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Os benefícios de exercícios físicos como auxiliares 

no tratamento do Diabetes Mellitus tipo II em idosos

Los beneficios de los ejercicios físicos como apoyos en el tratamiento de la Diabetes Mellitus tipo II en personas mayores

 

*Acadêmico da Faculdade de Educação Física

e Ciências do Desporto da PUCRS

**Acadêmico da Faculdade de Educação Física

e Ciências do Desporto da PUCRS
*** Professor orientador da PUCRS

(Brasil)

Diego da Silva Machado*

diego.pucrs@bol.com.br
Edison Pereira da Rosa**

edison.rosa@acad.pucrs.br

Luciano Castro***

lucianoc@pucrs.br

 

 

 

 

Resumo

          As doenças crônico-degenerativas ainda são freqüentemente encontradas entre os idosos, entre elas esta o Diabetes Mellitus do tipo 2 (DM2), que se caracteriza pela resistência à insulina e/ou diminuição da mesma, podendo inicialmente ser esporádica ou por toda a sua vida. A prática de exercício físico proporciona inúmeros benefícios aos portadores de DM2, dentre eles estão: aumento do consumo de glicose, diminuição da concentração basal e pós-prandial da insulina, aumento da sensibilidade à insulina, melhora dos níveis de hemoglobina glicosilada, diminuição dos triglicerídeos, aumento do HDL, diminuição do LDL, diminuição da pressão arterial, aumento no gasto calórico, auxilio na redução de peso corporal e diminuição da massa de gordura, preservação e aumento da massa muscular e uma melhora no funcionamento do sistema cardiovascular. Este estudo teve por objetivo geral verificar como os diferentes tipos de exercícios físicos podem auxiliar no tratamento do DM2 em idosos, foi realizada uma análise de conteúdo através de uma pesquisa bibliográfica utilizando-se de ferramentas de pesquisa online. Sendo constatado que os exercícios aeróbios e resistidos promovem benefícios substâncias no tratamento de idosos com DM2, mas a combinação entre os dois torna-se eficaz, devido aos exercícios aeróbios auxiliarem na melhora da sensibilidade insulínica e os exercícios resistidos contribuírem para um aumento da capacidade do organismo de metabolizar a glicose evitando que a glicemia fique alta demais.

          Unitermos: Diabetes Mellitus. Envelhecimento. Exercício físico.

 

Abstract

          The chronic diseases are still often found among older people, among them are diabetes mellitus type 2 (DM2), characterized by insulin resistance and/or decrease it, or may initially be sporadic throughout his life. The physical exercise provides numerous benefits to individuals with DM2, among them: increased consumption of glucose, decreased concentration basal and postprandial insulin, increased insulin sensitivity, improved levels of glycated hemoglobin, decreased triglyceride, HDL, lowering LDL, lowering blood pressure, increased caloric expenditure, aid in reducing body weight and decreased fat mass, preservation and increase muscle mass and an improvement in the functioning of the cardiovascular system. This study aimed to ascertain how general the different types of exercise can aid in the treatment of DM2 in the elderly, we performed a content analysis through a literature search using online search tools. Was found that aerobic and resistance exercises beneficially substances in the treatment of elderly patients with DM2, but the combination between the two becomes effective due to aerobic exercises assist in improving insulin sensitivity and resistance exercises contribute to an increased capacity of body to metabolize glucose preventing blood glucose becomes too high.

          Keywords: Diabetes Mellitus. Aging. Exercise.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 158 - Julio de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A população mundial de idosos vem aumentando consideravelmente nas últimas décadas, sendo este fato atribuído ao aumento da expectativa de vida e ao melhor controle de doenças infectocontagiosas e crônico-degenerativas. Nos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil são consideradas idosas as pessoas com 60 anos ou mais, já em países desenvolvidos consideram-se idosas pessoas a partir dos 65 anos (BRASIL, 2002).

    Conforme a projeção populacional apresentada pelo IBGE em 2008, a população idosa brasileira apresentava 9,98% de idosos entre 60 a 64 anos, 6,83% entre 65 a 69 anos, 4,46% entre 70 a 74 anos, 2,60% entre 75 a 79 anos e 1,37% de 80 anos ou mais, já no mundo, em 2050 um quinto da população será de idosos (BRASIL, 2008a).

    Nos idos de 1950, eram cerca de 204 milhões de idosos no mundo, já em 1998 este contingente alcançava os 579 milhões de pessoas, as projeções indicam que em 2050 a população idosa será de 1,9 bilhão de pessoas (BRASIL, 2002).

    Este aumento da população idosa gera a necessidade de mudanças na estrutura social do país para que, os mesmos, ao terem suas vidas prolongadas não fiquem distantes dos espaços sociais, em relativa alienação, inatividade, incapacidade física e dependência.

    Apesar do processo de envelhecimento não estar, necessariamente, relacionado a doenças e incapacidades, as doenças crônico-degenerativas são freqüentemente encontradas entre os idosos. Entre as doenças crônicas o Diabetes Mellitus (DM) é um importante problema de saúde pública, e está associado a complicações que comprometem a produtividade, a qualidade de vida e a sobrevida dos indivíduos afetados (FRANCHI, 2008a).

    O DM é conhecido desde a antiguidade, suas primeiras descrições foram registradas pelos egípcios a três mil anos, sendo descrita como uma enfermidade caracterizada por uma abundante emissão de urina. No entanto no século II o médico grego Arateus da Capadócia foi quem denominou o termo Diabetes, que segundo ele significava derretimento da carne e dos membros para a urina (FIGUEROLA, 1990).

    O DM faz parte de um grupo de doenças metabólicas e crônico-degenerativas, que se caracterizam por hiperglicemias associadas a complicações, disfunções e insuficiência de alguns órgãos, em especial olhos, rins, nervos, cérebro, coração e vasos sanguíneos, resultando em defeitos na secreção e/ou ação de insulina, hormônio produzido pelo pâncreas endócrino (BRASIL, 2006). De acordo com o Ministério da Saúde o DM já afeta cerca de 177 milhões de pessoas em todo o mundo e a estimativa é que esse número aumente para 350 milhões em 2025 (BRASIL, 2008b; BRASIL, 2008c).

    O Diabetes Mellitus do Tipo II (DM2) é uma das doenças crônicas de maior prevalência na população idosa, ou seja, quanto mais a população envelhece, maior é a proporção de idosos com DM2, consequentemente, suas complicações se expandem. Existe também um grande impacto do DM sobre o sistema de saúde, porém ainda não sendo bem documentado, mas considerando que tal enfermidade está associada a grandes taxas de hospitalizações, a grandes incidências de doenças cardiovasculares e cérebro-vascular, cegueira, insuficiência renal e amputações, portanto pode-se prever a carga que isto representa para os sistemas de saúde (FERNANDES et al., 2005).

    No DM2 os indivíduos afetados têm resistência à insulina e/ou diminuição da mesma, podendo inicialmente ser esporádica ou por toda a sua vida, apesar desta deficiência, os indivíduos com DM2 não precisam de insulina exógena para alcançar o controle satisfatório do DM (BRASIL, 2006).

    Diante disto observa-se a necessidade de um tratamento básico contra o DM2, que se fundamenta em quatro aspectos: a alimentação, a medicação (insulina e/ou antidiabéticos), a educação e os exercícios físicos (MARTINS, 2000).

    Atualmente é de grande consenso entre os especialistas à eficácia de programas de exercícios físicos como coadjuvantes no tratamento e reabilitação de várias disfunções crônico-degenerativas, dentre elas o DM2. Os benefícios da prática regular de atividades físicas são inúmeros e são recomendados para todos os pacientes diabéticos, pois proporcionam uma melhora no controle metabólico, reduzem a necessidade de hipoglicemiantes, contribuem para o emagrecimento de pacientes obesos, diminuindo os riscos de doenças cardiovasculares e promovendo uma melhora da saúde e qualidade de vida dos pacientes. Portanto observa-se que a prática regular de atividade física é considerada um dos pilares no tratamento de pacientes com DM2 (FRANCHI, 2008b).

    Martins (2000) destaca que dentre os principais benefícios da prática regular de exercícios físicos para diabéticos estão; uma maior captação de glicose pelo músculo, o aumento da ação da insulina e de hipoglicemiantes orais (sulfonilureias), colaboração para a redução de riscos cardiovasculares, aumento da circulação sanguínea nos membros inferiores prevenindo os efeitos a aterosclerose, promove uma redução da perda de massa óssea e um aumento da sensibilidade à insulina.

    Além dos benefícios citados acima outras melhorias podem ser identificadas, como: aumento da flexibilidade e tonicidade muscular que auxiliam no desempenho das AVD'S, no campo psicossocial, a prática regular de exercícios físicos contribuem para uma maior autoestima, controle do estresse e oportunidade de socialização (FERNANDES, 2005).

    Isto posto, este estudo tem por objetivo geral verificar como os diferentes tipos de exercícios físicos podem auxiliar no tratamento do DM2 em idosos, através de uma revisão das pesquisas publicadas pela comunidade científica mundial e literaturas específicas sobre o assunto, podendo se transformar em uma ferramenta literária para auxiliar no conhecimento do tratamento de idosos com DM2.

Envelhecimento e Diabetes Mellitus tipo 2

    Caracterizar a pessoa idosa é um desafio, uma vez que a sua complexidade reside na utopia de traçar um perfil da pessoa humana em face de suas peculiaridades, pois as várias capacidades do indivíduo também envelhecem em diferentes proporções (SIMÕES, 1994).

    Envelhecer pressupõe alterações físicas, dentre as principais estão bochechas enrugadas, machas escuras na pele, diminuição de produção celular, verrugas, aumento de pêlos, encurvamentos posturais devido a modificações da coluna vertebral, diminuição da estatura devido ao desgaste vertebral, metabolismo mais lento, endurecimento das artérias no qual o seu entupimento pode provocar arteriosclerose. Nos aspectos psicológicos o individuo idoso tem dificuldades em se adaptar a novidades, falta de motivação, necessidades de trabalhar perdas afetivas e sociais, alterações psíquicas, depressão, hipocondria, somatização, paranóia, suicídios e baixas na sua autoestima (ZIMERMAN, 2000).

    Durante o processo de envelhecimento o indivíduo idoso também sofre no que diz respeito aos aspectos sociais, visto que a nossa sociedade avança tecnologicamente e socialmente com grande rapidez, exigindo uma introdução de novos conceitos, maneiras diferentes de viver, maior flexibilidade e capacidade de adaptação, que o idoso nem sempre tem, levando-o a ter mais problemas, principalmente de relacionamento dele com outras pessoas em função de crises de identidade, problemas com aposentadoria, perdas diversas e diminuição dos contatos sociais. Exigindo um trabalho maior para que sejam ajustadas as suas relações sociais, podendo estas ser com seus filhos, netos, colegas e amigos, afim de que sejam criados novos relacionamentos, já que muitos acabaram, tornando-se necessário a aprendizagem de um novo estilo de vida, assim auxiliando na minimização de possíveis perdas (ZIMERMAN, 2000).

    A existência de numerosos conceitos deixa clara a dificuldade de entender o processo de envelhecimento. Dentre todas as definições a que melhor satisfaz é a que conceitua o envelhecimento como um processo dinâmico e progressivo, no qual determinam uma perda progressiva da capacidade de adaptação do indivíduo ao meio ambiente ocasionando maior vulnerabilidade e maior incidência de processos patológicos, que determinam por levá-lo a morte (CARVALHO FILHO, 1996).

    A vida moderna, com mudanças de hábito alimentar, estresse de adaptação às grandes cidades e pouco tempo para atividades físicas, em muito favorece a obesidade e ao o sedentarismo, fatores que predispõe o aparecimento do DM sendo estes fatores muito frequentes nos idosos (URUGUAI, 2003).

    A alta prevalência de doenças reumáticas, neurológicas e cardiovascular limita muita a atividade física, contribuindo para alterações na composição corporal, como o aumento da massa adiposa e diminuição da massa muscular sendo considerados os principais fatores para a obesidade somados a uma má alimentação (URUGUAI, 2003).

    Segundo Duarte (1999 citado por WALDMAN, 2006), o DM2 é o mais comum entre os idosos. A doença muitas vezes é diagnosticada em torno da idade de 50 anos e mantém associação com obesidade, hipertensão arterial e forte presença no componente genético, assim como maior freqüência de complicações macrovasculares. Spirduso (2005), afirma que a doença ocorre dez vezes mais em pessoas com idade superior aos 45 anos e afeta 20% das pessoas com mais de 60 anos.

    O aparecimento do DM2 constitui importante fator de risco para o desenvolvimento de todas as manifestações clínicas da arteriosclerose (acidente vascular cerebral, doença arterial coronariana, periférica e renal) e suas complicações crônicas (cegueira, insuficiência renal, coronariopatia, amputações); comprometem significativamente a qualidade de vida e sobrevida dos idosos (URUGUAI, 2003).

    O DM2 faz parte de um grupo de doenças com grande fator de risco para os idosos, conhecida como síndrome plurimetabólica, síndrome do X, síndrome da resistência à insulina, quarteto mortal ou síndrome metabólica, caracterizada pelas seguintes complicações; hipertensão arterial, resistência à insulina, hiperinsulinemia, intolerância a glicose/DM2, obesidade central e dislipidemia (CIOLAC; GUIMARÃES, 2004).

    O DM2 em idosos é precipitado principalmente por excesso de alimentação e pouco exercício, considera-se uma doença perigosa para este grupo de pessoas, pois os elevados níveis de glicose circulante são deletérios ao pâncreas, rins, fígado, coração e vasos sanguíneos, olhos e sistema nervoso central e periférico. A formação de placas de lipídios nas paredes das artérias é acelerada, diminuindo o fluxo sanguíneo nos órgãos principais e reduzindo o desempenho cardiovascular, o que encoraja menos a atividade física favorecendo a uma maior tolerância a glicose e consequentemente fazendo com que os portadores utilizem altas dosagens de medicação para o controle do DM2 (SPIRDUSO, 2005).

Atividade física e Diabetes Mellitus tipo 2

    A prática de exercício físico proporciona inúmeros benefícios aos portadores de DM2, dentre eles estão: aumento do consumo de glicose, diminuição da concentração basal e pós-prandial da insulina, aumento da resposta dos tecidos à insulina, melhora dos níveis de hemoglobina glicosilada, diminuição dos triglicerídeos, aumento da concentração de HDL-colesterol, diminuição da concentração de LDL-colesterol, contribuição na diminuição da pressão arterial, proporciona um aumento no gasto calórico, auxilia na redução de peso corporal e diminuição da massa total de gordura, preservação e aumento da massa muscular, melhora no funcionamento do sistema cardiovascular, proporciona um aumento da força e da elasticidade muscular, conseqüentemente causando uma sensação de bem-estar e melhora na autoestima (MERCURI; ARRECHEA, 2001).

    De acordo com Silva (1999 citado por KINSKI, 2006), a adoção de um estilo de vida não sedentário, calçado na prática regular de atividade física, encerra a possibilidade de desenvolvimento da maior parte das doenças crônicas degenerativas, além de servir como elemento promotor de mudanças com relação a fatores de risco para inúmeras outras doenças. Sugere-se inclusive, que a prática regular de atividade física pode ser na tentativa de controle das doenças crônicas degenerativas, o equivalente ao que a imunização representa na tentativa de controle das doenças infecto-contagiosas.

    Em estudo realizado por Tuomilehto (2001) a prática de pelo menos quatro horas semanal de atividade física de intensidade moderada a alta, diminuiu em 70% a incidência de DM2, em relação ao estilo de vida sedentário, após quatro anos de seguimento.

    Conforme Ciolac (2004), além de melhorar o transporte e captação de insulina os exercícios, promovem um aumento do metabolismo basal conhecido como metabolismo de repouso, que é responsável por 60% a 70% do gasto energético total, contribuindo para a perda de peso, e diminuição do risco de desenvolver DM, hipertensão, e outras doenças.

    Uma única sessão de exercício físico é suficiente para promover um aumento da capacidade de transporte de glicose no músculo. Essa capacidade eleva-se imediatamente após o exercício, mas há um retorno normal aproximadamente após três horas. Mas um dado importante está na sensibilidade à insulina, que permanece elevada até um dia após o exercício (CARTEE; BOHN, 1995 citado por DANILO, 2006).

    Para que se possa montar um programa adequado de exercícios físicos, que potencialize uma melhora na capacidade cardiovascular, força e resistência muscular, deve-se primeiramente considerar as necessidades, os objetivos, as capacidades iniciais, a história clínica e as doenças associadas ao indivíduo que passará pelo treinamento, bem como, realizar um planejamento individual (CIOLAC; GUIMARÃES, 2004).

    Um programa estruturado de atividade física deve-se respeitar uma pré-avaliação e as capacidades individuais de um portador de DM2, recomenda-se que todo exercício deve começar por um período correto de aquecimento, que consiste em cinco a dez minutos de atividade aeróbia de baixa intensidade, utilizando os mesmos músculos que serão exercitados com mais intensidade, de preferência acompanhado de demonstrações práticas. Esse aquecimento ativo pode ocorrer antes ou depois de cinco a dez minutos de alongamento estático. Após um período de atividade mais intensa, o resfriamento de cinco a dez minutos fará com que a freqüência cardíaca volte ao nível antecedente ao exercício (BRASIL, 2006).

Exercícios aeróbios e Diabetes Mellitus tipo 2

    Atividades aeróbias consistem na realização de uma atividade de longa duração, onde o organismo utiliza predominantemente de oxigênio para a produção de energia. Auxiliando na melhora da aptidão física, na redução de gordura corporal, na perda de peso e na prevenção ou auxílio na reabilitação cardíaca (BROOKS, 2000).

    Segundo Edelman e Henry (2003 citados por CARDOSO et al., 2007), a maioria dos adultos com DM2 se encaixa em um quadro de obesidade e sedentarismo, o que contribui para o desenvolvimento de intolerância à glicose. Concluindo que a atividade física deve ser incluída como um dos componentes essências do tratamento do DM, desde que não haja contra indicações. Sendo sugerido que exercícios regulares de baixa intensidade podem retardar o início de DM2 em indivíduos suscetíveis ou de alto risco.

    O Ministério da Saúde recomenda que os exercícios aeróbios devam ser iniciados de forma gradual, nas caminhadas deve ser feito um aquecimento leve e deve-se começar caminhando 5 a 10 minutos em terreno plano, aumentando até alcançar 30 a 60 minutos diários, de 5 a 7 dias por semana. Cada incremento de atividade física deve ser valorizado como um ganho de saúde, pequenos ganhos são normais e devem ser considerados como um avanço importante na manutenção da saúde, em grandes metas, quando projetadas e não alcançadas podem tornar-se um fator de desistência do programa de exercícios físicos (BRASIL, 2006).

    Um estudo realizado por Carrillo (2004), com 31 diabéticos do tipo 2 tinha como objetivo verificar alterações metabólicas após serem submetidos a um programa de exercícios aeróbios submáximo durante 6 meses. Os indivíduos foram divididos em dois grupos, o primeiro grupo apresentava sobrepeso e o segundo apresentava obesidade. Em ambos os grupos houve melhorias significativas na diminuição do colesterol, triglicerídeos, glicemia e hemoglobina glicosilada sendo que o grupo dos indivíduos com sobrepeso obtiveram os melhores resultados. Ao final do estudo foi constatada uma diminuição de grande magnitude nos dois grupos, pois 83% dos pacientes com sobrepeso passaram a ter IMC normal e 79% dos pacientes obesos passaram a ter IMC de sobrepeso.

    O autor concluiu que exercícios aeróbios são benéficos no controle do DM2 em indivíduos com sobrepeso e obesidade devido a melhorias no controle metabólico e condição física.

    A realização de pelo menos 30 minutos de atividade física (sendo formal ou de lazer, de maneira continua ou sendo acumulada em sessões de pelo menos 10 minutos), sendo a intensidade de no mínimo moderada (nível 12 na escala de Borg), realizada na maioria dos dias da semana, em que haja uma queima total de 700 a 1.000Kcal (quilocalorias) por semana, tem sido uma eficiente proposta para a manutenção da saúde e prevenção de uma grande variedade de doenças crônicas, entre elas o DM2 (PATE et al., 1995).

    Um estudo realizado por Pratley et al. (2000) analisou pessoas com mais de 65 anos de idade fazendo exercícios físicos aeróbios durante 9 meses, os autores concluíram que este tipo de treinamento diminui significativamente as concentrações de insulina estimuladas pela glicose. Já Zinker (1999) trabalharam com três grupos de indivíduos diabéticos, onde o primeiro grupo fez exercícios e os outros dois grupos fizeram a utilização de medicamentos diferentes para o controle do DM. Os autores identificaram o grupo que fez exercícios físicos como o que teve melhor resposta na sensibilidade à insulina.

    Em estudo realizado por Boudou et al. (2003) foi verificado os benefícios de um programa de oito semanas de treinamento aeróbio em 16 homens de meia idade com DM2. Os resultados mostraram uma diminuição de 44% de gordura abdominal, um aumento de 24% da musculatura da coxa e uma melhora de 58% na sensibilidade a insulina. Neste estudo os autores concluíram que um programa intensivo de treinamento aeróbio é eficaz no tratamento de pessoas portadoras de DM2.

    A redução da glicemia capilar é fundamental para um melhor controle glicêmico em longo prazo, podendo ser explicado devido ao aumento da permeabilidade à glicose nas fibras musculares ativas, mesmo na ausência e/ou deficiência da ação da insulina (GIACCA et al., 1998 citado por CAMBRI et al., 2007). Com base em tais dados, Martins e Duarte (1998) verificaram as alterações glicêmicas em diabéticos, onde foi realizado um programa de exercício físico predominantemente aeróbico, durante 3-9 meses, com reduções em 74,5 a 76,5% na glicemia capilar.

Exercícios resistidos e Diabetes Mellitus tipo 2

    Segundo Fleck (2008) exercício resistido é a capacidade de gerar força através da ação muscular em contrapartida a uma determinada resistência, podendo ser executado através de pesos livres, máquinas ou peso corporal contra a gravidade, entre outras formas. Este tipo de exercício pode ser inserido como parte de qualquer plano de atividade física, seja visando desempenho ou melhorias na qualidade de vida e saúde.

    Campos (2001) afirma que para um ganho geral de condicionamento são necessárias 1-3 series de 8-12 repetições para cada exercício. Aumentando a intensidade de 2-5%, toda vez que o indivíduo estiver apto a completar o número de repetições com facilidade.

    Em indivíduos diabéticos, o treinamento resistido auxilia na diminuição das taxas de açúcar no sangue e a um aumento da absorção celular de insulina, pois a contração muscular tem um efeito análogo à insulina, aumentando a permeabilidade da membrana celular (CAMPOS, 2001).

    Em estudo realizado por Cambri e Santos (2006) foi verificado o efeito de um programa de exercícios resistidos com peso, durante 12 semanas divididos em 3 sessões por semana em 8 diabéticos sedentários, onde foi avaliado alterações na hemoglobina glicosilada, além do efeito agudo sobre a glicemia capilar. Foi constatado que os indivíduos obtiveram resultados positivos como aumento de massa corporal e massa magra, além da diminuição do percentual de gordura e glicemia capilar, porém não houve modificações nos níveis de hemoglobina glicosilada, mas os autores ao final do estudo concluirão que através dos ganhos constatados os exercícios resistidos são eficazes no controle de diabetes.

    Em oito semanas de treinamento resistido associado ao treinamento de flexibilidade em pacientes com DM2, foi constatada uma elevação nos níveis de força em 40% nos membros inferiores e superiores dos indivíduos avaliados (HERRIOTT et al., 2004).

    Canché e Gonzáles (2005) realizaram um estudo com o objetivo de verificar a efetividade de exercícios de resistência muscular nas taxas de hemoglobina glicosilada, força muscular, fortalecimento muscular percebido, manifestações associadas a episódios de hipoglicemia ou hiperglicemias sobre o controle glicêmico de adultos com DM2. Os resultados da pesquisa mostraram uma diminuição significativa nas taxas de hemoglobina glicosilada além de um aumento na força muscular e fortalecimento muscular percebido, concluindo que o exercício resistido desempenha um papel importante no tratamento do DM2.

    O exercício resistido é benéfico principalmente para pacientes idosos com DM2, os quais em função do envelhecimento possuem menor força e massa muscular, comprometendo o metabolismo energético (fig. 1). O aumento da força e massa muscular através da prática de exercício resistido pode reverter este quadro, melhorando o controle glicêmico desses indivíduos (CIOLAC; GUIMARÃES, 2004).

    Castenada et al. (2002) demonstrou em seu estudo, realizado com 40 mulheres e 22 homens portadores de DM2, onde foi constatado uma diminuição dos níveis de glicose sanguínea, aumento dos estoques de glicogênio muscular, redução da pressão arterial sistólica e gordura do tronco, aumento da massa muscular e do nível de atividade física diária de diabéticos de ambos os sexos, após 16 semanas de exercício resistido, resultando em uma diminuição da medicação em 72% dos praticantes. Já os indivíduos do grupo controle tiveram inalterados os níveis de glicemia sanguínea, pressão sistólica, gordura do tronco, atividade física diária e diminuídos os estoques de glicogênio muscular, sendo que 42% tiveram a medicação aumentada.

Figura 1. Efeito da diminuição da força e massa muscular que ocorre com envelhecimento em 

variáveis metabólicas associadas à síndrome metabólica. Fonte: Ciolac e Guimarães (2004, p.321).

Metodologia

    Foi realizada uma análise de conteúdo através de uma pesquisa bibliográfica utilizando-se tais ferramentas de pesquisa online: Portal de Periódico – CAPES, Pesquisa Múltipla, Catálogo Online da Biblioteca Central da PUCRS e Google Acadêmico. Utilizaram-se os seguintes termos de pesquisa: diabetes mellitus, diabetes mellitus tipo 2, idosos diabetes, envelhecimento diabetes, atividade física diabetes, exercícios diabetes, treinamento diabetes, síndrome metabólica.

    A seleção foi feita pelos autores e analisados independentemente a partir dos títulos dos artigos e livros encontrados inicialmente, quando disponíveis e dos resumos obtidos a partir da busca eletrônica. Também foram utilizadas referências adicionais encontradas nas bibliografias desses artigos, com a mesma metodologia especificada acima, que foram capturadas e que preenchiam os critérios de seleção deste estudo.

    Como critérios de inclusão foram utilizados artigos originais com população adulta (> 18 anos), meta-análise, revisões sistemáticas e revisões de especialistas que abordassem os termos utilizados para a pesquisa e exercícios recomendados para portadores de DM2. Como critérios de exclusão foram estudos que investigassem diabetes gestacional, relatos de caso, publicações em congresso, entrevistas e aspectos psicológicos do diabetes.

Resultados

    Dentro da análise literária foi verificada a eficácia dos exercícios aeróbios e resistidos, sendo constatado que tanto os exercícios aeróbios quanto os resistidos promovem benefícios substâncias em fatores relacionados à saúde e ao condicionamento físico (figura 2), incluindo a maioria dos fatores de risco da síndrome metabólica e conseqüentemente o DM2.

Figura 2. Efeito do exercício aeróbio e resistido sobre variáveis que influenciam a síndrome metabólica e condicionamento físico. Fonte: Ciolac e Guimarães (2004, p. 322).

    Segundo Ciolac e Guimarães (2004) tanto os benefícios dos exercícios aeróbios quanto dos resistidos têm sido demonstrado para a melhoria no quadro do DM2, sugerindo que a combinação das duas modalidades pode ser aditiva.

    Pois a combinação entre os dois torna-se eficaz, devido ao fato de os exercícios aeróbios auxiliarem na melhora da sensibilidade insulínica e os exercícios resistidos contribuírem para um aumento da capacidade do organismo metabolizar a glicose evitando com que a glicemia fique alta demais.

    De acordo com Cardoso et al. (2007) programas de atividade física para indivíduos com DM sem complicações ou limitações significativas devem incluir exercícios aeróbios e resistidos apropriados para desenvolver e manter a aptidão cardiorrespiratória, a composição corporal, a força e a resistência muscular. É recomendado o exercício que se possa fazer um bom controle da intensidade, ser facilmente mantido e que requer pouca habilidade.

    Em estudo realizado por Silva e Lima (2002) foram verificados os benefícios de 10 semanas de atividade física envolvendo exercícios físicos aeróbios e resistidos no controle glicêmico em 33 portadores de DM2 com idade de 45 a 75 anos, sendo concluído que houve melhoras na glicemia em jejum e hemoglobina glicosilada, diminuição de colesterol total, LDL-colesterol e triglicerídeos, além do aumento do HDL-colesterol, diminuição da freqüência cardíaca, assim contribuindo para uma melhora da eficácia cardíaca e auxiliando na diminuição do IMC.

    Já no estudo Cuff et al. (2003) onde foram avaliadas 28 mulheres portadoras de DM2 associado à obesidade, sendo verificada a eficácia de exercícios resistidos somados aos exercícios aeróbios foi capaz de elevar a taxa de infusão de glicose em 77%, contra uma elevação de 20% desses valores com o treinamento aeróbio somente.

    No estudo de Cambri et al. (2007) foi apresentado os benefícios de exercícios aeróbios e resistidos em portadores de DM2. Após 12 semanas de atividades envolvendo caminhadas com intensidades de 60% a 70% da FCM e treinamento com pesos sendo constituído de dez exercícios que englobavam os grandes grupos musculares realizando de uma a três séries de 12 a 15 repetições máximas, foi constatado melhorias no aumento do HDL e uma diminuição significativa nos níveis de glicemia capilar. Os autores concluirão que apesar do estudo não apresentar resultados significativos, os indivíduos apresentaram um melhor controle nos níveis de LDL, triglicerídeos e hemoglobina glicosilada.

    Sigal et al. (2007) em seu estudo tinha o objetivo de verificar os benefícios do treinamento aeróbio, resistido e a combinação de ambos em portadores de DM2. A amostra foi constituída de 251 adultos sendo divididos em 4 grupos: grupo controle, grupo de treinamento resistido, grupo de treinamento aeróbio e grupo combinado. Os principais resultados se evidenciaram na hemoglobina glicosilada além de melhorias secundárias na composição corporal, lipídios plasmáticos e pressão arterial. No grupo controle em relação aos que realizaram exercícios combinados obtiveram uma melhoria de 51%, os que realizaram exercícios aeróbios e resistidos isoladamente uma melhoria de 38%. Já no grupo de exercícios combinados ocorreu uma melhora de 46% em relação ao grupo aeróbio e 59% em relação ao grupo resistido.

    Portanto foi concluído que os exercícios aeróbios e os resistidos quando treinados isoladamente são de extrema importância para portadores de DM2, sendo que a combinação das duas modalidades torna-se possível obter um melhor resultado na saúde do individuo.

    Também existe a possibilidade de se trabalhar os exercícios aeróbios e resistidos em formato de treinamento em circuito, sendo assim Mairoma et al. (2002) analisou 16 indivíduos portadores de DM2 onde realizaram 8 semanas de treinamento em circuito combinando exercícios aeróbios e resistidos, foi constatado um aumento no limiar ventilatório, força muscular e diminuição do percentual de gordura corporal. Também foi constatada uma diminuição significativa dos níveis de glicemia, bem como os níveis de hemoglobina glicosilada.

    Os autores concluíram que o treinamento em circuito proporciona uma melhora na capacidade funcional, massa magra e força, além de contribuir para um maior controle glicêmico e de hemoglobina glicosilada, sendo considerado o treinamento em circuito um componente auxiliar e eficiente para o controle e tratamento de portadores de DM2.

Considerações finais

    A partir das evidencias relatadas na presente revisão de literatura, pode-se concluir que a DM2 é uma doença crônica resultante de uma predisposição genética, riscos ambientais e comportamentais, onde tem apresentado uma prevalência crescente e um alto índice de mortalidade, gerando assim um custo social bastante elevado.

    A mudança no estilo de vida com a adoção da prática regular de exercícios físicos diminui o risco de adquirir o DM e oferece uma boa qualidade de vida ao paciente diabético.

    Os exercícios aeróbios são recomendados, pois promovem uma redução na gordura corporal do indivíduo e conseqüentemente contribuindo para uma diminuição da obesidade, que é um dos principais fatores que levam ao DM2. Já os exercícios resistidos auxiliam em um aumento na força e massa muscular que é fundamental para prevenir ou controlar a diminuição da mesma devido ao processo de envelhecimento e também auxiliam na diminuição das taxas de glicose no sangue, sendo eficiente no controle da glicemia.

    Alguns estudos recomendam a combinação de exercícios aeróbios e resistidos, pois os seus benefícios agem diretamente nos fatores que predispõe o DM2, tornando-se mais eficiente no tratamento da doença, visto que os benefícios mais significativamente expressivos são a diminuição dos níveis de glicemia e resistência à insulina.

Referências

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 16 · N° 158 | Buenos Aires, Julio de 2011  
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