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Possíveis benefícios das aulas de capoeira,

aplicadas ao Ensino Fundamental I

Posibles beneficios de las clases de capoeira, aplicadas al primer nivel de Enseñanza Básica

 

Graduandos Licenciatura em Educação Física

Universidade Nove de Julho

(Brasil)

Israel Silva Pereira

Roberto de Brito

israelduque.ef@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Na Educação Física escolar cada vez mais professores buscam alternativas para que todos os alunos participem das aulas, e que possam ser trabalhadas simultaneamente esferas afetivas, cognitivas e psicomotoras. A capoeira pode ser uma grande aliada ao trabalho ao professor de Educação Física por abrir um grande leque de possibilidades de ensino na aula, seja ela na modalidade de lutas, dança, história nacional ou identidade cultural. Apesar disto o que vemos é que seu conteúdo pedagógico ainda é pouco planejado para estruturação no cotidiano escolar. Este artigo busca mencionar algumas formas que a capoeira pode ser trabalhada na escola, seus possíveis benefícios, sem esquecer suas raízes, e fatos políticos que foi de um povo oprimido em busca de sua liberdade.

          Unitermos: Capoeira. Educação Física. Ensino fundamental primeiro ciclo.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 161, Octubre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    Esta análise objetiva-se a composição da capoeira como conteúdo da educação física escolar no primeiro ciclo do ensino fundamental. A finalidade do presente estudo é conscientização dos benefícios da capoeira, como possibilidade de trabalho, tornando-se capaz o desenvolvimento afetivo, cognitivo e psicomotor, de modo que os educandos aprimorem seus movimentos e sua expressão corporal assim como desenvolvam a aquisição de conhecimentos e respeito mútuo com os colegas e professores. Em 1998 com a criação dos PCN’s, na qual a educação física considerou esta modalidade de jogo, folclore, esporte, arte, cultura com legitimação, onde a capoeira se encaixa perfeitamente em todos os contextos citados, justificando assim sua prática na escola e utilizando-a assim como principal assunto desta revisão bibliográfica. Com a lei 11.645/08 que nos dia atuais constitui o ensino de história e cultura indígena, africana e afro-brasileira no currículo escolar, a capoeira ganha mais força para ser reconhecida como rico conteúdo para a cultura dos alunos, utilizando-a diretamente também como meio de valorização da própria cultura nacional.

1.1.     Objetivo

    Este estudo teve como objetivo analisar em quais aspectos a capoeira vem a ser benéfica inserida no âmbito escolar especificamente no primeiro ciclo do ensino fundamental, aplicada em crianças de faixa etária entre 7 a 11 anos ressaltando a importância educativa e cultural da mesma.

2.     Materiais e métodos

    No presente estudo a metodologia utilizada foi a revisão bibliográfica. Este tipo de revisão segundo Cervo e Bervian (2002:65) “...procura explicar um problema a partir de referências teóricas publicadas em documentos...” livros, artigos científicos, revistas especializadas, com relação ao tema, no caso deste estudo a capoeira e educação física escolar. Também aproveitando a chance de observação cedida pelo estágio obrigatório realizado no 4º semestre do curso de Educação Física que se adaptava a alunos da mesma faixa etária (7 a 11 anos).

3.     Revisão de literatura

3.1.     Histórico da Capoeira

    Mas o que é a capoeira afinal? É uma dança, um combate, um esporte, uma terapia relacionada ao corpo, cultura popular ou folclore? A capoeira é brincadeira, festa, poesia, música, diversão e uma forma de luta. Surgida no Brasil com elementos de diferentes culturas africanas que aqui se agruparam, resistiram e se recriaram, a capoeira é expressão de um povo oprimido em busca de liberdade e dignidade, em busca de sua sobrevivência (FREITAS, 1997). A capoeira possui opiniões divergentes quanto a sua origem, mas tudo leva a crer que foi feita no Brasil por descendentes de Africanos. Ela é diferenciada de outras modalidades consolidadas no âmbito escolar que de maioria são trazidas da cultura norte americana ou européia e que vem da classe dominante, a importância da capoeira é que ela foi criada da classe dominada, dos escravos, nasceu aqui, portanto é Brasileira! (SOUZA; OLIVEIRA 2001). O autor Vieira (1998) apresenta a capoeira como um tipo de luta que sua progressão segue ao ritmo de cantos e instrumentos musicais (agogô, berimbau, pandeiro e atabaque), havendo notas de sua arte desde o século XVII.

    Nos dias atuais esta combinação de jogo, luta e dança é lecionada e tem sua prática de maneira mais sistematizada em associações esportivas, colégios e em universidades, tornando-a como “arte marcial brasileira”. Betti (1991) comenta sobre inúmeras etapas percorridas entre 1930 a 1986, pela educação física ponderando teses relacionadas a política educacional, e qual seria a verdadeira função da educação física na escola. Discutindo assim método de ensino e das formas pedagógicas.

    O autor cita que a Educação física escolar entre 1930 e 1945, sofre influências higienista, preocupado com o bem estar, vitalidade física. Modelo este que era focado então apenas na produção de mão de obra para indústria. Não esquecendo que na aquela época o presidente em exercício era Getúlio Vargas que acabará de permitir as manifestações populares, tais como a Capoeira (que pelo Marechal Deodoro da Fonseca tinha sido colocada no Código Penal de 1890).

    De fato, paralelo a isto, a Luta Regional Baiana é criada por Manoel dos Reis Machado, o Mestre Bimba, que futuramente seria chamada de capoeira regional, no intuito também de melhoria da saúde. Lembrando que a capoeira antiga que foi essência passou a ser conhecida como capoeira Angola, mantendo fidelidade as tradições, graças principalmente a, Vicente Ferreira Pastinha ou simplesmente conhecido como Mestre Pastinha, que pelo seu grande conhecimento da capoeira angola formou gerações de discípulos.

    A diferença entre a capoeira angola e a regional é o fato de que na angola os movimentos são mais cadenciados, mais lentos e harmoniosos onde é usado mais os membros superiores diferente da regional onde o jogo é mais rápido com movimento mais explosivos. Areias (1984: 68) afirma que: “Naquele ano (1936) a capoeira é oficializada pelo governo como instrumento de Educação Física...” desta forma a capoeira lida com a influência deste ideal, tendo focalizado a melhoria e do bem-estar físico, dando ênfase ao exército e academias. Nos colégios, a educação física de certa forma tinha como meta estes objetivos saúde, preparação para a guerra, através dos exercícios físicos. Mesmo interligada a esta forma de pensamento não conseguiu alcançar o campo da educação física escolar, mantendo assim, certa distância entre elas (IÓRIO; DARIDO 2005). A capoeira foi aceita institucionalmente em 1972 pelo Conselho Nacional de Desportos (CND) como modalidade de esporte. Está presente em diversas instituições de ensino desde grau fundamental até o grau superior, e também em vários países (SOUZA; OLIVEIRA 2001).

3.2.     Relação entre LDB, PCN e Capoeira

    Com a lei 9.394/96 que foi a aprovada, a LDB (Lei de Diretrizes e Bases) – em de vinte de dezembro de 1996, a educação obteve novas mudanças de grande significado, com ênfase aos docentes e escolas, para que pudessem estabelecer e estruturar o ensino, mudando de região para região e de escola para escola respeitando assim suas peculiaridades (SOUZA; OLIVEIRA, 2001). É importante também ressaltar as características do esporte capoeira, que embora encarado para muitos como uma luta possui marcadamente aspectos de afiliação de valores como o de respeito aos colegas. O PCN deixa claro qual o objetivo que devera ser cumprido ao final do ensino fundamental.

    “... Espera-se que ao final do ensino fundamental os alunos sejam capazes de: conhecer, valorizar, respeitar e desfrutar da pluralidade de manifestações de cultura corporal do Brasil e do mundo, percebendo-as como recurso valioso para a integração entre pessoas e entre diferentes grupos sociais" (BRASIL, 2001:63).

    Desta forma vemos que a capoeira pode ser uma grade aliada a educação física escolar no ensino fundamental.

    O bloco de lutas tem como idéias principais os combates em que o opositor deve ser vencido, com estratégias ou técnicas de contusão, imobilização desequilíbrio, ou exclusão em um determinado espaço em forma conjunta de ações de ataque e defesa. Se estabelecem no intuito de penitenciar atitudes de violência desleal por uma regulamentação específica, como exemplos podemos citar desde brincadeiras de braço-de-ferro e cabo-de-guerra até as práticas que necessite um pouco mais de atenção e tempo de aula como a capoeira, o judô e o caratê. (BRASIL, 1998:70).

    A visão de Souza e Oliveira (2001) é a de que a capoeira pode ser estabelecida na escola divido aos seus vários temas trabalhados, o professor poderá escolher entre apenas um ou todos sendo o folclore, a luta, a arte, o esporte, educação, jogo, entre outros. E deve ser ensinada de forma aberta deixando o aluno escolher qual tema mais o agrada.

3.3.     Capoeira: Cultura imaterial

    É definido como Patrimônio Cultural Imaterial para a Unesco as práticas, representações, expressões, conhecimento e técnicas, junto com os instrumentos, objetos artefatos e lugares culturais que lhes são associados - que as comunidades, os grupos e em alguns casos os indivíduos reconhecem como parte integrante do seu patrimônio cultural (BRASIL,2000).

    “O patrimônio imaterial é transmitido de geração em geração e constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua integração com a natureza e de sua história gerando um sentimento de identidade e continuidade contribuindo assim para promover respeito a diversidade cultural e criativa humana” (BRASIL,2000).

    O programa nacional do patrimônio imaterial instituído pelo decreto n.3.551, de 4 de agosto de 2000, viabiliza projetos de identificação reconhecimento, salvaguarda e promoção da dimensão imaterial do patrimônio cultural .

    Podemos afirmar que apesar da grande importância cultural a capoeira é ignorada por alguns educadores, seus fatores históricos são de importância alta, pois contribuem para a cultura popular brasileira, fazendo os alunos ficarem cientes da forma de vida de seus antepassados ou seja conhecer suas raízes, a vida de combates e perseguições, principalmente do povo africano que nos trouxe diversos elementos culturais como sua música, crenças, rituais, ou seja, coisas que convivemos no dia a dia (OLIVEIRA et al. 2000).

    Areias (1984) defende a necessidade da educação física escolar brasileira resgatar a capoeira como forma de manifestação cultural, isto é, trabalhar sua história, não desincorpora-la do movimento cultural e político que a causou.

3.4.     Capoeira como forma de cultura corporal

    Na década de 90 aparecem como critérios de organização do conhecimento da educação física o discurso da cultura do corpo proposto por Soares et al. (1992). Como elemento curricular da educação básica, a educação física deve adotar uma outra tarefa: inserir o educando na cultura corporal de movimento, desenvolvendo o cidadão que ira produzi-la, e também que poderá muda-la. Aproveitar os jogos e esportes em benefício da qualidade da vida e bem estar. Associando e inserindo a cultura corporal as aulas. Mas ainda sim nos dias atuais cada vez mais observamos alunos sendo excluídos das aulas por não ter habilidades em determinados esportes, falta ao professor também propor novas atividades que não façam parte do “quarteto fantástico” (futebol, handebol, voleibol e basquetebol).

    “... A exclusão dos menos habilidosos ganha força na estruturação das aulas nas quais os melhores escolhem e sempre jogam e os piores são os últimos escolhidos. Além disso, jogam menos tempo ou às vezes, quando jogam, não participam efetivamente da atividade; esquecendo-se que a aula é um direito de todos os alunos. A Educação Física não deve privilegiar os mais habilidosos, e sim, a todos. Esta visão relacionada com o esporte é importante por estar abordando uma parcela do que se espera dentro da Educação Física Escolar, mas devemos lembrar que a gama de conteúdos dentro da área é tão grande que não pode ser resumida aos esportes tradicionais: futebol, basquetebol, voleibol e handebol” (IÓRIO E DARIDO 2005:140)

    Porém Vieira (1998) ressalta que o problema da capoeira esta em algumas técnicas de movimento, estas estão sendo mais valorizadas em detrimento de outras, e vão ganhando importância até adquirirem um certo “status” entre capoeiristas. Isto provoca uma supervalorização em um tipo de movimento, e a criança passa a se manifestar sem criatividade e oferecer importância menor aos outras modalidades do jogo como a música e a expressão individual.

    Em metodologias de longa data, a educação física deve levar o aluno a desvendar motivos e sentidos nas experiências de práticas corporais, favorecer o aumento do caráter positivo para que com eles, haja formas de aprender condutas apropriadas à sua prática, e não só isso se deve levar a informação, compreensão e analisar seu raciocínio, os dados da ciência e filosofia relacionados à cultura corporal de movimento, reger seu anseio e sua emoção para assim fazer a prática do corpo em movimento e fazer suas devidas apreciações (BETTI, 1992).

    No entanto o autor ressalta também que, com a imitação que os jogadores fazem uns dos outros, o seu próprio jogo vai ficando estereotipado e constroem sua visão de mundo e formas de expressão a partir de categorias pré-existentes. A ênfase que ele tenta nos mostrar é de fazer a criança buscar a espontaneidade dos movimentos, a criação de expressões próprias, a liberdade de poder escolher a forma de poder se comunicar com o mundo e com os outros, sentindo o jogo envolvente dos seus gestos improvisados e imprevisíveis, faz parte dessa harmonia de movimento encontrado na capoeira.

    A educação física tem como tarefa fazer com que o aluno seja um praticante atilado e ativo, e que consiga associar o jogo ou esporte e outros itens da cultura corpórea em sua vida e deles extrair o melhor proveito possível (BETTI; ZULIANI, 2002).

3.5.     Integração entre aspectos Afetivos, Cognitivos e Psicomotores na aula de capoeira

    Vale a pena ser lembrado que o professor não devera apenas ensinar a técnica como a luta ou em forma de esporte, o exemplo deve ser junto a comunicação de todos os estudantes, deverá ser passadas todas as informações de sua historicidade, origem e cultura, ao mesmo tempo em que deverá ser estimulada pelo professor a integração com as demais matérias da escola, tendo como objetivo de que o aluno tenha uma participação eficaz na conjunção da capoeira como um todo (SOUZA; OLIVEIRA, 2001). Como sugere o PCN as atividades na aula de capoeira devem agir sobre os aspectos psicomotores, afetivos e cognitivos de formas diretas e indiretas.

    “O aluno precisa ser considerado como um todo no qual aspectos cognitivos, afetivos e corporais estão inter-relacionados em todas as situações.” (BRASIL, 1998:23).

    Para Wallon (1975) o desenvolvimento não se dá de forma unidimensional, ou seja, sem rodeios direto e contínuo, mas por anexo de funções novas e às que anteriormente foram adquiridas. O acúmulo quantitativo de funções nos faz ver a importância no desenvolvimento qualitativo destas funções partindo de novos objetos definidos nas quais as dimensões motoras, afetivas e cognitivas integram-se em diversas formas da fase precedente, se dispondo em ordem alternada na destreza dominante de uma sobre as outras. A dominância de uma das esferas sobre as outras é conseqüência da sua própria integração, que é flexível, ativo e resulta de superar o antagonismo de algo em relação aos demais.

    Gallahue e Ozmum concordam com a afirmação (2001:4) “O desenvolvimento é freqüentemente estudado em termos de esferas (cognitiva, afetiva, psicomotora)”

    Betti e Zuliani (2002) asseguram que o desenvolvimento é um processo que há fases, com metas específicas, que acatam os planos de desenvolvimento e as peculiaridades dos alunos. Como objetivo do estudo no primeiro ciclo do Ensino Fundamental (1o a 4º anos), sendo que é necessário levar em consideração que todas as formas de movimento e atividades corpóreas são elementos fundamentais da vida infanto-juvenil, e que estimulações psicomotoras diversificadas arquivam afinidades conjuntas com o aspecto afetivo, cognitivo, e social da criança que se encontra nesta fase de desenvolvimento; sendo assim aconselha-se conceder privilégio ao desenvolvimento de habilidades com caráter psicomotor básico utilizando variados tipos de atividades.

    Freitas (1997) reforça ainda que por meio de jogos e brincadeiras poderá se alcançar melhor desenvolvimento na coordenação motora, no estímulo visual, na criatividade, na auto-estima além de se melhorar a forma de distribuir tempo e o espaço dentro de algum movimento que levam ao domínio cognitivo, motor e afetivo-social.

3.6.     Contribuições da capoeira para o desenvolvimento do aspecto Afetivo

    Observando a importância dos aspectos afetivos, cognitivos e psicomotores para a faixa etária que se encontram no primeiro ciclo do ensino fundamental, na aula de capoeira, o professor deverá criar estratégias para alcançar os objetivos propostos. Entre estes aspectos, Wallon (1975) defende que o aspecto afetivo é fundamental e que a afetividade se define pela vontade que move o aluno em direção ao afazer.

    Betti (1992) conclui que não pode ser aceitável apenas aprender aptidões motoras e capacidades físicas, estas aprendizagens de fato são necessárias, mas insuficientes. A criança que apenas aprende fundamentos táticos e técnicos de algum esporte também necessita aprender a manter-se organizado no meio social para assim poder praticá-lo, precisa entender as normas do jogo como elemento que torna possível sua prática (por este motivo é necessário que saiba interpretar e aplique as regras por si próprio), é necessário também que aprenda a ver o adversário como um colega e não um inimigo, pois sem o ele não haveria a competição esportiva.

    Na concepção de Piaget (1964) a afetividade forma o impulso de atuação do aluno em que como resultado final o êxito progressivo da criança e sua intelectualidade. A afetividade neste caso vai fazer reconhecer o valor das atividades propostas e feitas e servirá como meio regulador de energia para o afazer proposto. Porém ela não é nada sem a inteligência, que lhe da a percepção de esclarecer fins e meios. Ou seja para o autor sem afeto não há o interesse.

    Já Souza e Oliveira (2001) ressaltam que a prática da capoeira na escola abre um leque de possibilidades para desenvolvimento de conteúdos afetivos assim como a ampliação do trabalho em grupo, autonomia e participações afetivo-social, posturas não preconceituosa, assim ajudando também a ser bons cidadãos.

    E a idéia dos autores entram em acordo quando segundo o PCN capoeira como herança da raça negra, é repleta de significados culturais diferentes das classes predominantes, o que auxiliará para que se tenha uma postura livre de preconceitos e discriminações diante destas manifestações e expressões de diferentes etnias nas quais pessoas que dele fazem parte (BRASIL, 1998).

3.7.     Desenvolvimento do aspecto cognitivo na aula de capoeira

    O PCN de maneira concisa explica a necessidade do aluno para através da cognição racionalizar antes de fazer o gesto motor. Na capoeira é de fundamental importância que o aluno desenvolva o aspecto cognitivo a favor que saiba diferenciar os gestos e identifiquem sua natureza.

    “Um mesmo gesto adquire significados diferentes conforme a intenção de quem o realiza e a situação em que isso ocorre. Por exemplo, o chutar é diferente no futebol, na capoeira, e na defesa pessoal, na medida em que é utilizado com intenções diferenciadas e em contextos específicos(...) é dentro deles que a habilidade deve ser exercitada. É necessário que o indivíduo conheça a natureza e as características de cada situação de ação corporal, como são socialmente construídas e valorizadas, para que possa organizar e utilizar sua expressão de sentimentos e emoções de forma adequada e significativa.”(BRASIL, 1998: 53)

    Wallon (1975) vê a cognição como item do individuo completo que só pode ser entendido integrado a ele. Cujo se desenvolve iniciando das condições orgânicas da classe, e resulta da fusão entre integração e meio. Sendo assim, o desenvolver é dependente tanto do amadurecimento orgânico, como pelo aprendizado ativo.

    Gallahue e Ozmum (2001) afirma que todas as formas de movimento voluntário necessita de um elemento de cognição. As dimensões de habilidades motoras aprendidas são chamadas de “mapas cognitivos” ou imagens mentais. Essas imagens são arquivadas na memória, e quando necessárias são recriadas instantaneamente.

    “A medida que uma habilidade continua a melhorar, o desempenho parece envolver pouco ou nenhum raciocínio consciente. Embora o desempenho de habilidade motora não seja automático, no sentido real da palavra, a habilidade torna-se tão integrada, que assim parece ser. Ao fazer isso, nós os auxiliamos materialmente na formação de mapas cognitivos de habilidades fundamentais. Contudo, embora a criança consiga raciocinar de forma coerente, tanto os esquemas conceituais como as ações executadas mentalmente se referem, nesta fase, a objetos ou situações passíveis de serem manipuladas ou imaginadas de forma concreta. O aprendizado é um processo que ocorre de dentro para fora, por tentativa e erro, exploração e descoberta.” (Gallahue e Ozmum, 2001:53)

    De acordo com Piaget nesta idade podemos usar mais exemplificações de alguns movimentos da capoeira para maior aprendizagem dos alunos do primeiro ciclo do ensino fundamental (7 a 11, 12 anos) pois, os mesmos estão no período das operações concretas nesta fase encontram-se em emergência da capacidade de formar afinidade e dispor pontos de vista que não são parecidos com os seus e de integrá-los de modo lógico e coerente. Outro aspecto que há grande relevância de ser lembrado é que neste estágio se refere ao começo da capacidade da criança trazer para dentro de si as ações, isto é, ela começa a realizar as operações mentalmente e não mais através de ações físicas. Se perguntado a criança qual bola é a maior, entre várias, ela poderá responder corretamente mediante de comparações com apenas a ação mental, isto é, sem precisar meça-las usando a ação física, ou seja, ela interioriza as ações (RAPAPPORT, 1981).

    Sendo assim no aspecto cognitivo vale ressaltar que a capoeira é um instrumento riquíssimo em conteúdos a oferecer, como desenvolvimento da lateralidade, noções espaciais, e tudo que envolve uma compreensão. (OLIVEIRA et al., 2000).

3.8.     Contribuições da Capoeira no desenvolvimento do aspecto psicomotor

    É importante o professor entender a definição do desenvolvimento psicomotor, segundo Gallahue e Ozmum (2001:3) “Desenvolvimento motor é a continua alteração no comportamento ao longo do ciclo da vida, realizado pela interação entre as necessidades da tarefa, a biologia do individuo e as condições do ambiente”.

    No aspecto de desenvolvimento psicomotor, a capoeira deve ser assimilada como importante opção das estruturas do aluno, e esta forma de se desenvolver acontecerá no conceito em que a capoeira for a aos apresentada as crianças como conteúdo na aula de educação física, ministrada pelo professor com conhecimento da modalidade capoeira, fundamentada no desenvolvimento psicomotor. (SOUZA; OLIVEIRA, 2001).

    Oliveira et al. (2000) destaca que o praticante de capoeira auxilia a área psicomotora principalmente em suas capacidades físicas como, força, flexibilidade, coordenação, ritmo equilíbrio, agilidade e pode também possibilitar o trabalho com variadas formas de habilidades básicas como, andar, correr, trepar etc. e ainda se o obtiver bons resultados aumentar a dificuldade inserindo habilidades mais complexas como é o caso da parada de mão, au (estrelas), reversões , saltos mortais etc.

    Como já afirma Gallahue e Ozmum (2001) e também Souza e Oliveira (2001) Na roda da capoeira é necessário dar autonomia a criança pois assim proporcionando seu próprio jogo, no qual o participante da roda tem o livre arbítrio fazer sua própria expressão corporal com movimentos abertos, não sendo obrigatório realizar movimentos pré-determinados.

    “É fundamental que no estudo motor não cometa o erro de torna-lo isolados, copiando um modelo. O estudo do desenvolvimento deve ser analisado a partir da perspectiva da totalidade da espécie humana. Deve-se reconhecer no mínimo, que existe interação entre a composição biológica do individuo e suas próprias circunstâncias ambientais peculiares.”(GALAHUE E OZMUM, 2001:4)

    Assim a oportunidade da criança se expressar na roda é maior, devido a possibilidade de inovação nos movimentos, da falta de rigidez e da ausência de regras a serem seguidas, há possibilidade de inúmeros movimentos o que faz da capoeira uma atividade que busca a liberdade de expressão (Oliveira at al. , 2000)

Considerações finais

    Este estudo nos permitiu conhecer o significado real da capoeira, em sua forma de cultura imaterial e corporal, e por meio desta revisão bibliográfica não nos resta dúvidas que podemos utiliza-la como instrumento pedagógico para o primeiro ciclo do ensino fundamental, pois nela existem inúmeros benefícios, tais como: o desenvolvimento dos aspectos psicomotores, afetivos e cognitivos além de valorizar nossa própria cultura nacional. Pode se avaliar também a importância no meio acadêmico que a capoeira tem, e observar o papel do professor deixando claro que não é qualquer atividade ou docente que pode atuar de maneira positiva na formação do aluno, ressaltando ai um ponto chave onde nós professores devemos aproveitar a autonomia nos dada e não lecionar uma capoeira automatizada e cheia de regras como esporte de rendimento/competição e sim tornar essa prática mais afetuosa, lúdica e menos consumista. O intuito é a massificação da capoeira nas escolas para que os alunos possam vivenciar esta forma riquíssima de expressão e sendo assim usufruir de todos seus benefícios, do único esporte genuinamente Brasileiro.

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