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Idoso: dificuldades em uma tarefa motora com bola

Dificultades de una persona mayor en una tarea motriz con pelota

 

Centro Universitário UniFMU

Curso de Educação Física

(Brasil)

Flávia Maria Roquette Ferreira

flavia_roquette@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          A Lei nº 10.741/03, Estatuto do Idoso, preceitua como idoso as pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. Dentro desta faixa de idade, muito se fala sobre a redução nas capacidades fisiológicas dos idosos, mas pouco se fala da coordenação motora, que é um dos fatores fundamentais para uma vida diária normal. Na velhice a dificuldade de realizar tarefas fica evidente e o mundo moderno torna-se uma ameaça para o idoso. Mas..., será que podemos chamar o idoso de hoje de velho? O objetivo desse estudo foi comparar o desempenho em tarefas motoras com bola de pessoas com idade entre 20 a 35 anos (jovens) e pessoas com idade entre 60 e 75 anos (idosos) e relatar quais foram as dificuldades encontradas em cada tarefa pelo grupo de idosos. Participaram desse estudo 36 sujeitos, sendo 18 jovens e 18 idosos praticantes de atividade física regular. A tarefa motora consistiu em realizar lançamentos e recuperações de bola em cinco níveis de dificuldades diferentes. Os resultados adquiridos destacaram que em quatro das cinco tarefas motoras houve diferenças significativas entre os dois grupos, sendo que o grupo de jovens apresentou melhor desempenho que o grupo de idosos, devido a sua maior capacidade de assimilar os comandos dados, e não tão forte no desempenho motor, comprovando que o envelhecimento resulta um nível maior na diminuição da capacidade de processamento de informação, do que na diminuição da coordenação motora e em menor consciência temporal, o que não limita o idoso de hoje em dia a ter uma vida como qualquer jovem, desde que estimulados em atividades que lhes proporcionem além de motricidade um conhecimento cognitivo maior.

          Unitermos: Idoso. Tarefa motora. Limitações motoras. Processamento de informações.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 158 - Julio de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A Lei nº 10.741/03 instituiu o Estatuto do Idoso, e em seu artigo 1º, regula os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.

    Para a Organização Mundial de Saúde (OMS) é considerado como idoso, o indivíduo que tem entre 61 e 75 anos de idade. Entretanto, cada vez mais as pessoas vêm se conscientizando de que adotar um estilo de vida saudável pode aumentar a expectativa de vida. Este fato tem sido expressado nas estatísticas dos últimos anos da população idosa no Brasil. Em 1970 a população idosa brasileira era de apenas 5,1%, dez anos depois, em 1980, já chegava a 6,1%, em 1990 foi para 7,2%, em 2000 chegou em 8,6% (cerca de 14 milhões, dados do Censo 2000). Projeções demográficas indicam que este número poderá ultrapassar, nos próximos 25 anos, a marca dos 30 milhões. Este crescente envelhecimento populacional vem despertando interesse em diversas áreas de estudo e preocupação não só com a quantidade de anos que se vive, mas essencialmente com a qualidade de vida com o avançar da idade.

    De acordo com Rosa (1983) citado por Dias e Duarte (2005), a velhice é um período de declínio caracterizado por dois aspectos: a senescência (período em que os declínios físico e mental são lentos e graduais, ocorrendo em alguns indivíduos na casa dos 50 e em outros, depois dos 50 anos) e a senilidade (fase do envelhecer em que o declínio físico é mais acentuado e é acompanhado da desorganização mental, algumas pessoas se tornam senis relativamente jovens, outras antes dos 70 anos, outras, porém, nunca ficam senis, pois são capazes de se dedicarem a atividades criativas que lhes conservam a lucidez até a morte).

    Okuma (1999) coloca que a deterioração dos parâmetros físicos como força muscular, resistência muscular, equilíbrio, flexibilidade, agilidade e coordenação, leva à limitação funcional que ocasionará dependência física. Se os parâmetros físicos declinarem abaixo do nível requerido para a realização das atividades da vida diária, como cuidados pessoais básicos, como se vestir, banhar-se, levantar-se da cama e sentar-se numa cadeira, utilizar o banheiro, comer e caminhar, isto resultará em dependência funcional, influenciando assim na qualidade de vida dos idosos. Para Rosa (1983) alguns aspectos mais visíveis do processo de envelhecimento são as rugas, os cabelos brancos, a redução da capacidade de locomoção, a redução da força física e a falta de firmeza nas mãos e pernas, além de as funções sensoriais serem as mais afetadas pelo processo de envelhecimento.

    Sabe-se que o processo de envelhecimento é acompanhado por uma série de alterações fisiológicas ocorridas no organismo (Leite, 1990; Weineck, 1991; Skinner, 1991; Federighil, 1995; Faro Jr, Lourenço & Barros Neto, 1996ª; Zogaib, Bittar & Bicarrelo, 1996 citados por Takahashi e Tumerelo, 2004), bem como pelo surgimento de doenças crônico-degenerativas advindas de hábitos de vida inadequados (tabagismos, ingestão alimentar incorreta, tipo de atividades laboral, ausência de atividades física regular, etc.).

    Muitos estudos (Ricci et al, 2005, Teixeira, 2006, Mazo et al, 2007, Silva et al, 2008, Ruwer et al, 2005 e Rosa et al, 2003) dão ênfase ao declínio de desempenho devido ao envelhecimento, à redução nas capacidades fisiológicas dos idosos e as dificuldades da vida diária dos idosos, porém, pouco se fala sobre a preservação das capacidades funcionais e da coordenação motora dos idosos, que é um dos fatores fundamentais para uma vida diária normal. Na velhice a dificuldade de realizar tarefas fica evidente, o mundo torna-se uma ameaça para o idoso. Mas será que podemos chamar o idoso de hoje em dia de velho? Antigamente pessoas com idade entre 60 e 75 anos eram consideradas velhas e debilitadas, hoje, vemos uma nova classe de pessoas surgir, os novos idosos.

    Nesta faixa etária observamos grupos com idades superiores a 60 anos apresentarem uma vida ativa, sem limitações quaisquer e independente. Coutrim (2006) relata que a cada dia novas pesquisas revelam que uma parcela considerável dos idosos possui condições de trabalhar e efetivamente o fazem, levando uma vida de trabalhador que os deixam totalmente inseridos na vida familiar e por tanto, longe da segregação. Além do trabalho, existem muitas atividades direcionadas à terceira idade, como pintura, cursos de bordado, dança de salão, hidroginástica, jogos, viagens especializadas, cruzeiros e até cursos em universidades destinados a essa população, e por relato dos próprios idosos, até a vida sexual nessa faixa etária é mais ativa que antigamente.

    Xavier (2002) descreve que a velhice para alguns é uma etapa de desenvolvimento e satisfação, enquanto que para outros é uma fase negativa da vida, que resulta em depressão, declínios nas capacidades funcionais e fisiológicas e, por conseqüência, dificuldades nas realizações das atividades de vida diária (AVDs). Uma série de fatores ajuda a manutenção das atividades de vida diária e a qualidade de vida positiva, dentre estes fatores estão, segundo Xavier et al, atividade, renda, vida social, e relação com a família, além de força, o equilíbrio, tempo de reação, cognição, velocidade e coordenação motora que será o tema abordado no estudo. De acordo com Teixeira (2006) coordenação significa ordenar em paralelo, fazer com que os elementos de um sistema atuem de forma cooperativa e sinergística, em busca de um determinado objetivo, para cada um dos atos motores existentes há não apenas a necessidade de coordenar os elementos que constituem o sistema de ação, mas também de selecionar modos específicos e apropriados de coordenação. Para Magill (2000) a coordenação envolve um padrão de movimento do corpo e dos membros que caracteriza o desempenho de uma habilidade. Para adquirir este padrão, o sistema nervoso precisa organizar os elementos de um sistema complexo em meios eficientes e reais para atingir uma determinada meta. A maior parte dos artigos encontrados na área de desenvolvimento motor é sobre criança, lateralidade, aprendizagem motora, não há muitos artigos sobre tarefas motoras para os novos idosos, com idade entre 60 e 75 anos.

    É obvio que durante os anos ocorre um declínio na capacidade motora das pessoas, mas qual será o motivo desse declínio, diminuição da força com o passar dos anos, dificuldades na cognição, tempo de movimento inadequado? Devido à necessidade de obter maior conhecimento sobre o assunto, já que a população nesta faixa etária está crescendo a cada ano que passa, este estudo tem como objetivo descrever a diferença do desempenho em tarefas motoras com bola de pessoas com idade entre 20 a 35 anos e pessoas com idade entre 60 e 75 anos e explicar quais foram as dificuldades encontradas em cada tarefa pelo grupo de idosos.

Método

Participantes

    Participaram desse estudo 36 sujeitos, sendo 18 pessoas com idade entre 20 e 35 anos (grupo jovem, GJ) e 18 pessoas com idade entre 60 e 75 anos praticantes de atividade física regular (grupo idoso, GI).

Equipamento e tarefas

    A tarefa motora consistiu em realizar lançamentos e recuperações de uma bola de vôlei em diferentes níveis de dificuldade. O objetivo da tarefa foi recuperar a bola sem deixá-la cair no chão.

    Os participantes realizaram o teste em cinco níveis de dificuldade, envolvendo diferentes formas de lançar e recuperar a bola. As tarefas realizadas são descritas a seguir:

Tarefa 1

    Com as duas mãos, lançar a bola para cima e recuperá-la sem a deixar cair no chão.

Tarefa 2

    Com as duas mãos, lançar a bola para cima, bater uma palma na frente do corpo e uma palma atrás do corpo e recuperar a bola sem a deixar cair no chão.

Tarefa 3

    Com as duas mãos, lançar a bola para cima, bater uma palma na frente do corpo, uma palma atrás do corpo, encostar as duas mãos sobre a coxa e recuperar a bola sem a deixar cair no chão.

Tarefa 4

    Com as duas mãos, lançar a bola para cima, executar cinco palmas e recuperar a bola sem a deixar cair no chão.

Tarefa 5

    Com as duas mãos, lançar a bola para cima, encostar a mão no chão e recuperar a bola sem a deixar cair no chão.

Procedimentos

    Previamente ao início da sessão de testes, todos os sujeitos preencheram um formulário de consentimento sobre os procedimentos experimentais e um questionário sobre atividades diárias (só para os idosos) e receberam informações pertinentes sobre a tarefa que iriam realizar. Cada participante realizou três tentativas de prática para familiarização da tarefa motora, antes do início de cada condição experimental. Para a condição 5, não era necessário as tentativas de prática desde que o praticante não apresentasse muita dificuldade para a realização da tarefa, foram avaliadas 3 tentativas.

    O experimento foi realizado em um local aberto que dava condições aos participantes realizarem a tarefa. A posição inicial de cada tarefa foi partindo da posição em pé, com uma bola de voleibol na mão, da maneira mais confortável possível.

Análise

    Para avaliar os resultados foi atribuído escore de 1 ponto para cada tentativa certa, sendo três acertos, equivalente a 3 pontos, dois acertos, equivalente a 2 pontos, um acerto equivalente a 1 ponto e nenhum acerto equivalente a zero pontos. O teste de significância usado para observar as diferenças entre os grupos foi o teste de diferença entre médias, em todas as análises foi adotado o nível mínimo de significância de 5%.

Resultados

    Os resultados do questionário sobre a vida cotidiana dos idosos comprovou que todos levam uma vida ativa.

Tabela 1. Respostas do questionário da vida diária dos idosos

    A tabela 1 relata 11 aspectos da vida diária dos idosos. Apenas dois sujeitos moram sozinhos, os demais moram ou com o companheiro ou com os filhos, mas não são dependentes de ninguém. Para o item 3 (Trabalha), todos os participantes que responderam que não trabalham explicaram que estão aposentados, mas que trabalham em casa. Um dado interessante neste questionário é que todos os participantes têm grupos de amigos e muitos deles mantêm uma vida social ativa saindo com seus amigos. Ao responder sobre o item 6 (Senta e levanta com facilidade), todos os participantes do estudo enfatizaram que sim.

Tabela 2. Idade dos participantes, escores atingidos pelos jovens para cada condição experimental, somatória e média

    Na tabela 2, estão expressos os resultados do grupo de jovens. Percebe-se pela média e pela soma dos escores que os jovens conseguiram escores máximos em quase todas as condições experimentais. Outro ponto interessante de ser descrito é que os jovens tiveram maior dificuldade nas tarefas compostas por muitos elementos que na tarefa de encostar a mão no chão. Esta tabela faz-se necessária para demonstrar detalhadamente o resultado de cada jovem independente da idade dos mesmos.

Tabela 3. Idade dos participantes, escores atingidos pelos idosos para cada condição experimental, somatória e média

    Na tabela 3 estão expressos os resultados dos idosos nas cinco tarefas, podemos perceber, pela soma dos escores e pela média que conforme o nível de dificuldade foi aumentando, os idosos obtiveram menores escores na realização das tarefas. As atividades com maior número de movimentos a ser realizados foram as que os idosos apresentaram maior dificuldade. Outro fato interessante para destacarmos é que nem sempre os idosos mais jovens conseguem os melhores resultados, por exemplo, na condição experimental 5, um senhor de 71 anos conseguiu obter escore 3 enquanto muitos participantes de 60 anos não conseguiram se quer escore 1.

Tabela 4. Dados médios dos resultados dos dois grupos

    A tabela 4 descreve os dados médios dos dois grupos para facilitar a comparação entre os grupos. Vê-se claramente que, uma grande diferença entre as médias dos dois grupos.

Figura 1. Resultados médios dos dois grupos para as cinco condições experimentais

    De acordo com a figura 1, pode-se notar que, na tarefa 1 não houve diferenças significativas entre os grupos, ao contrário, os resultados foram exatamente iguais, isso porque se tratava de uma tarefa motora simples que não envolvia muita atenção e coordenação e o participante tinha que se preocupar apenas com a bola. Observou-se que todos os participantes conseguiram realizar a tarefa da condição 1 com sucesso e o resultado entre o grupo jovem e o grupo idoso foi o mesmo.

    Na tarefa 2 houve diferença significativa entre os grupos com t=-4,63. O resultado demonstrou que o grupo dos jovens é melhor significativamente que o grupo dos idosos na tarefa 2, apesar de a tarefa 2 representar aos idosos a segunda melhor média de desempenho. Nesta condição experimental, o nível de dificuldade aumentou, a tarefa ficou mais complexa onde além de o participante se preocupar com a bola ele precisava realizar dois tipos de movimento (bater uma palma à frente do corpo e uma atrás) antes de pegar a bola. Nas tentativas de treino e válidas ficou notável que a dificuldade do grupo de idosos era transformar a informação adquirida em ação (muitos dos participantes desse grupo batiam primeiro a palma atrás do corpo, para depois bater a mão à frente do corpo, invertendo a ordem da tarefa e resultando no erro do movimento).

    Como a tarefa 3 já apresentava um certo grau de dificuldade, podemos notar na figura 1 grande diferença significativa entre os grupos, com t= -5,92. A terceira condição experimental foi composta por cinco elementos: lançar a bola, bater uma palma na frente do corpo, bater uma palma atrás do corpo, encostar as duas mãos sobre a coxa e recuperar a bola. Nessa tarefa, a grande dificuldade observada no grupo dos idosos foi o processamento das informações sobre a tarefa. Muitos dos idosos não conseguiram acertar a seqüência de acontecimentos da tarefa, outros não conseguiam lançar a bola de forma correta, outros não conseguiam recuperar a bola e outros não conseguiram criar o tempo necessário entre o lançamento da bola e a recuperação para realizar todos os movimentos necessários. Nessa tarefa, o grupo de jovens também apresentou algumas dificuldades, mas todos realizaram a tarefa mais facilmente que os indivíduos do grupo dos idosos.

    A tarefa 4 requeria grande velocidade dos participantes, pois continha um número elevado de ações a ser feita durante o lançamento da bola. Assim, apesar desta tarefa ser a que resultou nos menores médias dos dois grupos, pôde-se diagnosticar grandes diferenças significativas entre os grupos, com t = -5,34. Esta quarta condição experimental envolvia o fator tempo mais que qualquer outro, nela, entre o lançamento da bola e a recuperação da mesma os participantes tinha que realizar cinco palmas. Aqui a grande dificuldade de ambos os grupos foi calcular a altura da bola para o tempo de movimento necessário. O grupo dos jovens apresentou, nesta tarefa, um número grande de erros, mas para muitos participantes do grupo dos idosos, não conseguiram acerto algum.

    Por último, na tarefa 5, a grande dificuldade do grupos dos idosos foi conseguir olhar para bola enquanto tocava o chão. Aqui houve a maior diferença significativa entre os grupos entre todas as tarefas, com t = -6,53. Ficou visível durante os testes que a diferença entre os dois grupos foi que os jovens perceberam que para conseguir realizar esta tarefa era preciso manter contato visual com a bola, já o grupo dos idosos não apresentaram a mesma percepção. A tarefa 5 não foi diferenciada pela queda de força dos idosos e sim pela falta de percepção no que poderia ser feito para conseguir realizá-la. A última condição experimental requeria dos participantes contato visual com a bola, noção de tempo e força de quadríceps. Nessa condição era esperado que o grupo de idosos não a realizasse por falta de força na musculatura do quadríceps, mas na verdade a grande dificuldade para esse grupo foi entender que para conseguir recuperar a bola era necessário manter o contato dos olhos na mesma - Teixeira (2006) descreve que a aferência visual representa uma fonte única de informação sobre as variações do ambiente, permitindo controlar ações motoras de modo antecipatório. Apesar da dificuldade de ter que abaixar e levantar, foi surpreendente o desempenho do grupo dos idosos, onde muitos conseguiram bons resultados nessa atividade e demonstraram grande disposição para sua prática.

    Com esses resultados, podemos concluir que os jovens são superiores significativamente em praticamente todas as condições experimentais das tarefas propostas, o que não faz do idoso uma pessoa limitada nestas tarefas.

Figura 2. Resultados expressos em linha ao decorrer das condições experimentais

    A figura 2 expressa os resultados médios dos dois grupos experimentais no decorrer das tentativas. Aqui fica claro que conforme o nível de dificuldade das tarefas aumentou, o grupo de idosos apresentou menores médias e maiores dificuldades nas tarefas. Um dado interessante a ser notado aqui é que enquanto os jovens tiveram variações no desempenho entre as condições 3 e 5, ocorrendo uma queda de rendimento na condição 3 e 4 e demonstrando bom desempenho na condição 5 , os idosos tiveram uma queda de desempenho e não conseguiram melhorá-lo na condição 5 como os jovens. É possível que isso tenha ocorrido pelo fato da condição 5, para os jovens, representar uma movimentação mais fácil de ser realizada que a condição 3 e 4 que continham muitos elementos combinados, já para os idosos, apesar de o desempenho na condição 5 ter sido um pouco melhor que as duas condições anteriores, o desempenho nas três condição foi muito semelhante.

Discussão

    Com todos esses resultados, é importante destacar que um dos fatores que foram fundamentais na hora da realização das tarefas foi a capacidade do processamento de informações de ambos os grupos. Teixeira (2006) descreve que o controle de um ato motor, qualquer que seja ele, consiste em regular simultaneamente algumas centenas de músculos, que desempenham funções distintas em uma determinada tarefa motora. Aparentemente, em vista aos resultados, a capacidade de processamento de informação para a realização de um ato motor é prejudicada com o envelhecimento. Oliveira et al (2006) relata que fatores educacionais, de saúde e de personalidade, bem como do nível intelectual global e capacidades mentais específicas do individuo podem contribuir para o declínio gradual das funções cognitivas na senescência e que o domínio cognitivo parece estar associado com a performance das atividades de vida diária.

    Em relação ao desempenho nas tarefas de coordenação motora, era obvio que o desempenho dos idosos seria pior que o desempenho dos jovens, mas o motivo da piora no desempenho só apareceu durante os testes, onde o fator cognitivo se sobressaiu mais que qualquer outro. Outro fator importante à destacar é que, de acordo com Teixeira (2006), o declínio de desempenho motor seria determinado de forma seletiva pelo desuso de funções relacionadas ao controle motor no dia-a-dia dos indivíduos idosos, originário da deterioração da capacidade de processamento central de informação e propõe que a taxa de declínio de desempenho sensório-motor durante o envelhecimento é específica à tarefa. Talvez se este estudo tivesse sido realizado com algum grupo máster de esporte com bola (voleibol máster, basquetebol máster) o resultado poderia ter sido um pouco diferente.

    Em estudos sobre o desempenho motor de idosos, Zisi et al (2001) demonstraram que, após um programa de prática em atividades motoras, indivíduos idosos apresentaram melhora de desempenho nas tarefas praticadas com regularidade, Silva et al (2004) relataram não ter encontrado diferença significativa entre o desempenho de indivíduos jovens e idosos em tarefas similares àquelas que os últimos estão habituados a praticar, enquanto que em tarefas não habituais os jovens usualmente levam vantagens. Caromano et al (2006) em seu estudo sobre a manutenção na prática de exercícios por idosos, concluiu que na avaliação do desempenho motor manual, observou-se que a manutenção da prática de exercícios físicos não é suficiente para manter a melhora alcançada com o treinamento, de forma geral, lembraram que o envelhecimento leva a perda gradativa das funções, de modo que mera manutenção é um ganho importante a ser considerado.

    Hoje, envelhecer bem e atividade física são conceitos fortemente associados. Segundo Mazo et al (2007), os benefícios provocados pela prática de exercícios físicos pelas pessoas idosas têm sido estudados pela comunidade científica, destacando aqueles que atuam na melhora da capacidade funcional, equilíbrio, força, coordenação e velocidade de movimento. Okuma (1998) reforça a idéia que os parques são cada vez mais freqüentados por pessoas maduras, em descontraídas roupas esportivas ou em chamativos paramentos de ginástica, algumas como que a passeio, outras em rigorosas caminhadas. Em academias de ginástica, clube e piscinas, onde antes se viam apenas corpos jovens, magros e bem torneados, já é possível observar senhoras mais arredondadas e macias em alegre convivência com mocinhas exibindo o corpo da moda. Nos horário vespertinos aparecem os homens maduros, com suas barrigas antes chamadas de prosperidade, mas que hoje denotam descuido com a estética e a saúde.

    Ainda Okuma (1998), os benefícios da atividade física são evidentes igualmente para o domínio das capacidades cognitivas e psicossociais. Reconhece-se sua forte relação com o bem-estar psicológico, comumente indicado por sentimentos de satisfação, felicidade e envolvimento. Sabe-se também que pessoas que estão seguras de que dispõem das competências necessárias para um adequado funcionamento intelectual, físico, afetivo e social, ou seja, que se sentem eficazes são beneficiadas no que tange à auto-estima e aos motivos de realização. Talvez se tivéssemos comparado além de idosos ativos, como os do presente estudo, idosos sedentários os resultados teriam sido, para esse grupo, ainda pior.

    “A queda da capacidade de desempenho na meia-idade é freqüentemente mais uma conseqüência das condições de trabalho e do hábito de vida na sociedade industrial do que de incapacidade biológica. Atrás do processo hipotético de envelhecimento está a falta de treinamento físico” (Weineck, 2003, página 653).

    Mulford citado por Weineck (2003) conclui relatando que a capacidade de desempenho do homem somente se reduz porque ele se deixa convencer disto. E em adição a esta conclusão, os resultados apresentados nos permitem concluir que com o envelhecimento há perda na capacidade de processamento de informações, na coordenação motora e na consciência temporal, mas que apesar disso, os idosos de hoje em dia podem ter a mesma vida que os jovens, basta eles acreditarem e nunca pararem de se divertir e praticar atividades físicas. Por fim, é importante ressaltar que o envelhecimento populacional e o aumento da expectativa de vida demandam ações preventivas, as quais possam melhorar a qualidade de vida dos idosos e promovam medidas que visem à participação dessa população à prática de atividade física e por último, é importante divulgar que o exercício físico, não aumenta a quantidade de anos de uma pessoa, e sim, melhora a qualidade de vida dessa pessoa durante esses anos.

Referências

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