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Associação entre descritores antropométricos, 

estado nutricional e flexibilidade em idosas ativas

Relación entre descriptores antropométricos, estado nutricional y flexibilidad en mujeres mayores activas

Association among anthropometric descriptors, nutritional state and flexibility in active older women

 

*Profª Ms. Educação Física FUC, RS

**Prof. Educação Física

***Prof. Ms. Educação Física LAFIMED, ULBRA

(Brasil)

Adriana Barni Truccolo*

Rafael Corrêa**

Osvaldo Donizete Siqueira***

truccolo@cpovo.net

 

 

 

 

Resumo

          A obesidade abdominal tem sido relacionada com o aumento do risco de infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral, sendo sua prevalência aumentada em idosos. Também é observada que a falta de flexibilidade é particularmente prevalente nos indivíduos mais idosos contribuindo para uma capacidade reduzida de realizar as atividades do dia-a-dia. O objetivo do estudo foi verificar associação entre a medida da circunferência da cintura (CC), razão cintura quadril (RCQ) e índice nutricional (IMC) com o nível de flexibilidade dos membros inferiores de idosas ativas. Para isto, 210 idosas (69,9 + 5,0 anos) praticantes de ginástica em centros de convivência na cidade de Canoas, RS, foram alocadas. O tratamento estatístico utilizado foi o teste de correlação de Pearson, com um nível de significância de 5%. Os resultados mostraram que houve correlação negativa significativa entre a RCQ e a flexibilidade das idosas. Medidas antropométricas, de fácil avaliação e não invasivas são instrumentos úteis na avaliação de variável neuromotora e risco cardiovascular.

          Unitermos: Obesidade. Exercício. Idoso.

 

Abstract

          Abdominal obesity has been related with increased risk of cardiovascular disease and stroke, being its prevalence increased in aged. Also it is observed that the lack of flexibility is particularly prevalent in aged individuals contributing for a reduced capacity to carry through the activities of day-by-day. The objective of this study was to verify association among the measure of waist circumference (WC), waist-to-hip ratio (WHR) and body mass index (BMI) with the flexibility level of older women inferior members. For this, 210 older women (69,9 ± 5,0 years) practicing gymnastics in convivence centers in the city of Canoas, RS, had been placed. The statistical treatment used was the test of correlation of Pearson, with a level of significance of 5%. The results showed a negative statistic significant correlation between WHR and flexibility of the aged ones. Anthropometric measures of easy evaluation and non invasive are useful instruments in the evaluation of neuromotor variable and cardiovascular risk.

          Keywords: Obesity. Exercise. Aged.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 158 - Julio de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Em todo o mundo, a proporção de pessoas com 60 anos ou mais está crescendo mais rapidamente que a de qualquer outra faixa etária. Entre 1970 e 2025, espera-se um crescimento de 223 % no número de pessoas mais velhas1. Projeções feitas para o ano 2025 indicam que o Brasil apresentará a sétima maior população idosa do planeta (acima de 32 milhões de idosos), representando 15% da população total2. Á medida que envelhecem, as pessoas tornam-se menos ativas e suas capacidades físicas diminuem devido a alterações fisiológicas próprias do processo de envelhecimento3, facilitando a aparição de condições crônico-degenerativas. Tais condições são, na realidade, decorrentes do processo intenso de urbanização, aumento significativo do peso corporal da população, aumento nas taxas de sedentarismo e modificações no estilo e nos hábitos de vida4.

    O envelhecimento afeta diretamente o estado nutricional do indivíduo por todas as alterações que ocorrem no organismo. Estudos epidemiológicos indicam que, especialmente, em homens idosos a desnutrição reduz significativamente o tempo de vida5. A pessoa idosa apresenta tendência a desenvolver desnutrição, devido à incidência de doenças crônicas e debilidades físicas associadas à idade5. A antropometria como um método não invasivo e de simples execução, com baixo custo operacional e seguro, tem sido utilizada para identificar populações em risco nutricional6, 7. Segundo Garcia, Romano e Lira (2007)8 na avaliação antropométrica da população idosa o Índice de Massa Corporal (IMC) apresenta alta sensibilidade (93%) e especificidade (82%) no diagnóstico de desnutrição.

    Estudos realizados em países desenvolvidos, com adultos de ambos os sexos, demonstraram que o Índice de Massa Corporal (IMC) correlaciona-se bem com indicadores antropométricos de gordura abdominal ou visceral (circunferência da cintura), além de ter relação direta com a massa de gordura corporal total9. É observado que somente 8% da população brasileira estão cientes de que a obesidade abdominal é um fator de risco para doenças cardiovasculares. A gordura abdominal libera, continuamente, ácidos graxos para a corrente sanguínea, podendo levar à arteriosclerose, inflamações crônicas e à síndrome metabólica10. A obesidade abdominal também tem sido relacionada com o aumento do risco de infarto do miocárdio, de acidente vascular cerebral e de morte prematura, encontrando-se forte associação entre essas variáveis11. Essas descobertas foram particularmente importantes na medida em que, até então, existia associação somente entre índices de obesidade geral e as doenças mencionadas12. Comparada às medidas antropométricas tradicionais, a circunferência da cintura abdominal (CC) tem-se mostrado superior ao IMC e à relação cintura quadril (RCQ) para identificar adiposidade visceral; por conseguinte, risco cardiovascular13. Embora a RCQ possa ser considerada a técnica antropométrica tradicional para verificar obesidade central, o uso da circunferência da cintura tem ganho suporte como uma opção mais simples14. O uso de uma variável única reduz a chance de erro e, além disso, o tamanho do quadril está fortemente associado com a estrutura da pelve. A circunferência da cintura pode ser um melhor indicador antropométrico de gordura abdominal, pois parece ser menos afetada pelo sexo ou grau de obesidade total15. A circunferência abdominal é determinada no plano horizontal no ponto coincidente com a distância média entre a última costela e a crista-ilíaca, ao final de uma expiração normal. Valores maiores que 102 cm nos homens e 88 cm nas mulheres identificam alto risco de hipertensão arterial, dislipidemia, diabetes melitus e doença cardiovascular16.

    Durante o processo de envelhecimento, são observados declínios significativos nos diferentes componentes da capacidade funcional, sendo que a flexibilidade pode ter redução de 20% a 50%, dependendo da articulação, entre as idades de 30 e 70 anos17.

    A associação entre a obesidade com dificuldades (auto-referidas ou referidas por pessoas próximas) em determinadas tarefas que necessitam de força e flexibilidade18, tem sido documentada. Contudo, só recentemente a associação entre o estado nutricional com testes de desempenho motor 18 foi estabelecida, sendo, no entanto, ainda pouco explorada essa relação e não totalmente esclarecida.

    A diminuição na funcionalidade da flexibilidade com o avanço da idade pode comprometer de maneira parcial ou completa a realização das AVDs, acarretando maior dependência do idoso e redução de sua qualidade de vida19.

    A hipótese deste estudo é de que a presença de uma maior massa corporal, particularmente distribuída na região abdominal dificultará a execução de determinados movimentos corporais comprometendo a flexibilidade de idosos.

    Neste sentido, a prática regular de programas de exercícios físicos, voltados para o desenvolvimento da flexibilidade e para a manutenção de um peso corporal adequado para sexo e idade, tem sido recomendada como meio de atenuar ou reverter os efeitos negativos relacionados ao envelhecimento e/ou fatores a ele associados, justificando a presente investigação.

    Assim, realizou-se esta investigação, tendo como objetivo determinar se há associação entre o estado nutricional (IMC), a medida da circunferência abdominal e a relação cintura quadril com a flexibilidade dos membros inferiores de idosas ativas.

Procedimentos metodológicos

    Estudo de delineamento transversal realizado em grupos de convivência na cidade de Canoas, estado do Rio Grande do Sul após ter sido aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Luterana do Brasil, de acordo com os princípios éticos contidos na Declaração de Helsinki e das normas da resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde para pesquisas em seres humanos com o protocolo de número 2006-362H.

    Amostragem probabilística por “cluster” onde foram sorteados, aleatoriamente, 20 centros de convivência de idosos. Destes, somente dez ofertavam ginástica para as idosas. Em cada centro de convivência as idosas que praticavam ginástica, duas vezes por semana, durante uma hora e meia, foram convidadas a participar. Os critérios de inclusão no estudo foram: ter sessenta ou mais anos de idade; participar regularmente do grupo de convivência há no mínimo um ano; não ter feito reposição hormonal e assinar termo de consentimento livre e esclarecido. De uma população de 600 idosas, 157 foram excluídas por não participarem das aulas, 147 por terem feito reposição hormonal e noventa não concordaram em participar do estudo, totalizando a amostra 210 idosas na faixa etária entre 60 e 80 anos de idade.

    Calculou-se o IMC pela razão entre o peso (kg) e o quadrado da estatura (m²). Os pontos de corte propostos pela Organização Mundial da Saúde (OMS)20 foram utilizados como critério de diagnóstico do estado nutricional. Para verificar o peso foi utilizada uma balança de plataforma da marca Plenna, com a carga máxima de 150kg e precisão de 100g. A balança foi aferida antes da medição e as idosas foram pesadas em pé, descalças e usando roupas leves. A medida da estatura foi verificada através de um estadiômetro da marca Sanny, com a indicação de até 2,20 m, sendo esta fixada à parede com fita adesiva.

    Para verificar a medida da CC, utilizou-se fita métrica inextensível, no ponto médio entre a crista ilíaca anterior superior e a última costela, com precisão de 0,1cm. O acúmulo de gordura na cintura, ou obesidade abdominal, foi classificado com uma CC > 88,0cm para as mulheres. Valores abaixo de 88,0cm foram classificados como normais21, 22. Não foram adotados os valores de corte propostos pela OMS uma vez que os mesmos são para indivíduos até 59 anos de idade. A RCQ foi calculada dividindo-se o diâmetro da cintura pelo do quadril. De maneira geral, se considera que exista maior risco para os adultos se os valores da RCQ são superiores a 0,9 em homens ou 0,85 em mulheres. 22

    A fim de avaliar o nível de flexibilidade de membros inferiores das idosas, foi utilizado o teste de Rikli e Jones23 (2001). O material necessário foi uma fita métrica e uma cadeira. Antes do teste, a idosa realizou o movimento com as duas pernas, a fim de observar o melhor resultado. A seguir, realizou mais duas ou três vezes, a fim de aquecer e familiarizar-se com o teste. Procedimento: sentada na metade da cadeira, a idosa, com um joelho flexionado e outro estendido, tenta encostar os dedos da mão na ponta do pé que estiver com o joelho estendido. Caso seja o joelho direito, tentará encostar a mão direita. Resultado: a idosa realiza duas tentativas e o avaliador registra a melhor. Com a fita métrica, mediu-se a distância que faltou para que os dedos da mão encontrassem os dedos do pé e coloca um sinal “-” (negativo) na frente. Caso a mão tenha passado da ponta do pé, determina quantos centímetros e colocar o sinal “+” (positivo) na frente. A cadeira é colocada contra a parede por medidas de segurança. O avaliador controlou o posicionamento do joelho flexionado a fim de que o mesmo permanecesse sempre na mesma posição. As idosas também responderam a um questionário específico para avaliação das variáveis sócio-demográficas. A fim de assegurar a fidedignidade dos resultados, as idosas foram avaliadas sempre no mesmo horário, no turno da tarde.

    Para a análise dos resultados, foi utilizada a estatística descritiva, obtendo-se as médias, desvio-padrão e percentuais de interesse. O tratamento estatístico utilizado foi a correlação de Pearson a um nível de significância de 5%, para os valores de correlação CC e flexibilidade de membro inferior.

Resultados

    As características sócio-demográficas das 210 idosas com idade média de 69,9 + 5,0 anos são apresentadas na tabela 1. Como pode se observar, 50% da amostra são viúvas e 85% não completaram o I Grau.

Tabela 1. Características sócio-demográficas da amostra

    Com relação às condições crônico degenerativas mais de 50% (105) da amostra apresentaram hipertensão arterial, 20% (42) apresentaram diabetes, 45% (94) osteoporose e 20% (42) das idosas apresentaram algum tipo de doença artério coronariana. Das 210 idosas que participaram do presente estudo, 50% (105) fizeram reposição hormonal.

    A tabela 2 mostra a distribuição da amostra na classificação das medidas de CC (média 82,8 ± 9,69) e RCQ (média 0,84 ± 0,23) para determinação de risco de doença cardiovascular, uma vez que são indicadoras de gordura abdominal e IMC (média 26,3 ± 4,21) como índice nutricional. Como pode ser observado, 80% da amostra (168 idosas) apresentam medida de circunferência da cintura (CC) abaixo de 88cm, mais da metade da amostra (126) não apresenta RCQ elevado e a maioria apresenta valores desejáveis de IMC (entre 18,5 e 29,9).

Tabela 2.  Número e % de Idosas com medidas de CC, RCQ e IMC acima dos valores desejáveis

    Entre as relações do índice de massa corporal com a circunferência da cintura, observamos fraca associação entre IMC e CC, sendo que somente 1% da variação observada no IMC é explicada pela medida da circunferência da cintura, não existindo evidência de correlação entre o IMC e a CC (r = 0,10, r2 = 0,01; tcalc=1,44; p>0,05). Quanto à correlação entre o IMC e a RCQ, os resultados obtidos (r = 0,49, r2 = 0,24; tcalc= 8,17; p<0,05) evidenciam uma associação regular entre IMC e RCQ sendo que 24% da variação observada no IMC é explicada pela razão cintura quadril, sendo estatisticamente significante. Quanto à correlação da CC e RCQ (r= 0,16; r2= 0,02; tcalc = 2,34; p<0,05) observamos que embora tenha sido uma associação fraca, a mesma foi significativa, sendo que 2% da variação obtida na medida da CC são explicados pela RCQ.

    Com relação à classificação da flexibilidade das idosas, segundo o protocolo proposto por Rikli e Jones24 (2001), foi observado que 50% da amostra apresentaram resultados acima do normal para sexo e faixa etária. Por outro lado, 40% das idosas apresentaram resultados considerados abaixo do normal para sexo e faixa etária, questionando, assim, a eficácia do programa de exercício

    Os resultados observados na tabela 3 mostram que houve correlação negativa entre a medida da CC e RCQ com e a flexibilidade das idosas, ou seja, quanto maior a medida de CC, menor a flexibilidade, e quanto maior a razão cintura quadril, menor a flexibilidade. Contudo, estatisticamente significativa foi somente a associação entre CC e flexibilidade. Não foi observada correlação significativa entre IMC e flexibilidade.

Tabela 3. Correlação entre IMC, CC e RCQ com flexibilidade das idosas

Discussão

    O objetivo desse estudo foi determinar se há associação entre o estado nutricional e a medida da circunferência abdominal com a flexibilidade dos membros inferiores de idosas ativas.

    Com base nos resultados obtidos evidenciou-se a participação feminina, independente do estado civil, em programas supervisionados de exercício. Segundo o IBGE24 (2000), no Brasil, em média, as mulheres vivem oito anos a mais que os homens. As diferenças de expectativa de vida entre os sexos mostram: em 1991, as mulheres correspondiam a 54% da população de idosos; em 2000, passaram para 55,1%, apontando para uma tendência populacional predominantemente feminina na velhice.

    Os resultados também mostraram que cinqüenta por cento das mulheres estão com níveis pressóricos aumentados. Talvez esses resultados estejam associados ao fato de não terem realizado reposição hormonal. Segundo Teodósio et al.25 (2004) até a menopausa, as mulheres são hemodinamicamente mais jovens que os homens da mesma idade, apresentando, portanto, menor vulnerabilidade à hipertensão arterial e a doenças cardiovasculares. Porém, após a menopausa, as mulheres passam a apresentar maior prevalência de hipertensão que os homens. Dados do SEADE26 (Estado de São Paulo) mostram que 35% das mortes em mulheres decorrem de complicações cardiovasculares contra 15% de câncer. Somente cinco idosas (20%) apresentaram doença cardíaca, contradizendo os achados de Teodósio et al.25 (2004).

    No nosso estudo as idosas praticam ginástica há pelo menos um ano, 45% possuem osteoporose e nenhuma fez reposição hormonal, estando os resultados de acordo com os achados de Faisal Cury e Zacchello27 (2007), onde a ausência de atividade física regular e de terapia de reposição hormonal bem como fatores genéticos e os relativos à dieta são considerados fatores de risco para a osteoporose. Não se sabe com certeza em que idade começa a perda óssea, mas acredita-se que, entre 40 anos e a menopausa, as mulheres perdem aproximadamente 0,3% a 0,5% de sua massa de osso cortical por ano; após a menopausa, este ritmo acelera para 2% a 3% ao ano.

    Em estudo28 populacional transversal, realizado no Brasil, observou-se que, em Porto Alegre, a hipertensão foi igualmente associada com o IMC, o RCQ e a CC para as mulheres, enquanto para os homens apenas o IMC apresentou associação. O mesmo não pode ser sugerido no nosso trabalho, uma vez que 50% da amostra apresenta hipertensão e somente 20% apresentam medida de circunferência da cintura acima de 88 cm.

    Os resultados não confirmam os achados de Sampaio e Figueiredo29 (2005) que encontraram forte correlação entre IMC e CC entre idosas; uma vez que, embora significativos, nossos achados mostraram fraca correlação entre IMC e RCQ.

    Os resultados também se mostram diferentes dos encontrados por Rebelatto et al.30 (2006), quando investigou a influência de um programa de atividade física de longa duração sobre a flexibilidade corporal de idosas. Os autores não observaram diferenças significativas nos níveis de flexibilidade após 58 semanas de treinamento. Estudos mostram que durante a vida ativa, adultos perdem de 8 a 10 centímetros de flexibilidade na região lombar e no quadril, quando medido por meio do teste de alcance máximo sentar e alcançar. Dentre os vários fatores que colaboram para isso estão a maior rigidez de tendões, ligamentos e cápsulas articulares, devido a deficiências no colágeno. Esse mesmo autor cita que a restrição na amplitude do movimento das grandes articulações torna-se mais pronunciada com o envelhecimento e, muitas vezes, a independência funcional é ameaçada porque o indivíduo não consegue utilizar um carro ou um banheiro normalmente, subir uma escada, ou combinar os movimentos de vestir-se e pentear os cabelos. Aponta ainda que uma das maneiras de conservar a flexibilidade é por meio de movimentos realizados em toda a amplitude das principais articulações.

    O tempo altera o desempenho físico, mas a prática regular de atividades físicas pode restringir tal alteração e, mesmo que não assegure o prolongamento do tempo de vida, oferece proteção à saúde nas fases subseqüentes da vida, sendo uma alternativa eficiente para combater as doenças geradas pela inatividade da vida moderna.

    A prática de exercícios físicos é uma estratégia preventiva primária para manter e melhorar o estado de saúde física do indivíduo, tendo efeitos benéficos diretos e indiretos para prevenir e retardar as perdas funcionais do envelhecimento. Auxilia reduzindo o risco de enfermidades e transtornos freqüentes na terceira idade tais como as coronariopatias, hipertensão, diabetes e osteoporose. Em relação à recuperação da flexibilidade em idosos, a mesma pode ser conseguida mediante programas de condicionamento físico, de alta ou baixa intensidade, inclusive em nonagenários.

    Na literatura pesquisada, foram escassos os estudos abordando a associação do IMC, CC e RCQ e testes de desempenho motor, principalmente flexibilidade. A maioria das pesquisas, inclusive populacionais, investigou a relação do IMC com dificuldades na mobilidade e/ou limitação funcional, por meio de medidas indiretas; ou seja, pela percepção do indivíduo (ou de pessoas próximas) sobre as dificuldades ou limitações em determinadas tarefas.

Conclusão e recomendações

    De acordo com os resultados encontrados nesta investigação conclui-se haver associação entre os níveis de flexibilidade e a medida de circunferência abdominal, apontando para uma limitação física em realizar o teste quando da maior presença de gordura na região abdominal. No presente estudo não foi encontrada associação entre o IMC e a flexibilidade. Apesar do IMC apresentar boa correlação com a adiposidade corporal, não é capaz de distinguir gordura central de gordura periférica, indicando que parte das idosas apresentava maior distribuição da gordura na região periférica como é comum entre as mulheres.

    Os resultados encontrados mostram associação inversa entre a medida da razão cintura quadril e flexibilidade de idosas.

    Mesmo que somente 20% da amostra tenha apresentado valores de CC acima de 88cm não indicando aumento de risco de doença cardiovascular, 50% das idosas apresentaram hipertensão arterial sistêmica (HAS), indicando que outros fatores foram contribuintes para a presença de HAS

    O programa de atividade física contribuiu para manutenção ou aumento da flexibilidade em 60% da amostra, não sendo eficiente para o restante da mesma, indicando a necessidade de reprogramação dos exercícios destinados ao ganho da flexibilidade.

    A análise dos dados e da conclusão considerou somente as características da amostra estudada, restrita a um grupo de idosas ativas com características sócio-demográficas específicas. A coleta dos dados foi realizada apenas por um pesquisador, favorecendo a homogeneidade dos resultados.

    Sugere-se, portanto, a importância do estímulo da adoção e/ou manutenção de um estilo de vida ativo durante o processo de envelhecimento, para minimizar os efeitos deletérios desse processo nas variáveis antropométricas da aptidão física.

    Neste estudo, onde a maior parte da amostra apresentou sobrepeso, o IMC não interferiu na flexibilidade das idosas, teve associação com a RCQ e não apresentou associação com a CC, o que pareceu conflitante aos pesquisadores uma vez que RCQ e CC foram relacionadas, e, portanto era de se esperar que tivesse associação com a CC. Contudo, o IMC continua sendo um parâmetro de avaliação do estado nutricional entre adultos e idosos em todo o mundo.

    Analisando os resultados encontrados nesta investigação, recomenda-se a realização de outros estudos que averigúem a associação do estado nutricional e/ou composição corporal (distribuição da gordura) com teste de flexibilidade, utilizando outras variáveis antropométricas (dobras cutâneas e perímetros) diferentes das utilizadas neste estudo; bem como a realização de estudos longitudinais.

    Uma possível limitação do estudo pode ter sido a falta de se ter realizado inquérito alimentar com as idosas, bem como a amostra ser constituída somente por mulheres sugerindo-se que outros estudos sejam realizados contemplando essas variáveis.

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