efdeportes.com

Cinesiologia dos Shiteigata Shōtōkan: análise

do movimento Seiken Choku Zuki Chudan

Cinesiología de los Shiteigata Shōtōkan: análisis del movimiento Seiken Choku Zuki Chudan

Kinesiology of Shiteigata Shōtōkan: analysis of Seiken Choku Zuki Chudan movement

 

*Graduando do curso de Bacharelado em Educação Física pela UFRGS

Bolsista do Programa de Educação Tutorial (CAPES)

Participa do Grupo de Pesquisa em Cinesiologia e Biomecânica da UFRGS

**Mestrando em Ciências do Movimento Humano pela UFRGS

Bacharel em Educação Física pela Escola de Educação Física da UFRGS

Professor de Karate (1º Dan) CBK reg. 1.295

***Profa. Adjunto da Escola de Educação Física da UFRGS

Doutora em Educação Física (USP). Fisioterapeuta (IPA-POA)

Participa do Grupo de Pesquisa em Cinesiologia e Biomecânica da UFRGS

Brandel José Pacheco Lopes Filho*

Tiago Oviedo Frosi**

Claudia Silveira Lima***

sensei_frosi@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo deste trabalho é realizar uma análise cinesiológica do soco direto do Karate. Tal técnica foi selecionada após a realização de um levantamento na literatura sobre a freqüência de repetição dos golpes dos Kata Jion e KankūDai. Os grupos musculares predominantemente ativados são, no braço que golpeia, depressores, rotadores superiores e abdutores da cintura escapular, flexores e flexores horizontais do ombro, extensores do cotovelo e pronadores da radioulnar. O benefício mais claro desse estudo é possibilitar um treinamento de força direcionado para grupos musculares, apresentados que atuam diretamente na execução do soco de Karate.

          Unitermos: Karate, Cinesiologia, Kata.

 

Abstract

          The Project objective is to realize a kinesiological analysis of the direct punch in Karate. In such case, a bibliographical study was made about the technique frequency of execution in Jion and KankūDai Kata. The mainly activated muscle groups are depressors, superior rotators and scapular belt abductors, flexors and shoulder horizontal flexors, elbow extensors and radioulnar pronators. The most visible benefit of this study is to allow a Power training to muscular groups here presented that actuate directly on the execution of the Karate Punch.

          Keywords: Karate. Kinesiology. Kata.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 158 - Julio de 2011. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

1.     Introdução

    O Karate-Dō – Caminho das Mãos Vazias – é uma disciplina voltada para o desenvolvimento pessoal através de práticas de luta, originada em Okinawa. Passados de geração em geração, de professor para aluno, os Kata (exercícios formais, traduzido do japonês) foram a principal forma de manutenção das tradições do Karate. Essa relação hierárquica do professor (sensei) e aluno (deshi) era a base do ensino das artes marciais de Okinawa e do Japão no período feudal (FROSI;OLIVEIRA;TODT, 2008). Os Kata são constituídos por seqüências pré-determinadas de técnicas que simulam um combate contra vários adversários. Diferentes Kata são praticados nos estilos existentes, porém, apenas os dos estilos Gōjū-ryū, Shitō-ryū, Shōtōkan e Wadō-ryū são reconhecidos no “sistema olímpico” pela World Karate Federation WKF (WKF, 2009).

Tabela 1. Shiteogata exigidos em competições da WKF

    Durante as competições oficiais, nem todos os Kata podem ser executados. Nas categorias infantis as regras são adaptadas e em muitos países apenas os Kata básicos de cada estilo (Gekisai, Pinan e Heian) são permitidos. Nas categorias mais avançadas, disputadas por cadetes e seniores, ocorre a execução prevista nas regras oficiais da WKF, sendo executados nessas categorias os Shiteigata (Kata obrigatórios - Tabela 1) e subseqüentemente os preferenciais (Tokuigata) (WKF, 2009).

    O objetivo deste estudo é realizar uma análise cinesiológica da técnica Seiken Choku Zuki Chudan (soco direto), pois se trata do golpe mais executado dentro dos Shiteigata do estilo Shōtōkan. Além disso, tal movimento de ataque é um importante gesto das técnicas-base do Karate, praticada com grande freqüência nas aulas durante o Kihon (prática dos exercícios fundamentais). Cabe salientar que esse trabalho faz parte de um projeto maior, que busca investigar a cinesiologia dos Shiteigata presentes nos quatro estilos supracitados.

    Ao envolver-se e mesclar-se com culturas diversas e, ao mesmo tempo, com o próprio contexto esportivo, o Karate torna-se um fenômeno pluritemático que se apresenta como tema para estudos em quase todas as áreas da ciência. É, também, uma modalidade esportiva reconhecida pelo Comitê Olímpico Internacional, com mais de 10 milhões de praticantes federados, uma das maiores representatividades a nível mundial. Entretanto, esse número não representa nem a metade do valor real de praticantes no mundo, estimados em aproximadamente 50 milhões em todo globo (CHAMBERS; DUFF, 2008). Como a modalidade encontra-se em constante expansão, faz-se necessário o aumento das pesquisas na área, nos mais diversos temas científicos.

    Sendo o Karate caracterizado como uma “atividade anaeróbia intermitente de alta intensidade” (NUNAN, 2006), estudos acerca da composição corporal, medidas antropométricas, habilidades motoras, cinesiologia e padrão biomecânico de execução das técnicas são extremamente importantes para os treinamentos de alto rendimento esportivo. A análise cinesiológica das técnicas permite a identificação de grupos musculares e músculos isolados, relevantes para trabalhos de treino de força, resistência e flexibilidade (MOREIRA; RUSSO, 2005), que podem beneficiar o praticante de Karate. Como a prática e boa execução dos gestos supracitados são fundamentais para um bom desempenho de atletas especialistas em Kata (NAKAYAMA, 2004), o presente estudo torna-se relevante ao reunir informações que podem propiciar aos técnicos de Karate, preparadores físicos e demais membros de equipes de competição, subsídios para aperfeiçoar os treinamentos, visando à melhoria do desempenho de atletas.

2.     Método

    A realização deste estudo constituiu-se de duas etapas. Na primeira foram identificados os Kata que fazem parte da relação de exercícios formais obrigatórios (Shiteigata) do estilo Shōtōkan em competição da WKF, de acordo com seu último manual de arbitragem (versão 6) (WKF, 2009), os quais foram identificados sendo Jion e o KankūDai. Para o levantamento dos dados sobre os padrões dos movimentos executados nos Kata, bem como sobre suas regras de competição, foi feita uma pesquisa bibliográfica desenvolvida exclusivamente com fontes já elaboradas. Os dados obtidos foram submetidos à análise documental, de acordo com Bardin (2000), que consiste em realizar operações de desmembramento do texto em unidades de significado, para assim desvendar seus diferentes sentidos e reagrupá-los na construção dos eixos norteadores da pesquisa.

    A identificação de cada técnica dentro dos Kata foi realizada tendo como base as obras mais conceituadas entre a comunidade de praticantes e professores de Karate: os livros da série “O Melhor do Karate”, escrito pelo mestre Masatoshi Nakayama (NAKAYAMAa, 2000; NAKAYAMAb, 2000) principal base bibliográfica do Karate Shōtōkan desde sua publicação na década de 1980, adotada como um padrão mundial a partir de então; a obra da Japanese Karatedo Federation (JKF) “Shiteigata: Kata Model” (JKF, 2008); e o “Estudo Técnico Comparado de los Kata de Karate”, dos professores Hermenegildo Camps e António Cerezo (2005), membros importantes da comissão técnica da WKF. Tais publicações estão em consonância com outras obras de grandes mestres do Karate consultadas para o trabalho (NAKAZATO, 2005; NAKAYAMA, 2004; FUNAKOSHI, 1999; 1973; HIGAONNA, 1986; INGBER, 1981; OYAMA, 1980; LOWE, 1967, TOGUCHI, 1976). Após a identificação dos exercícios estudados (Jion e KankūDai), os movimentos que os integram foram classificados de acordo com a freqüência em que são executados dentro de cada Kata, sendo a técnica mais executada em ambos (Seiken Choku Zuki Chudan) a escolhida para essa análise (Tabela 2).

    Na segunda etapa, as técnicas selecionadas foram analisadas cinesiologicamente, permitindo a identificação dos músculos e grupos musculares mais relevantes em cada uma. A análise cinesiológica desenvolvida é de cunho teórico, fundamentada em publicações pertinentes ao tema trabalhado (MOREIRA;RUSSO, 2005; THOMPSON, 2002) e literatura clássica da área (LEHMKUHL;SMITH, 1997; RASCH;BURKE, 1977). Com base nesse referencial da literatura, foi desenvolvida uma tabela de análise para a identificação das fases do movimento, tipo de movimento realizado, tendências devido a forças, tipo de contração executada e grupos musculares/músculos ativados.

Tabela 2. Freqüência de execução das técnicas dentro dos Kata Jion e KankūDai

 

3.     Resultados

3.1.     Descrição da Técnica Seiken Choku Zuki Chudan

    A técnica Seiken Choku Zuki Chudan (soco direto ao nível médio) é um ataque de membro superior à linha média do corpo do adversário, mais precisamente no centro do peito, realizada na postura Zenkutsu Dachi (postura avançada). A elaboração desse gesto foi composta de duas fases partindo da posição inicial, para efeito didático (Figura 1), mas como se trata de um movimento contínuo, sem pausas em sua dinâmica, foi analisada a junção dessas duas etapas (Fases 1a + 1b, conforme Figura 1). Segue abaixo a descrição de cada etapa do movimento.

Figura 1. Execução da técnica de soco direto do Karate

Fonte: Fotografia realizada pelos autores (modelo: autor Tiago Oviedo Frosi)

    A posição inicial adotada para a execução da técnica foi a mesma encontrada em sua realização dentro do Kata. O exercício em tal postura também ocorre comumente em sua prática no treinamento e é referenciada na bibliografia pertinente (NAKAYAMA, 2004). Segue sua descrição: em pé, ombro direito flexionado até 90° e em leve flexão horizontal; cotovelo direito estendido; rádio-ulnar direita pronada. Ombro esquerdo hiperextendido;; cotovelo esquerdo semiflexionado; rádio-ulnar esquerda supinada. Os dedos de ambas as mãos permanecem flexionados. A mão esquerda deve estar posicionada no plano sagital, enquanto a direita posiciona-se ao lado da crista ilíaca correspondente. Membros inferiores na postura avançada (Zenkutsu Dachi - Figura 2), ou seja, distância lateral dos pés da largura de um ombro e distância longitudinal dos pés de aproximadamente duas larguras de ombro (Figura 1). Quadris abduzidos, forçando a extensão e adução do quadril direito; joelho direito estendido; tornozelo direito em flexão dorsal e eversão; pé direito voltado ligeiramente para fora. Quadril e joelho esquerdos são flexionados a aproximadamente 90 graus; tornozelo esquerdo em flexão dorsal; pé esquerdo voltado para frente. Os pés ficam apoiados no solo com toda região plantar.

Figura 2. Postura avançada ou Zenkutsu Dachi

Fonte: Fotografia realizada pelos autores (modelo: autor Tiago Oviedo Frosi)

    A Fase 1, para termos didáticos de visualização, foi dividida em duas etapas (Figura 1: 1a e 1b), mas sua descrição refere-se à junção dessas duas. Segue sua descrição: hiperextensão do ombro direito; elevação da cintura escapular direita; semiflexão de cotovelo direito; supinação da rádio-ulnar direita. Flexão do ombro esquerdo até 90°, com leve flexão horizontal; rotação superior da cintura escapular esquerda; extensão do cotovelo esquerdo; pronação da rádio-ulnar esquerda. A mão que golpeia (esquerda) deve finalizar o movimento posicionando-se no plano sagital, enquanto a direita deve ser posicionada sobre a crista ilíaca direita. Não há movimentos significativos na coluna, nos quadris, joelhos e tornozelos.

3.2.     Análise Cinesiológica do Seiken Choku Zuki Chudan

    Um ponto importante a ser observado, em relação às técnicas de Karate executadas dentro dos Kata, é que devem ser realizadas pelo praticante utilizando sua força e velocidade máximas, adquirindo assim um caráter explosivo. Por esse motivo, não apenas as contrações concêntricas dos músculos agonistas tornam-se importantes, mas as ações excêntricas dos antagonistas também, com o intuito de desacelerar o final do movimento e, assim, exercer o papel de proteção contra possíveis lesões advindas da prática.

    Analisaremos agora a musculatura ativa e o tipo de contrações musculares encontradas em cada etapa do movimento. A identificação teórica dessas estruturas teve como base os conceitos propostos por Moreira e Russo (2005) e Thompson e Floyd (2002) em suas respectivas obras, bem como na literatura clássica do tema trabalhado (LEHMKUHL;SMITH, 1997; RASCH;BURKE, 1977).

    Na posição inicial foram encontradas as seguintes contrações musculares: contração isométrica dos flexores do ombro direito (deltóide - parte clavicular e peitoral maior - parte clavicular) e dos rotadores superiores da cintura escapular direita (trapézio - parte descendente e ascendente e serrátil anterior), devido à tendência de extensão do ombro e rotação inferior da cintura escapular. Contração isométrica dos hiperextensores do ombro esquerdo (grande dorsal e redondo maior) e isométrica dos elevadores da cintura escapular esquerda (trapézio parte descendente, levantador da escápula e rombóides), devido à tendência de flexão do ombro até a posição neutra e depressão da cintura escapular. Contração isométrica dos flexores do cotovelo esquerdo (bíceps braquial, braquial e braquiorradial), devido à tendência de extensão do cotovelo até a posição neutra. Há, no punho esquerdo, uma tendência de extensão, havendo isometria dos flexores desta articulação (flexor radial do carpo, flexor ulnar do carpo). No punho direito há uma tendência de flexão, portanto existe isometria dos extensores desta articulação (extensor radial longo do carpo, extensor radial curto do carpo e extensor ulnar do carpo). Contração isométrica dos flexores das articulações metacarpofalangeanas e interfalangeanas em ambas as mãos (flexor superficial dos dedos, flexor profundo dos dedos, flexor curto do polegar, adutor do polegar e oponente do polegar). Nos membros inferiores os extensores do quadril esquerdo (glúteo máximo, bíceps femoral – cabeça longa, semitendíneo e semimembranáceo) e extensores e adutores (pectíneo, adutor longo, adutor curto, adutor magno e grácil) do quadril direito estão em contração isométrica, devido à tendência de flexão do quadril esquerdo até a posição neutra. Os extensores do joelho esquerdo e do joelho direito (vasto lateral, vasto medial, vasto intermédio e reto da coxa), devido à tendência de flexão do joelho esquerdo. Os flexores plantares dos tornozelos (gastrocnêmio e sóleo) também se encontram em contração isométrica devido à tendência de flexão dorsal.

    Na Fase 1 (1a + 1b), no membro superior direito, que realiza o hiki-te (puxada), observa-se a seguinte ativação muscular: contração concêntrica dos extensores e hiperextensores do ombro direito (redondo maior, latíssimo do dorso (grande dorsal) e peitoral maior – parte esternocostal); contração concêntrica de rotadores inferiores (rombóide e peitoral menor) e, na seqüência, de elevadores da cintura escapular direita (trapézio – parte descendente, levantador da escápula e rombóides); concêntrica dos flexores do cotovelo direito (bíceps braquial, braquial e braquiorradial); contração concêntrica de supinadores da radioulnar direita (supinador e bíceps braquial). Há tendência de flexão do punho direito até a posição neutra, de adução nesta posição e extensão após a mesma, portanto existe contração isométrica de extensores (extensor radial longo do carpo, extensor radial curto do carpo e extensor ulnar do carpo), abdutores (flexor radial do carpo, extensor radial curto do carpo, extensor radial longo do carpo) e flexores do punho direito (flexor radial do carpo, flexor ulnar do carpo). Em contração excêntrica, para controlar o movimento final e evitar lesões, são ativados: flexores do ombro; rotadores superiores e depressores da cintura escapular; extensores do cotovelo; pronadores da rádio-ulnar.

    No membro superior esquerdo, que executa o ataque à frente: contração concêntrica dos flexores do ombro (deltóide – parte clavicular, coracobraquial e peitoral maior – parte clavicular) e de seus flexores horizontais (peitoral maior – parte esterno-costal e clavicular, coracobraquial e deltóide – parte clavicular); no início do movimento ocorre contração concêntrica de depressores (trapézio – parte ascendente e peitoral menor) e, na seqüência, rotadores superiores (trapézio – parte descendente e ascendente e serrátil anterior) e abdutores (serrátil anterior e peitoral menor) da cintura escapular; concêntrica de extensores do cotovelo esquerdo (tríceps braquial); contração concêntrica de pronadores da radioulnar esquerda (pronador redondo e pronador quadrado). Em contração excêntrica são ativados: rotadores inferiores e adutores da cintura escapular; extensores e extensores horizontais do ombro; flexores do cotovelo; supinadores da rádio-ulnar. Existe tendência de extensão do punho esquerdo até a posição neutra, de adução nesta posição e flexão após a mesma, portanto existe contração isométrica de flexores (flexor radial do carpo, flexor ulnar do carpo), abdutores (flexor radial do carpo, extensor radial curto do carpo, extensor radial longo do carpo) e extensores do punho direito (extensor radial longo do carpo, extensor radial curto do carpo e extensor ulnar do carpo). Nas articulações metacarpofalangeanas e interfalangeanas de ambas as mãos permanece a contração isométrica dos flexores (flexor superficial dos dedos, flexor profundo dos dedos, flexor curto do polegar, adutor do polegar e oponente do polegar).

    Não há contrações dinâmicas significativas e aparentes nos quadris, coluna e tornozelos. Essas articulações continuam com suas respectivas contrações isométricas, descritas previamente na posição inicial. Como se trata do estudo teórico do gesto, a partir das referências bibliográficas e análise de imagens, não foi utilizado nenhum método de medição para essa análise.

4.     Discussão e considerações finais

    A compreensão do mecanismo de execução do soco direto do Karate (Seiken Choku Zuki) é imprescindível para o treinamento de atletas, mesmo no alto nível. Este movimento costuma ser realizado satisfatoriamente por atletas especialistas em Kata. Este estudo ajuda na compreensão de um método de execução que leve o “bom atleta” ao nível de “atleta excepcional”, que é o objetivo primeiro de um karate-ka.

    Alguns aspectos como a motivação e pontos que culminam na economia de execução do movimento estão fora do alcance deste estudo (mesmo sendo aspectos que auxiliam na obtenção de um bom resultado final). A preocupação da pesquisa foi buscar na Cinesiologia a resposta para a ação da musculatura que ocorre durante a execução do soco. Neste aspecto, a análise do movimento trouxe respostas interessantes para a reflexão do treinador e do preparador físico de equipes dedicadas à prática do Kata.

    O ato de socar se configura, no membro superior que golpeia, em rotação superior da cintura escapular e flexão do ombro, extensão de cotovelo e pronação da rádio-ulnar. No membro que faz o hiki-te (puxada), ocorrem extensão de ombro, flexão do cotovelo e supinação da rádio-ulnar. Como o movimento é sempre executado com potência máxima, podemos observar grande envolvimento, em contração concêntrica, dos grupos musculares responsáveis por movimentos nas articulações do ombro, cintura escapular, cotovelo e rádio-ulnar, tanto no membro superior que realiza a técnica quanto no que executa a puxada. A ação dos músculos antagonistas também é muito marcante, pois em todas as movimentações ocorre sua presença com o intuito de proteger as estruturas biológicas do executante. Essa ação antagonista possibilita que o atleta controle a força e velocidades de forma precisa para obter o melhor resultado na execução das técnicas, sendo esse autocontrole um requisito importante dentro das competições de Kata (WKF, 2009). Observa-se, também, que o golpe trabalha com a base estática (muito comum no Kata KankūDai) e a ação muscular dos membros inferiores se caracteriza por contrações isométricas, principalmente dos extensores do quadril, extensores do joelho e flexores plantares do tornozelo.

    O benefício mais claro desse estudo é possibilitar subsídios para que sejam realizados treinamentos de força direcionados aos grupos musculares apresentados, que atuam diretamente na execução da técnica e, também, a musculatura antagonista, que possui um papel importante no resguardo das estruturas biológicas. Um programa de treinamento bem estruturado, levando em consideração os dados aqui apresentados, pode ser uma ferramenta importante para a melhora do nível competitivo do atleta de Karate especialista em Kata.

    Como prática corporal e modalidade esportiva, o Karate é um tema rico para pesquisas da Educação Física, pois sua diversidade não está restrita à atividade atlética ou ao esporte (CAMPS;CEREZO, 2005). Inclusive, o Karate é uma modalidade esportiva reconhecida pelo Comitê Olímpico Internacional, com uma das maiores representatividades a nível mundial (CHAMBERS;DUFF, 2008). Essa modalidade está em crescente expansão em número de praticantes, sendo necessário o aumento das pesquisas, desde os processos fisiológicos até aplicações de métodos de treinamento ligados a ela. Espera-se que o presente trabalho auxilie a ampliar os conhecimentos da área, contribuindo com a comunidade científica e a comunidade esportiva.

    Ficam como sugestões para próximas incursões nesse tema, que sejam realizadas análises eletromiográficas, com o intuito de investigar o grau de ativação dos músculos envolvidos na movimentação. Também sugerimos que sejam investigadas as demais técnicas dos Kata dos estilos Gōjū-ryū, Shitō-ryū, Shōtōkan e Wadō-ryū, pois esses são os estilos mais praticados no mundo. Ainda existiriam pelo menos 100 exercícios formais passíveis de estudo, o que se caracteriza num grande desafio de pesquisa e uma grande contribuição para a comunidade de esportistas e curiosos pela cultura das artes marciais.

Referências

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 16 · N° 158 | Buenos Aires, Julio de 2011  
© 1997-2011 Derechos reservados