efdeportes.com

Flexibilidade dos isquiotibiais nos membros dominantes 

e não dominantes em jogadores profissionais de futebol

La flexibilidad de los isquiotibiales en los miembros dominantes o no dominantes en jugadores profesionales de fútbol

Flexibility of the hamstrings in the dominant and non dominant limbs in professional soccer players

 

*Fisioterapeuta graduada pelas Faculdades Unidas

do Norte de Minas - FUNORTE. Montes Claros, MG

**Mestrando em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual

de Montes Claros – UNIMONTES. Pós-graduado em Emergências

de Saúde na Educação Inclusiva e em Saúde Coletiva com Ênfase

na Estratégia de Saúde da Família pelas Faculdades Integradas Pitágoras

de Montes Claros, FIPMOC. Montes Claros, MG

***Pós-graduada em Atividades Físicas e Esportes para Portadores

de Deficiência pela Universidade Estadual de Montes Claros, UNIMONTES

e em Didática - Fundamentos Teóricos da Prática Pedagógica

pela Faculdade de Educação São Luiz – Jaboticabal SP

Michelle Cristiane Alves Pereira*

Wagner Luiz Mineiro Coutinho**

Marta Suely Custódio Novais***

wagner.coutinho@funorte.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A flexibilidade é definida como uma qualidade motriz que depende da elasticidade muscular e da mobilidade articular, expressa pela máxima amplitude de movimentos necessária para a perfeita execução de qualquer atividade física. O objetivo do estudo foi verificar o grau de flexibilidade dos ísquios tibiais nos membros dominantes e não dominante em jogadores profissionais de futebol. O estudo foi de caráter descritivo, quantitativo de corte transversal. A amostra foi composta por 22 atletas de futebol, com idade de 23,09 ± 4,04 anos. Para verificação angular da articulação fez-se uso de um flexímetro da marca Sanny®. Posicionados em decúbito dorsal na maca, com os membros inferiores estendidos deu-se iniciou a avaliação angular. Como parâmetros o quadril e o joelho foram posicionados em 90° de flexão passivamente, o membro contra lateral em extensão. Os dados foram interpretados pelo SPSS – 17. Devido à distribuição anormal da amostra, fez-se uso das medidas não-paramétricas através do teste de Friedman p< 0,05. Os resultados do presente estudo demonstram que o lado dominante obteve angulação equivalente a 151,8º e o lado não dominante 153,4º não havendo diferença significativa nas médias p=0,889. Contudo não existindo diferença na flexibilidade dos ísquios tibiais do lado dominante e não dominante dos atletas estudados.

          Unitermos: Flexibilidade. Isquiotibiais. Futebol.

 

Abstract

          Flexibility is defined as a driving quality that depends on muscle elasticity and joint mobility, expressed as the maximum range of motion necessary for smooth implementation of any physical activity. The study objective was to determine the degree of flexibility in the hamstrings dominant and nondominant members in professional football players. The study was a descriptive, quantitative cross-sectional. The sample consisted of 22 football athletes, aged 23.09 ± 4.04 years. For verification of angular articulation was made use of a brand fleximeter Sanny®. Positioned supine on a stretcher, with extended lower limbs gave himself initiated the angular evaluation. Parameters like the hip and knee were positioned in 90 ° of passive flexion, the member against lateral extension. Data were processed by SPSS - 17. Due to the unusual distribution of the sample, it was made use of measures by non-parametric Friedman test p< 0,05. The results of this study demonstrate that the dominant side won angle equivalent to 151,8º non-dominant side and 153,4º with no significant difference in mean p = 0.889. However no difference in the flexibility of ischiotibials the dominant and nondominant side of the athletes studied.
          Keywords: Flexility. Ischiotibials. Football players.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 158 - Julio de 2011. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    A flexibilidade é um importante componente da função neuromuscular, responsável pela manutenção de uma amplitude de movimento adequada das articulações e que favorece o indivíduo movimentar-se com maior facilidade e eficácia1. Pode ser definida, de forma operacional, como uma qualidade motriz que depende da elasticidade muscular e da mobilidade articular, expressa pela máxima amplitude de movimentos necessária para a perfeita execução de qualquer atividade física eletiva, sem que ocorram lesões2, sendo o músculo, o elemento de maior contribuição para a flexibilidade3.

    O treinamento regular da flexibilidade proporciona aumento e manutenção das capacidades psicofísica, de rendimento e de suportar esforços, economia do trabalho muscular, profilaxia postural, facilitação do aprendizado de movimentos, otimização da recuperação após um esforço e conservação da autonomia nas atividades habituais4. Entre os atletas, a flexibilidade propicia ainda diminuição do risco de lesões e condições para desenvolver agilidade, velocidade e força5.

    O futebol, maior fenômeno social esportivo do mundo6. É reconhecido por exigir uma demanda assimétrica, devido à preferência lateral, relacionada à dominância, no qual a maioria dos gestos são executados pelo membro dominante em detrimento ao outro7,8. Essas diferenças laterais tanto anatômicas quanto funcionais do membro dominante para o não-dominante podem acarretar desequilíbrios musculares gerando sobrecarga e compensações que alteram o movimento e a postura, propiciando o surgimento de lesões9.

    Nesse sentido, o presente estudo teve por objetivo avaliar o grau de flexibilidade dos músculos isquiotibiais nos membros dominantes e não-dominantes em atletas profissionais de futebol.

Material e métodos

    O estudo caracterizou-se como descritivo, quantitativo e de corte transversal.

    A população foi composta por atletas de uma equipe profissional de futebol na cidade de Montes Claros, Minas Gerais, Brasil.

    Foram exclusos os atletas que apresentaram alguma limitação física ou dor que pudesse influenciar nos resultados da pesquisa, bem como aqueles que estivessem em tratamento fisioterapêutico para qualquer agravo dos membros inferiores e/ou que foram submetidos a intervenções cirúrgicas nos membros inferiores nos últimos 06 meses. Ao se considerar tais critérios a amostra constituiu-se por 22 sujeitos participantes da rotina de treinamentos e dos jogos da equipe.

    A estratégia adotada para coleta dos dados deu-se a partir da seleção amostral. Para tal um dos responsáveis pelo estudo apresentou os objetivos do mesmo aos atletas e aqueles que consentiram em participar da pesquisa assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Em seguida responderam a um questionário entrevista que abordou características da amostra como: idade, tempo de treinamento diário, folga semanal, lado dominante quanto ao membro inferior, posicionamento no campo, realização de alongamentos e momentos no quais realiza tal procedimento. Para avaliar a dominância do membro inferior montou-se circuito onde o sujeito posicionava-se em frente a uma mini-escada e verificou-se, em três tentativas, qual dos membros inferiores o sujeito usou para subir no primeiro degrau da escada a partir da posição ortostática com os pés juntos. Determinou-se como membro dominante aquele utilizado para subir o primeiro degrau na maioria das três tentativas. Em seguida realizou-se a análise da flexibilidade pela avaliação angular da musculatura dos isquiotibiais bilateralmente através de um flexímetro da marca Sanny®. Para tal, o sujeito posicionou-se em decúbito dorsal na maca com os membros inferiores estendidos. Inicialmente, o membro a ser testado, foi posicionado passivamente a 90º de flexão de quadril e joelho. Em seguida, realizou-se a extensão passiva do joelho até sua amplitude máxima de movimento permanecendo o quadril a 90º de flexão. O ponto de apoio para a movimentação do membro foi o calcâneo e considerou-se amplitude máxima de extensão do joelho o momento no qual o sujeito queixou-se de desconforto ou quando o examinador percebeu grande resistência ao movimento10. Vale ressaltar que o teste foi realizado em tentativa única e que os sujeitos amostrais não haviam realizado quaisquer tipos de exercícios de aquecimento e/ou alongamento antes da avaliação. Todos os sujeitos foram avaliados por um único examinador, previamente treinado e mascarado acerca da preferência lateral. Os testes foram realizados no período matutino. Para análise estatística dos dados recorreu-se aos softwares SPSS – 17.0 (Statistical Package for the Social Sciences) e Excel for Windows XP. Os dados foram interpretados de forma descritiva, com os valores das freqüências, médias e desvio padrão. Devido à distribuição anormal e não homogenia da amostra, quando comparada à flexibilidade dos isquiotibiais do lado dominante com o lado não-dominante, fez-se uso das medidas não-paramétricas através do teste de Friedman com índice de significância de 5%.

    O estudo foi autorizado pelo Comitê de Ética e Pesquisa das Faculdades Unidas do Norte de Minas (CEP – FUNORTE) com o parecer consubstanciado nº 472/09.

Resultados e discussão

    Diversos estudos se ocuparam em verificar a flexibilidade da musculatura posterior da coxa de atletas. No entanto não existe uma padronização do método de avaliação da mesma. No presente estudo optou-se por verificar a flexibilidade através da mensuração do ângulo poplíteo conforme o protocolo de Vernieri10 uma vez que este tem sido o método mais utilizado para avaliar a retração da musculatura isquiotibial11.

    A amostra obteve idade média de 23,09 (± 4,04) anos, com média de treinamento diário de 2,18 (± 0,8) horas, 01 jogo por semana, um dia de folga semanal e média de tempo de prática de futebol de 4,9 (± 3,9) anos.

    Verificou-se que 63,6 % (n=14) declararam ser da raça branca e 36,4 % (n=8) raça negra. Em relação ao membro de dominância dos atletas e ao posicionamento destes em campo, a Tabela 1 evidencia os resultados.

    Estudo que avaliou a dominância dos jogados no mundial de futebol de 200812 averiguou que 70,3% dos atletas eram destros, resultado similar ao do presente estudo, fato esse empiricamente observado na maioria das pessoas, atletas e não-atletas.

    No que se refere à realização de alongamentos verificou-se que grande maioria dos sujeitos amostrais se alonga apenas no momento que antecede o treinamento e/ou jogo conforme evidenciado na Figura 1. O motivo pelo qual é realizado neste momento não foi abordado e nem a forma como é realizado. O alongamento antes da prática do exercício propriamente dito pode não ser tão interessante quanto se pensa, uma vez que estudos verificaram que o uso de alongamentos estáticos antes de sessões de treinamento que utilizam do componente força não tem efeito relevante na prevenção de lesões13,14.

    Ao se comparar o nível de flexibilidade dos ísquios-tibiais do lado dominante com o não dominante, observou-se que não houve diferença estatisticamente significativa (p=0,63) conforme dados da Tabela 02. Este resultado corrobora com outro estudo que também avaliou a flexibilidade dos membros dominantes e não dominantes entre jogadores de futebol e não identificou diferença estatisticamente significativa12.

    As médias de flexibilidade observadas quando comparadas aos padrões referidos por Magee15 caracterizam os atletas investigados como sujeitos com déficit de flexibilidade tanto no membro dominante quanto no não-dominante. Estudo que avaliou a média do ângulo poplíteo em sujeitos saudáveis de 10 a 20 anos de idade verificou média entre indivíduos do gênero masculino de 160º (valor mínimo: 120ª e máximo: 180º)10 o que permite evidenciar que a amostra investigada no presente estudo obteve média de flexibilidade abaixo do esperado. Observou-se ainda que alguns sujeitos apresentaram graus elevados de flexibilidade (190º), o que pode ser explicado pela possibilidade que alguns indivíduos têm em alcançar alguns graus de hiperextensão16.

Conclusão

    Baseado no objetivo proposto pode-se concluir que não fora verificada diferença da flexibilidade dos ísquios-tibiais entre o membro dominante e o membro não dominante em meio aos jogadores profissionais de futebol envolvidos na amostra.

    Verificou-se ainda que os níveis de flexibilidade desses atletas estão relativamente diminuídos ao se considerar os achados literários.

    Nesse sentido sugere-se a o desenvolvimento de novos estudos para demonstrar, em um período longitudinal, se as diferenças dos níveis de flexibilidade observados nos atletas representam um fator determinante e/ou condicionante da ocorrência de lesões bem como, estudos que proponham intervenção no controle dessa variável.

Referências

  1. Lima, MA; Silva, VF. Correlação entre resistência de força e flexibilidade dos músculos posteriores de coxa de desportistas amadores de futebol de campo. Fitness & Performance Journal, 5(6):376-382, 2006.

  2. Farinatti, PTV. Flexibilidade e esporte: uma revisão de literatura. Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, 14(1):85-96, 2000.

  3. Frontera, WR., Exercícios Físicos e Reabilitação, editora Artmed, Porto Alegre, 2001.

  4. Theodoro, PFR. Análise da flexibilidade em mulheres trabalhadoras. Revista Movimento e Percepção, 5(7): 2005.

  5. Silva, RG. Análise da Flexibilidade em Idosas Praticantes de Caminhada do Município de Montes Claros – MG. Rev. Cons. Ext, 1(1):32-39, 2008.

  6. Palácio, PE; Candeloro, MB; Lopes, AA. Lesões nos Jogadores de Futebol Profissional do Marília Atlético Clube: Estudo de Coorte Histórico do Campeonato Brasileiro de 2003 a 2005. Rev. Bras. Méd. Esporte, São Paulo, 15(1): 2009.

  7. Nelson, R.T., Bandy, W.D. Eccentric training and static stretching improve hamstring flexibility of high school males. Journal of Athletic Training, 39(3):254-258, 2004.

  8. Barbieri, FA; Santiago, PRR; Gobbi, LTB. Diferenças entre o chute realizado com o membro dominante e não-dominante no futsal: variabilidade, velocidade linear das articulações, velocidade da bola e desempenho. Rev. Bras. Cienc. Esporte, Campinas, 29(2):129-146, 2008.

  9. Malpas, E. et al. Functional asymmetrias of the lower limbs. A comparison between clinical assessment of laterality, isokinetic evaluation and electrogoniometric monitoring of knees during walking. Gait and Posture, (16): 304-312, 2002.

  10. Affonso AA, Navarro RD. Avaliação do ângulo poplíteo em joelhos de adolescentes assintomáticos. Rev Bras Ortop, 37(10): 461-466, 2002.

  11. Pereira, LF. Ângulo poplíteo: avaliação em 590 crianças de 6 a 14 anos. Dissertação de conclusão de curso. Medicina. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2004.

  12. Rahnama, N., Less, A., Bambacichi, E. A comparison of muscle strength and flexibility between the preferred and non-preferred leg in English soccer players. Ergonomics, 48(11-14):1568-1575, 2008.

  13. Young WB; Behm DG. Should Static Stretching Be Used During a Warm-Up for Strength and Power Activities? National Strength & Conditioning Association, 24(6):33–37, 2002.

  14. Herbert RD; Gabriel M. Effects of stretching before and after exercising on muscle soreness and risk of injury: systematic review. British Medical Journal, 325(7362):462-472, 2002.

  15. Magge, D.J. Avaliação Músculoesquelética. 4ª Edição: Manole. Barueri, 2005.

  16. Hoppenfeld, S. Propedêutica ortopédica: coluna e extremidades. Editora Atheneu, 1997. p. 198.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 16 · N° 158 | Buenos Aires, Julio de 2011  
© 1997-2011 Derechos reservados