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Motivação e atividades circenses: um estudo bibliográfico

Motivación y actividades circenses: un estudio bibliográfico

 

*Professora de Educação Física

Especialista em Psicossociologia dos Esportes

** Professora na Faculdade de Ciências da Saúde

Curso de graduação e mestrão em Educação Física

Coordenadora do NUPEM, Núcleo de Pesquisa em Movimento

Tatiana Angelon*

Rute Estanislava Tolocka**

rute@nupem.org

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Tendo em vista que as atividades circences estão cada vez mais sendo utilizadas na escola este estudo teve como objetivo investigar a motivação e o circo na literatura; especificamente se pretendeu verificar o que é motivação, como se estuda a motivação infantil e o que tem sido estudado sobre o circo e as atividades circenses. A metodologia de investigação foi de pesquisa bibliográfica. Estudou-se motivação dentro da perspectivas de autores clássicos da psicologia e da psicologia do esporte que definem motivação e desenvolvimento da personalidade. A motivação e a aprendizagem são processos interdependentes no homem. Um motivo ou uma necessidade desencadeia um processo de ação ou inércia a determinado estímulo, dependendo de suas experiências anteriores, de fatores externos e de personalidade do indivíduo. Constatou-se que os poucos artigos sobre circo encontrados relatam sua historicidade e suas práticas pedagógicas. Pela escassez de artigos encontrados sobre motivação e o universo circense, considera-se que novas pesquisas sejam realizadas com crianças para verificar o motivo pelo qual elas se interessam por essa atividade, contribuindo para o conhecimento sobre esta a prática circense, e que há pouco se tornou alvo de pesquisadores na área de Educação Física.

          Unitermos: Motivação. Circo. Atividades circenses. Educação Física.

 

Abstract

          This study is concerning motivation and circus. The aim was to investigate the motivation and the circus in the literature: what are motivation, child motivation and motivation and circus activities. It is a bibliography study. Motivation was studied in the outlook of classical authors of psychology and sports psychology that define motivation and development of personality. Motivation and learning are interdependent processes in man. A reason or a need triggers a process of action or inaction of a particular stimulus, depending on their previous experiences of external factors and personality of the individual. It was found articles about circus and they are related with story and teaching practices. It was not found articles about motivation and circus universe, so it is considered that further studies have to be done in this field to verify the reason that children have interested in those activities, thus contributing to the practice more meaningful and increasing the time practice in this fascinating activity that is the circus world, who recently became the target of researchers in the field of Physical Education

          Keywords: Circus. Physical Education. Motivation. Circus activities.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 161, Octubre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O acesso ao conhecimento das artes do circo iniciou-se há pouco tempo e com ele pesquisas sobre essa arte milenar: o circo. A sabedoria circense era restrita as famílias que trabalhavam no espetáculo, e após a abertura de escolas de circo esse conhecimento passou a ser acessível à população em geral (BARONI, 2006).

    As atividades circenses tornam-se presentes no conteúdo das aulas de Educação Física escolar por se entender o circo uma manifestação da cultura corporal universalmente produzida. Essa atividade nas aulas torna-se prazerosa e divertida, e na maior parte das turmas gera motivação para a realização.

    O interesse para estudar os motivos que levam crianças em idade escolar a participar das aulas de circo surgiu da observação de que muitas crianças se interessam por atividades alternativas em relação aos esportes coletivos e individuais tradicionais. Nota-se pela experiência nas aulas de Educação Física no ensino fundamental que quando leva-se a novidade para as aulas os alunos se interessam bastante, muito mais que nas práticas comumente vivenciadas por eles. Davidoff (1983) observa que, em geral, as pessoas tendem a ser atraídas pelo que é novidade. E que quando aulas com movimentos circenses são incluídas na escola ocorre a grande participação e envolvimento dos alunos nessas atividades, sendo solicitado esse conteúdo nos anos seguintes pelos alunos e a criação de aulas extracurriculares em atividades circenses.

    Com as questões emergentes da cultura corporal de movimento, a Educação Física Escolar tem desempenhado o papel de vivências de diversas expressões da cultura. A Educação Física na escola não apenas o papel de identificar talentos esportivos. O papel da Educação Física, nesta perspectiva é, segundo Gallardo e Gutiérrez (2008),

    “Socializar o conhecimento universalmente produzido dentro de um campo de conhecimentos da cultura corporal, ao qual o aluno tem direito. Isto significa que o aluno tem direito a conhecer e compreender as diferentes manifestações culturais produzidas ao longo da história. Conhecer a evolução de sua cultura patrimonial, vivenciar esse patrimônio, e de posse dele apropriar-se das outras manifestações culturais, evitando ou eliminando a substituição da cultura patrimonial pela cultura hegemônica” (p.225)

    Como conteúdo o circo inclui-se nas atividades expressivas nas aulas de Educação Física. O corpo é o meio de expressão de emoções e de socialização, tudo se faz através dele. Os artistas circenses colocam sua identidade nas apresentações: a construção de um personagem circense é carregada de suas características pessoais, ou seja, ele representa a si mesmo, mostrando ao público suas habilidades, sendo que ele atua respeitando seu tempo, seu ritmo e sua pulsação (BOLOGNESI, 2001). O circo, como conteúdo, contribui para a formação do cidadão crítico que a sociedade espera. Nessas atividades o valor do “eu” é estimulado: o aprendiz é incentivado a ser ele mesmo, com suas habilidades e limitações. O circo contempla diversos tipos de habilidade e a exibição e apreciação de delas e com isso torna-se uma atividade inclusiva.

    Vivenciando o circo dentro da escola ou não, muitas crianças procuram as atividades circenses para aulas extracurriculares mas pouco se sabe sobre a motivação que os leva a procurarem por estas atividades e este estudo analisa os principais motivos que levam os alunos a interessar-se e praticar o circo.

    Desde a abertura das escolas de circo e a descentralização do conhecimento desta arte das famílias circenses, essa prática tem-se tornado cada vez mais acessível à população, embora nota-se que em comparação à iniciação esportiva, as “escolinhas” de atividades circenses têm uma oferta muito discreta, assim como pesquisas nesta área.

    O objetivo deste estudo é investigar a motivação infantil e o circo na literatura verificando o que é motivação, como se estuda motivação infantil, a motivação e sua relação com a Educação Física e observando-se o que tem sido estudado sobre o circo.

Metodologia

    Trata-se de um estudo bibliográfico no qual o pesquisador é colocado em contato com aquilo que já foi publicado sobre o tema (LAKATOS; MARCONI, 1992); não sendo a mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre determinado assunto, mas propiciando o exame de um tema sob novo enfoque.

    Foram selecionados os clássicos da psicologia que estudam motivação e os autores emergentes que estudam a pedagogia das atividades circenses e circo. Os clássicos da psicologia que foram estudados são: DAVIDOFF (1983), MURRAY (1983), BEE (1984), HALL e LINDZEY (1984). Os autores WEINBERG (2001) e MACHADO (2006) serão considerados pelos estudos em psicologia dos esportes e atividade física.

    Os autores emergentes que estudam o universo circense, assim como artigos relevantes foram estudados. Além disto foram considerados os estudos encontrados na base de dados Scielo Brasil (Scientific Electronic Library Online) com as palavras chave: circo, atividade circense, motivação e Educação Física e o cruzamento entre eles. Os artigos selecionados estão publicados no período de 2000 a 2011.

    Método de análise: a partir dos textos coletados foi realizada a leitura e o fichamento dos artigos, bem como a análise textual, análise temática, análise interpretativa, a discussão e síntese pessoal de acordo com a técnica de Severino (2002) dos textos selecionados.

    As unidades temáticas selecionadas sobre os clássicos da psicologia foram: definição de motivação, motivação infantil e técnicas de estudos da motivação infantil. Para o estudo sobre o circo e as atividades circenses as unidades foram: a relação de circo e Educação Física, objetivo do estudo, metodologias utilizadas, tipo de pesquisa e conclusões. Para a unidade temática de motivação na atividade física foram extraídos dos estudos: objetivo do estudo, metodologia utilizada, tipo de pesquisa, pessoas envolvidas, métodos e conclusões.

Resultados e discussão

    A pesquisa buscou na literatura artigos que abordassem o tema em questão e o resultado porém não foram encontrados artigos relacionando a motivação e as atividades circenses ou circo. Estudos apenas sobre circo, ou motivação ou Educação Física foram encontrados, conforme mostra a tabela 1. Dos 10 artigos sobre circo encontrados, 4 referem-se a sua história e mostram o circo como meio de transformação social; o artigo sobre motivação no contexto da Educação Física trata da validação de um teste e a pesquisa foi feita em outro país de língua portuguesa, ficando assim fora da abrangência deste estudo, que refere-se a estudos produzidos no Brasil.

Tabela 1. Quantidade de artigos encontrados na base de dados Scielo, Brasil

Motivação e motivação infantil

    Na perspectiva da psicologia do esporte, motivação é a direção e a intensidade de esforços e comportamentos. A direção refere-se ao indivíduo ser atraído por certas situações ou grupos de objetos; e a intensidade do esforço refere-se a quanto esforço (tempo, dedicação) que o indivíduo coloca em determinada situação (WEINBERG, 2001).

    Pode-se dividir a motivação em duas fontes: intrínseca e extrínseca. A fonte intrínseca está relacionada a fatores internos de cada indivíduo, assim como as características de sua personalidade, suas experiências, seu passado. A sua recompensa é o prazer de realizar determinada ação. A motivação extrínseca é dependente de fatores externos, tais como recompensas materiais ou não materiais. As recompensas materiais envolvem o dinheiro, troféus, etc. e as não materiais referem-se a os elogios, aplausos, torcida, pais e técnicos (MACHADO, 2006).

    A motivação infantil é estudada dentro do desenvolvimento da personalidade (BEE, 1984). De acordo com Murray (1983), o estudo das tendências humanas é a chave para a compreensão do comportamento. Ele também considera que as vivências da infância são determinantes para o comportamento adulto. Esse teórico da personalidade também considera os fatores ambientais como influenciáveis do comportamento e defende a idéia que a análise das ações humanas é complexa, pois a personalidade está em constante fluxo.

    O estudo da motivação compreende os processos do meio externo e os processos internos, tais como os motivos, as necessidades, os impulsos e o instinto. Para Davidoff (1983), os psicólogos entendem que motivo, necessidade, impulso e instinto são processos internos hipotéticos que podem explicar o comportamento. Necessidades são as deficiências corporais que podem ser aprendidas ou serem inatas ou a combinação de ambas e está ligada a processos fisiológicos localizados no cérebro. Esses processos organizam a percepção e a ação para direcionar uma situação insatisfatória. Impulsos baseiam-se nas necessidades fisiológicas básicas como a comida, por exemplo. Instinto é o termo usado para explicar padrões de comportamento que parecem ser de origem hereditária.

    O motivo é à base do processo motivacional (MACHADO, 2006) e refere-se a um estado interno que resulta de uma necessidade fisiológica e que ativa ou desperta o comportamento usualmente dirigido ao cumprimento da necessidade ativante (DAVIDOFF, 1983). Murray (1983), de um modo geral, define motivo como “um fator interno que dá inicio, dirige e integra o comportamento” (p. 20). O motivo apresenta uma força distinta de pessoa para pessoa, devido à diferença de personalidade e “varia de situação para situação em uma mesma pessoa, e de pessoa para pessoa em uma mesma situação. Porém apesar de ser considerado inerente, não se deve descartar a hipótese de influencia externa sobre esse motivo.” (MACHADO, 2006, p.137).

    Na visão de Machado e Gouvêa apud Machado (2006) o motivo não se divide: ele conduz o indivíduo à ação e mantêm o indivíduo nessa ação até a conclusão do objetivo proposto. Davidoff (1983) divide os motivos em categorias: impulsos básicos, motivos sociais, motivos para a estimulação sensorial, motivo de crescimento e idéias como motivos. A seguir descrevemos todas as categorias.

    Os impulsos básicos visam satisfazer as necessidades de sobrevivência lutando para que o organismo permaneça em equilíbrio. Embora com raízes fisiológicas, o comportamento pode ser muito influenciado pela experiência e por fatores ambientais.

    Maslow apud Hall e Lindzey (1984) discute a motivação humana falando de necessidades básicas (fome, por exemplo) e meta-necessidades. Maslow estabelece o termo meta-necessidades que assim como Davidoff (1983) que cita os motivos de crescimento, meta-necessidade são necessidades de crescimento tais como a beleza, a justiça, a bondade, a ordem, etc. O autor discursa sobre necessidades primárias e secundárias. As necessidades primárias estão ligadas as exigências físicas e as secundárias “se caracterizam pela ausência de conexão com quaisquer processos orgânicos ou necessidades físicas” (p.11). Exemplos de necessidades secundárias são as necessidades de aquisição, realização, construção, reconhecimento, exibição, domínio, autonomia, submissão.

    Nos motivos sociais o comportamento geralmente é voltado para satisfazer as necessidades de ser amado, aceito, aprovado, estimado e depende do contato com outros seres humanos. Nos motivos para estimulação sensorial a autora afirma que todas as pessoas necessitam de estimulação, assim como os animais e o que diferencia entre as pessoas é o grau de estimulação e seu tipo, como exemplo podemos classificar as pessoas que gostam de saltar de paraquedas como pessoas que procuram alta sensação. “A motivação para explorar e manipular o ambiente, que freqüentemente é chamada de curiosidade, provavelmente se relaciona à necessidade de estimulação sensorial. (...) As pessoas tendem a ser atraídas pelo que é novo.” (DAVIDOFF, 1983, p.388-389).

    Os motivos de crescimento justificam o porquê das pessoas quererem aperfeiçoar seus talentos e suas capacidades, lutando sempre pela maestria, mesmo em determinadas situações em que não há recompensa. As idéias como motivos consistem no comportamento desencadeado por alguma idéia, pensamento.

    Bandura (apud BEE, 1984) acredita que exceto os reflexos, os comportamentos são aprendidos através da experiência direta ou observação e nos comportamos da forma como o fazemos pois somos reforçados a esse comportamento, ou seja, o comportamento tende a se repetir se for reforçado. Ele não ignora que os aspectos biológicos afetem o comportamento, mas defende que o ambiente é o principal fator que o afeta. Murray (1983) se retém ao fato de que não é possível compreender adequadamente o desenvolvimento sem que se tenha um quadro completo do contexto social que o indivíduo está inserido.

    A mensuração da motivação é feita através de dois métodos, segundo Murray (1983). O primeiro é medir certas condições externas que se julga produzir o impulso e a outra forma é medir certos aspectos do comportamento de uma pessoa que refletem seus motivos. Davidoff (1983) ressalta que a motivação não pode ser diretamente medida ou observada, e somente através de observações comportamentais é que se podem estudar os motivos.

    Percebe-se, portanto, que há diversas definições para a motivação porém todas apresentam alguns pontos em comum que servirá de base para este estudo. Em acordo com Machado (2006) “motivação é o processo que é iniciado por um impulso, ou um motivo, o qual levará o sujeito a optar por executar algo” (p. 139). A ação (observável ou não) permanecerá até que o objeto pelo qual surgiu o motivo seja alcançado ou satisfeito a necessidade.

Motivação e Educação Física

    Uma atenção é dada em especial a motivação dentro dos estudos de psicologia do esporte, uma vez que os treinadores e professores sabem que motivação e aprendizagem são processos interdependentes. Quanto mais o atleta ou praticante estiver motivado maiores serão as chances de êxito na aprendizagem ou no desempenho e do indivíduo permanecer mais tempo na atividade.

    Os motivos pelos quais as crianças ingressam em programas esportivos pode-se observar os seguintes fatores: alegria, aperfeiçoar habilidades e aprender novas habilidades, praticar com amigos e fazer novas amizades, adquirir uma forma física e sentir emoções positivas (INTERDONATO et al, 2008)

    A motivação também sofre influencias de diversas formas. De Marco e Junqueira (1995) entrevistaram 60 crianças com idades entre 7 e 13 anos de ambos os sexos praticantes de ginástica artística e constataram diferentes tipos de influências sobre a motivação, tais como: a do técnico, a qualidade das atividades propostas, tipo de atividade, família, personalidade da criança, fator social (grupo), meios de comunicação e competição e outras formas de premiação. Nesse estudo os autores ressaltam que as crianças estão com a personalidade em formação e a importância do técnico na motivação dos atletas.

    Quando a criança é praticante de uma atividade física em que ela se envolve por próprio interesse, é importante que o professor compreenda as razões do envolvimento para que possa intervir de forma efetiva na aprendizagem. Sabendo os motivos pelos quais a criança iniciou-se na atividade, o professor pode fazer com que ela permaneça na prática por mais tempo.

Circo e Educação Física

    O universo circense possui elementos lúdicos, expressivos e comunicativos dentro dos aspectos físico, psíquico e sócio cultural com contribuição riquíssima na área de conhecimento da Educação Física. Em tempos de competitividade acirradas, inegáveis são as contribuições das atividades físicas que proporcionam experiências sensíveis, capazes de promover o encontro do ser humano consigo mesmo e com o outro de um modo que a atividade circense consegue fazer (DE GASPARI; SCHWARTZ, 2007).

    Por se tratar de expressão corporal e com gestualidade é também conteúdo da área de conhecimento da Educação Física. O interessante de se observar o circo, do ponto de vista pedagógico da Educação Física é que os movimentos e os materiais usados têm uma adaptação ao estilo do artista, ao contrário dos esportes tradicionais em que o praticante tem que se adaptar ao modelo pronto (BARONI, 2006). Bolognesi (2001) complementa a idéia de expressão única do praticante em sua gestualidade discursando sobre o corpo do artista circense e afirmando que a matriz do circo é o corpo, sendo que: “o corpo não é uma coisa, mas um organismo vivo que desafia seus próprios limites (p.103)”. O circo é uma atividade expressiva que reúne conhecimentos de valores educativos que justificam sua presença na escola (DUPRAT; BORTOLETO, 2007).

    Segundo Silva apud Baroni (2006) se o corpo fosse encarado como elemento expressivo não seria classificado como mais ou menos hábil mas sim corpos que se expressam diferentemente ao contrário das atividades esportivas, ginásticas e de dança que classificam corpos melhores ou piores para determinadas modalidades, Na arte circense existe uma linguagem corporal mais voltada para a expressão do que a padronização de gestos

    A arte circense é um patrimônio da cultura universal, sendo que é considerada uma arte milenar. A arte circense engloba atividades como acrobacias, malabarismos e outras práticas corporais que são expressões humanas anteriores ao conceito de circo (BARONI, 2006). O circo (picadeiro, lonas, mastros, trapézios, desfiles, animais, etc.) é a versão moderna de entretenimentos antiqüíssimos vivenciados por diferentes povos e diferentes culturas (DE GASPARI; SCHWARTZ, 2007). O circo é considerado um entretenimento mais antigo do mundo e suas origens no Brasil datam século XIX. Através dos séculos incorporam novas roupagens tornando-se espetáculos culturais de natureza permanente. No espetáculo circense, alem das habilidades estão presentes a coreografia, a música, efeitos de luz, linguagem falada e animais selvagens (BOLOGNESI, 2001). Porém é importante ressaltar que o espetáculo circense é nascido da junção da arte eqüestre com outras formas de espetáculos das feiras e dos saltimbancos.

    O circo no Brasil ficou mais conhecido como circo tradicional ou circo família, pois os familiares circenses viviam embaixo na lona e pouco se relacionando com o mundo extracirco. O conhecimento artístico e de habilidades era exclusivo da família e se dava através do mestre (que era como a figura de um professor) assim como todos os afazeres do circo eram de responsabilidade dos familiares (BARONI, 2006).

    As escolas de circo surgiram para suprir a demanda de artistas, pois os circenses preocupados com o futuro de seus filhos (a vida no circo não estava mais sendo promissora) encaminhavam estes para viver o cotidiano das cidades. Assim o modelo familiar de circo sofreu uma ruptura, abrindo espaço para o Circo Novo ou Circo Contemporâneo (BARONI, 2006). Atualmente o numero de escolas circenses aumentou em relação à década passada e cada vez mais esse conhecimento é disseminado.

    Takamori et al (2010) analisam o processo histórico do circo e enquadram as atividades circenses dentro do conteúdo de atividades expressivas na disciplina de Educação Física, embora observem que a prática do circo ainda apresenta discriminação por ser considerada pelo senso comum como prática que não visa educar e sim divertir sem compromisso.

    Segundo a proposta pedagógica de Baroni (2006), desenvolver atividades que permeiam o universo circense envolve “O riso, a expressividade, a alegria, o prazer, a brincadeira, o lúdico, o sensível, o belo, a afetividade, a criticidade, a criatividade, o jogo, a linguagem (p. 94)” dentre outras.

    Com isso, observa-se que cada dia mais o circo tem se tornado alvo de estudos da área de Educação Física por suas características únicas e fascinantes.

Considerações finais

    A motivação é a norteadora do comportamento e há algumas práticas diferentes das modalidades esportivas que não são usualmente estudadas, como é o caso das atividades circenses, pois não foram encontrados estudos que relacionassem a motivação e atividades circenses.

    O professor/técnico que estiver desenvolvendo programas de atividade física deve compreender as razões do envolvimento para que possa intervir de forma efetiva na aprendizagem, pois sabe-se que motivo dirige e integra o comportamento. A motivação sofre diversos tipos de influências tais como a personalidade do indivíduo. As crianças estão em processo de formação de sua identidade e isso é importante de se observar.

    Deve-se ter em mente, como profissional que desenvolve atividades circenses que cada indivíduo procura as atividades para um determinado fim e ignorar esse fato pode levar a criança a ter uma experiência não agradável e de curta duração nessa modalidade. O conhecimento sobre elementos motivadores dá suporte para elaboração de um planejamento mais direcionado ao interesse do praticante aumentando a permanência na atividade.

    As atividades circenses englobam a área de estudos da Educação Física, assim como justifica o seu trabalho por professores capacitados, sendo que se constitui de uma prática corporal milenar, integrando o universo da cultura corporal. O circo, em seus diferentes aspectos e possibilidades, apresenta uma cultura corporal fascinante e acessível agora a público, que antes era somente expectador.

    Sugere-se, portanto que sejam realizadas pesquisas de campo nesta área de conhecimento da Educação Física.

Referências

  • BEE, H. A criança em desenvolvimento. São Paulo: Editora Harper & Row do Brasil, 1984.

  • BARONI, J. F. Arte circense: a magia e o encantamento dentro e fora das lonas. Goiânia: Pensar a Prática, 9/1:81-89, Jan./Jun.2006.

  • BOLOGNESI, M. F. Corpo como princípio. Trans/form/ação, São Paulo: n. 24, p. 101-112, 2001.

  • DAVIDOFF, L. Introdução a Psicologia. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1983. DE GASPARI, J.C.; SCHWARTZ, G.M. Vivencias em arte circense: motivos de aderência e expectativas. Motriz, Rio Claro, v.13, n3, p.158-164, jul/set 2007.

  • DE MARCO, A.; JUNQUEIRA, F.C. Diferentes tipos de influencias sobre a motivação de crianças numa iniciação desportiva. IN: PICCOLO, N.. Educação Física escolar: ser... ou não ter?. Campinas: Editora da UNICAMP, 1995.

  • DUPRAT; R.M.; BORTOLETO, M.A.C. Educação Física Escolar: pedagogia e didática das atividades circenses. Revista Brasileira de Ciências do Esporte: Campinas, v.28, n.2, p.171-189, jan. 2007.

  • GALLARDO, J.P. ; GUTIÉRREZ, L. L. As relações do circo com a escola. In: Bortoleto, M. A. C. (Org.). Introdução à Pedagogia das atividades circenses. Jundiaí: Fontoura, 2008, p.223-239.

  • HALL, C.S.; LINDZEY, G. Teorias da personalidade.São Paulo: EPU, 1984.

  • INTERDONATO, G. C.; MIARKA, B.; OLIVEIRA, A. R.; GORGATTI, M.G. Fatores motivacionais de atletas para a prática esportiva. Motriz: Rio Claro, v.14, n.1, p. 63-66, jan./mar., 2008.

  • LAKATOS, E.M.; MARCONI, M. de A. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Atlas S.A., 1992.

  • MACHADO, A.A. Psicologia do esporte: da Educação Física escolar ao esporte de alto nível. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.

  • MURRAY, E.J. Motivação e Emoção. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1983.

  • SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Cortez, 2002.

  • TAKAMORI, F.S.; BORTOLETO, M. A. C.; LIPORONI, M. O.; PALMEN, M. J. H.; DI CAVALLOTTI, T. Abrindo as portas para as atividades circenses na Educação Física escolar: um relato de experiência. Goiânia: Pensar a Prática, v. 13, n. 1, p. 116, jan./abr. 2010.

  • VENDRUSCOLO, C. R. P. O circo na escola. Rio Claro: Motriz, v.15, n. 3, p. 729-737, jul/set. 2009.

  • WEINBERG, R.S. Fundamentos da Psicologia do esporte e exercício. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001.

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