efdeportes.com

A influência das lesões do LCA e menisco 

medial sobre a capacidade funcional do joelho

The influence of injury ACL and medial meniscus on the functional capacity of the knee

La influencia de las lesiones del ligamento cruzado anterior y del menisco medial sobre la capacidad funcional de la rodilla

 

*Faculdades Integradas do Norte de Minas, Funorte

**Universidade Estadual de Montes Claros, Unimontes

***Mestrando em Avaliação das Atividades

Físicas Desportivas – UTAD, Portugal

(Brasil)

Frank Santiago Carvalho Soares*

Rafael Pego*

Mateus Vinicius Veloso* **

Rodrigo Gonçalves Silva* **

Igor Rainneh Duraes Cruz* ***

igorrainneh@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo do estudo foi verificar a influência das lesões do Ligamento Cruzado Anterior (LCA) e do Menisco Medial (MM) sobre a capacidade funcional do joelho de indivíduos atendidos nas clínicas de Fisioterapia da cidade de Montes Claros/MG. O estudo foi de caráter descritivo com corte transversal. A amostra compreendeu em 30 indivíduos com idade média de 28,4 ± 5,39 anos, divididos em dois grupos com 15 sujeitos, G1 reúne os acometidos por lesão de LCA e G2 os acometidos por lesão de MM. Eles foram submetidos a uma entrevista utilizando o questionário “lysholm” para avaliar a capacidade funcional. A análise dos resultados foi realizada no programa de análises estatísticas SPSS 17.0. A comparação entre os grupos foi feita através do teste de Student com intervalo de confiança de 95% (p ≤ 0,05). A média da funcionalidade do G1 foi de 71,47 ± 18,48 e do G2 de 68,47 ± 24,31, ambos correspondendo à capacidade funcional “regular”. A capacidade funcional nos dos grupos não apresentou diferenças significativas. Concluiu-se que as lesões do LCA e do MM, mesmo após intervenção cirúrgica e início de reabilitação fisioterapêutica, influenciam negativamente na capacidade funcional dos indivíduos acometidos.

          Unitermos: Capacidade funcional. Ligamento Cruzado Anterior. Menisco medial.

 

Abstract

          The purpose of this study was to assess the influence of lesions in anterior cruciate ligament (ACL) and Medial Meniscus (MM) on the functional capacity of the knee of patients seen in physical therapy clinics in the city of Montes Claros / MG. The study was a descriptive cross-sectional. The sample consisted of 30 subjects with a mean age of 28.4 years ± 5:39, divided into two groups with 15 subjects, the G1 combines affected by ACL injury and those affected by injury G2 MM. They underwent an interview using the questionnaire "Lysholm" to assess functional capacity. Analysis of the results was performed using the SPSS 17.0 statistical analysis. The comparison between groups was performed using the Student test with a confidence interval of 95% (p ≤ 0.05). The average functionality of G1 was 18:48 and 71.47 ± 68.47 ± 24.31 G2, both corresponding to functional capacity "regular." The functional capacity of the groups showed no significant differences. It was concluded that the ACL injury and the MM, even after surgical intervention and early rehabilitation physiotherapy negatively influence functional capacity of affected individuals.

          Keywords: Functional capacity. Anterior cruciate ligament. Medial meniscus.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 162, Noviembre de 2011. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    O joelho é a maior e uma das mais complexas articulações do corpo humano, desenvolvida para suportar carga, o qual apresenta uma cinemática articular peculiar e uma estrutura cápsulo-ligamentar complexa (SILVA et al., 2007a). É uma articulação do tipo sinovial, condilar, envolvida por uma cápsula, cujo revestimento interno produz o líquido articular responsável pela lubrificação interna (HALL, 2005).

    Nigri et al. (2007) afirmam que o joelho é uma articulação de carga e ao mesmo tempo de grande amplitude de movimento. Almeida e Pereira Júnior (2010) completam que ele tem o dever de suportar grandes forças, oferecer estabilidade e grande amplitude de movimento, onde a mobilidade é fornecida pela estrutura óssea e muscular, e a estabilidade é fornecida pelos ligamentos, meniscos e, também, os pelos músculos.

    Sendo assim, do ponto de vista funcional, é indispensável para a locomoção, manutenção da posição bípede e realização de movimentos básicos como: marcha, corrida, posição sentada, entre outros (KAPANDJI, 2000 apud CAMACHO et al., 2008).

    Apesar da quantidade de funções desempenhada, de acordo com Schulz (2002), há pouca estabilidade intrínseca no joelho visto a localização do mesmo, entre dois longos braços de alavanca. Por esse motivo, a articulação depende muito de estruturas musculares e ligamentares para sua estabilização, sendo assim, uma região bastante susceptível a lesões articulares.

    Os estabilizadores do joelho podem ser divididos em estáticos (meniscos, ligamentos e cápsulas) e dinâmicos (músculos e tendões) (MAGGE, 2005; NIGRI et al., 2007) e, dentre os ligamentos que estabilizam o joelho, cabe destaque aos intracapsulares, LCA e LCP (ligamento cruzado anterior e ligamento cruzado posterior) que firmam a articulação, essencialmente, no sentido ântero-posterior e rotacional, prevenindo lesões (MOORE e DALLEY, 2007; SILVA et al., 2010).

    Os demais componentes articulares do joelho de incomensurável importância são os meniscos, medial e lateral, que são fibrocartilagens semilunares que desempenham importante papel na função articular do joelho, especialmente na transmissão de cargas, no aumento da congruência articular e conseqüente estabilidade. Considera-se, também, que a sua ausência pode promover acelerada degeneração articular (HERNANDEZ et al., 2006).

    Conforme as características estruturais e funcionais do joelho, o mesmo possui alta predisposição à ocorrência de lesões (SILVA et al., 2010). Almeida e Pereira Júnior (2010) descrevem que a articulação do joelho está envolvida em diferentes lesões, acometendo, principalmente, adultos jovens e esportistas. Camacho et al. (2008) completam afirmando que por ser demasiadamente solicitada, essa articulação sofre com muita freqüência, alterações da função e estabilidade.

    Dentre essas lesões, as comumente ocorridas são as ligamentares, com evidência para a lesão do LCA (SILVA et al., 2007a; VASCONCELOS et al., 2009) e as meniscais, com evidência para a lesão do menisco medial (MM) (MAGGE, 2005). O mesmo autor enfatiza, ainda, que o LCA é o ligamento do joelho que mais apresenta ruptura completa, sendo responsável por 50% de todas as lesões ligamentares, em que a maioria destas ocorre em atividades esportivas, principalmente aquelas que envolvem movimentos de aceleração e desaceleração.

    Na maioria dos casos, o tratamento da ruptura do LCA é cirúrgico. Conforme Silva et al. (2007a) a cirurgia é indicada principalmente para indivíduos ativos, trabalhadores, atletas profissionais ou recreacionais, cuja articulação do joelho desempenha papel fundamental. A cirurgia consiste na reconstrução ligamentar realizada com tendões autólogos, como o tendão patelar e dos músculos grácil e semitendinoso. Esse procedimento visa restabelecer a função articular, minimizando a ocorrência de lesões secundárias (LUSTOSA et al., 2007).

    Após a lesão e a cirurgia, a funcionalidade fica comprometida e a literatura atual não demonstra consenso a respeito do tempo ideal de retorno às condições funcionais pré-lesão, uma vez que há grande variedade de trabalhos publicados demonstrando retorno em fases extremamente precoces, seis semanas, ou em fases tardias, a partir de nove meses (VASCONCELOS et al., 2009).

    Não diferentemente, a lesão meniscal, também, acarreta prejuízo funcional, visto as inúmeras funções na qual a estrutura desempenha. Sakamoto et al. (2007) exprime que lesões meniscais podem causar incompetência funcional, com conseqüente início precoce de degeneração de cartilagem articular e osteoartrose.

    Devido à importância do joelho e ao grande número de lesões desta articulação, as atividades diárias são comumente alteradas quando ocorre alguma afecção neste segmento, porém, torna-se difícil a mensuração do grau de inferência da afecção na qualidade de vida dos acometidos (NIGRI et al., 2007).

    A manutenção da capacidade funcional é indicotomizável aos aspectos de saúde e qualidade de vida. Segundo Ribeiro et al. (2007) a função física é um indicador universalmente aceito do estado de saúde e importante componente da qualidade de vida.

    Peccin et al., (2006) salienta que as lesões do joelho apresentam conseqüências variadas para a função e qualidade de vida do indivíduo, a reabilitação completa desses sujeitos torna-se essencial. Sendo assim, Gomes e Hajjar (2009) enfatizam a importância da abordagem fisioterapêutica para a melhoria funcional e, consequentemente, da qualidade de vida desses indivíduos.

    Peccin et al., (2006) ainda destacam que a complexidade da articulação do joelho e o número de critérios para avaliar sua funcionalidade e sintomatologia tornam difícil mensurar e quantificar os tratamentos empregados, mas que, no entanto, a validação da tradução do questionário “Lysholm” vem suprindo essa dificuldade e propiciando um ótimo instrumento de avaliação.

    Diante do exposto, o objetivo do presente estudo foi verificar a influência das lesões de LCA e MM sobre a capacidade funcional do joelho de indivíduos atendidos nas clínicas de Fisioterapia do município de Montes Claros/MG.

Metodologia

    O estudo realizado foi de caráter descritivo, quantitativo e de corte transversal. A população compreendeu em voluntários de ambos os gêneros com idade superior ou igual a 18 anos e inferior ou igual a 35 anos, acometidos por lesões de LCA ou MM, posterior à intervenção com procedimentos cirúrgicos e que estivessem realizando tratamento fisioterapêutico para tais, ou em conseqüência de tais, lesões em 04 clínicas de Fisioterapia situadas no município de Montes Claros/MG.

    A escolha da amostra ocorreu de forma não-probabilística de forma intencional por conveniência com 30 sujeitos que atenderam aos critérios desejados e atestaram à participação no estudo através do firmamento de um termo de consentimento livre e esclarecido. Estes indivíduos foram divididos em dois grupos distintos: O Grupo 1 (G1) que compreendeu 15 indivíduos acometidos por lesão de LCA; e o Grupo 2 (G2) formado por outros 15 indivíduos acometidos por lesão de MM.

    O protocolo de experimento se deu à base de uma entrevista guiada por questionários que foi dividida em duas etapas: a) Etapa básica e b) Etapa específica. Na primeira etapa (básica), a entrevista foi guiada por um questionário estruturado contendo questões de caráter objetivo, de autoria dos próprios autores do estudo, abordando a caracterização da amostra (idade, gênero, prática de atividade física, lado dominante), além do membro lesado, tempo da lesão, complicações existentes, tipo de tratamento fisioterapêutico e, ainda, intensidade da dor, conforme a Escala Visual Analógica (EVA).

    Segundo Corrêa et al. (2005) a EVA permite uma avaliação objetiva de uma sensação subjetiva. Ela submete ao avaliado uma linha graduada cujas extremidades correspondem a: ausência de dor, em geral situada na extremidade inferior nas escalas verticais e à esquerda naquelas dispostas horizontalmente e a pior dor imaginável, nas extremidades opostas. Este tipo de escala tem sido utilizado na medicina e é considerada válida e confiável, para a avaliação da intensidade dolorosa (SILVA et al., 2007b).

    Na segunda etapa (específica) a entrevista foi realizada para coleta de dados referentes à capacidade funcional dos sujeitos, onde foi utilizado um questionário específico para sintomatologia do joelho “Lysholm Knee Scoring Scale”, que foi traduzido e validado para a língua portuguesa por Peccin, Cionelli e Cohen (2006), composto por oito vertentes (1- mancar; 2 – apoio; 3 – travamento; 4 – instabilidade, 5 – dor; 6 – inchaço; 7 – subindo escadas; e 8 – agachamento) de respostas fechadas e de múltiplas opções, cujo resultado final é expresso de forma nominal e ordinal, sendo: “Excelente” de 95 – 100 pontos; “Bom” de 84 – 94 pontos; “Regular” de 65 – 83 pontos; e “Ruim” quando a soma dos valores das 8 vertentes for igual ou inferior a 64 pontos.

    As entrevistas foram realizadas individualmente pelos autores do estudo em espaço reservado especificamente para esse fim, localizado nas dependências das próprias instituições (Clínicas de Fisioterapia), sempre após a sessão de tratamento dos sujeitos, proporcionando tranqüilidade e privacidade aos participantes.

    A análise e tabulação dos dados foi realizada no programa de software estatístico SPSS 17.0 e a elaboração dos gráficos ocorreu com auxilio do programa Microsoft Excel for Windows XP. As variáveis categóricas, comparando os resultados da funcionalidade, conforme os resultados do Questionário Lysholm dentre os grupos G1 e G2 foram realizadas utilizando-se do Test T “Student” com intervalo de confiança de p ≤ 0,05.

    O experimento foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa das Faculdades Unidas do Norte de Minas – Funorte, com parecer consubstanciado favorável, processo número 0496/09, garantindo os preceitos éticos da Resolução 196 do Conselho Nacional de Saúde de 1996.

Resultados

    Os resultados apresentam que 46,7% (n=7) da amostra, tanto do G1, que corresponde aos acometidos por lesão do LCA, quanto do G2, correspondente aos acometidos por lesão do MM, pertenciam ao gênero masculino e outros 53,3% (n=8) pertenciam ao gênero feminino.

    A idade média da amostra total foi de 28,4 ± 5,39 anos, variando de 20 até 35 anos, onde a média do G1 foi de 28,67 ± 5,16 e do G2 de 28,13 ± 5,77.

    A Tabela 01 demonstra a caracterização da amostra conforme o lado dominante em relação aos membros inferiores e, também, o lado em que ocorreu a lesão.

Tabela 01. Caracterização da amostra: Lado dominante e membro lesado

    Uma maior frequência da amostra apresentou o lado direito como o dominante e em relação ao membro acometido pelas lesões o lado direito, também, foi o de maior prevalência.

    Os voluntários foram questionados sobre a prática de atividades físicas sistemáticas e o estudo verificou que na amostra total, 63,3% (n=19) referiram ser praticantes de atividades físicas, mais especificamente esporte recreativo, os outros 36,7% (n=11) se auto-definiram como sedentários. Dos praticantes do esporte recreativo, a modalidade mais mencionada foi o futebol, correspondendo a 52,63% (n=10), em segundo lugar foi o vôlei com 42,11% (n=8) e um indivíduo (5,26%) afirmou praticar outros tipos de esporte recreativo.

    O tempo decorrido desde que o sujeito da amostra sofreu a lesão, o estudo definiu três segmentos: de 2 – 4 meses; de 5 – 6 meses; e > 6 meses. A Tabela 02 evidencia a freqüência de distribuição da amostra conforme o tempo de lesão.

Tabela 02. Caracterização da amostra: Tempo de lesão

    As complicações ocorridas em decorrência das lesões e/ou da intervenção cirúrgica e do processo de reabilitação, a Tabela 03 demonstra os achados.

Tabela 03. Complicações ocorridas no período pós-lesão

    Em relação à abordagem fisioterapêutica utilizada no acometimento das lesões de LCA e MM, os entrevistados foram indagados a listar os principais procedimentos que são e foram realizados durante o tratamento dos mesmos. A Tabela 04 ilustra os procedimentos referidos nos dois grupos investigados.

Tabela 04. Recursos terapêuticos utilizados na abordagem da Fisioterapia

    Apesar das lesões serem distintas e em estruturas peculiares, verifica-se que os procedimentos de tratamento das lesões de LCA e menisco medial apresentam semelhanças, a cinesioterapia, por exemplo, esteve presente em mais de 90% dos tratamentos.

    A capacidade funcional foi analisada com utilização do questionário de Lysholm, e em sua análise conforme a média obtida pelos grupos em investigação foi de 71,47 ± 18,48 no G1 e de 68,47 ± 24,31 no G2, onde ambos os grupos correspondem à graduação de funcionalidade “Regular”. Não houve diferença estatística entre os dois grupos conforme o Test T de Student (p=0,341). A capacidade funcional da amostra investigada utilizando o questionário Lysholm, a fig. 01 salienta as porcentagens de ocorrência dos resultados.

Figura 01. Comparação da capacidade funcional entre o G1 e o G2

    A figura 01 apresenta que houve semelhanças quanto ao comprometimento funcional dos indivíduos acometidos por lesão do LCA e MM, onde o teste paramétrico “T” (Student) demonstrou não haver diferença estatisticamente significativa entre os dois grupos, outro resultado que merece destaque é uma maior freqüência dos voluntários apresentou funcionalidade “ruim” e “regular”, cada uma correspondendo a 33,3% dos acometidos, tanto por lesão de LCA, quanto por lesão de MM. Apenas 6,7% (n=1) do G1 e 13,3% (n=2) do G2 apresentaram funcionalidade “excelente”.

    O presente estudo ainda abordou em relação à intensidade da dor sentida pelos sujeitos do experimento através da EVA, onde a média de intensidade da dor no G1 foi de 4,13 ± 2,03, variando de 1 até 9 e no G2 de 3,73 ± 1,75, variando de 1 até 7. Isso demonstra uma grande dispersão entre a intensidade dolorosa percebida dentre os sujeitos abordados.

Discussão

    O presente estudo procurou verificar a influência das lesões ligamentares, especificamente do LCA, e meniscais, especificamente do menisco medial, na capacidade funcional dos sujeitos acometidos.

    O motivo de o estudo abordar estas lesões específicas é o fato das mesmas serem muito freqüentes, principalmente em indivíduos jovens e esportistas, seja de alto nível, ou de nível recreativo (MAGGE, 2005).

    A amostra do estudo constou de indivíduos jovens com idades que variaram de 20 até 35 anos, de modo a tentar eliminar, ou ao menos, minimizar a influência da idade cronológica sobre a funcionalidade dos sujeitos. Observou-se que as médias de idade dos dois grupos e o número de indivíduos do gênero masculino e do gênero feminino foram o mesmo, demonstrando uma homogeneidade entre estes grupos, o que é significativamente bom, do ponto de vista científico, pois os pesquisadores tendem a procurar amostras, o quanto mais, homogêneas possíveis, para garantir a fidedignidade e precisão dos resultados.

    Dentre as características da amostra, observou-se uma predominância de indivíduos destros (Tabela 01), fato que é empiricamente observado na maioria da população, seja em atletas ou não-atletas, em que Barbieri, Santiago e Gobbi (2008) relatam que a literatura ainda é vaga em relação aos fatores determinantes da preferência por um lado do corpo em detrimento do outro.

    O lado direito, também, prevaleceu como o mais lesado (Tabela 01) e tal fato pode ser justificado devido à maioria dos sujeitos serem destros e, por esse motivo, o membro direito ser mais, constantemente, exigido durante as atividades e esforços físicos, tendendo, assim, a uma maior exposição ao risco de lesão.

    Segundo Vasconcelos et al. (2009) as lesões de joelho, principalmente, a do LCA, ocorre, em sua maioria, em indivíduos fisicamente ativos, onde Silva et al. (2007a) destacam que, em nosso meio, o futebol é a principal atividade física, que conduz a essa lesão.

    No presente estudo, verificou-se que grande percentual dos indivíduos não eram praticantes de esportes, em que 36,7% se auto-definiram sedentários. No entanto, dos que praticavam, a modalidade mais comum foi o futebol.

    O presente experimento, também, caracterizou os sujeitos investigados conforme o tempo decorrido desde o momento em que sofreram a lesão, visto que tal variável é, consideravelmente, interveniente na performance funcional devido ao estágio do processo de recuperação em que cada indivíduo se encontra.

    Uma maior frequência dos voluntários do G1 apresentavam-se entre 2 e 4 meses pós-lesão e já no G2 os indivíduos foram distribuídos com a mesma proporção dentre os segmentos de tempo estabelecidos, 2 a 4 meses, 5 a 6 meses e acima de 6 meses, em que foram encontrados 5 sujeitos em cada segmento (Tabela 02). Tal fato tende a acarretar um prejuízo aos resultados do estudo, visto a não uniformidade de distribuição da amostra do G1 para com o G2 em relação ao tempo de recuperação pós-lesão.

    Conforme Magge (2005) o tempo de recuperação após uma determinada lesão, varia muito do tipo da lesão, da intensidade da lesão, do processo de reabilitação, como também das características individuais de uma pessoa para outra. Vasconcelos et al. (2009) citam, referente à lesão do LCA, que a literatura ainda não tem um consenso sobre o tempo ideal de recuperação da capacidade funcional, tendo relatos de retornos precoces (seis semanas) e, também tardios (a partir de nove meses).

    Já quanto às lesões dos meniscos, a recuperação funcional depende, significativamente, da intensidade da lesão e, também, do tipo de intervenção cirúrgica (HERNANDEZ et al., 2006). Sakamoto et al. (2007) exprimem que as lesões de menisco, onde haja comprometimento das raízes meniscais, são de maior gravidade e tendem a evoluir com perda funcional e degeneração articular.

    A ocorrência de complicações foi observado no período pós-lesão em mais de 60% dos sujeitos investigados no presente estudo. No G1 ocorreu tendinite patelar em 40% do grupo e no G2 ocorreu rigidez articular em 66,7% do grupo (Tabela 03).

    De acordo com Gali et al.(2005 apud Gomes e Hajjar 2009) a tendinite patelar é descrita como uma conseqüência, falha, do processo de reconstrução cirúrgica do LCA, nos casos de emprego do enxerto osso-ligamento patelar-osso. Segundo Contreras-Dominguez et al. (2007) a reconstrução do LCA baseado na técnica “osso-tendão-osso” (enxerto autólogo do tendão patelar) é altamente recomendada em desportistas jovens devido à sua maior resistência biomecânica e aos bons resultados funcionais observados.

    A rigidez articular observada em acometidos por lesão meniscal também foi relatada no estudo de Lino Júnior (2009) abordando indivíduos jovens submetidos à cirurgia após lesão de menisco. Tal rigidez pode ser atribuída à tendência de degeneração da cartilagem articular após a lesão meniscal, citada por Sakamoto et al. (2007).

    No presente estudo foi verificado que abordagem fisioterapêutica nas lesões, tanto de LCA quanto de MM, se dá à base, principalmente, da cinesioterapia, sendo este recurso utilizado em 100% dos indivíduos do G1 e mais de 90% dos indivíduos do G2 (Tabela 04). A cinesioterapia é a alicerce do tratamento fisioterapêutico de inúmeras lesões. No caso das lesões de LCA, conforme Veiga et al. (2007) e Gomes e Hajjar (2009), a cinesioterapia visa, principalmente, o restabelecimento da amplitude de movimento e força do membro acometido.

    Lino Júnior (2009) relata em seu estudo referente à evolução funcional de acometidos por lesão meniscal, procedimentos de reabilitação da fisioterapia como movimentação ativa em ângulos específicos, reforço muscular com isometria e descarga de peso parcial e gradativa. Estes procedimentos são inerentes à cinesioterapia.

    A capacidade funcional dos indivíduos foi avaliada de acordo com o questionário Lysholm, instrumento amplamente utilizado no âmbito científico para verificar a funcionalidade e eficiência de procedimentos de reabilitação de lesões e doenças do joelho (PECCIN et al., 2006).

    A média da funcionalidade no G1 foi superior à média do G2, porém sem diferença significativa entre os dois grupos. Observa-se que houve uma grande dispersão dos dados referente à média nos dois grupos, evidenciada pelo elevado valor do desvio padrão (G1 = 71,47 ± 18,48 e G1 = 68,47 ± 24,31), demonstrando variância entre as funcionalidades com muito baixas (escores preocupantes) fig.01.

    A média do questionário Lysholm no G1 (71,47) foi correspondente ao encontrado por Silva et al. (2010) que foi de 71,26, analisando indivíduos acometidos por lesões de LCA e LCP após reconstrução cirúrgica do ligamento e mais 16 semanas de reabilitação com tratamento fisioterapêutico.

    Os valores do G2 no presente estudo apresenta-se inferior aos achados literários, como no estudo de Lino Júnior (2009) que verificou melhora significativa dos acometidos por lesão meniscal submetidos à reparação por implante absorvível, em que a média do Lysholm após o tratamento foi de 86,95.

    Hernandez et al. (2006) também avaliaram a funcionalidade de indivíduos com lesão meniscal após sutura com implantes absorvíveis utilizando o Lysholm, onde a média pré-operatória foi de 39,8 subindo para 91,5 no pós-operatório após um período médio de 24 meses.

    A dor, que também tem relação com a função apresentou-se ligeiramente superior no G1 em relação ao G2. Esta esteve presente em todos os indivíduos investigados e variou de intensidades muito leves até intensidades elevadas. Essa grande variância da intensidade da dor tende a refletir os estágios diferentes do processo de recuperação em que os sujeitos apresentam.

    O presente estudo apresentou algumas limitações que podem ter influenciados nos resultados foram a não descrição da magnitude das lesões meniscais e nem o tipo de intervenção cirúrgica realizada nos indivíduos que as apresentavam (menisectomia radical, parcial, sutura com implantes absorvíveis, dentre outros). O estudo não descreveu se os acometidos por lesão do LCA fizeram a reconstrução do mesmo com enxerto do tendão patelar, ou com tendão de músculos flexores do joelho, como semitendinoso e grácil. Os voluntários da amostra apresentavam-se em fases diferentes do processo de reabilitação, onde algumas pessoas tinham sofrido às lesões entre 2 e 4 meses e outros acima de 6 meses. Os avaliados não apresentaram homogeneidade quanto à pratica de atividades físicas, mais especificamente, os esportes recreativos, em que alguns indivíduos eram sedentários.

Conclusão

    Conclui-se com o presente estudo que as lesões do Ligamento Cruzado Anterior e do Menisco Medial do joelho, mesmo após intervenção cirúrgica e início de reabilitação fisioterapêutica, influenciam negativamente na capacidade funcional dos indivíduos acometidos, interferindo, consequentemente, na qualidade de vida desses sujeitos.

    Conclui-se, ainda, que no presente estudo, as lesões do Ligamento Cruzado Anterior e do Menisco Medial incidiram com a mesma magnitude no comprometimento da funcionalidade dos indivíduos abordados.

    Salientamos, ainda, a importância da abordagem fisioterapêutica de qualidade no processo de reabilitação e melhoria da capacidade funcional de pessoas acometidas por lesões de joelho, ligamentares e meniscais. Sendo assim, sugerimos a realização de novos estudos que possam ratificar a tendência verificada no estudo presente, e que estes novos experimentos possam levar em consideração as limitações referidas neste.

Referências

  • ALMEIDA, R. F.; PEREIRA JÚNIOR, A. A. Avaliação funcional do joelho em praticantes de musculação. Conexões: Revista da Faculdade de Educação Física da UNICAMP, Campinas, v. 8, n. 2, p. 83 -92, 2010.

  • BARBIERI, FA; SANTIAGO, PRR; GOBBI, LTB. Diferenças entre o chute realizado com o membro dominante e não-dominante no futsal: variabilidade, velocidade linear das articulações, velocidade da bola e desempenho. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v. 29, n. 2, p. 129-146, 2008.

  • CAMACHO, S. P.; LOPES, R. C.; CARVALHO, M. R.; F; CARVALHO, A. C. F.; BUENO, R. C.; REGAZZO, P. H. Análise da capacidade funcional de indivíduos submetidos a tratamento cirúrgico após fratura do planalto tibial. Acta Ortopédica Brasileira, v. 16, n. 3, pp. 168-172, 2008.

  • CONTRERAS-DOMÍNGUEZ, V. A.; CARBONELL-BELLOIO, P. E.; OJEDA-GRECIE, A. C.; SANZANA, E. S. Bloqueio 3-em-1 Prolongado versus Analgesia Sistêmica no Tratamento da Dor Pós-Operatória após a Reconstrução do Ligamento Cruzado Anterior do Joelho. Revista Brasileira de Anestesiologia, v. 57, n. 3, p. 280-288, 2007.

  • CORRÊA, L. L.; PLATT, M. W.; CARRARO, L.; MOREIRA, R. O.; FARIA JÚNIOR, R.; GODOY-MATOS, A. F.; MEIRELLES, R. M. R.; PÓVOA, L. C.; APPOLINÁRIO, J. C.; COUTINHO, W. F. Avaliação do efeito da sibutramina sobre a saciedade por escala visual analógica em adolescentes obesos. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabolismo, v. 49, n. 2, p. 286-290, 2005.

  • GOMES, J. J.; HAJJAR, N. E. A abordagem fisioterapêutica no tratamento pós-operatório de lesão do ligamento cruzado anterior: Estudo de caso. 3º Seminário de Fisioterapia da Uniamérica, 2009.

  • HALL, S. J. Biomecânica Básica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, p. 123-126, 2005.

  • HERNANDEZ, A. J.; CAMANHO, G. L.; LARAYA, M. H. F.; FÁVARO, E. Sutura de menisco com implantes absorvíveis. Acta Ortopédica Brasileira, v. 14, n. 4, 2006.

  • LINO JÚNIOR, W. Evolução funcional da reparação do menisco por implante absorvível. Revista Brasileira de Ortopedia, v. 44, n. 2, p. 112-119, 2009.

  • LUSTOSA, L. P.; FONSECA, S. T.; ANDRADE, M. A.P. reconstrução do ligamento cruzado anterior: impacto do desempenho muscular e funcional no retorno ao mesmo nível de atividade pré-lesão. Acta Ortopédica Brasileira, v. 15, n. 5, p. 280-284, 2007.

  • MAGGE, D. .J. Avaliação Musculoesquelética. 4ª Edição: Manole. Barueri, 2005.

  • MOORE, K. L. ; DALLEY, A. F. Anatomia orientada para a clínica. 5ª Edição: Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 2007.

  • NIGRI, P. Z.; PECCIN, M. S.; ALMEIDA, G. J. M.; COHEN, M. Tradução, validação e adaptação cultural da escala de atividade de vida diária. Acta Ortopédica Brasileira, v. 15, n. 2, p. 101-104, 2007.

  • PECCIN, M. S.; CICONELLI, R.; COHEN, M. Questionário específico para sintomas do joelho “lysholm knee scoring scale” – Tradução e validação para a língua portuguesa. Acta Ortopédica Brasileira, São Paulo, v. 14, n. 5, p. 268-272, 2006.

  • RIBEIRO, R. N.; VILAÇA, F.; OLIVEIRA, H. U.; VIEIRA, L. S.; SILVA, A. A. Prevalência de lesões no futebol em atletas jovens: estudo comparativo entre diferentes categorias. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, São Paulo, v.21, n.3, p.189-94, jul./set. 2007.

  • SAKAMOTO, F. A.; GUIMARÃES, M. C.; YAMAGUCHI, C. K.; GUTIERRE, R. C.; ROSENFELD, A.; AIHARA, A. Y.; ZONER, C. S.; NATOUR, J.; FERNANDES, A. R. C. Raízes Meniscais: Anatomia e Avaliação por Meio da Ressonância Magnética. Revista Brasileira de Reumatologia, v. 47, n.5, p. 370-375, 2007.

  • SCHULZ, D. A. Anatomia. In: ELLENBECKER, T. S. Reabilitação dos ligamentos do joelho. São Paulo: Manole, 2002.

  • SILVA, A. S.; MIRANDA, P. V. B.; SOARES, J. F.; AMOR, A.; DEMARCHI, K. L.; PIEDADE, S. R.; REGAZZO, P. H. Avaliação da Qualidade de Vida em Pacientes submetidos à Reconstrução do LCA. Saúde em Revista, Piracicaba, v. 9, n. 22, p. 47-52, 2007a.

  • SILVA, F. P. S.; THOMMAZO, L. D.; WALSH, I. A. P.; ALEM, M. E. R.; COURY, H. J. C. G. Níveis de percepção de esforço e de dor em duas estratégias de organização do trabalho. Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 53-60, 2007b.

  • SILVA, K. N. G.; IMOTO, A. M.; COHEN, M.; PECCIN, M. S. Reabilitação pós-operatória dos ligamentos cruzado anterior e posterior – Estudo de caso. Acta Ortopédica Brasileira, v. 18, n. 3, p. 166-169, 2010.

  • VASCONCELOS, R. A.; BEVILAQUA-GROSSI, D.; SHIMANO, A. C.; PACCOLA, C. A. J.; SALVINI, T. F.; PRADO, C. L.; MELO JÚNIOR, W. A. Análise da correlação entre pico de torque, desempenho funcional e frouxidão ligamentar em indivíduos normais e com reconstrução do ligamento cruzado anterior. Revista Brasileira de Ortopedia, v. 44, n. 2, p. 134-142, 2009.

  • VEIGA, P. H. A.; ALBUQUERQUE, R. F. M.; TEODORO, W. P. R.; MARTINS, J. V. G.; ALVES, R. L. B. R. Correlação entre a análise histológica e avaliação funcional do joelho de pacientes submetidos à reconstrução do ligamento cruzado anterior. Revista Brasileira de Fisioterapia, São Carlos, v. 11, n. 4, p. 253-260, 2007.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 16 · N° 162 | Buenos Aires, Noviembre de 2011
© 1997-2011 Derechos reservados