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Perfil socioeconômico de ingressantes 

no futebol no período pós Lei Pelé

Perfil socioeconómico de los ingresantes al fútbol en el periodo posterior a la Ley Pelé

 

Universidade de São Paulo

Escola de Artes Ciências e Humanidades

(Brasil)

Prof. Dr. Marco Bettine de Almeida

Bruno Venoso

Flávio Costa

Gabriel Perrone Braz

marcobettine@usp.br

 

 

 

 

Resumo

          Tendo como referência temporal a Lei Pelé (1997), podemos identificar dois momentos, antes (antes de 1997) e o após (após 1997). Partindo desse marco iremos analisar o perfil socioeconômico da população de atletas que ingressavam no futebol pré e pós Lei Pelé. Sabendo isso, chegamos a uma pergunta norteadora de nosso estudo, se houve uma mudança na tendência socioeconômica dos ingressantes na carreira de futebol após a Lei Pelé. A importância deste estudo é definir e identificar qual o perfil socioeconômico da demanda de ingressantes na carreira de futebol, podendo assim contribuir para estudos futuros na identificação de perfil socioeconômico de ingressantes na carreira de futebol no período pós Lei Pelé (anos após 1997).

          Unitermos: Futebol. Lei Pelé. Perfil sócio econômico.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 158 - Julio de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O futebol é um fenômeno social de massa que atinge a todas as classes, gêneros, cor, raça, religião, etnias, da sociedade não descriminando nenhuma forma de expressão ou qualquer tipo de diferença que possam existir entre indivíduos e sociedades. Atuando na integração e formação de indivíduos. Atingindo todos os níveis sociais. Por ter característica de identidade nacional, o futebol gera e estimula sentimentos mais profundos de paixão e fascinação nos indivíduos (DAMATTA, 1982).

    Com base na teoria de Marx descrita em sua obra “O Manifesto do Partido Comunista” (1849), que analisa o sistema capitalista da relação de estrutura de poder entre a burguesia (capitalistas) sobre o proletariado, ou melhor, o sistema de dominador sobre dominado, pode-se perceber que esse domínio está muito presente como raiz do capitalismo na dinâmica de mercado financeiro do futebol. No passado a dinâmica do mercado futebolístico era gerada pelos clubes, os quais eram detentores do “passe” do atleta, vinculando-o ao clube sobre suas leis e regras, tornando-o como espécie de mercadoria-produto ou patrimônio do clube meramente mercantilizado. O “passe” seria os direitos federativos e econômicos do atleta, no qual oferecia ao detentor de seus direitos, total autonomia e liberdade de poder escolher qual curso da carreira a seguir.

    Segundo Rodrigues (2003), em setembro de 1997, Edson Arantes do Nascimento, ministro extraordinário dos esportes encaminhou um projeto de lei que pretendia trazer o poder do Estado sobre as entidades esportivas, fiscalizando o esporte e a autonomia dos clubes no que se refere a sua organização, retirando dos clubes todas as leis que garantiam a sua proteção (lei do passe) e aos Atletas (15% na transferência e limite de três anos de contrato) deixando com que o esporte fosse agora regulamentado pelas leis do mercado, concedendo assim, total liberdade aos atletas de qualquer idade poder assinar contrato com os clubes que oferecerem as melhores propostas, e abolindo dos clubes o vínculo com o atleta na possibilidade de vendê-lo. Desta maneira, o atleta agora possui total controle de sua carreira podendo escolher ao término do contrato se permaneceria no clube ou procuraria outras entidades esportivas dependendo do acerto das partes.

    Neste momento, ocorre o rompimento desta forma de mercado, modificando sua estrutura, constituindo agora não mais a forma de dominador e dominado, o atleta deixa de ser simplesmente um patrimônio do clube, e passa agora a ser um trabalhador da bola. Os clubes passam a fazer parte constituinte deste mercado, não mais como dominador e sim como mais uma instituição do sistema.

    De acordo com princípios capitalistas (MARX & ENGELS, 1849), com estas mudanças do mercado é criada uma fenda ou espaço a ser preenchido, o de dominador ou capitalista. Com tal mudança o mercado se torna mais comercializado, atraindo para ele grandes empresários de outros setores. Estes empresários ocuparam o espaço de capitalistas, uma vez vago pelos clubes, criando e ditando as regras deste novo mercado. O atleta se torna um produto de fetichismo para a sociedade onde sua imagem será veiculada a marcas e produtos a serem consumido pela sociedade. Cria-se uma nova forma, que transforma os atletas em mercadorias os supervalorizando, aumentado o lucro de forma jamais vista no mercado do futebol.

Clube Atlético Juventus

    Fundado por operários do bairro da Mooca em 20 de abril de 1924, o clube era conhecido, a princípio, como Extra São Paulo e possuía as cores preta, branca e vermelha. Depois, em 1º de maio de 1925, com melhores condições financeiras e com terreno para construção do seu estádio, o clube mudou de nome e se transformou no Cotonifício Rodolfo Crespi Futebol Clube. Quatro anos mais tarde, o time chegou ao seu primeiro título: o de campeão da Liga Amadora de Foot-Ball, competição organizada pela APEA, a Associação Paulista de Esportes Athleticos, que corresponde ao que seria o Campeonato Paulista da Segunda Divisão hoje.

    Em março de 1930, o então presidente do clube, Rodolfo Crespi, que torcia pela Juventus de Turim, e seu filho Adriano, torcedor do clube italiano Fiorentina, decidiram rebatizar o time como Juventus, com o uniforme lilás do time de Florença. Onde a posterior teria a sua cor escurecida, chegado até cor atual grená. Neste mesmo ano foi dado ao clube, pelo jornalista Thomaz Mazzoni, da “A Gazeta”, o apelido “Moleque Travesso”, depois da vitória por 2 a 1 sobre o S.C. Corinthians no primeiro campeonato da Divisão Principal do futebol paulista, no ano de 1930.

    Uma das melhores campanhas do Juventus na sua história foi em 1932, quando o time ficou na terceira colocação do Campeonato Paulista atrás apenas do Palestra Itália e do São Paulo. Depois deste ano, o Juventus retirou-se da disputa de competições oficiais, retornando apenas cinco anos mais tarde. Em 1962, o Juventus ampliou seu patrimônio quando fundou seu parque poliesportivo, localizado no bairro da Mooca.

    Em sua história, o Juventus conseguiu revelar grandes nomes do futebol, como Julinho Botelho, que disputou a Copa do Mundo de 1954 na Suíça, Hércules, que jogou a Copa de 1958 na Suécia, quando o Brasil conquistou seu primeiro título, Lima, que atuou na de 1966 na Inglaterra e Félix presente no tricampeonato de 1970, no México. Pelo Juventus também tiveram sua presença marcada como Tiago Motta, que mais tarde foi jogar no Barcelona, Alex o grande defensor que atualmente esta no Chelsea F.C, Wellington Paulista atualmente integra o grupo da S.E. .Palmeiras, entre outros grandes jogadores. Outra curiosidade do clube é a passagem do argentino César Luis Menotti, antes de se tornar técnico da seleção de seu país. Além dos grandes nomes de técnicos que passaram por ali como Candinho (ex-técnico Portuguesa de Desportos, Seleção Brasileira), Marcio Bittencourt (ex-técnico do S.C. Corinthians), Nelsinho Batista (ex-técnico do São Paulo F.C.).

    Depois de um longo período sem títulos, em 1983 o Juventus conseguiu o que pode ser considerado o maior triunfo da sua história: a conquista da Série B do Campeonato Brasileiro a tão famosa taça de prata. Dois anos depois, o clube sagrou-se campeão da Copa São Paulo de Futebol Junior. Sem conseguir permanecer na primeira divisão do campeonato estadual e com um longo período sem conquistas, o time conseguiu ser campeão do Campeonato Paulista da Série A2 de 2005, ganhando o direito de disputar a Primeira Divisão em 2006. Ano que firmou uma parceria com o grupo Pão de Açúcar que no futuro se tornaria o PAEC (Pão de Açúcar Esporte Clube), time que disputa a série A-2 do campeonato paulista e tem como característica a formação de jogadores. Em 2007, o clube conquistou a Copa Federação Paulista de Futebol, adquirindo o direito de disputar o campeonato da copa do Brasil no ano de 2008. Atualmente o clube se encontra na série A-3 do campeonato paulista, com o sonho voltar à elite do futebol que um dia foi tão prestigiado.

Discussão teórica

    Marxs e Angels (1849) no Manifesto do Partido Comunista definem o conceito de capitalismo como um sistema econômico que irá definir os tipos de relações sociais entre as pessoas que serão formadas pela divisão de suas classes sociais (burguesia e proletariado), tendo como principal característica a dinâmica do dominador sobre o dominado, ou seja, do burguês (capitalista) sobre o proletário. Na qual a materialização de algum produto nada mais seria do que a encarnação física ou demonstração da aplicação do homem para servir ao Capital. Tal qual demonstra o aumento cada vez maior da segregação entre as pessoas e suas classes. Acreditando- se que o motor ou centro motriz deste sistema se deve graças aos meios de produção e geração de lucro, criando uma maior sobrecarga no trabalhador onde o mesmo será totalmente desvalorizado ocorrendo uma maior alienação do indivíduo produtor com material produzido, sendo que agora não mais será levado em conta quem produziu o material/produto e sim a quantidade que ele conseguiu produzir para a tender a demanda. Este modo de fabricação será denominado de modo de produção, na qual valorizará somente a mais valia/lucro (aumento no tempo e quantidade de produção de materiais, porém o trabalhador ira ganhar o mesmo salário que se houvesse produzido somente um material) e não o trabalhador. Neste molde de estrutura social econômica, o homem será explorado cada vez mais tendo a falsa idéia de merecimento. O homem será classificado como mercadoria, sendo um instrumento de produção convertidos em capital pela relação social da propriedade privada, criando-lhe o valor do fetichismo.

    O futebol chegou ao Brasil por meio de jovens de classe alta e as primeiras equipes apareceram nos clubes cujos sócios representavam a elite da sociedade da época. Entretanto, já nos primeiros anos deste século, começaram a surgir equipes de futebol não pertencentes a colégios, fábricas ou clubes sociais de elite, tais como a Ponte Preta, em 1900, o Corinthians, em 1910, além de outros. Era o início da tomada do futebol pela população brasileira, não apenas os representantes da classe alta. Em 1923, no Rio de Janeiro, o Vasco da Gama venceu o campeonato estadual com um time composto por negros, mulatos e pobres, fato que incomodou dirigentes e torcedores que ainda tentavam manter o futebol como um esporte branco e de elite. Era a vitória da técnica dos jogadores populares sobre a imposição elitista ainda presa à tradição britânica. Em 1933, foi adotado o profissionalismo, com grande resistência daqueles que ainda pretendiam certo purismo no futebol brasileiro.

    Uma explicação para a popularização do futebol brasileiro seria a facilidade de prática desse esporte, quer em termos de regras, como em termos de espaço e equipamentos. De fato, as regras do futebol são de fácil compreensão em relação aos outros esportes. Sua pratica pode se dar em qualquer lugar – campo, quadra, praia, terreno baldio, rua e a bola, o único material obrigatório, pode ser representada por uma bola de meia, de plástico, uma lata, uma tampinha, entre outros. Com uniforme completo ou não, com bola de couro ou não, em um campo demarcado ou não, todos jogam futebol.

    Como demonstrado o futebol em sua histórica já fora criado sobre os moldes capitalistas, tendo como aspectos fundamentais a sua segregação, dividindo classes, sendo um esporte exclusivamente para a elite.

    Pautado na teoria de Marx o futebol atualmente tem como papel principal características ser muito mais que somente um esporte, abrangendo outras esferas da sociedade como o entretenimento. Desta forma torna- se um grandioso mercado financeiro, que atrai com maior frequência, grandes empresários de outros setores financeiros a ingressarem no futebol, por verem esta modalidade esportiva como uma grande forma de investimento/lucro.

    Os fatores que vem contribuindo para o ingresso destes seriam o nível de profissionalismo que vem aumentando cronologicamente neste meio, tornando - se um mercado estável e totalmente adaptado as exigências do sistema capitalista, ou seja, o trabalhador esta sendo cada vez mais alienado a produção, transformando o homem em mercadoria. Tal situação extenuou-se após a Lei Pelé, onde ampliou as relações de comercialização dos jogadores, que neste momento não mais seriam “posse” do clube abolindo qualquer forma de vínculo, concedendo assim, total liberdade aos atletas de qualquer idade em poder assinar contrato com os clubes que oferecerem as melhores propostas deixando com que o esporte fosse agora regulamentado pelas leis do mercado. Desta forma criou- se uma fenda, ou melhor, um espaço a ser preenchido o de Capitalista/Dominador, este que será suprido pelos grandes empresários de outros setores, criando e ditando as regras de um novo mercado. Este que tornara o atleta em um produto de fetichismo para a sociedade, veiculando a sua imagem a marcas e produtos a serem consumidos pela sociedade, transformando – o em mercadorias supervalorizadas, aumentando o lucro de formas jamais vistas em qualquer outro mercado.

Método de pesquisa

    Foi realizada como métodos de análise, uma pesquisa bibliográfica investigando as relações socioeconômicas com a busca da profissionalização do futebol. Fazendo levantamento de conceitos que permeiam este tema oferecendo uma maior fundamentação para a discussão teórica.

    Utilizou-se uma pesquisa de campo com quinze atletas ingressantes no futebol no período pré e pós Lei Pelé (1997) no Clube Atlético Juventus, sendo que se 7 (sete) atletas eram do período pré e 8 (oito) atletas do período pós, empregando um questionário de caráter qualitativo com perguntas abertas, a fim de investigar a situação socioeconômica atleta e entender os motivos da escolha do futebol como carreira. Tal questionário era composto por três perguntas.

    Foi desenvolvido um estudo de caso a fim de ter um melhor conhecimento sobre a instituição analisada, fazendo levantamentos de informações e fatos históricos de seu acervo pessoal.

Apresentação e discussão de dados

    Ao aplicar os questionários podemos notar uma grande diferença nas respostas no que se diz respeito à situação financeira. Ao ser perguntado qual era a renda mensal da sua família quando você ingressou no futebol, os atletas ingressante pré lei Pelé apontaram uma renda familiar de um a dois salários mínimos, já nos atletas pós lei Pelé encontramos uma disparidade muito grande em relação aos ingressantes pré, pois 80% dos entrevistados apontam a sua renda salarial como acima de 10 salários mínimos e 20% acima de sete salários mínimos, o que nos deixa claro que segundo os entrevistados, houve uma mudança no perfil socioeconômico dos atletas ingressantes no futebol, pessoas com uma maior estabilidade financeira nos dias de hoje também procuram o futebol para a construção de uma carreira.

    A classe social que os participantes apontaram que pertenciam antes de seu ingresso no futebol foram de classes A e B para os atletas pós lei e de classe C para o segundo grupo representado pelos atletas pré lei Pelé, mais um fato que mostra a mudança de perfil entre a população ingressante no futebol no decorrer dos anos segundo os atletas entrevistados.

    Quando perguntados sobre quais foram os motivos que o levaram ao ingresso no futebol os dois grupos obtiveram respostas semelhantes, apontaram três motivos pelos quais ingressaram no futebol, são esses: Amor, Estabilidade financeira e Fama. Mesmo nos atletas pré Lei Pelé, que possuíam uma renda familiar inferior, podemos observar que apenas o dinheiro não era motivo suficiente para o ingresso nesse mercado, o amor pelo futebol e os benefícios que ele poderá acarretar como a fama são pontos importantes a serem destacados. No grupo do pós, mesmo contendo uma estabilidade financeira maior, fica evidente a preocupação dos atletas em conseguir conquistar a sua própria independência financeira, conseguir o seu próprio dinheiro, viram o futebol como algo financeiramente sustentável e viável, não ignorando o fato de através dele tornar o seu nome conhecido e adquiri status de celebridade.

Considerações finais

    Concluímos que o estudo confirmou a nossa hipótese de que houve um aumento de ingressantes das classes mais altas (A e B) no futebol, devido o esporte apresentar a alusão de aspectos de sustentabilidade financeira em rápido, ou melhor, curto prazo, sendo agora representado como mais um ramo da sociedade de produzir emprego caracterizado por sua seriedade agora vista onde outrora fora visto como um esporte marginalizado. Devido a sua grande mercantilização e seus meios de produção serem agora cada vez mais profissionais e qualificados.

    Alem disso pode-se notar que o amor pelo futebol esta sendo destacado nos dois grupos estudados, que aliado ao rápido retorno financeiro e a uma rápida ascensão social se torna algo muito atrativo o que acaba por motivar, ainda mais, a busca por esse mercado.

Referências

  • DAMATTA, R. et al. (1982) Universo do futebol: esporte e sociedade brasileira. Rio de Janeiro: Pinakotheke.

  • DAOLIO, J. (1997) Cultura: educação física e futebol. Campinas: Editora da UNICAMP.

  • MARX, K. e ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo. Coleção da obra prima de cada autor. Martin Clarete, 2007

  • RODRIGUES, FRANCISCO XAVIER FREIRE. A Sociologia do Trabalho e a Sociologia do Futebol: uma análise da flexibilização das relações de trabalho no futebol (2001-2003). Rev. Sociedade e Cultura, ano/vol. 6, número 001.

  • Web Site Oficial da Federaçâo Paulista de Futebol: http://www.futebolpaulista.com.br/clube.php?cod=11&ref=3, acessado em 11/06/2011

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