos anos, graças à atuação brilhante de algumas profissionais.

    A árbitra Silva Regina de Oliveira, credenciada na FIFA, é a única mulher classificada na categoria A “ouro” de árbitros da Federação Paulista, sendo uma das mulheres que mais arbitrou partidas da série “B” do Campeonato Brasileiro de Futebol Masculino 2005, ao lado da carioca Martha Peçanha Vasconcelos, também credenciada pela FIFA, que foi considerada a árbitra feminina que mais atuou na série “A” do Campeonato Brasileiro de 2005 e na série “B” do Campeonato Brasileiro deste ano, juntamente com a sua atuação na Copa do Brasil.

    Entre as assistentes de árbitro mais importantes do cenário nacional nós temos a paulista Ana Paula da Silva Oliveira, integrante do quadro de assistentes da FIFA, sendo considerada a profissional que mais atuou na série “B” do Campeonato Brasileiro de 2005 e na série “A” do Campeonato Brasileiro deste ano, concomitante com a índice de maior atuação também na Copa do Brasil. Outra assistente de árbitro que marcou presença no Campeonato Brasileiro e na Copa do Brasil das temporadas 2005 e 2006 foi a também paulista Aline Lambert, que também atuou nas séries “A” e “B” do Brasileirão.

    Na temporada 2006, a FIFA possui 7 mulheres brasileiras registradas em sua lista de árbitros e assistentes, lista em que todos os árbitros do mundo desejam estar, pois demonstra reconhecimento internacional. Esse grupo está dividido em 3 árbitras, Silva Regina de Oliveira, Martha Peçanha Vasconcelos e Sueli Tortura, e 4 assistentes, Ana Paula da Silva Oliveira, Ticiana Martins, Marlei Silva e Cleidy Mary Nunes Ribeiro.

    E para alegria de nossas árbitras e assistentes, este ano foi lançado novos uniformes para a arbitragem do Campeonato Paulista de 2007, com um modelo especialmente voltado para as mulheres, unindo conforto, praticidade, formas e detalhes bem femininos, tornando-se mais uma conquista das nossas árbitras. E assim, as mulheres brasileiras estão se inserindo no nosso futebol e também, aos poucos, no futebol internacional, não importa se é na condição de atleta, árbitra ou comissão técnica, o importante é estarem lá e serem reconhecidas pelos demais profissionais da área e, principalmente pela nossa sociedade.

    Começaremos com Helena Pacheco, considerada a 1ª técnica de futebol do Brasil pela imprensa, foi à primeira mulher a trabalhar como técnica de uma equipe de futebol feminino em 1987. Sua carreira profissional iniciou-se como atleta, posteriormente passou para o cargo de técnica de equipes femininas de futebol de campo e futsal, atuando inclusive nas equipes do Clube Regatas Vasco da Gama. Helena conquistou quatro títulos nacionais e cinco títulos estaduais no futebol de campo e, um título nacional e cinco títulos estaduais no futsal. Apesar de Helena ter sido a primeira a atuar como técnica, Roseli Cordeiro Filardo foi a 1ª mulher do país a obter oficialmente o título de técnica de futebol pela Associação Brasileira de Treinadores de Futebol – ABTF, em 1983.

    Atuando na área da arbitragem profissional temos a professora Asaléa Campos Michelli, a primeira mulher a se tornar árbitra de futebol no Brasil e no mundo. Sua atuação dentro dos gramados iniciou-se em 1967, após a realização de um curso oferecido pelo Departamento Amador da Federação Mineira de Futebol. Léa Campos, como era conhecida popularmente, apitava partidas de futebol amador e somente em 1971 ela obteve o reconhecimento da Federação Internacional de Futebol (FIFA) e das entidades brasileiras.

    Martha Vasconcelos e Silvia Regina foram às primeiras árbitras a atuarem em jogos de futebol masculinos oficiais. Silva Regina foi reconhecida pela Federação Paulista de Futebol em 1997, trabalhando inicialmente no Campeonato Paulista de Futebol Feminino, o “Paulistana”. Em 2000, apitou pela 1ª vez uma partida de futebol masculino pela série “B-1” do Campeonato Brasileiro e, neste mesmo ano, após as suas atuações, recebe o reconhecimento da FIFA, passando a integrar a lista de árbitros internacionais. Ela entrou para história ao ser a primeira mulher a apitar uma partida oficial da Copa Sul-Americana na categoria masculina, entre Santos x São Caetano no dia 01 de outubro de 2003.

    Temos também a atuação de mulheres como árbitras assistentes, ou “bandeirinhas”, onde encontramos Cleidy Mary Nunes Ribeiro, Marlei Silva, Ticiana Martins e Ana Paula da Silva Oliveira, ambas credenciadas em suas respectivas Federações, reconhecidas pela FIFA e atuando nos tempos atuais. A união de árbitras e assistentes permitiu a formação de um trio de arbitragem feminino que, no dia 30 de junho de 2003, atuou pela 1ª vez na história em uma partida de futebol masculino na série A do Brasileirão, onde das 46 rodadas em que se desenvolveu o campeonato, em pelo menos 8 delas houve a atuação do trio composto por Silva Regina de Oliveira, Ana Paula da Silva Oliveira e Aline Lambert.

    A atuação deste trio repercutiu sobremaneira nos mais variados âmbitos da mídia, sendo ela esportiva ou não: entrevistas, matérias jornalísticas, reportagens, entre outros. Em alguns jornais encontramos uma tendência a ridicularização da figura feminina no exercício da função de árbitra, como pode ser observado nos trechos a seguir:

    A beleza no futebol: um trio feminino vai abrilhantar o jogo Atlético-MG X Criciúma, hoje, no Independência. É bom, afinal, veremos uma plasticidade diferente da habitual, onde a lisura das pernas femininas se mistura as cabeludas e musculosas coxas. (Diário Catarinense, 01/11/03)

    O melhor da partida não foi Rico nem Ricardinho e sim o trio de arbitragem feminino. (O Estado de São Paulo, 30/06/03).

    Para ajudar, além da concentração no jogo, em primeiro lugar, elas não dispensam a nécessaire: batom, esmalte, brinco, perfume e espelho. (Folha de São Paulo, 29/06/03) (apud BOSCHILIA, MEURER e CAPRARO, 2005, p.05).

    Mesmo com toda essa repercussão, as mulheres continuaram atuando como árbitras de futebol, e a cada ano que passa aumenta o número de mulheres inscritas nos cursos de arbitragem das Federações e Associações regionais, não somente no futebol de campo, mas também no futsal, como podemos verificar ao mencionar a professora de Educação Física e hidroginástica de Olinda, Andréa Amorim, credenciada pela Federação Pernambucana de Futebol de Salão é considerada a primeira árbitra de futsal do Brasil pela Confederação Brasileira de Futebol de Salão (CBFS).

Considerações finais

    Podemos concluir que, no quadro brasileiro atual, a participação feminina no meio futebolístico ainda não obteve uma perenidade precisa e verdadeira, tendo o seu percurso apresentado altos e baixos ao longo dos séculos XX e XXI. É evidente que nós estamos vivendo em uma época que, cada vez mais, mulheres conquistam cargos ou posições originalmente masculinas, sem com isso diminuir sua feminilidade. Na Educação Física e no esporte, reconhecemos uma série de fatos que nos permitem uma leitura cada vez mais feminizada do espetáculo: cores, gestos, verdades e afeições, antes reprimidas, tomam lugar em pistas, quadras, estádios e pódios, indicando avanços e recordes batidos, com a mesma incidência e força férrea antes concebível aos homens. A própria identidade feminina com as diferentes profissões é suficiente para justificar a participação das mulheres no mundo dos esportes.

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