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Desenvolvimento motor: período de habilidade total. Uma revisão

Desarrollo motor: el período de habilidad total. Una revisión

Motor development: skill total period. A review

 

*Mestrando Ciências do Movimento Humano, UFRGS

**Fisioterapeuta, IPA

***Mestre Ciências do Movimento Humano, UFRGS

Escola de Educação Física

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

(Brasil)

Rafael Gambino Teixeira*

Élida dos Santos**

Simone Maria Pansera*

Luciana Martins Brauner***

rafa.gambino@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          No período de habilidade total, o indivíduo atinge o ápice do desenvolvimento motor e, com a chegada neste período, inicia-se um decrescimento do potencial motor e orgânico, havendo dificuldades em adaptar-se a estas alterações sofridas pelo corpo e uma diminuição nas oportunidades de desenvolvimento. Assim, o objetivo deste trabalho é analisar o processo do desenvolvimento de habilidades no Período de Habilidade Total na visão de autores e estudos de mesma perspectiva, evidenciando as alterações e oportunidades para este estágio.

          Unitermos: Desenvolvimento. Período de habilidade total.

 

Resumen

          En el período de la habilidad total, el individuo llega al nivel más alto del desarrollo motor y con la llegada de este período se inicia una disminución del potencial del motor y orgánicos, con dificultades para adaptarse a estos cambios en el cuerpo y una disminución en las posibilidades el desarrollo. Así, el objetivo es analizar el proceso de desarrollo de habilidades en el Período de Habilidad Total en la perspectiva de los autores y los estudios en este sentido, destacando los cambios y oportunidades para este desarrollo.

          Palabras clave: Desarrollo de habilidades. Período de habilidad total.

 

Abstract

          In the period of overall skill, the individual reaches the pinnacle of motor development and, with the arrival this period begins a decrease of the motor potential and organic, with difficulties in adapting to these changes that the body and a decrease in opportunities development. Thus, the objective is to analyze the process of developing skills in Skill Total Period in view of authors and studies of the same perspective, highlighting the changes and opportunities for this internship.

          Keywords: Development. Skill Total Period.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 159, Agosto de 2011. http://www.efdeportes.com

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Introdução

    O Período de Habilidade Total caracteriza-se como uma fase que se prolonga por muitos anos na vida de um indivíduo, é a fase dedicada à prática e a experiência, onde geralmente o indivíduo reduz suas buscas atléticas, escolhendo apenas algumas atividades para participar regularmente, quer seja em situações competitivas, recreativas ou da vida diária (GALLAHUE; OZMUN, 2003). Nesta etapa se concentra em maioria, a população de meia e terceira idade. As fases da meia-idade e da terceira idade são conceituadas como um período de vida, compreendendo uma estrutura que considera o fator tempo e a interação dos fatores biológicos, ambientais, sociais e comportamentais.

    No período de habilidade total, o indivíduo atinge o ápice da montanha do desenvolvimento motor e, com a chegada neste período, inicia-se um decrescimento do potencial motor e orgânico no indivíduo (CLARK, METCALFE, 2002). Este decrescimento motor e orgânico se dá pela deterioração do potencial orgânico e da capacidade motora, havendo dificuldades em adaptar-se a estas alterações sofridas pelo corpo. Porém, neste período muitas vezes as oportunidades são limitadas e a crescente responsabilidade e compromisso de tempo acabam provocando uma diminuição bastante acentuada do exercício físico. Assim, o comportamento motor de adultos pode ser bastante prejudicado pela falta de prática ao longo de anos, sendo que, em alguns casos as diferenças no comportamento motor em determinadas tarefas entre crianças e adultos não ficam tão evidentes. Isso provavelmente esteja ligado ao fato de que é necessária experiência na tarefa para segurança e qualidade no desempenho.

    Porém, é preciso mudar um pouco a visão quanto ao envelhecimento, e penar nele não apenas como um período de declínios e degenerações, mas de adaptações. Clark (2002) coloca que o envelhecimento caracteriza-se como um período compensatório, em que o sistema adapta-se ou compensa, guiado fundamentalmente pelas restrições individuais e onde o desenvolvimento continua seu processo de adaptação. Desta forma, é preciso criar condições para que o idoso explore suas capacidades físicas e motoras, dando-lhe oportunidades, espaços adequados, orientação e motivando-o a participar.

    Nesta perspectiva, este estudo busca verificar, através de revisões de estudos, as características e o processo de desenvolvimento motor de indivíduos presentes no estágio de habilidade total observando os processos de deteriorização de capacidades motoras e os resultados positivos em indivíduos ativos.

Período de Habilidade Total: uma revisão

    Alguns estudos vêem apoiar as observações a cerca do desenvolvimento de adultos. Teixeira (2206) verificou se o processo de deterioração das capacidades do processamento de informações seria a causa responsável pelo declínio motor na fase de habilidade total. Foram avaliados 64 indivíduos de ambos os sexos, com idades entre 19 e 73 anos, avaliados em 8 tarefas sensório-motoras. Ferreira & Gobbi (2003), na mesma perspectiva, verificaram a influência do treinamento com atividades físicas generalizadas na agilidade geral e agilidade de membros superiores, em mulheres treinadas e não treinadas avaliado-as a partir de dois testes: teste de agilidade e equilíbrio dinâmico. Não conseguiram identificar diferenças significativas entre os dois grupos no resultado final em relação às variáveis analisadas. Nos resultados, Teixeira (2006) aponta que o processo de deterioração das capacidades do processamento de informações não se caracteriza como fator único e responsável pelo declínio das capacidades motoras nesta fase, apontando ainda como hipótese o fato de que este declínio pode ser específico a determinadas tarefas.

    Em estudo realizado por Filho, Gimenez e Junior (2003), os autores buscaram observar as possíveis diferenças no comportamento de crianças, adultos e idosos, na tarefa motora de rebater uma bola contra a parede com a maior força possível realizada em duas condições, bola posicionada sobre um cone e bola lançada por um experimentador. Os resultados mostraram que os grupos apresentaram padrões semelhantes na rebatida em ambas as condições da tarefa, apesar de as crianças apresentarem uma tendência a modificar a ação de alguns componentes com a mudança na condição da tarefa, tendência essa não observada nos adultos e idosos. O fato de não haver diferença significativa entre os grupos vem mostrar que a população adulta estudada provavelmente não teve a oportunidade de experienciar e desenvolver estratégias de melhor controle e adaptação ao movimento.

    O estudo de Gobbi e colaboradores (2007) apóiam as observações quanto a este período. Os autores buscaram observar o comportamento locomotor de crianças e adultos jovens quando restrições ambientais são impostas. A tarefa consistia em andar sem e com carga, e com duas condições de luminosidade, o mais rápido possível e sem tocar nos objetos, por um circuito onde tapetes e objetos domésticos estavam espalhados. Os resultados mostraram que, para as crianças, a idade e a carga influenciaram o tempo gasto e o contato com os objetos; já para os adultos, nenhum efeito significativo da iluminação, carga e interação entre fatores foi observado na média de tempo gasto e também no contato com os objetos. Desta forma, adultos jovens demonstraram apresentar um sistema perceptivo motor integralmente desenvolvido e uma capacidade de interagir com ambientes construídos de acordo com sua escala corporal. Na vida diária as pessoas ajustam seus passos e focalizam a atenção quando é necessário ultrapassar um obstáculo. Da mesma forma, o adulto deveria ser capaz de adaptar de forma eficiente diversas outras habilidades motoras, de acordo com a tarefa e o contexto onde ele está inserido.

    Mesmo que o desenvolvimento seja entendido como uma mudança no comportamento motor experienciado ao longo da vida, ele é, muitas vezes, atrelado a uma noção de mudança (positiva) de um estado para outro qualitativamente melhor, mais organizado e com ganhos de performance. Uma mudança à demanda da tarefa é acompanhada por modificação na forma como o movimento é desempenhado (SANTOS; DANTAS; OLIVEIRA, 2004).

    Independente de serem específicas a tarefas ou não, estas alterações no processo motor e orgânico são vistas principalmente no controle postural, no equilíbrio e na rapidez de reação frente à estimulação sensorial. Aqui se vê a etapa após o ápice da capacidade motora de um indivíduo, ou mais especificamente, a etapa do declínio da curva do desenvolvimento motor, em que além do desenvolvimento motor, os outros órgãos também iniciam um processo de desaceleração e envelhecimento natural, em que há a necessidade de readaptação do organismo para viver as situações do dia-a-dia.

    No entanto, existem recursos, como a atividade física e alguns cuidados adaptativos, que proporcionarão viver nesta fase com mais independência e autonomia. Atualmente sabe-se que chegar à velhice será vivenciado por muitas pessoas e a procura por atividades físicas na meia-idade pode ser um reflexo da preocupação no sentido de preparação para uma fase da terceira idade com qualidade.

    Muitas pesquisas vêem citando à necessidade de se estimular a prática de atividade e exercício físico desde a infância, como forma de colaborar para que posteriormente estes indivíduos desenvolvam hábitos saudáveis para toda a vida (BERLEZE, 2008; JUCHEM, 2006). Em contrapartida, Han, Kemper, de Vente & Van Mechelen (2001), em uma pesquisa longitudinal analisando habilidades em adolescentes e relacionando com o hábito da prática na idade adulta, não verificaram relações nesta prática. Pode-se concluir que a aptidão física na adolescência é apenas fracamente relacionada à atividade física de adultos, que na idade entre 13 e 33 anos, a atividade física tem baixa estabilidade e que a aptidão física apresenta maior estabilidade e que relações longitudinais entre aptidão física e atividade física só fazem sentido quando relacionadas com a potência aeróbica máxima.

    Porém, sabemos que manter-se ativo na terceira idade é de fundamental importância. Atividades físicas que fortaleçam a musculatura do corpo todo, principalmente, dos membros inferiores, como subir e descer escadas, andar na esteira; exercícios de propriocepção, como treino de marcha para frente, para trás, para os lados, cruzada, com obstáculos e treino de equilíbrio com intuito de manter a percepção do corpo em várias situações farão com que problemas constantes neste período de vida, como as lesões e quedas, sejam evitadas.

    Em estudo realizado por Filho, Gimenez e Junior (2003), os autores buscaram observar as possíveis diferenças no comportamento de crianças, adultos e idosos, na tarefa motora de rebater uma bola contra a parede com a maior força possível realizada em duas condições, bola posicionada sobre um cone e bola lançada por um experimentador. Os resultados mostraram que os grupos apresentaram padrões semelhantes na rebatida em ambas as condições da tarefa, apesar de as crianças apresentarem uma tendência a modificar a ação de alguns componentes com a mudança na condição da tarefa, tendência essa não observada nos adultos e idosos. O fato de não haver diferença significativa entre os grupos vem mostrar que a população adulta estudada provavelmente não teve a oportunidade de experienciar e desenvolver estratégias de melhor controle e adaptação ao movimento.

    Mas, como motivar esta parcela da população a manter-se engajada em uma atividade física? Gonçalves, Duarte & Santos (2001) em uma pesquisa com indivíduos de meia-idade constataram como resultado que, os motivos de adesão mencionados pelas pessoas, vinculados à realização de exercícios regulares para o desenvolvimento físico e mental são, maior disposição; condicionamento físico; diminuição de dores; liberação de tensão; e estética vinculada diretamente à perda de peso, além dos fatores de interação social.

    A necessidade da atividade física nesta nova etapa da vida, em que há uma necessidade de adaptação de todos os sistemas orgânicos fará com que o indivíduo trabalhe os sistemas que mantêm, por exemplo, o controle postural e o equilíbrio, como fortalecer músculos que sustentam a coluna vertebral, bem como, dará a ele uma percepção do seu corpo que o ajudará a manter-se em equilíbrio em situações em que exijam um controle maior corporal, além de melhorar a sua capacidade cardio-respiratória na execução de tarefas da vida-diária.

    Corroborando, Matsudo (1997) coloca que as mudanças fisiológicas e funcionais que acontecem com o decorre da idade estão associadas a fenômenos do envelhecimento, presença de doenças e estilo de vida sedentário, porém, ressalta que a maioria dos efeitos do envelhecimento ocorre por imobilidade e má adaptação e não por doenças crônicas. Para Payne e Isaac (2007) as responsabilidades da vida adulta acabam limitando o tempo para o exercício físico, e conseqüentemente este ciclo se mantém com o envelhecimento provocado por situações como a condição financeira associada à baixa valorização do exercício físico e poucos modelos de papéis fisicamente ativos. Desta forma, é preciso que se quebre com este ciclo para que o envelhecimento não esteja associado apenas a declínios. Payne e Isaac (2007) colocam que apesar dos efeitos do envelhecimento não poderem ser completamente superados, um nível apropriado de exercício físico pode reduzir as regressões provocadas pelo processo de envelhecimento. Para Santos, Dantas e Oliveira (2004) o idoso precisa adaptar seu corpo ao processo de envelhecimento, buscar uma vida de autonomia e independência, precisa aprender a lidar com a riqueza de vida adquirida e amenizar o conseqüente declínio do sistema motor neste período.

Considerações finais

    O período de habilidade total é onde os indivíduos permanecem por mais tempo, e com isso, há a necessidade de vivenciá-lo de maneira saudável. Embora existam fatores que são inerentes a este grupo etário, como o envelhecimento e a deterioração de sistemas, existem diversas maneiras de conviver em harmonia com esta etapa de vida. A atividade física é de fundamental importância e deve proporcionar entre outros, um fortalecimento muscular, uma melhora na propriocepção em várias situações e, o cuidado com alguns dispositivos de proteção no ambiente em que vive. Desta forma, é preciso criar condições para que o idoso explore suas capacidades físicas e motoras, dando-lhe oportunidades, espaços adequados, orientação e motivando-o a participar.

    Tomando estas precauções e buscando benefícios, os adultos caracterizados nesta etapa, terão resoluções eficazes nas atividades de vida-diária, adaptando o seu corpo para as modificações sofridas neste período e oferecendo uma qualidade de vida melhor, com mais autonomia e independência.

Referências

  • BERLEZE, A. Efeitos de um Programa de Intervenção Motora, em crianças obesas e não-obesas, nos parâmetros motores, nutricionais e psicossociais. Porto Alegre: UFRGS, 2008. Tese (Doutorado em Ciência do Movimento Humano)-Escola de Educação Física, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2008.

  • CLARK, J.E.; METCALF, J. S. The Mountain of motor development a metaphor. Motor Development: Research and Reviews. 2002.

  • FERREIRA, L.; GOBBI, S. Agilidade Geral e Agilidade de membros Superiores em Mulheres de Terceira Idade treinadas e Não treinadas. Rev. Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano, v.5,n.1,p.46-53, 2003.

  • FILHO, E; GIMENEZ, R; JÚNIOR, C. Efeito das restrições ambientais na habilidade rebater em crianças adultos e idosos. Revista Portuguesa de Ciência do Desporto, 3(3), p. 43 – 55, 2003.

  • GALLAHUE, D.L; OZMUN, J.C. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. São Paulo: Phorte Editora, 2003.

  • GOBBI, L.T.B.; SILVA, J.J.; PAIVA, A.C.S.; SCABELLO, P.E. Comportamento locomotor de crianças e adultos jovens em ambiente doméstico simulado. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 23(3), p. 273 – 278, 2007.

  • GONÇALVES, A.K.; DUARTE, C.P.; SANTOS, C.L. Atividade Física na Fase da Meia-Idade: Motivos de Adesão e de Continuidade. Rev. Movimento, v.7, n.15,p75-88, 2001.

  • HAN, C.G; KEMPER, W., DeVENTE, W.; VanmECHELEN, J.W.R. Habilidade Motora e Desempenho do Adolescente: A Atividade Física na Adolescência é Relacionado à Aptidão Física de Adultos? Journal Hum. Biol. V.13,p.180-189, 2001.

  • JUCHEM L. Motivação à prática regular de atividades físicas: Um estudo sobre tenistas brasileiros infanto-juvenis. [Dissertação de Mestrado-Programa de Pós Graduação em Ciências do Movimento Humano]. Porto Alegre (RS): Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2006.

  • SANTOS, S.; DANTAS, L.; OLIVEIRA, J.A. Desenvolvimento Motor de Crianças, de Idosos e de Pessoas com transtorno da Coordenação. Rev. Paul. Educ. Fís., v.18,p.33-44, 2004.

  • TEIXEIRA, L.A. Declínio de Desempenho Motor no Envelhecimento é Específico à tarefa. Rev Bras Med Esporte, V.12, N.6, p351-355, 2006.

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