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A relação entre sociologia e esporte no Brasil: uma 

discussão das temáticas abordadas entre os anos 2000 e 2010

 

Graduado em Educação Física

pela Universidade Federal de Uberlândia

(Brasil)

Rodney Coelho da Paixão

dneyudi@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Embora seja uma área em crescente destaque, a Sociologia do Esporte é relativamente nova quando comparada aos demais campos de estudo da Sociologia, e isso é especialmente verdade no Brasil. Nesse sentido, o objetivo principal do presente trabalho foi discutir a relação entre Sociologia e Esporte, tendo como base seis artigos publicados em periódicos brasileiros a partir do ano 2000 até 2010. Diante às interpretações realizadas, ressalta-se a característica sobrepujante que o esporte de alto rendimento assume em relação às práticas esportivas escolares ou àquelas voltadas ao lazer, no que diz respeito ao seu simbolismo e a grande promoção e disseminação por parte da mídia. Além disso, vale destacar a necessidade de se consolidar um maior espaço de discussão sobre a Sociologia do Esporte a fim de superar a carência de profundidade histórica e teórica das pesquisas desenvolvidas.

          Unitermos: Relação. Sociologia. Esporte.

 

Abstract

          Although it is an area in growing attention, the Sport Sociology is relatively new when compared with others areas of study of the Sociology, and this is especially true in Brazil. In this sense, the major aim of the present study was discuss the relation between Sociology and Sport, based on six articles published in Brazilian journals from the year 2000 up to 2010. Taken into account the interpretations made, stands out the overriding feature that the high performance sport takes over in relation the school sports practices or those related to leisure, with regard to their symbolism and the great promotion and dissemination by the media. Furthermore, worth highlight the need to consolidate a higher space of discussion about the Sport Sociology to overcome the shortage of historic depth and theoretical of the researches developed.

          Keywords: Relationship. Sociology. Sport.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 161, Octubre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O presente estudo busca estabelecer uma relação entre Sociologia e Esporte. O conteúdo desse texto tem como base para além do conhecimento e a visão crítica-interpretativa do autor, conceitos-chave sobre o tema em questão, e, ainda, seis artigos científicos desenvolvidos ao longo da última década e publicados em periódicos brasileiros. Vale destacar que a discussão aqui proposta está atrelada, sobretudo, ao esporte de alto rendimento por considerar sua característica sobrepujante em relação às práticas esportivas escolares ou àquelas voltadas ao lazer, no que diz respeito ao seu simbolismo e a grande promoção e disseminação por parte da mídia.

Revisão, reflexão e produção de conhecimento em sociologia do esporte no Brasil

    Inicialmente, devemos nos atentar para a colocação de Bitencourt (2009) sobre a existência de vários “brasis”. Trata-se de um ponto extremamente relevante diante as dimensões continentais do Brasil e, por conseguinte à grande pluralidade de hábitos e valores específicos de uma determinada região, inclusive no que diz respeito ao esporte. Para mais, Tavares et. al. (2007, p.194) afirmam que o “Brasil é um país extremamente complexo, não podendo de forma alguma caber dentro de uma única fórmula ou de um único esquema explicativo”. Assim, nesse contexto dinâmico e, ao mesmo tempo, confuso de “quem somos” pode-se observar que muitos estudos da área apropriam-se do futebol como principal ferramenta de análise, já que essa modalidade é um fenômeno de público e crítica, e se faz presente em qualquer estado e cidade do país.

    É nessa vertente que Bitencourt (2009) discute as implicações da Copa do Mundo para o Brasil e para os brasileiros. Esse autor aponta o fascínio que tal evento exerce sobre a sociedade brasileira e o papel aglutinador que o futebol assume perante tanta desigualdade e diferença, que por vez são características típicas do nosso país. A “colaboração cultural entre negros, brancos e índios” (BITENCOURT, 2009, p.180) é, por exemplo, considerada como ponto-chave no desenrolar desse processo, sendo citada como favorecedora da articulação da brasilidade.

    Nesse sentido, podemos dizer que a cada quatro anos, quando acontece o principal evento de futebol do planeta, o Brasil vive um “momento especial” em sua história, reconstruindo-a. Momento esse que impulsiona a relação Esporte e Sociedade diante o envolvimento do povo brasileiro e o poder de impacto que a Copa do Mundo exerce sobre vários campos, dentre os quais: educacional, religioso e econômico, transformando-se, assim, em prato cheio para discussões acerca desse tema.

    Ao que parece, o brasileiro tende a transformar os resultados esportivos em proveitosos ou não proveitosos. Em outras palavras, as vitórias são bem-vindas e, antes disso, são esperadas com ansiedade, pois aquele que acompanha o esporte deseja ser um vencedor, denominando-se então como agente participativo de um triunfo alcançado. Surge então, porém, o que Bitencourt chama de “face preconceituosa e perversa”, quando os resultados esperados (vitórias) não são alcançados e a alegria e a euforia dão lugar a uma incessante busca de culpados pelas derrotas. Daí, ao invés de se auto-denominar vencedor, o indivíduo tende a eximir-se de uma eventual responsabilidade pela derrota. Trazendo isso novamente a uma análise dentro do tema proposto para discussão nesse texto, é fácil conectarmos tais atitudes “preconceituosas e perversas” com costumes e hábitos do dia-a-dia, principalmente se levarmos em consideração os valores capitalistas impregnados na esfera sócio-econômica atual.

    Manske et. al. (2006) destacam o esporte como fenômeno e prática social, sendo que o esporte de alto nível apresenta-se como referência para as práticas corporais executadas em outros locais como escolas, parques, clubes, associações, etc. Assim, embora haja certo distanciamento entre os movimentos esportivos de alto desempenho e aqueles praticados pela população em geral, existem certos pontos que os conectam. Considerando isso em um amplo sentido, podemos inferir que a mídia tem grande responsabilidade nessa relação diante a divulgação incessante de certas modalidades e do marketing sobre os principais atletas, que por vezes são promovidos a heróis nacionais, sobretudo nos períodos em que os grandes eventos são realizados.

    Ademais, em uma sociedade que se auto-proclama moderna, uma das grandes preocupações gira em torno do processo de inclusão de grupos desfavorecidos e não poucas vezes marginalizados (LABRONICI et. al., 2000), dentre os quais se encaixa àquele formado pelas pessoas com algum tipo de deficiência física. Nessa esfera, o esporte tem tido grande evidência nas últimas décadas, apresentando-se como uma ferramenta decisiva e de impacto positivo. Um dos fatores que colaboram para com esse reconhecimento é o excelente desempenho da delegação brasileira nos últimos jogos paraolímpicos, nos quais o Brasil ocupou um lugar dentre as potências mundiais. Em passagens do texto de Labrocini et. al. (2000) o esporte é indicado como parte da reabilitação de pessoas com mobilidade reduzida já que independentemente do tipo e grau de deficiência todo indivíduo apresenta um potencial de reserva que pode ser trabalhado. Assim sendo, o autor aponta para os benefícios do esporte sobre os aspectos físicos, psíquicos e sociais entre praticantes de diferentes modalidades.

    Outra discussão que não pode ser aqui esquecida está relacionada à ligação do esporte com a política (SANFELICE, 2010), e, por conseguinte com os caminhos da sociedade como um todo. Esse emaranhado de conceitos e práticas não é algo novo e exemplos bastante conhecidos podem ser citados. Nesse sentido, é comum observamos governos de diferentes países atrelando o sucesso esportivo com sucesso político. No Brasil, a Copa do Mundo serve muitas vezes como disseminadora da idéia de que “se a seleção vai bem o Brasil vai bem”. Em outras nações já fomos testemunhas de manifestações políticas atreladas aos Jogos Olímpicos, nas quais a vitória surge como símbolo de uma raça superior a dos adversários. Além de enxergarmos aqui um discurso que tenta mascarar os problemas do país, devemos nos atentar que isso só acontece porque surte efeito perante o povo. Em uma visão mais profunda o esporte apareceria então como um instrumento ludibriador de opiniões e potencialmente como promotor de sistemas políticos.

    Tão importante quanto às demais relações aqui já discutidas, é a associação entre campo midiático e campo esportivo. Em acordo com o pensamento de Sanfelice (2010) acreditamos na existência de uma sobreposição de campos ao invés de uma autonomia relativa defendida por Bourdieu. Além disso, defendemos que o avanço tecnológico que propulsiona o progresso dos meios de comunicação em massa e garante surpreendente velocidade na troca de informações tende a fortalecer cada vez mais essa relação. Em termos práticos pode-se citar a qualidade das transmissões esportivas e a repercussão quase que instantânea dos principais acontecimentos em todo o mundo. Nesse contexto, faz-se importante citar ainda Di Giovanni (2005) que em seu trabalho faz menção a um abrangente quadro de valores sociais, no qual o esporte é transformado em mercadoria.

    Assim, diante às problematizações e discussões levantadas no presente estudo pode-se concluir que houve sim algumas mudanças por parte da Sociologia na maneira de tratar o Esporte ao longo da última década. Devido ao escopo desse trabalho, não se realizou um estudo em profundidade teórica, o que o faz assumir então um papel descritivo. De qualquer maneira, entendemos que esse tipo de abordagem se faz extremamente importante e é inerente ao processo de construção do saber, desenhando-se como o pontapé de obras mais completas. Percebe-se que mesmo com a crescente atenção da Sociologia, e dos sociólogos, para com o Esporte ainda há muito que avançar. Afinal, a abertura para o tratamento desse tema ainda é pequena quando observada em nível de carga horária nos cursos de ensino superior, ou sua abordagem em eventos científicos tais como congressos, caracterizando falta de espaço para discussão. Cabe assim, destacar a necessidade de pesquisas sobre essa temática de forma a contribuir para o seu aprofundamento teórico e metodológico.

Referências

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