efdeportes.com

O brinquedo cantado na escola: uma 

ferramenta no processo de aprendizagem

El juego cantado en la escuela: una herramienta en el proceso de aprendizaje

 

*Doutor em Educação pela Universidade Federal da Bahia – UFBA

Professor do Departamento de Educação Física

da Universidade Federal do Sergipe - UFS

**Pós-graduanda em Educação Física Escolar, Psicomotricidade

e Jogos Cooperativos pela CENSUPEG. Graduada em Educação Física

pela Universidade de Brusque – UNIFEBE. Professora

da Rede Pública Municipal de Brusque

***Pós-Graduando em Educação Física Escolar do Centro de Educação Física

e Desportos da Universidade Federal de Santa Maria-RS CEFD/UFSM

Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física do PPGE/UFSM

Fabio Zoboli*

Magali Sens Furtuoso**

Cassiano Telles***

telleshz@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Brincar é mais do que uma atividade sem conseqüência para a criança, brincando a criança não apenas se diverte, mas recria e interpreta o mundo em que vive, se relaciona com este mundo. Brincando, a criança aprende. Por isso, cada vez mais os educadores recomendam que os jogos e brincadeiras ocupem um lugar de destaque no programa escolar desde a Educação Infantil. Recordar alguns significados etimológicos de escola como: divertimento, recreio, lugar de lazer, lugar de estudo, aula, indica que ela, a escola, foi pensada como um espaço onde seria possível divertir-se, onde haveria um tempo livre para pensar e estudar. Assim, a escola pode – e deve – ser um lugar de brincadeiras e jogos, de atividades que fazem sentido para as crianças. Nessa dimensão, pesquisa, vem com a intenção de ser uma ferramenta para minimizar as dificuldades que a escola encontra para identificar formas de transformar as aulas menos entediantes, contribuindo com o reencanto das aulas, da educação e da vida, inspirado na cultura popular, na vitalidade da expressão das brincadeiras de roda e dos jogos infantis, oferecendo ao educador uma reflexão e um instrumento construído por ele mesmo a partir da vivência em sala de aula, na escola e na comunidade – a vivência do encontro com a criança, seu mundo afetivo, alegre e transcendente.

          Unitermos: Brinquedo cantado. Criança. Aprendizagem.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 159, Agosto de 2011. http://www.efdeportes.com

1 / 1

Introdução a investigação

    O Estatuto da Criança e do Adolescente assegura o direito da brincadeira na infância. No entanto, o que se vê é uma sociedade que tende a manter crianças ativas intelectualmente e passivas corporalmente. Isto prejudica gravemente a sua formação já que a criança precisa de movimento para ter uma vida saudável. E, além disso, com acesso a tantas ferramentas tecnológicas e brinquedos eletrônicos, a idéia que se tem é a de que a criança moderna não sabe e não gosta mais de brincar, o que não é verdade. (PAIVA, 2000).

    Existe comprovação específica na literatura sobre a importância da ludicidade e do brincar para o desenvolvimento psicomotor da criança. O brinquedo cantado é uma forma lúdica que oferece à criança a possibilidade de brincar com o seu próprio corpo, seja através de música, expressão vocal, frases, palavras ou sílabas ritmadas, entoadas tanto pelas crianças quanto pelos adultos, são cantigas que vieram de geração a geração e que se propagaram pela tradição oral, na maioria das vezes. Verderi (1999) ressalta que, quando aplicado na infância, o brinquedo cantado aprimora a corporeidade, o intelecto, esquema corporal, orientação espacial e temporal, percepções, desenvolve o ritmo, auto-formação, auto-conceito, auto-imagem, a cooperação, a afetividade, o gosto pelo canto, pela dança, enfim tudo aquilo que a sociedade espera de um futuro cidadão.

    A união da música com as atividades que envolvam o corpo pode trazer às crianças uma série de benefícios atingindo diferentes áreas do desenvolvimento humano como cognitivo social e físico.

    No início de 2008 em decorrência de uma pesquisa realizada com aprovação de uma instituição pública, passamos a lecionar e pesquisar em uma escola municipal de Brusque, onde tivemos a possibilidade de observar uma ausência de atividades que tentassem chegar ao lúdico e também a musicas. Como a proposta da pesquisa era identificar aquele grupo com brinquedos cantados, passamos a planejar e ministrar nossas aulas dando bastante ênfase nas atividades consideradas lúdicas e brinquedos cantados. Foi possível observar que a música, a dança e as atividades “lúdicas” eram na maioria das vezes consideradas prazerosas e motivantes para os alunos, podendo serem inseridas com mais freqüência na escola e na vida do aluno. Isso nos instigou na escolha do título desta investigação.

    A questão central desta pesquisa consiste em destacar aspectos que podem dar margem a uma utilização mais ampla deste recurso pelos professores em sua prática pedagógica, nas suas diversas áreas de atuação, (trazendo-o para o currículo do ensino fundamental), bem como investigar as principais implicações sobre a não aplicação do brinquedo cantado nos contexto escolar, enfatizando suas contribuições no processo de ensino-aprendizagem e desenvolvimento da criança através de aulas diferenciadas e agradáveis.

    Diante do exposto, acredita-se que o brinquedo cantado utilizado de forma orientada assume grande importância para os alunos e acaba contribuindo para melhoria do ambiente escolar.

A brincadeira como instrumento de socialização

    A infância é um momento de apropriação de imagens e de representações diversas que transitam por diferentes canais e muitas são suas fontes. E o brinquedo é, com suas especificidades, uma dessas fontes. Se ele traz para a criança um suporte de ação, de manipulação, de conduta lúdica, traz-lhe, também, formas e imagens, símbolos para serem manipulados.

    A cultura lúdica não está fechada em torno de si mesma; ela integra elementos externos que influenciam a brincadeira: atitudes e capacidades, cultura e meio social. Os brinquedos se inserem nesse contexto. Para se tornar um verdadeiro objeto de brincadeira, tal objeto deve encontrar seu lugar, “cavar seu espaço” na cultura lúdica da criança.

O jogo e as atividades consideradas lúdicas

    A importância da brincadeira para o desenvolvimento da criança foi reconhecida recentemente. Até pouco tempo atrás, não se reconhecia a criança com características próprias, a criança não era diferenciada do adulto e participava das mesmas atividades, como festas, brincadeiras, trabalhos, vida na rua, etc. O reconhecimento da infância consequentemente favoreceu o reconhecimento da atividade lúdica e esta, dia após dia, foi ganhando novas conotações.

    Pesquisas recentes comprovam que ao se trabalhar de forma a tentar chegar o mais próximo do lúdico não se deixa de apresentar os conteúdos à criança, mas se proporciona uma aprendizagem prazerosa, pois as atividades consideradas lúdicas são indispensáveis para o desenvolvimento físico, emocional e intelectual sadio das crianças. Jogos, atividades físicas, brinquedos e brincadeiras fazem parte do mundo das crianças, pois estão presentes desde o seu nascimento.

    O brincar na infância deve ser visto como um importante recurso pedagógico. Por meio destas atividades, a criança comunica-se consigo mesma e com o mundo, aceita a existência dos outros, estabelece relações sociais e constrói conhecimentos, desenvolvendo-se integralmente.

    Também auxilia no processo de socialização infantil, na interação entre as crianças, nas formas de participação de cada elemento, no desempenho de papéis, observar o nível de aceitação de cada participante do grupo lúdico, as atitudes e os preconceitos, o surgimento de lideranças entre outras.

    As crianças brincam com muita intensidade na fase pré-escolar, porém sem a atenção adequada da escola. Quando brincam em aula, geralmente o objetivo é passar o tempo. Porém, o jogo realizado dentro da escola deveria ser aquele que se inclui em um projeto, que tem objetivos educacionais. Com o brinquedo, a professora deveria saber onde chegar, o que desenvolver. Assim, o objetivo educacional deveria ser o de criar atividades que facilitem à criança tomar consciência de seu corpo e de suas ações.

    É papel da escola é garantir espaços para estas atividades, tanto em sala de aula como ao ar livre, pois a utilização das brincadeiras e dos jogos no processo pedagógico pode garantir o conhecimento dos conteúdos, possibilitando maior eficácia no processo ensino-aprendizagem, estimulando, assim, o desenvolvimento da criança.

    A tentativa de chegar ao lúdico em sala de aula pode ser trabalhada em todas as atividades, pois é uma maneira de aprender/ensinar que desperta prazer e dessa forma, a aprendizagem se realiza. Os jogos e brincadeiras também podem ser utilizados para ajudar os alunos a superarem bloqueios que possam existir na aprendizagem dos conceitos em algumas matérias escolares. No entanto, o verdadeiro sentido da educação lúdica só estará garantido se o professor estiver preparado para realizá-lo, tendo conhecimento sobre os fundamentos da mesma.

    As brincadeiras são formas mais originais que a criança tem de se relacionar e de se apropriar do mundo. É brincando que ela se relaciona com as pessoas e objetos ao seu redor, aprendendo o tempo todo com as experiências que pode ter. São essas vivências, na interação com as pessoas de seu grupo social, que possibilitam a apropriação da realidade, da vida e toda sua plenitude.

    Brincando, o sujeito aumenta sua independência, estimula sua sensibilidade visual e auditiva, valoriza sua cultura popular, desenvolve habilidades motoras, exercita a imaginação, criatividade, socializa-se, interage, reequilibra-se, recicla suas emoções, sua necessidade de conhecer e reinventar e, assim, constrói seus conhecimentos.

    Segundo Teles (1997), a sociedade de consumo cria nas crianças necessidades falsas, como a de ter um videogame, uma boneca sofisticada, um “robocop”, guloseimas extravagantes, cheias de anilina e outros elementos químicos, que prejudicam seu organismo. Para a criança ter um desenvolvimento feliz e saudável, física e psicologicamente, ela necessita de uma série de fatores indispensáveis como, por exemplo, brincar. Para a autora, brincar se coloca num patamar importantíssimo para a felicidade e a realização da criança no presente e no futuro.

    Teles (1997, p. 15) relembra: “Brincar, acima de tudo brincar com liberdade, é uma das condições para estimular, principalmente, a criatividade”.

    A autora afirma ainda que o brincar é uma das necessidades indispensáveis para uma infância saudável e serve de alicerce para a formação de um adulto feliz, criativo, equilibrado, aberto para a vida, o mundo e as pessoas. Criança que não brinca e que desenvolve muito cedo a noção do peso da vida, não tem um desenvolvimento sadio o que, de alguma forma, se manifestará em sua personalidade quando adulta.

    Fazendo uma análise destes conceitos observa-se a grande importância da ludicidade no processo ensino-aprendizagem das crianças, principalmente no que diz respeito à motivação e facilidade em que as mesmas têm em aprender através de jogos e brincadeiras. Teles (1997, p. 14) relata que: “Brincando, ela (a criança) explora o mundo, constrói o seu saber, aprende a respeitar o outro, desenvolve o sentimento de grupo, ativa a imaginação e se auto-realiza”.

    Para Macedo et al (2005) o brincar é tão fundamental para o nosso desenvolvimento que é a principal atividade das crianças quando não estão dedicadas às suas necessidades de sobrevivência (repouso, alimentação, etc.). Todas as crianças brincam quando não estão cansadas, doentes ou impedidas. Brincar é envolvente, interessante e informativo. Os autores também fazem as seguintes ressalvas:

    Valorizar o lúdico nos processos de aprendizagem significa, entre outras coisas, considerá-lo na perspectiva das crianças. Para elas, apenas o que é lúdico faz sentido. (MACEDO et al, 2005, p. 16). I.

    As crianças vivem seu momento. Daí o interesse despertado por certas atividades, como jogos e brincadeiras. Nessas atividades, o que vale é o prazer, é o desafio do momento. Na perspectiva das crianças, não se joga ou brinca para ficar mais inteligente, para ser bem-sucedido quando adulto ou para aprender uma matéria escolar. Joga-se e brinca-se porque isso é divertido e desafiador. (MACEDO et al, 2005, p.17)

    Desta forma os educadores, pais e sociedade necessitam repensar seus conceitos em relação aos momentos lúdicos nos Centros de Educação Infantil, possibilitando assim um novo olhar sobre esse recurso natural do ser humano, mas pouco reconhecido pela sociedade.

Música e musicalidade

    Para Jeandot (1997) o conceito de música varia de cultura para cultura. Embora a linguagem verbal seja um meio de comunicação e de relacionamento entre os povos, ela não é universal, pois cada povo tem sua própria maneira de expressão através da palavra, motivo pelo qual há milhares de línguas espalhadas pelo globo terrestre.

    A autora também relata que a música, sim, é uma linguagem universal, mas com muitos dialetos, que variam de cultura para cultura, envolvendo a maneira de tocar, de cantar, de organizar os sons.

    A música parece mesmo ajudar a equilibrar as energias, desenvolvendo a criatividade, às vezes até fazendo a função de sociabillização, integração social. Ao cantar e acompanhar a música com o corpo, o brinquedo cantado desenvolve aptidões físicas, coordenação motora, o interesse e a integração além de enriquecer a linguagem através da verbalização ritmada e musicada. (FRIEDMANN, 1996).

Educação Física

    Segundo Soares (2001-2002), ao se falar da Educação Física escolar acredita-se que ela deverá abarcar todas as formas da cultura corporal – jogos e brincadeiras, esporte, dança, ginástica e lutas – e, ao mesmo tempo abranger todos os alunos. Assim, a autora explica que a Educação Física possibilita à criança a descoberta, o conhecimento e a vivência de uma forma de expressão e linguagem: o movimentar-se. Portanto, a disciplina pode contribuir na formação humana integral e plena da criança por meio de seus conteúdos específicos.

    Ao organizar as aulas de Educação Física para crianças, o professor precisaria levar em consideração que o brincar é uma forma de linguagem na infância, podendo se constituir numa forma singular de produção e apropriação do conhecimento em suas múltiplas dimensões.

    Um aproveitamento mais amplo do movimento para o desenvolvimento da criança pode ocorrer quando a atividade física é aliada à música. E o brinquedo cantado, por sua vez, constitui-se de movimento e música, ou seja, aparece como um instrumento ideal para trabalhar diversos aspectos do desenvolvimento infantil de forma lúdica, saudável, prazerosa e eficiente.

Brinquedos cantados

    Praticadas com maior freqüência por crianças das classes populares, incluída uma faixa da classe média, as cantigas de roda constituem-se em importantes formas de manifestação lúdica, que ocorre principalmente em ruas, quintais, terrenos baldios e em pátios escolares.

    Os brinquedos cantados são atividades diretamente relacionadas com o ato de cantar e ao conjunto dessas canções, a que chamamos de cancioneiro folclórico infantil, segundo Verderi (1999). É difícil determinar sua origem. Essas canções parece que sempre existiram, sempre encantaram o povo e embalaram as criancinhas. Na sua maioria parecem ter chegado com os colonizadores portugueses, sofrendo influência ameríndia e africana, devido à colonização e posteriormente ao tráfico de escravos para o Brasil. São também conhecidos como “jogos tradicionais” porque são passadas de geração a geração. O conjunto de influências dessas diversas culturas parece ser a causa das diferentes variações de letras que uma mesma cantiga recebe dependendo da área geográfica onde é praticada. Com o avanço tecnológico nos meios de comunicação, a população infantil modificou suas formas lúdicas.

    Outra dificuldade para a preservação de brinquedos cantados refere-se ao crescente número de brinquedos industrializados. É comum ver a televisão e outros meios de comunicação veicularem mensagens mais significantes e consumistas, apoiadas em fortes esquemas de propaganda que lançam no mercado brinquedos mais sofisticados, mais tecnológicos. Em conseqüência, as cantigas de roda estão desaparecendo porque não tem quem as dance, quem as cante e quem conheça suas origens e seus significados, elas na maioria das vezes não são divulgadas, oferecidas e trabalhadas o suficiente para competir com as canções do rádio e da televisão.

    Dar as mãos, cantar em conjunto, acompanhar o grupo são momentos que proporcionam uma vivência social. Novaes apud Paiva (2000, p. 03) afirma que “o brinquedo ou cantiga de roda é, sem dúvida, uma atividade de grande valor educativo. É modalidade de jogo muito simples e, por incluir tradição, música e movimento, constitui-se num poderoso agente socializador”.

    O Brinquedo Cantado é considerado por alguns autores como uma atividade completa do ponto de vista pedagógico. Quando canto e dança unem-se, oferecem elementos imprescindíveis ao educador escolar.

    Analisando a letra de alguns brinquedos cantados podemos observar que as mesmas desenvolvem várias habilidades motoras como, por exemplo: motricidade ampla, ritmo, equilíbrio, direcionalidade, lateralidade, percepção espaço-temporal, tônus muscular entre outras. E no cognitivo as letras e coreografias ajudam a criança a desenvolver a atenção, a imaginação e a criatividade.

    Nada impede que o professor crie (de preferência junto com as crianças) um novo Brinquedo Cantado. Ao contrário, este é um exercício saudável. Mas é importante não se esquecer daqueles que fazem parte do imaginário popular e, de alguma forma, compõem o universo da criança. Para Paiva (2000, p. 69) o folclore é um elo entre o presente e o passado que preserva os valores sociais. “A riqueza natural da criança manifesta suas potencialidades físicas, corporais, sensoriais, intelectuais e sociais através do folclore”.

    A mesma autora completa ainda:

    À medida que as crianças sentem estas canções como suas e compreende a beleza que encerram mais fortes são os elos que se encontram entre elas e os elementos formadores de sua nacionalidade, principalmente os laços familiares, quando aprendem músicas que seus pais e avós cantavam quando crianças. (PAIVA, 2000, p. 70).

    O caminho para se reconhecer o Brinquedo Cantado como uma ferramenta educacional foi longo. Segundo Paiva (2000), é recente a sua utilização na escola como parte na formação dos alunos. Hoje, vemos que argumentos e comprovações científicas da sua utilidade não faltam. Ao lado de tantas ferramentas tecnológicas, computadores, jogos eletrônicos, televisão, aparelhos de MP4, ele vem comprovar o quanto é possível ser eficaz e interessante a uma criança com tão pouco. Não que todos estes elementos citados acima não possam ser úteis para o desenvolvimento infantil. Quando utilizados de forma adequada, são também valiosas ferramentas. Mas o Brinquedo Cantado tem algo que poucas técnicas ou alternativas de educação e desenvolvimento possuem. Paiva (2000, p.75) vai direto ao ponto: “Os Brinquedos Cantados falam à alma da criança e concorrem para uma intensificação dos sentimentos de amor, participação e respeito”.

Metodologia da investigação

    Este texto foi concebido como uma pesquisa exploratória, e teve como objetivo, além de investigar as principais implicações do brinquedo cantado no contexto escolar, o de verificar as suas contribuições no processo de aprendizagem e desenvolvimento da criança, contemplando informações para a releitura do mesmo. Nesse contexto, o trabalho aconteceu em dois momentos: a pesquisa bibliográfica e a pesquisa de campo.

    Assim, reunindo elementos teóricos de diferentes fontes, sob diferentes olhares, consolidou-se as intenções de realizar uma análise do impacto do brinquedo cantado no processo de ensino-aprendizagem de um grupo de alunos da Escola Municipal Cedro Alto localizada no bairro Cedro Alto, cidade de Brusque – SC, com 60 crianças do primeiro e segundo ano do ensino fundamental do período vespertino.

    O tempo de duração do trabalho foi de dois meses, período que se referiu ao 4º bimestre do ano letivo de 2008. As crianças de estudo vivenciaram aulas periódicas de educação física, com três sessões semanais (dias alternados), tendo cada sessão a duração de quarenta e cinco minutos. As aulas foram caracterizadas no sentido de oferecer às crianças atividades que favorecessem o conhecimento e a importância dos brinquedos cantados. Para alcançar o verdadeiro objetivo proposto, o trabalho desenvolveu-se em quatro etapas.

    Primeiramente, os alunos foram questionados sobre o conhecimento que eles já possuíam sobre as cantigas e, através de desenhos e letras de canções expressas em cartazes, foi feita uma exposição nas paredes dos corredores da escola para apreciação das outras turmas.

    Na segunda etapa, as crianças questionaram seus pais sobre o que eles, no período da infância gostavam de brincar e cantar e também quem os ensinou. Foram feitas anotações das respostas e discutidas entre os alunos durante a aula, fazendo comparações umas com as outras.

    Como terceira etapa, os alunos vivenciaram as cantigas que já conheciam durante as aulas, da forma tradicional e de forma modificada por eles. Entre outros estavam: Ciranda-cirandinha, Atirei o pau no gato, Escravos de Jó, Teresinha de Jesus e Sou pobre pobre pobre de marré deci.

    Já na quarta e última etapa foram convidados os pais dos alunos para participarem da aula de educação física com seus filhos.

    Primeiramente, os pais contaram como foi sua infância, os brinquedos que existiam, os locais onde brincavam e quais as músicas existentes naquela época. Depois, juntamente com seus filhos realizaram diversas brincadeiras de roda (re) lembrando o tempo de infância.

Resultados da investigação

    Através das experiências vivenciadas pelos adultos, os alunos perceberam que as cantigas não são uma atividade especificamente considerada lúdica infantil e que seus pais, assim como eles, sentem na maioria das vezes prazer em desenvolvê-las.

    A troca de informações entre eles, além de proporcionar uma aula agradável, fez com que os traços culturais populares se tornassem mais enriquecidos e valorizados, propiciando também o fortalecimento das relações afetivas entre pais e filhos. A alegria e satisfação das crianças de terem seus pais participando de sua vida escolar de maneira ativa foram imensamente reconhecidas. Além disso, durante a realização deste trabalho, diminuiu o índice de crianças que se machucavam na hora do recreio por ficarem correndo um atrás do outro sem saber do que brincar, assim, elas passaram a praticar brincadeiras de roda realizando a integração entre os alunos.

Conclusões da investigação

    Através desta pesquisa compreende-se que a atividade considerada lúdica exerce grande influência no desenvolvimento social da criança. Os brinquedos cantados favorecem o desenvolvimento da consciência corporal, ritmo, lateralidade, coordenação motora ampla, além de outros conteúdos específicos. Descobrindo a alegria dos corpos, valoriza a cooperação, a emoção, a alegria e, a partir da ascensão do lúdico no desenvolvimento das atividades, o importante é usar o corpo como um brinquedo, um instrumento de descoberta, e a música, como um “combustível” para a explosão dos movimentos. E para que isso ocorra de forma efetiva, os professores dos anos iniciais devem, em suas aulas, preservar e registrar as expressões culturais próprias da idade infantil e fazê-las presente no meio educacional. Isso irá auxiliar no momento da aplicação das “atividades lúdicas”, e a criança vai se sentir à vontade. Assim, a medida que a criança interage com os objetos e com outras pessoas, constrói relações e conhecimentos à respeito do mundo em que vive.

Referências

  • FRIEDMANN, Adriana. Brincar: Crescer e Aprender: o resgate do jogo infantil. São Paulo, SP - Moderna 1996.

  • JEANDOT, Nicole. Explorando o Universo da Música. São Paulo: Scipione,1997

  • MACEDO, Lino de; Petty, Ana Lúcia Sícoli; Passos, Norimar Christe. Os jogos e o lúdico na aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artmed, 2005.

  • PAIVA, Ione Maria de. Brinquedos Cantados. 2 ed. Rio de Janeiro. Sprint, 2000.

  • TELES Maria Luiza. Socorro! É proibido brincar!- Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.

  • SOARES, Amanda Fonseca. Os projetos de ensino e a Educação Física na educação infantil. Pensar a Prática. Goiânia. Vol.5, p. 15-38, jul/jun, 2001/2002.

  • VERDERI, Érica Beatriz Lemes Pimentel. Encantando a Educação Física. Rio de Janeiro: Sprint,1999.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 16 · N° 159 | Buenos Aires, Agosto de 2011  
© 1997-2011 Derechos reservados