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Avaliação da função neuromuscular: força máxima concêntrica,

isométrica e excêntrica, força muscular isocinética e força reativa

Evaluación de la función neuromuscular: fuerza máxima concéntrica, 

isométrica y excéntrica, fuerza muscular isocinética y fuerza relativa

 

Mestrando em Treino de Alto Rendimento

Faculdade de Motricidade Humana

(Portugal)

Daniel Bemfato Dezan

Flávio Montes

Diogo Cardoso Santos

César Andrade

db_dezan@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O estudo da função neuromuscular tem-se revelado de extrema importância em inúmeras áreas, nomeadamente na área do desempenho humano em actividades da vida quotidiana, profissionais ou esportivas. As avaliações da função neuromuscular são de extrema importância, dado que nos fornecem informação sobre as estratégias neuromusculares adotadas em diversas condições. Para tal serão analisadas neste artigo algumas das principais avaliações relacionadas a função neuromuscular.

          Unitermos: Avaliação. Força máxima. Força muscular. Força reativa.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 160, Septiembre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    O estudo da função neuromuscular tem-se revelado de extrema importância em inúmeras áreas do desempenho humano, principalmente no desempenho desportivo.

    O conceito de força, sob o aspecto físico, somente pode ser interpretado a partir do efeito de sua ação, e assim, podemos interpretar seus efeitos estáticos e dinâmicos. A força muscular pode ser a capacidade que um músculo exerce contra uma resistência, superando, sustendo ou cedendo a essa resistência. Devido às várias informações que existem a respeito de força muscular, pode se dividir a força em várias formas de manifestação, como força máxima (FM), força rápida (FRa) e força de resistência (FRe). Segundo Platonov & Bulatov (1998), a FM é o potencial máximo que o desportista pode demonstrar durante uma contração voluntária máxima. Segundo o autor, o nível da FM se manifesta pela magnitude da resistência externa que o desportista vence ou neutraliza com uma completa mobilização das possibilidades do seu sistema neuromuscular. Badillo & Ayesterán (2002) diz que a FM se divide em três, FM isométrica, FM excêntrica e FM dinâmica.

2.     Revisão da literatura

2.1.     Avaliação concêntrica, isométrica e excêntrica da força máxima

    Avaliar a força máxima em termos isométricos, concêntricos e excêntricos, comporta significados distintos, sendo a força máxima excêntrica maior que a força máxima isométrica e a força máxima isométrica maior que a força máxima concêntrica. Uma forma de avaliar a força máxima de um indivíduo em qualquer termo isométrica, concêntrica ou excêntrica e através da analise da curva força – tempo. Nessa curva podemos observar a capacidade em exercer força em momentos diferentes. Na figura 1 podemos observar uma zona de força crescente seguida de um plateau, zona onde se atinge a FM isométrica (Badillo & Ayesterán, 2002):

Figura 1. Curva Força-Tempo

    Podendo também obter o deficit de força (DF) entre a contração máxima isométrica e a contração máxima excêntrica (figura 2). Entendo – se como DF a diferença entre Força Excêntrica Máxima (FExcMax) e a Força Isométrica Máxima (FIsomMax), traduzindo como uma indicação sobre a capacidade do Sistema Neuromuscular em ativar toda massa muscular de um determinado grupo muscular, sendo assim um indicador da capacidade de ativação nervosa (Mil-Homens, 2008). Se o deficit por pequeno, o incremento de força dependerá principalmente de alterações estruturais e se o DF for grande, de alterações neurológicas.

Figura 2. Curva Força-Tempo de extensão dos membros inferiores. Até a linha vertical o sujeito realizou uma ação muscular isométrica, após uma carga supra-maximal,

 o sujeito teve que resistir através uma ação muscular excêntrica. A diferença entre o valor da FExcMax e FIsomMax traduz o conceito de DF (Mil-Homens, 2008)

2.2.     Avaliação isocinética da força muscular

    A avaliação da força muscular isocinética é largamente utilizada. Tem sido sugerido que as diferenças bilaterais de força e a razão dos torques máximos antagonista/agonista estão relacionadas com as exigências específicas dos diversos desportos (Calmels, et. al., 1995). Deste modo, o padrão motor de uma determinada modalidade desportiva poderá influenciar o perfil funcional dos atletas. A avaliação isocinética (AvI) como o próprio nome indica é um tipo de avaliação em que a velocidade é sempre a mesma ao longo do trajeto motor (60º/s, 90º/s, 180º/s, 360º/s). A resistência adapta-se automaticamente à força exercida, permitindo uma maior segurança na execução de movimentos em situação de lesão. Os desequilíbrios musculares são um dos fatores mais referidos na literatura como causa provável de lesões desportivas.

    Na AvI, uma das limitações em relação ao treino desportivo é que esta não possibilita a reprodutibilidade da maioria dos movimentos específicos de diversos desportos, pois é realizado a uma velocidade pré-determinada e em situação real estas apresentam valores muito superiores. Ainda assim, a AvI vem sendo constantemente utilizada os principais parâmetros analisados na AvI são:

  • Momento Máximo: ponto mais elevado da produção de força;

  • Potência Média: calculada pela média dos pontos máximos de produção de força;

  • Trabalho Total: calculado pela área total ocupada por uma ou várias séries consecutivas de curvas de força;

  • Índice de Fadiga: com base num número elevado de repetições, calcula-se através da diferença entre a produção máxima de força e a produção mais baixa. Essa diferença percentual dá-nos um índice de perda da força atribuível á fadiga;

  • Défices Agonista/Antagonista: relação abaixo dos 55% apresenta-se como um risco acrescido de ruptura dos músculos da face posterior da coxa;

  • Défices Bilaterais: as diferenças significativas entre os membros direito e a esquerdo deverão estar abaixo dos 15%.

    Baseado no que foi exposto acima, acreditamos que é de fundamental importância a realização de avaliações isocinéticas para o controlo e prevenção de défices de força e lesões.

2.3.     Avaliação da força reativa

    Ao falarmos de Força Reativa, estamos nos referindo a movimentos pliométricos, ou seja, movimentos que envolvam o Ciclo Muscular Alongamento-Encurtamento (CMAE). Neste tipo de movimento, ocorre um complexo acoplamento de trabalho excêntrico e concêntrico. Baseia-se na utilização da energia cinética de um corpo, acumulada na queda de uma determinada altura para estimular as contracções musculares (Platonov, 2004), sendo relativamente independente das outras componentes da força.

    Em termos fisiológicos, são aproveitados momentos do reflexo de alongamento desencadeado pelo fuso neuromuscular que leva a uma maior inervação das fibras musculares e, com isso, a um maior e mais rápido desenvolvimento da força na contração subsequente; da inervação prévia que imediatamente antes do salto consegue uma base ótima de inervação (nível inicial de stiffness muscular) para a posterior atividade do músculo além de alterar a condição de tensão e elasticidade do músculo (tamanho e velocidade do alongamento prévio); e finalmente, dos componentes elásticos do músculo onde a energia cinética é armazenada após seu alongamento e depois acrescentada a energia produzida pela contração muscular.

    Segundo Mil-Homens (2008), a performance do CMAE esta assim, essencialmente associada a qualidade dos mecanismos de regulação neurais e ao estado de treino/adaptação do complexo musculo-tendinoso relativamente ao seu potencial contrátil e elástico.

    O tipo de avaliação mais utilizado para mensurar força reactiva de membros inferiores é realizado através de 3 tipos de saltos - Squat Jump (SJ), Counter-Moviment Jump (CMJ) e o Drop Jump (DJ) - sendo que o SJ realiza unicamente trabalho concêntrico e o CMJ e DJ realizam trabalho excêntrico-concêntrico. A diferença entre o SJ e o CMJ ou DJ é que vai orientar ao tipo de treino que deve ser realizado.

3.     Procedimentos

3.1.     Procedimentos para avaliação da concêntrica, isométrica e execêntrica da força máxima

    A avaliação concêntrica, isométrica e excêntrica da força máxima pode ser tanto de membros inferiores como membros superiores de forma unilateral ou bilateral em máquinas de musculação como Leg-Press e Supino. Ligando, a respectiva máquina sensores de deslocamento.

    Para o registro das Curvas Força-Tempo o software de aquisição e processamento de sinais – Acqknowledge 3.8.1 pode ser usado, que consisti em verificar os valore máximos da Força Concêntrica, Isométrica e Excêntrica, devendo definir os canais de recolha e calibrar os canais de recolha.

3.2.     Procedimentos para avaliação isocinética da força muscular

    A AvI pode ser realizada em um dinamómetro isocinético (Biodex Sistem), avaliando os grupos musculares agonistas e antagonistas, flexores e extensores da perna, por exemplo, quando se pretende avaliar Défices Agonistas\Antagonistas ou Défices Bilaterais. Após um aquecimento prévio o avaliado se posiciona sentado e estabilizado por meio de um cinto pélvico, quando se pretender fazer avaliações em membros inferiores no movimento de extensão e flexão, as velocidades angulares devem ser escolhidas. Para o registro dos sinais eléctricos pode ser utilizado o programa Acqknowledge 3.8.1.

3.3.     Procedimentos para avaliação da força reativa

    Uma forma de avaliação da força reactiva é a utilização de uma plataforma de contato juntamente com a utilização de um cronómetro que permitiu mesurar os tempos de contacto e de voo, e também a elevação do centro de gravidade (CG) do indivíduo ou a utilização de um tapete de contato conhecido como Ergojump, conectado a um interface, onde os dados serão registrado no programa Kinematics Menasurement System, que mede a altura do salto através do tempo de voo do avaliado.

    Os saltos usados são os seguintes:

Squat Jump (SJ)

    O executante parte de uma posição estática com os joelhos flexionados em um ângulo de aproximadamente 90º, mãos fixas na cintura, pés paralelos com afastamento correspondente a largura dos ombros, sendo que a partir desta posição inicial é permitido apenas o movimento ascendente, portanto, um salto sem movimento preparatório executado a partir da posição estática.

Counter-Movement Jump (CMJ)

    Com um movimento de preparação (contramovimento) em que é permitido ao executante realizar a fase excêntrica para, a seguir, executar a fase concêntrica do movimento. O indivíduo parte de uma posição em pé, com as mãos fixas na cintura e os pés paralelos e separados aproximadamente à largura dos ombros, e se movimenta para baixo flexionando o quadril, joelhos e tornozelos (fase excêntrica). A transição da fase excêntrica para a fase concêntrica, acontece em um movimento contínuo e no qual o seguimento é estendido o mais rápido possível.

Drop Jump (DJ)

    O executante realiza uma queda de uma altura pré-determinada com o objectivo de realizar um deslocamento ascendente subsequente, utilizando-se dos mecanismos musculares envolvidos no CMAE. O indivíduo parte de um banco, na posição em pé e com as mãos apoiadas na cintura. A partir daí, realiza uma queda com os dois pés simultâneos sobre a plataforma executando a seguir e de forma contínua, um salto vertical procurando atingir a maior altura possível. É importante ressaltar que no momento de iniciar a queda, o executante não deve realizar nenhum impulso para cima, pois tal procedimento vem a alterar a altura de queda, o que torna os resultados obtidos imprecisos.

4.     Conclusão

    Sabendo que as diferentes manifestações da força é fundamental no desempenho desportivo, nas diferentes modalidades, a mensuração destas capacidades vem se tornando cada vez mais importante, principalmente se tratando de desporto do alto rendimento. A avaliação da força permite saber em que estado se encontra o atleta perante estas capacidades físicas, permitindo-nos determinar a escolha de métodos de treino em função das necessidades do atleta. Quer na avaliação quer no planeamento devemos ter sempre em conta a especificidade da modalidade e a individualidade do desportista.

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