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O efeito da flexibilidade no tornozelo na pernada do nado crawl

El efecto de la flexibilidad del tobillo en la patada de crol

 

*Acadêmica, Faculdade Jangada, Jaraguá do Sul, SC

**Professora Mestre, Faculdade Jangada, Jaraguá do Sul, SC

***Professor Especialista, FURB, Blumenau, SC

****Especialista, Técnico de Natação, Jaraguá do Sul, SC

(Brasil)

Marina Fructuozo*

nina_fructuozo@hotmail.com

Simone Adriana Oelke**

simone.oelke@terra.com.br

Gerson Raiter***

gerson.raiter@terra.com.br

Ronaldo Fructuozo****

nina_fructuozo@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo investigou a influência da flexibilidade do tornozelo na pernada do nado crawl. Participaram deste estudo 10 nadadores, de rendimento há pelo menos 3 anos, participantes de competições estaduais e nacionais. Embora o tamanho dos pés dos nadadores especialistas em nado peito sejam maiores, a avaliação da flexão plantar mostrou que os nadadores especialistas nos nados de borboleta, costas e crawl apresentaram um melhor grau de flexibilidade do que os nadadores de peito. Os melhores desempenhos foram adquiridos pelos nadadores do nado de borboleta, seguidos pelos nadadores do nado crawl e logo depois os nadadores de costas.

          Unitermos: Natação. Flexibilidade. Pernada.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 158 - Julio de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A capacidade de mover as articulações numa total amplitude de movimento é importante em muitos esportes. A perda da flexibilidade pode acarretar uma redução da eficiência do movimento e aumentar as chances de lesão em alguns esportes. Portanto, para muitos técnicos, exercícios regulares de alongamento se fazem presente nas sessões de treinamento, a fim de aumentar a flexibilidade (POWERS; HOWLEY, 2000, p. 403).

    A natação competitiva tem como prioridade o nadador percorrer uma determinada distância no menor tempo possível, aumentando o interesse pelo aprimoramento da técnica durante as sessões de treinamento (CAMPOS et al., 2009). Franken et al (2008, p. 329) citam outros fatores que podem contribuir na natação como

    a técnica, que desempenha papel importante dentre os fatores que determinam o desempenho devido, particularmente, ao arrasto, que é dependente das características físicas do meio líquido (viscosidade e densidade), da antropometria (área de secção transversa, medidas lineares e coeficiente corporal de arrasto) e, principalmente, da velocidade média de nado (VN). Uma melhor execução técnica do nado leva à redução das forças de arrasto e ao incremento de propulsão final, possibilitando um melhor desempenho.

    A flexibilidade na natação se faz presente na maior parte dos movimentos. Plantanov (2005, p. 303) cita que “a estrutura biomecânica dos movimentos da natação apresenta grandes exigências em relação à mobilidade das articulações dos ombros e dos tornozelos”. Um aumento da faixa de movimentos nos tornozelos, nos ombros e na parte inferior das costas, contribui para tempos mais rápidos na natação. Em relação à articulação do tornozelo, Franken et al (2008) comentam que, quanto maior a amplitude do movimento de flexão plantar, maior será a aplicação de força propulsiva no movimento de pernada no estilo crawl.

    Os três tipos de pernadas usados na natação consistem em: pernada de borboleta, pernada de peito e a pernada de adejamento, usada tanto no nado de crawl quanto o nado de costas. As pernadas fornecem propulsão e ajudam o nadador a manter o corpo alinhado durante a braçada e durante o movimento do corpo de um lado para o outro, ou seja, o movimento de pernada do crawl garante uma posição equilibrada e hidrodinâmica do corpo, auxiliando na força do nado e permitindo que as coxas permaneçam em uma posição elevada (STAGER; TANNER, 2008).

    Tratando especialmente da pernada de adejamento, a mesma atua principalmente como estabilizadora, pois o movimento da braçada não é simétrico em torno do eixo longo do corpo. Elas desempenham o papel de uma quilha de um barco, na qual sem a quilha, um barco rápido emborcaria, tornando-se assim ineficiente.

    A pernada de adejamento consiste nas pernas se movimentarem em um ritmo alternado: a pernada para baixo com uma das pernas ocorrendo durante a pernada para cima com a outra. A pernada para baixo é um movimento parecido com uma chicotada, que começa com a flexão do quadril, seguida pela extensão do joelho. A perna flexiona-se no quadril ao ultrapassar o corpo em seu trajeto para cima, para a superfície. A coxa começa a fazer a pressão para baixo sobre a água enquanto a parte inferior da perna, que deve estar relaxada, continua a ser empurrada para cima pela pressão da água que esta sobre ela (MAGLISCHO, 1999).

    A pressão da água sob a perna, também empurra o pé para uma posição estendida, com os dedos apontando para cima (em flexão plantar) e o pé voltado para dentro (invertido). A pernada para baixo é executada com um movimento semelhante a uma chicotada, começando com uma leve flexão do quadril e movimentando para baixo a perna mediante a extensão do joelho. A pernada para cima deve ser efetuada com a perna reta. A pressão da água empurrando a perna para baixo o mantém estendido e o pé em uma posição natural, a meio caminho entre a flexão e a extensão, a parte inferior da perna e o pé devem ficar relaxados durante toda a pernada para cima, assim permanecendo até que o joelho começa a estender-se durante a pernada para baixo seguinte. Isso permite que a água posicione adequadamente a perna. O movimento ascendente de toda pernada é realizado pelos músculos que estendem a articulação. A pernada para cima termina quando a perna ultrapassa o corpo em seu trajeto para a superfície. Isso ocorre quando a perna flexiona-se no quadril para a seguinte pernada para baixo (MAGLISCHO, 1999).

    Farinatti (2000) enfatiza que é na natação, sem dúvida, que se pode encontrar a maior quantidade de trabalhos demonstrando evidências de como a flexibilidade pode influenciar no desempenho de uma modalidade esportiva. Cureton citado por Colwin (2000) coloca que já na década de 30 era documentada a associação entre flexibilidade e nadadores de uma forma geral. Em 1932, foram realizadas várias medidas nas equipes olímpicas do Japão e Estados Unidos, observando nítida vantagem para os primeiros, donos dos melhores resultados na competição realizada naquela ocasião. A pesquisa mostrou que a braçada dos japoneses velocistas era significativamente mais forte do que a dos americanos, concluindo que o braço flexionado no nado puxava com mais força a água. Cureton prestava bastante atenção à flexibilidade do tornozelo, na qual os japoneses conseguiam marcas bastante superiores às dos americanos (74,8 graus de movimento em média, contra 65,4), evidenciando também uma propulsão muito maior na pernada em razão desta flexibilidade.

    O nadador que tiver menor capacidade de estender seus pés ao nível dos tornozelos terá como conseqüência os pés voltados para baixo muito antes que suas pernas estejam estendidas. Visto que seus pés estão quase perpendiculares ao fluxo da água, esse nadador empurra a água para baixo, e não para trás, com seus pés e suas pernas nas proximidades do final da pernada para baixo (MAGLISCHO, 1999).

    Através do nível de flexibilidade na articulação do tornozelo, o nadador poderá realizar pernadas mais fortes empurrando maior quantidade de água para trás e, então, propiciar a sua propulsão à frente (CAMPOS et al., 2009). Machado (1978) enfatiza que a maior necessidade do trabalho de pernas liga-se à manutenção do equilíbrio, uma vez que a sua propulsão hoje corresponde de 10 a 20% do rendimento total. Se deixarmos de executar o trabalho de pernas, a flutuabilidade sofrerá e, consequentemente, a aplicação de força será efetuada de modo incorreto, zonas de atrito serão criadas e a progressão do nadador dificultada.

    Outros fatores a serem considerados em relação à flexibilidade na Natação, é que um nível insuficiente da mesma não irá permitir que seja desenvolvida uma técnica de natação eficiente, limitando o aparecimento da força, da capacidade de velocidade, coordenação, provocando enfim, uma menor economia de trabalho e com freqüência causando a deteriorização dos músculos e dos ligamentos (PLATONOV; FESSENKO, 2003).

    Não foi ainda definida a amplitude ideal das pernas em seu maior afastamento, mas ela provavelmente situa-se entre 50cm e 80cm (MAGLISCHO, 1999). Juntamente com a força e a resistência, a flexibilidade é também um componente importante da performance muscular. Em geral, pode ser descrita como a propriedade que torna uma estrutura capaz de ser flexionada, virada, curvada e torcida sem se quebrar (MATHEWS; FOX, 1979). Ainda Makarenko (2001) considera que, para alcançar altos resultados em distâncias curtas no crawl, os índices que possuem maior importância são, entre eles, uma boa flexibilidade no tornozelo.

    Neste sentido, a pernada de crawl assume um papel importante para o nado, onde a técnica correta do movimento, assim como uma maior flexão plantar, poderá contribuir para uma maior propulsão e eficácia do nado. Desta forma, este estudo objetivou investigar a influência da flexibilidade do tornozelo na pernada do nado crawl.

Materiais e métodos

    A pesquisa caracterizou-se como causal-comparativo por comparar o desempenho na tarefa de sprint em pernada do nado crawl com o grau de flexibilidade dos nadadores e de diferentes nados. Participaram deste estudo 10 nadadores, de rendimento há pelo menos 3 anos, participantes de competições estaduais e nacionais. Dos quais 6 do naipe masculino e 4 do naipe feminino, com faixa etária variando entre 14 e 21 anos.

    Para a realização da tarefa foi necessária uma piscina de 25m com marcação dos 15m e temperatura de acordo com a norma da Federação Internacional de Natação Amadora – FINA (2005), que estabelece uma temperatura variando de 26º a 29º. A temperatura exterior foi ambiente. A aplicação do teste se deu no horário de treinamento dos atletas.

    Antes de iniciar o estudo, todos os nadadores foram informados dos objetivos e procedimentos envolvidos na pesquisa, dando seu consentimento verbal e por escrito para participar da pesquisa. Os sujeitos foram submetidos à avaliação de flexibilidade através de um goniômetro, sendo este composto de duas réguas transparentes para medição da movimentação articular. Logo após, o tamanho do pé foi medido através de um paquímetro de 60 cm.

    Para a realização da tarefa de sprint em pernada do nado crawl, durante o teste, as mãos estiveram apoiadas na prancha, com a cabeça permanecendo fora da água. Na chegada, o nadador deveria encostar a prancha na parede. Cada atleta realizou três tentativas com intervalos de 3 min (sujeitos permaneceram dentro da piscina), sendo considerado para análise o melhor tempo obtido dentre as três tentativas. Durante o teste um avaliador registrou o tempo dos últimos 15m sendo contado o tempo a partir do momento em que a cabeça do nadador ultrapassava a linha dos 15m.

    Foi aplicada a Análise de Variância para amostras independentes, a fim de saber se existia diferença significativa entre as variáveis tamanho do pé, flexibilidade e desempenho. Correlações entre as variáveis foram testadas com aplicação do Teste de Correlação Linear de Pearson (dados paramétricos). Para verificar a influência de uma variável independente sobre a variável dependente, foi aplicado o teste de regressão linear simples. Para todas as análises foi adotado o nível de significância de 0,05 e utilizado o programa de SPSS versão 11.5 for Windows.

Resultados e discussão

    Com a intenção de proporcionar maiores condições para uma compreensão do estudo, os resultados encontrados são dispostos de acordo com os objetivos específicos e discutidos simultaneamente à suas apresentações.

    Os resultados mostraram que os nadadores de peito possuem os maiores pés (média de 25,57cm). Pode-se dizer que para os nadadores de peito, quanto maior for o tamanho dos pés, melhor será sua propulsão, em função de que “as solas dos pés são as superfícies mais propulsivas, deslocando água para trás como fólios” (MAGLISCHO, 1999, p. 468). Os nados de costas, borboleta e crawl, que são pernadas com movimentos semelhantes, tiveram pouca variação no tamanho dos pés.

    Embora o tamanho dos pés dos nadadores especialistas em nado peito sejam maiores, a avaliação da flexão plantar mostrou que os nadadores especialistas nos nados de borboleta (83,33º), costas (74,00º) e crawl (66,00) apresentaram um melhor grau de flexibilidade do que os nadadores de peito. Para isso, Alter apud Schlemm (2007) coloca que, nadadores de crawl, costas e borboleta que possuírem uma boa flexão plantar dos tornozelos é essencial. Segundo Marino apud Farinatti (2000) isto permitirá que os pés do nadador fiquem em boa posição para impelir a água para trás e para baixo (crawl e borboleta) ou para cima (costas), em angulações mais favoráveis à propulsão.

    Os nadadores do nado borboleta foram os que mostraram uma maior flexão plantar. De fato, isto é de grande valia para o desempenho do nadar, pois Colwin (2000) coloca que, a força da pernada do nado borboleta depende, em grande parte, da habilidade do nadador de hiperestender os tornozelos e os pés rapidamente, estabelecendo a tensão na superfície.

    Durante os anos de prática da pesquisadora, em aprendizagem e treinamento de natação, verificou-se que nadadores do estilo peito tinham uma dificuldade em realizar a pernada de adejamento, em função dos pés estarem com a ponta dos dedos em direção ao fundo da piscina, podendo ser um indício de pouca flexibilidade plantar para a realização de uma pernada de adejamento mais eficiente.

    Os resultados da média de amplitude da flexibilidade em dorsi flexão, apontam os especialistas em nado costas com melhor amplitude (11,00º), seguido dos nadadores de crawl (9,00º) e peito (6,67º), como mostra a figura 1. No nado peito, de acordo com Marino apud Farinatti (2000), o movimento de tornozelo é mais importante na flexão dorsal, uma vez permitindo um posicionamento mais precoce e eficiente dos pés para a aplicação da força. Para Maglischo (1999) os nadadores deste estilo podem flexionar seus tornozelos o suficiente para manter um ângulo de ataque orientado para trás e para fora durante a fase de pernada de varredura para fora, eles devem ser capazes de fazer o agarre da água mais cedo e de aplicar a força por maior tempo durante a subseqüente varredura para baixo. Sendo assim, segundo Alter apud Schlemm (2007), já que a aplicação de uma força depende da posição dos pés, faz-se necessário possuir tornozelos flexíveis para adquirir o sucesso no batimento de pernas.

    Massaud (2001, p.146) coloca ainda que,

    a pernada de peito requer uma boa flexibilidade tíbio-társica, já que para um bom posicionamento dos pés, no momento da flexão máxima das pernas e no decorrer da extensão, é necessário realizar dorsiflexão com eversão, para que os mesmos realizem um eficiente apoio na água com a planta dos pés.

Avaliação do desempenho dos nadadores de diferentes estilos na tarefa de pernada do nado crawl

    Analisando os resultados de acordo com o desempenho mostrado na figura 1, os nadadores do nado de peito (14,58 seg.) obtiveram os piores desempenhos no teste. Já os melhores desempenhos foram adquiridos pelos nadadores do nado de borboleta (12,29 seg.), seguidos pelos nadadores do nado crawl (12,71 seg.) e logo depois, com uma diferença de apenas 0,07, os nadadores de costas (12,78 seg.). Pode-se verificar que os nadadores de borboleta foram os que demonstraram maiores amplitudes articulares, já os nadadores de peito obtiveram os menores resultados em relação à flexão plantar.

Figura 1. Média do desempenho dos nadadores na tarefa sprint da pernada do nado crawl, de acordo com estilo de nado.

    Segundo um estudo realizado com nadadores, Hay apud Farinatti (2000, p.89), acrescenta que

    a flexibilidade dos tornozelos, em muitos aspectos, pode ser mais importante para a propulsão na natação que a própria força muscular. O autor justifica essa proposição pelo fato de que a potência da pernada seria muito mais definida pela técnica de execução e pela boa angulação de aplicação da força, do que pela potência muscular em si. A vantagem de uma boa técnica de execução de movimento de pernas, aliada a uma boa flexibilidade poderia equivaler a mais de 50% da propulsão obtida.

    Seguindo a mesma linha de raciocínio, Alter apud Schlemm (2007) explica que, no batimento de pernas para baixo a propulsão é produzida pelo topo do pé estendido, enquanto a flexão do quadril move a perna para baixo. Para isso, a planta do pé aplica uma força de impulso enquanto que a perna move-se de uma posição flexionada para uma posição estendida. Assim sendo, já que a aplicação de uma força retrógrada depende da posição dos pés, faz-se necessário possuir tornozelos flexíveis para adquirir sucesso no batimento de pernas.

Comparação do desempenho a tarefa com o nível de flexibilidade e tamanho dos pés

    Para verificar se a amplitude de flexibilidade e o tamanho dos pés influenciam no desempenho da tarefa de sprint em pernada do nado crawl, foram aplicados teste de ANOVA, post-hoc e correlação para identificar as diferenças entre as variáveis.

Tabela 01. Valores do teste Anova para as variáveis dependentes e independentes de toda a amostra.

    O valor de F, conforme mostra a tabela 1, na flexão plantar e no desempenho foi de 5,19 e 4,84, respectivamente, e, portanto, pode-se afirmar que as médias das variáveis flexão plantar e desempenho são diferentes entre os grupos de nado. Mas quando aplicado o teste post-hoc de Scheffé, para verificar a existência de diferenças entre as médias dos grupos de nado, os resultados não apontaram diferença significativa entre as comparações, ou seja, não há diferença entre os grupos de estilos de nados diferentes em relação ao desempenho na tarefa de sprint de pernada do nado crawl.

    Para verificar a associação entre as variáveis, o teste de correlação de Pearson não indicou diferenças significativas, indicando que não há relação entre as variáveis, considerando que todos os resultados foram próximos de zero. Os mesmos resultados foram encontrados quando aplicado o teste de regressão linear simples, para verificar a influência de uma variável sobre a outra, indicando que a amplitude de flexibilidade, tanto plantar quanto dorsal, não influenciou no desempenho do teste de pernada no nado crawl. Embora alguns autores acreditem que ocorra melhor performance com um grau de flexibilidade melhor, os resultados deste estudo não comprovam a influência da variável flexibilidade de tornozelo sobre o desempenho na tarefa.

    Uma possível explicação para esses resultados, provavelmente, seja devido a quantidade reduzida de sujeitos da amostra. Outra explicação possível, advém do estudo realizado por Mookerjee et al apud Demari (2000), envolvendo 12 nadadoras universitárias, utilizando um goniômetro para a medição da flexão plantar, obtendo uma média de 82 graus de flexão plantar. Não encontraram também relação significativa entre batimento de pernas e flexão plantar, mostrando que é provável que existam outros fatores, como por exemplo, a força muscular na eficiência da pernada.

    Maglischo (1999) sugere que uma boa flexão plantar é de 70 graus ou maior. Hull apud Demari (2000) divide em pernada ruim, moderada e ótima para, respectivamente, menor de 90 graus, 90 graus e maior que 90 graus de flexão plantar. O resultado do teste apresentou uma média de 72,60º de flexão plantar de tornozelo, o que está bom para os valores sugeridos por Maglischo (1999), mas está distante dos valores sugeridos por Hull. Para Demari (2000, p. 55), “a comparação entre estes relatos, no entanto, deve ser realizada com cautela, pois os autores citados não demonstraram estudos sobre o assunto”.

    É provável que o reduzido número de estudos envolvendo batimento de pernas deve-se pela pequena contribuição à performance total de nado, uma vez que a contribuição, em média, é de aproximadamente apenas 10% (DEMARI, 2000). Porém, se analisar os tempos dos nadadores em uma final de 100m livre, por exemplo, constatar-se-á que muitas vezes os nadadores estão separados por menos de um segundo, ou seja, o equivalente a aproximadamente 2% do tempo total de prova.

    Relacionando os resultados obtidos, Cousilman apud Stager e Tanner (2008) investigou a eficiência da pernada de adejamento. Ele organizou um teste de reboque de nadadores e mediu a tensão da corda de reboque quando os nadadores realizavam a pernada e quando apenas eram rebocados em posição hidrodinâmica. O objetivo desta era observar se a tensão da corda de reboque durante a pernada era maior, menor ou a mesma que a apurada quando o nadador não estava fazendo o movimento de pernada. Foi constatado que a maior parte da pernada dos nadadores era ineficaz a velocidades entre 1,3 e 1,5m/s e até aumentou o arrasto para velocidades acima de 1,5m/s. Abaixo de 1,3m/s, a pernada aumentou a propulsão.

    Seria possível então concluir que a pernada é uma perda de tempo, e que a braçada é que realmente proporciona a propulsão. De fato, pode-se afirmar que a braçada no nado de crawl exerce a maior parte da propulsão, porém não podemos descartar a importância da pernada, pois os velocistas ao usarem a mesma, estarão impedindo que as pernas afundem mais na água, diminuindo assim o arrasto e possivelmente adquirindo tempos mais baixos (STAGER;TANNER, 2008).

Considerações finais

    A natação é um esporte de muitos detalhes técnicos. Quanto maior a habilidade do nadador em exercer corretamente os movimentos dos nados, maior será a sua chance de obter êxito no esporte. Apesar dos resultados não constatarem relação entre as variáveis, acredita-se mesmo assim, que a flexibilidade pode ter uma participação bastante significativa na natação, por dois motivos: segundo pesquisa bibliográfica, quanto maior a flexibilidade articular do tornozelo, melhor será a aplicação de força da pernada, tanto no movimento de pernada para cima, quanto para baixo, trazendo este fato a importância em se realizar corretamente a técnica da pernada. Esta técnica, portanto só poderá ser adquirida com uma amplitude articular considerável; os nadadores de borboleta obtiveram os melhores resultados em relação à flexão plantar e no desempenho da pernada, colocando que a flexibilidade pode trazer alguma relação com o desempenho, principalmente na fase da pernada em que se dá uma “chicotada” na água.

    Hoje está sendo aplicado nos treinamentos de natação com bastante afinco a pernada, na qual muitos técnicos já consideram a pernada submersa como o quinto estilo da natação. Esta importância que está sendo dada à pernada, torna necessários mais estudos, para então determinar a real eficiência da flexibilidade com a pernada.

    Analisando o nado de borboleta e de crawl, pode-se dizer que hoje o nado mais veloz na Natação é o crawl, porém a pernada de borboleta é muito usada no nado submerso tanto no estilo de crawl, como no de costas e até mesmo no nado de peito. Pode-se dizer que os nadadores de borboleta trazem consigo uma vantagem significativa, pois os mesmos dominam uma pernada que está sendo muito aplicada nos outros nados.

Referências

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  • COLWIN, C. M. Nadando para o século XXI. São Paulo: Manole, 2000.

  • DEMARI, J. L. A influência da força e da flexibilidade no batimento de pernas e sua relação com a performance total de nadadores de 100 metros nado crawl. Porto Alegre, 2000. 78f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Escola de Educação Física, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2000.

  • FARINATTI, P.de T.V. Flexibilidade e esporte. Revista Paulista de Educação Física, São Paulo, v.14, n.1, p. 85-96, jan/jun.2000.

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  • MAKARENKO, L. P. Natação: seleção de talentos e iniciação desportiva. Porto Alegre: Artmed, 2001.

  • MASSAUD, M. G. Natação 4 nados: aprendizado e aprimoramento. Rio de Janeiro: Sprint, 2001.

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  • PLANTANOV, V. N. Treinamento desportivo para nadadores de alto nível. São Paulo: Phorte, 2005.

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  • POWERS, S. K; HOWLEY, E.H. Fisiologia do Exercício: teoria e aplicação ao condicionamento e ao desempenho. 3ed. São Paulo: Manole, 2000.

  • SCHLEMM, F. A importância da flexibilidade na natação. União da Vitória, 2007, 88f. Monografia (Graduação em Fisioterapia) - Faculdade de Ciências Biológicas e de Saúde, Unidade de Ensino Superior Vale do Iguaçu – UNIGUAÇU, 2007.

  • STAGER, J. M.; TANNER, D. A. Natação: manual de medicina e ciência do esporte. 2 ed. Barueri: Manole, 2008.

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