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Alunos do ensino médio: representações sobre 

aulas de Educação Física em uma escola estadual

Estudiantes de escuela media: representaciones sobre las clases de Educación Física en una escuela estatal

 

*Pós-graduanda em Educação Física

** Mestranda em Educação Fisica – UEM/PR

Professora da faculdade Integrado de Campo Mourão, PR

(Brasil)

Debora Carolini dos Santos*

Morgana Claudia da Silva**

morgana.silva@grupointegrado.br

 

 

 

 

Resumo

          O presente trabalho objetivou identificar a percepção de alunos do Ensino Médio sobre as aulas de Educação Física. Foi uma pesquisa qualitativa de caráter descritivo, na qual utilizou-se uma entrevista semi-estruturada, com roteiro não fixo e como amostra 24 alunos do 2° ano do Ensino Médio. Buscou-se entender com base nos discursos dos alunos, quais eram as representações sobre as aulas de Educação Física. Com base nas análises dos discursos dos alunos pode-se inferir que as aulas de forma geral possuem uma única ancoragem, o esporte. Eles apontam que estas deveriam ter conteúdos diversificados como dança, jogos e brincadeiras, e deveria trazer a tona questões sobre saúde, corpo, estética entre outros. Em relação à imagem que estes alunos possuem de seus professores de Educação Física esta aparece de forma negativa, atrelada ao técnico esportivo ou àquele que tem por função ensinar técnicas de esportes, fazendo com que esta aula não possua significado para os alunos. Desta forma, pode-se considerar que é de extrema importância analisar a percepção dos alunos do Ensino Médio sobre as aulas de Educação Física, pois as afirmações feitas por eles permitem que, professores de Educação Física, reflitam sobre seu papel na construção do conhecimento dos alunos.

          Unitermos: Aula de Educação Física. Ensino Médio. Alunos.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 157 - Junio de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Aproximações com a Educação Física

    A desvalorização da Educação física nas escolas vem se expandindo cada vez mais e é um assunto muito discutido. Autores como Oliveira (1991), Barros (1992), Paiano (1998), Possebon e Cauduro (2001) entre outros, dizem que a Educação Física passa pela falta de identidade como disciplina dentro da escola, pois a ela não apresenta um corpo de conhecimento teórico favorável fazendo com que os conteúdos das aulas não apresentem nem significado ou importância para os alunos.

    Na década de 80 aparece um entendimento considerado diferenciado e inovador para a Educação Física, ele sugere que a Educação Física seja compreendida enquanto uma prática pedagógica que envolve elementos da Cultura Corporal, que segundo o Coletivo de Autores (1992) tem como objeto de estudo a “Expressão Corporal como Linguagem”. Desta forma, tudo que for considerado como acervo de conhecimentos da humanidade, e que foram acumulados historicamente, “referente à cultura corporal, passa a ser sistematizado e organizado, através de temas que representam conteúdos de ensino para as aulas de Educação Física”. (GEOVANI E ASSIS, 2009, p.1)

    Atualmente a Educação Física, e em especial a direcionada ao Ensino Médio é uma disciplina que, na maioria das vezes, é marginalizada, discriminada, desconsiderada, e em alguns casos, chega a ser excluída dos Projetos Políticos Pedagógicos em determinadas escolas como aponta Barni e Schneider (2003). A desvalorização da Educação Física só vai ser resolvida segundo Kunz (2002, p. 32), quando a mesma transformar suas “especificidades práticas, em tarefas pedagógicas desejáveis, mudando o modo de vista das pessoas e desenvolvendo a ação pedagógica através da prática e da teoria do esporte, na qual são de extrema importância”.

    De acordo com Vianna et al. (2009) ao longo da vida escolar os alunos são orientados por muitos professores em diferentes disciplinas, sendo que alguns destes marcam sua vida nesse tempo, às vezes positivamente e às vezes de forma negativa. Sendo assim, na disciplina de Educação Física não seria diferente, e essa tendência também fica evidente. As aulas de Educação Física possuem características, de acordo com as quais, além da teoria e da prática serem muito importantes, o compromisso do professor é essencial para a formação do aluno. (ibid)

    É percebido que os alunos que gostam das aulas de Educação Física a fazem de maneira prazerosa, buscando responder ao que os professores solicitam, mas os que não a fazem, evitam as aulas, saindo da quadra sem dar nenhuma importância ao objetivo da aula. Estas aulas muitas vezes são divididas entre o “rola bola” e aqueles que ficam sentando somente observando. Sabe-se que cabe ao professor fazer um bom planejamento para despertar o interesse dos alunos pelas aulas, bem como propiciar a compreensão de seus conteúdos a serem trabalhados.

    O Ensino Médio tem como objetivo preparar o aluno para as necessidades da vida, desta forma, ele é um dos níveis da Educação Básica, apontado pela LDB (BRASIL, 1996), para a Legislação Lei nº9394 de 20 de dezembro de 1996 - Seção IV - Art. 35 (p.13-14) que prevê uma consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no Ensino Fundamental.

    O papel do professor segundo Neira (2006) é indispensável na sala de aula, pois tem influência importantíssima no desenvolvimento do aluno, na qual suas atitudes intervirão na relação que este irá constituir com o conhecimento. A estrutura das escolas para se trabalhar as aulas e os conteúdos de Educação Física, muitas vezes são precárias, desmotivando e preocupando os professores que trabalham com a disciplina. De acordo com Kunz (2004), o diálogo entre professor e aluno é um termo que não se faz importância nas diretrizes. Sugestões se reduzem à observação do professor para que haja uma maior identificação nos interesses dos alunos para uma maior efetivação dos desempenhos nas aulas. Conhecer os anseios, destacar as vontades, dar opinião e decidir sobre o que quer fazer e procurar as potencialidades, são formas emitidas pelos alunos por meio dos movimentos corporais, e que os professores não as consideram significantes, não dão importância real a isso, afirma Mattos e Neira (2000).

    Sendo assim, o trabalho objetivou identificar a percepção dos alunos do Ensino Médio sobre as aulas de Educação Física em um colégio estadual no município de Araruna-PR.

Os caminhos metodológicos percorridos

    A partir da experiência no processo do Estágio Supervisionado obrigatório para a formação do curso de Educação Física, foi possível perceber que as aulas no Ensino Médio continuam no mesmo formato pelo qual a pesquisadora passou quando de sua formação de 2° grau; ou seja; continuam nas aulas, em sua maioria os alunos jogando bola livremente, outros alunos somente observando e ainda outros que nem na quadra permanecem no horário da aula. Entendemos que as aulas de Educação Física deveriam ser dinâmicas, estimulantes e interessantes.

    A presente pesquisa se caracterizou como uma pesquisa qualitativa de caráter descritivo, que utilizou como técnica a análise do discurso. A população foi composta por alunos do Ensino Médio de um colégio estadual no município de Araruna – PR, e como amostra utilizou-se alunos do 2° ano dos períodos matutino e vespertino, sendo escolhidos 12 alunos de cada período perfazendo 24 alunos, que foram selecionados tomando-se por base a iniciativa de quererem participar da pesquisa. Como instrumento para a coleta de dados utilizou-se uma entrevista semi-estruturada com roteiro não-fixo; um gravador digital e caderno de anotação.

    Para análise dos dados optou-se por utilizar a análise do discurso possibilitando desvelar ora de forma clara, ora nas entrelinhas, identificar as representações dos alunos referente às aulas de Educação Física, buscando um maior aprofundamento nas questões que foram estabelecidas através de uma entrevista semi-estruturada com roteiro não-fixo, procurando ser fidedigno aos discursos dos alunos.

Nossas descobertas

    Sendo assim, pode-se apontar, a partir dos achados dos trabalhos as seguintes considerações:

    Foi percebido que as aulas de forma geral possuem uma única ancoragem, o esporte como o viés das aulas de Educação Física, pode-se identificar que para os alunos, referente aos conteúdos que desejam aprender, estes deveriam ser diferentes dos esportes tradicionais que sempre são aplicados nas aulas como vôlei e futsal, pois os mesmos são vistos desde o Ensino Fundamental. Não negando o esporte como conteúdo mais adorado, os alunos sugerem até mesmo práticas esportivas diferentes, como os de origem americana, por exemplo: baseball, rúgbi, entre outros. A importância das aulas teóricas também foi apontada, mas não somente as regras e histórias dos esportes pois relatam que estes, veem desde o Ensino Fundamental. Outra preocupação que aparece nos discursos dos alunos remete e inserção do conteúdo de Educação Física em algumas provas de vestibulares, ressaltando então a importância da realização de aulas teóricas referentes aos conteúdos que possam ser matéria de estudo, esta observação feita por eles apresenta que estão atentos às mudanças ocorridas em relação aos conteúdos solicitados nas provas de vestibulares atualmente, e talvez seja por isso que, neste momento, dão maior atenção as aulas teóricas, conforme a fala do aluno 5: “(...) eu fiquei sabendo que educação física foi incluída no vestibular né, então a gente tem que começar a aprender porque nossa se cair alguma coisa eu não vou saber nada...”.

    Em relação aos conteúdos desejados pelos alunos percebe-se que existe um grande distanciamento sobre o que os alunos querem e o que os professores trabalham em aula. Ficou evidenciado pelos discursos que o os professores estão trabalhando valendo-se dos conteúdos estruturantes propostos pelas Diretrizes Curriculares do Paraná (Jogos – Esporte – Dança – Lutas – Ginástica), porém não se deveria priorizar somente o esporte como foi verificado, e sim estar no planejamento dos professores todos os conteúdos propostos. O esporte é apontado pelos alunos como o conteúdo mais trabalhado e dentre estes esportes, aparece fortemente o futsal e voleibol. Isso fica evidenciado na fala da aluna 1: “A gente fica muito presa só no futsal e no vôlei, tinha que modificar alguma coisa...”. Aluno 2: “A gente chega na quadra, daí a primeira aula é futsal pros meninos e a segunda vôlei pras meninas, ou vice-versa daí, mas sempre assim...” Estes discursos vão ao encontro da pesquisa de Filgueiras et al. (2007), sobre o que os alunos mais aprendem em suas aulas, eles também apontam que em 58% das respostas dos entrevistados apareceu o conteúdo esporte.

    Em relação à imagem que os alunos possuem do professor de Educação Física, encontrou-se, de forma geral, uma imagem negativa, atrelada ao técnico esportivo ou àquele que tem por função ensinar técnicas de esportes, também sugerem que as aulas deste professor se manifestam sem significado e seu conteúdo se baseava sempre em esportes. Ao se indagar sobre essa imagem o professor aparece em seus discursos de forma negativa, pois os alunos baseiam-se em suas práticas esportivas desenvolvidas nas aulas, podendo-se inferir que alunos que gostam de esporte possuem uma imagem positiva deste e vice-versa. Então a relação entre a imagem do professor se dá no contexto da modalidade que ele mais trabalha. Estes discursos dos alunos não fogem a representação que o senso comum possui dos professores de Educação Física, atrelando sempre a imagem dela ao esporte. Isso fica evidente na fala do Aluno 7: “Ah, a primeira imagem, ah tipo, a primeira coisa que vem na minha cabeça é esporte, tipo, de futebol, vôlei né, que é o que a gente mais aprende e gosta né, é o que mais eles passam também (...)”. Aluno 2: “tipo, primeira coisa que vem na minha cabeça é uma imagem ruim sabe, porque ah tipo, tem professor que chega, não faz nada e só sabe levar a gente pra quadra...”.

    Se torna difícil desmembrar a imagem do professor de Educação Física do esporte, e isso também fica evidenciado ao se perceber a leitura do “senso comum” sobre a imagem do profissional/professor de Educação Física, apontando em novelas, minisséries e propagandas, onde esta imagem está sempre atrelada a uma roupa esportiva, apito, prancha e cronômetro, como se fosse esta a única função do professor de Educação Física. Darido (1996) verificou que ocorre uma priorização pelos professores às práticas de fundamentos e jogos desportivos nas aulas de Educação Física. Também, em artigo publicado por Betti (1995), ele apresenta que raramente o conteúdo desenvolvido nas aulas de Educação Física ultrapassa o conteúdo esporte, fazendo dele um conteúdo hegemônico da Educação Física.

    Sobre a importância da aula para os alunos, atribuindo uma nota de 0 a10, a média oscilou entre 5 e 9. As notas consideradas como baixas (5-7) atrelam a ação do professor de Educação Física como algo sem significado, e entre tantos discursos, se apresenta mais fortemente marcado o de que a Educação Física não iria fazer falta se não a tivessem; que os professores lidam com os alunos como se eles fossem “idiotas”, ficando claro nos discursos que desejam aulas mais bem elaboradas, pois a existente, não apresenta conhecimentos pedagógicos.

    Na continuação dos discursos dos alunos, remetem sobre a importância da atividade física para a saúde, apontando a necessidade e o desejo de se debater sobre estes conteúdos em suas aulas. Apontam o desejo de aprender questões sobre saúde, corpo humano, higiene pessoal, estética entre outros, além disso, estes elementos fazem parte dos conteúdos articuladores do Ensino Médio, que segundo Bonse (2010, p. 3), estes são propostos pelas Diretrizes Curriculares e devem se articular com a relação entre “as práticas corporais e os conteúdos estruturantes de forma a alcançar o melhor conhecimento do corpo, bem como as outras possibilidades de trabalho com o corpo”, desta maneira, enquanto conteúdo articulador deveria ser oportunizado a eles, como ressalta a aluna 22: “todo mundo sabe que fazer exercício é bom pra saúde né, acho que tinha que falar mais nisso sabe, pra não engordar, diabete essas coisas, falar mais o que fazer pra ter boa saúde, como fazer e tal(...)”.

    Em relação ao real interesse deles sobre as aulas de Educação Física, apontam que gostariam de ter aulas com conteúdos iguais às outras disciplinas (ex: matemática – português – geografia, etc.), ou seja, consideram estas mais significativas, com conteúdos variados, temas diferentes em cada bimestre, ressaltando a importância que tem as aulas teóricas, porém não as regras e histórias de esportes, como lhes é passado.

    Desta forma, pode-se considerar que é de extrema importância analisar a percepção dos alunos do Ensino Médio sobre as aulas de Educação Física, pois as afirmações feitas por eles permitem que, professores de Educação Física, reflitam sobre seu papel na construção do conhecimento dos alunos, tendo com principio norteador aulas mais significativas e importantes para os alunos.

    Pode-se concluir apontando que, para os alunos, as aulas de Educação Física andam sob o viés do esporte e esta escolha de conteúdo não lhe é agradável, isso evidencia que os professores ainda estão trabalhando sob a égide tecnicista tão divulgada na década de 70 e, atualmente, não vista com muito bons olhos. Evidenciou-se então que os encaminhamentos metodológicos dos professores continuam voltados para “a bola”, fato este que os alunos discordam. Como proposta aos professores da escola referida, fica o encaminhamento para se buscar realizar a construção de seus planejamentos a partir das conversas entre professor e aluno e ambos tentarem buscar um equilíbrio para esta ação, onde o professor, através dos conteúdos elencados pelo estado, poderia propiciar aulas mais prazerosas, com conteúdos que de fato fossem significativos aos alunos, visto que é isso que eles querem.

Referências

  • BARNI, M. J; SCHNEIDER, E. J. A Educação Física no ensino médio. Relevante ou irrelevante? Instituto Catarinense de Pós Graduação. nº 3-Agosto e Dezembro de 2003.

  • BETTI, M. Ensino de primeiro e segundo graus: Educação Física para quê? Revista do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte, v.13, n.2, p.282-287, 1992.

  • BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei n°9394/96 Dezembro de 1996.

  • BONSE M.R.H. Elementos articuladores extrapolam as formas de fazer Educação Física na Escola. 2010

  • COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino da educação física. São Paulo: Cortez, 1992.

  • DARIDO, S.C. et al. Educação Física no ensino médio: reflexões e ações. Motriz. Dezembro, 1999.

  • GEOVANI, E. C.; ASSIS, A. C. S. A Educação Física escolar. Disponível em: http://guaiba.ulbra.tche.br/pesquisa/2008/artigos/edfis/403.pdf, Acessado em 17/11/2009 as 10h31.

  • KUNZ, E. Educação Física: ensino e mudanças. 3° ed. Ijuí: Unijuí, 2004,

  • ______. (Org.). Didática da Educação Física - 2. Coleção Educação Física. Rio Grande do Sul - Ijuí: Editora Unijuí, 2002.

  • LORENZ, F.C. TIBEAU, C. Educação física no ensino médio: estudo exploratório sobre os conteúdos teórico. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Ano 9 - N° 66 - Novembro de 2003. http://www.efdeportes.com/efd66/medio.htm

  • NEIRA. M. G. Educação Física: desenvolvendo competências. 2° ed. São Paulo: Phorte, 2006.

  • OLIVEIRA, J. G. M. Construindo castelos de areia. Revista Paulista de Educação Física, São Paulo, v. 5, n. 1. 1991.

  • PAIANO, R. Ser ou não fazer: o desfazer dos alunos de Educação Física e as perspectivas de reorientação da prática pedagógica do docente. Dissertação de Mestrado. 1998.

  • POSSEBON, M.; CAUDURO, M. T. Educação Física no Ensino Médio: o lado oculto das dispensas. Revista Kinesis. Santa Maria, n.25, p.130-146, 2001.

  • VIANNA, J. A., et al. O compromisso do profissional de educação Física escolar. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Ano 13, n.130, mar/2009. http://www.efdeportes.com/efd130/o-compromisso-do-profissional-de-educacao-fisica-escolar.htm

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