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Exercício físico como tratamento complementar na redistribuição

 da gordura corporal na síndrome da lipodistrofia em pessoas 

vivendo com HIV/AIDS. Estudo piloto

El ejercicio físico como tratamiento complementario en la redistribución de la grasa corporal 

en el síndrome de lipodistrofia en personas portadoras de HIV/SIDA. Estudio piloto

 

*Graduado em Educação Física

Mestrando da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto

da Universidade de São Paulo - EERP-USP

**Graduado em Educação Física. Doutorando EERP-USP

***Graduada em Pedagogia. Docente EERP-USP

****Graduada em Enfermagem. Docente EERP-USP

Wlaldemir Roberto dos Santos*

Pedro Pinheiro Paes**

Profa. Dra. Sonia Maria Villela Bueno***

Profa. Dra. Ana Paula Morais Fernandes****

wrsantos@usp.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A síndrome da lipodistrofia ocorre em portadores de HIV/AIDS e tem como principal característica a má distribuição da gordura corporal, que ocorre através da lipoatrofia que é a perda de gordura periférica (membros e rosto) e da lipohipertrofia, aumento da gordura central (abdômen, costas e pescoço). O estudo teve como objetivo avaliar a eficácia de um programa de exercício físico na melhora no quadro da lipodistrofia, participaram do estudo 6 pessoas, todos portadores do vírus HIV/AIDS de ambos os sexos e com média de idade de 41,1±11,3 anos. Para identificação das possíveis alterações causadas pelo treinamento resistido, foram feitas avaliações antropométricas (dobras cutâneas e perimetria) no início e no término de 60 sessões de treinamento. As escolhas dos exercícios foram feitas de maneira que os indivíduos conseguissem trabalhar especificamente as regiões afetadas pela síndrome da lipodistrofia visando o aumento do tecido muscular e a diminuição do tecido adiposo. O treinamento proposto conseguiu melhorar o quadro da lipohipertrofia que caracteriza o aumento da gordura central. Além do mais, os resultados mostraram que durante o estudo, não se obteve piora nos quadros da síndrome apresentada por essa população. Com isso, conclui-se que programas de exercícios físico, podem ser utilizados como tratamento complementar na síndrome da lipodistrofia, utilizando protocolos de treinamentos periodizados de acordo com o objetivo e as necessidades dos indivíduos.

          Unitermos: Exercício físico. HIV/AIDS. Síndrome da lipodistrofia.

 

Abstract

          The lipodystrophy syndrome occurs in HIV/AIDS and its main characteristic is the maldistribution of body fat that occurs through that lipoatrophy is the loss of peripheral fat (limbs and face) and lipohypertrophy, increased central fat (abdominal , back and neck). The study aimed to evaluate the effectiveness of an exercise program in improving the framework of lipodystrophy, the study involved six people, all people with HIV/aids and of both sexes with a mean age of 41.1 ± 11, 3 years. To identify possible alterations caused by endurance training, assessments were made anthropometric (skinfold and girth) at the beginning and end of 60 training sessions. The exercise of choices was made so that individuals were able to work specifically the regions affected by the syndrome of lipodystrophy in order to increase muscle tissue and decrease fat tissue. The proposed training could improve conditions for lipohypertrophy that characterizes the increase in central fat. Moreover, the results showed that during the study, there was no worsening of the syndrome in the tables presented by this population. Thus, we conclude that physical exercise programs can be used as complementary treatment of lipodystrophy syndrome, using periodized training protocols in accordance with the objectives and the needs of individuals.

          Keywords: Exercise. HIV/AIDS. Lipodystrophy syndrome.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 160, Septiembre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    O vírus da imunodeficiência Humana (HIV) foi identificado pela primeira vez nos Estados Unidos no início da década de 80. Até hoje se estima que 39,4 milhões de pessoas foram infectadas com o vírus em todo o mundo. No Brasil, cerca de 630 mil pessoas vivem com HIV. Entre 1980 e 2009 foram registrados 217 mil mortes em decorrência da doença (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009).

    O HIV é um retrovírus humano que infecta linfócitos e outras células que contém o marcador de superfície CD4. A infecção leva a linfopenia, deficiência e disfunção de linfócito CD4, comprometimento da resposta imune celular e da ativação de linfócitos B. Essa desestruturação imune da origem a AIDS (síndrome da imunodeficiência adquirida), que se caracteriza por infecções oportunistas e doenças malignas raras. O período de incubação do vírus é de 6 a 10 anos (SHUBHADA et al., 2008).

    Várias pesquisas sobre o medicamento anti HIV/AIDS foram realizadas desde a identificação da doença. Somente em 1995, depois de diversas pesquisas foram autorizados os inibidores de protease, uma categoria de medicamentos também denominados antirretrovirais, que são medicamentos que agem na redução da velocidade de multiplicação viral e diminuição da debilidade do sistema imunológico, mantendo o nível de replicação do vírus o mais baixo possível, inclusive abaixo dos níveis detectáveis pelo exame da carga de vírus no organismo (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009).

    Efeitos adversos têm sido associados à terapia antirretroviral prolongada, particularmente com o uso dos inibidores de protease, dentre esses, a síndrome da lipodistrofia (SL), que se caracteriza pela má distribuição da gordura corporal, se manifestando através da lipoatrofia e lipohipertrofia, sendo que a prevalência é cerca de 64,0% em homens e 10,5% em mulheres. A lipoatrofia se caracteriza por perda de gordura subcutânea na face, no glúteo, nos membros superiores e inferiores, ficando veias de braços e pernas mais proeminentes, já a lipohipertrofia por aumento da gordura abdominal, concentração de gordura na região dorso cervical, ginecomastia e aumento das mamas nas mulheres. Os indivíduos soropositivos podem apresentar uma ou ambas as manifestações (CARR et al., 1998; GEOFFREY et al., 2009; GERVASONI et al., 1999; GUARALDI et al., 2006; LINDEGAARD et al., 2008; MANSUR et al., 2006; OSMO, 2007; PIRMOHAMED et al., 2004; ROBINSON et al., 2007; VALENTE et al., 2005).

    Outras modificações também podem ocorrer com a SL, como o aumento de veias periféricas, queda de pêlos do corpo e diminuição dos níveis de testosterona, levando a importantes modificações no corpo dos pacientes. Alterações na gordura corpórea não apresentam riscos substanciais à saúde no futuro, porém estas mudanças poderão estigmatizar as pessoas, sendo uma fonte potencial de stress, provocando vergonha e receio de se expor publicamente e impedindo muitas vezes que esse indivíduo busque o convívio social. Isto os afeta psicologicamente, contribuindo para a diminuição da adesão ao tratamento antirretroviral (MONTESSORI et al., 2004; PACCAGNELLA, 2002, 2007).

    Até o momento, não há tratamento comprovado para SL causada pelos medicamentos antirretrovirais. Tratamentos vêm sendo estudados, tais como hormônio de crescimento humano, esteróides anabolizantes e estimulantes de apetite. Em casos extremos de lipohipertrofia, a cirurgia para remover depósitos de gordura é utilizada, embora isto possa ser inadequado para o acúmulo de gordura no abdômen. Em casos de lipoatrofia, para corrigir as mudanças faciais, várias formas de cirurgias têm sido utilizadas com êxito, todas utilizando a aplicação de metacrilato para preenchimento facial (LINDEGAARD et al., 2008; MANSUR et al., 2006).

    Tem sido descrito que a prática de exercícios físicos (EF) ajudam no controle das manifestações provocadas pela infecção do vírus e os efeitos adversos do seu tratamento, como a SL. Vários são os benefícios da atividade física na promoção da saúde, tais como: aumento da força e resistência muscular, melhora dos sistemas cardiopulmonar, imunológico e gástrico, do metabolismo glicídico, dos níveis de gordura sérica, aumento da densidade óssea, controle de doenças crônicas com implicações cardiovasculares, levando à sensação de bem-estar e prazer com melhora da qualidade de vida (ACM’S 2002; GUARALDI et al., 2006; KEVIN et al., 2001; MILLER et al., 2007; ROUBENOFF et al., 2002; SOUZA et al., 2008). Entretanto, esses estudos não apontam um consenso sobre o exercício físico como tratamento complementar para a SL em indivíduos contaminados com o HIV/AIDS.

    Visto que: 1) Efeitos adversos ao uso dos HAART levam a alterações na deposição da gordura corporal e alterações metabólicas; 2) As alterações na deposição da gordura corporal têm sido relatadas pelos pacientes como um visível marcador para a identificação de pessoas infectadas pelo HIV, que remete fatalmente, para a estigmatização, desmoralização e depressão, que eventualmente os levam a perda da aderência ao tratamento e descontrole da sua infecção; 3) O grande número de pessoas afetadas pela SL; 4) As alterações metabólicas levam a doenças crônicas com implicações cardiovasculares; 5) Poucos estudos têm relatado a influência do EF nas alterações associadas com a SL; 6) Ainda não há um consenso sobre os tratamentos complementares, como EF para a SL; Este estudo piloto pretende avaliar a influência do EF na redistribuição da gordura corporal na síndrome da lipodistrofia em pessoas vivendo com HIV/AIDS.

2.     Objetivo

    Avaliar a influencia do exercício físico na redistribuição da gordura corporal na síndrome da lipodistrofia em pessoas vivendo com HIV/AIDS.

3.     Metodologia

    A amostra foi composta por seis indivíduos de ambos os sexos, portadores do vírus HIV/AIDS, que fazem uso da terapia antirretroviral e acometidos pela SL, com média de idade de 41,1±11,3 anos. Após aprovação do comitê de ética do HCFMRP-USP, com o parecer 6692/2010, assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido e os atestados médicos liberatórios, foram realizadas avaliações antropométricas (dobras cutâneas e perimetria) em todos os indivíduos no início e no final de um programa de condicionamento físico, realizado num período de 60 sessões (5 meses) com freqüência semanal de 3 dias, sendo todas as segundas, quartas e sextas. O programa era composto por 10 minutos de bicicleta e treinamento resistido (musculação). Para determinar a intensidade de treinamento foi utilizado o teste de uma repetição máxima (1RM) que é considerado como parâmetro para se determinar intensidade do treinamento, os exercícios foram escolhidos de acordo com o objetivo e as necessidades dos indivíduos, realizando 6 sessões de adaptação com 3 séries de 15 repetições com 40% da sua carga máxima. Após esse período se realizou 12 sessões de evolução com 3 séries de 15 repetições com 50% da carga máxima, seguido por 42 sessões do período especifico, com 3 séries de 12 repetições de 70 a 80% da sua carga máxima. Os dados obtidos foram coletados e armazenados em planilhas no Microsoft Excel 2007 e submetidos analise estatística descritiva.

4.     Resultados e discussão

    Os resultados mostram que houve uma diminuição média nos níveis de gordura nos pontos mensurados na região do tronco (subescapular, suprailíaca, axilar média e abdominal) de 10,79%±2,03. Antes da intervenção, no ponto subescapular os indivíduos tinham em média 17±4,9mm de gordura passando para 15,5±5,5mm (-8,82%), já no ponto suprailíaco era 13,8±8,5mm reduzindo para 12,6±8,2mm (-8,70%), no ponto axilar médio era 14,1±4,7mm passando a ser 12,5±5mm (-11,35%) e no abdominal os níveis de gordura era 17,5±9,4mm reduzindo para 15±8,8mm (-14,29%).

    Os resultados encontrados nas dobras cutâneas de membros superiores (bicipital e tricipital) apresentaram perda média de gordura de 8,23%±2,68, com no ponto tricipital que era 11±5,1mm passando a ser 9,8±4,1mm (-10,91%), já o ponto bicipital era 7,2±1,7mm passando para 6,8±2,1mm (-5,56%). Os resultados de membros inferiores (coxa e panturrilha) foram os que apresentaram menor perda de gordura, com média de 5,85%±3,15: o ponto da coxa tinha 11,8±8,2mm passando para 11,6±7,9mm (-1,69%) no ponto da panturrilha 12,5±9,3mm passando a ser 11,5±8,4mm (-8,0%). Outra medida utilizada foi a perimetria, foram medidas as circunferências do tronco (ombro, peitoral, cintura, abdômen e quadril) com perda média de circunferência de 0,44%±0,52; os membros superiores (braço e antebraço) obtiveram ganho médio de 1,77±%0,58; os membros inferiores (coxa e perna) apresentaram perda média de 0,20%±0,41.

    Levando em consideração as medidas de dobras cutâneas e perimetria, os dados obtidos mostram que na região do tronco, área característica da lipohipertrofia houve uma perda de gordura significativa de 10,79±2,03 (dobra cutânea) e uma da circunferência de 0,44%±0,52 (perimetria), o que indica que houve perda de gordura localizada nessa região. No membro superior houve perda de gordura de 9,23%±2,68 (dobras cutâneas), com ganho de circunferência de 1,67%±0,58, que indica uma perda de gordura acompanhada de ganho de massa muscular. Nos membros inferiores houve uma perda de gordura de 4,86%±3,15 (dobras cutâneas) com a circunferência tendo uma pequena redução de 0,20%±0,41 (perimetria), sugerindo que houve uma perda de gordura localizada com pequeno aumento da massa muscular que praticamente manteve a circunferência inicial. Estudos realizados apontam que o EF promove alterações na SL, porém acredita-se serem necessários maiores estudos sobre o tema, devido às alterações apresentadas, que podem ser influenciadas por fatores além da atividade física, como os hábitos nutricionais e o uso de fármacos não controlados.

5.     Conclusão

    Conclui-se que programas de EF, podem ser utilizados como tratamento complementar na SL, utilizando protocolos de treinamentos periodizados de acordo com o objetivo e as necessidades dos indivíduos. Com o treinamento proposto conseguiu melhorar o quadro da lipohipertrofia que caracteriza o aumento da gordura central. Além do mais, os resultados mostraram que durante o estudo, não se obteve piora nos quadros da síndrome apresentada por essa população. Pouco se sabe sobre os benefícios da atividade física para pessoas que vivem com HIV/AIDS, busca de novos estudos são de suma importância, pois irão contribuir de maneira que faça da atividade física uma alternativa no tratamento desses indivíduos, conseguindo melhoras no seu bem estar físico, clínico e psico-social, levando conseqüentemente a melhoras na qualidade de vida.

Referências

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