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A obesidade infantil na escola e a importância do exercício físico

La obesidad infantil en la escuela y la importancia del ejercicio físico

 

Faculdades Integradas Claretianas

Rio Claro – SP

(Brasil)

Tatiana Müller Cornachioni

Jiane Cristina Masson Zadra

Andréia Valentim

m_tatianac@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

           O objetivo do presente estudo foi apresentar os fatores que influenciam a obesidade infantil e discutir a importância da educação física escolar na prevenção dessa patologia, por meio de revisão bibliográfica. Tem sido observado o crescente número de crianças que tornaram-se menos ativas incentivadas pelos avanços tecnológicos. É comprovado que o aumento da atividade física com a inclusão do exercício físico no dia-a-dia, diminui o risco de obesidade. A escola é sugerida como o local mais apropriado para as intervenções relacionadas à saúde. E a instituição somada com a disciplina de educação física escolar devem oferecer uma educação voltada para a saúde, já que se identificam com interesses relacionados à saúde pública. Entendemos que um tempo de prática menor que 30 minutos diários não são suficientes para prevenir a obesidade em crianças, e a necessidade de exercício físico em crianças é maior que a preconizada para os adultos. Sendo assim, apontamos que as aulas de Educação Física na escola não são suficientes para auxiliar no processo de emagrecimento daqueles que precisam. Mas, sugerimos que a escola pode ajudar a ampliar os conhecimentos da criança a respeito do próprio corpo. Uma das ferramentas seria a utilização de avaliações antropométricas, ação que colabora para a compreensão das mudanças ocorridas no crescimento e no desenvolvimento humano, bem como possibilita a detecção de possíveis anormalidades e enfermidades. Entendemos que a responsabilidade de trabalhar com esse tema não está só ligada à área da Educação Física, e sim a um trabalho multidisciplinar. Ao apresentar os conhecimentos relacionados ao movimento corporal e a importância do movimento para a saúde, os professores conseguem estimular um estilo de vida ativo aos escolares. O estudo conclui que a prevenção da obesidade é o melhor caminho. Fica a sugestão de incorporar ao currículo formal das escolas, em diferentes séries, a discussão sobre a importância do exercício físico, da nutrição e hábitos de vida saudável.

           Unitermos: Obesidade infantil. Educação Física escolar. Saúde.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 157 - Junio de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Há muito tempo nota-se o excesso de peso e o sedentarismo explícito na vida das crianças e jovens no mundo. A falta de interesse no exercício físico aliado a má alimentação apresentam-se como características do indivíduo que levam a obesidade infantil. A saúde infantil tornou-se um problema de responsabilidade pública. Pais, escola e sociedade são responsáveis por buscar melhores soluções para o futuro das crianças

    Não se gasta tanta energia nas atividades da vida diária como a alguns anos atrás. Alves (2003) sugere que essa maneira menos ativa de viver causa transtornos para a saúde das pessoas. O autor acrescenta que ter uma vida mais ativa na infância traz benefícios nos aspectos físicos, sociais e emocionais, o que permite controlar as doenças degenerativas na idade adulta.

    Klesges et al (apud MELLO; MEYER E LUFT, 2004) observaram uma diminuição importante da taxa de metabolismo de repouso enquanto as crianças assistiam a um determinado programa de televisão, sendo ainda menor nas obesas. Então, além do gasto metabólico de atividades diárias o metabolismo de repouso também pode influenciar a ocorrência da obesidade. Crianças inativas podem se tornar adultos doentes.

    É notável que a obesidade venha aumentando de forma significativa e que ela determina várias complicações na infância e na idade adulta. Na infância, o manejo pode ser ainda mais difícil do que na fase adulta, pois está relacionado a mudanças de hábitos e disponibilidade dos pais, além de uma falta de entendimento da criança quanto aos danos da obesidade.

    Justifica-se essa abordagem de estudo através da preocupação com o aumento no número de crianças com sobrepeso ou obesas que, freqüentemente são estimuladas a manter-se inativas na sociedade atual.

    Hallal (2010) descreve que a Educação Física foi dividida em duas frentes de pesquisa, a biológica e a pedagógica. Porém, atualmente existe uma preocupação em priorizar a promoção da saúde na escola. E nesse momento as frentes se fundem.

    A Educação Física Escolar atualmente apresenta um conteúdo voltado para a cultura corporal de movimento, que inclui vários conteúdos como lutas, danças, esportes, jogos e brincadeiras. Entretanto, Rosário e Darido (2005) observaram que os professores mantém uma visão esportivista e acabam limitando seus conteúdos nos esportes tradicionais como voleibol, basquete e futebol. Os esportes podem contribuir para que os alunos menos habilidosos continuem inativos, tornando-se mais propensos ao sobrepeso e obesidade.

    Assim sendo, o objetivo do estudo foi apresentar os fatores que influenciam a obesidade e discutir a importância da educação física escolar na prevenção da obesidade infantil.

Metodologia

    O presente estudo tem características de pesquisa básica, que visa ampliar os conhecimentos teóricos sobre o tema, além de ter caráter descritivo, bibliográfico e interdisciplinar (MARCONI e LAKATOS, 1986). O método utilizado foi de revisão de literatura em livros e artigos relacionados à obesidade infantil, educação física escolar e qualidade de vida na infância.

Discussão

    A obesidade é uma doença multifatorial de alto grau de complexidade, sendo difícil seu controle e prevenção. Deve ser encarada e tratada como uma patologia que se desenvolve por diferentes fatores de risco mórbidos, sendo associada ao aumento do índice de mortalidade (DÂMASO, 2001).

    Hernandes e Valentini (2010) acrescentam que a obesidade é um distúrbio nutricional e metabólico que pode ser avaliado pelo aumento na quantidade de gordura corporal e conseqüente aumento do peso corpóreo.

    Bernardes; Pimenta e Caputo (2002) apresentam uma classificação das causas da obesidade. Para as autoras, a obesidade pode ser neuroendócrina; iatrogênica (doença causada por erro médico); pode ser causada por desequilíbrio nutricional e/ou inatividade física; além de ser uma característica proveniente de distúrbio genético. O trabalho sugere, ainda, que as conseqüências médicas, sociais, econômicas e psicológicas que não forem tratadas, tendem a se refletirem pela vida toda como: dificuldade emocional, em virtude das fortes pressões da sociedade para serem magros, ansiedade, depressão e baixa auto-estima; aumento da prevalência de osteoartrite nos joelhos e quadris; aumento de diabetes, aumento da prevalência de câncer; aumento da prevalência de morte prematura; aumento de cardiopatias, aumento da incidência de hipertensão arterial; aumento dos níveis de colesterol e de outras gorduras do sangue, bem como níveis baixos de lipoproteínas de alta densidade de colesterol.

    Segundo Mello, Meyer e Luft (2004) a definição para obesidade é simples quando não se prende a formalidades científicas ou metodológicas. O visual do corpo é o grande elemento a ser observado. Na infância, a doença pode estimular uma puberdade precoce, o que acarreta uma maturação esquelética antecipada com altura final diminuída, devido ao fechamento mais precoce das cartilagens de crescimento. Bueno e Fisberg (2006) complementam que a obesidade na infância é difícil de ser avaliada devido à intensa modificação da estrutura corporal (massa óssea, massa magra, água e gordura) durante o crescimento.

    Estudos têm alertado que a genética não é o único motivo do sobrepeso na infância. É preciso estar atento aos hábitos das crianças e ao comportamento dos pais, que podem errar na alimentação dos filhos (BERNARDES; PIMENTA E CAPUTO, 2002; PIERINE et al , 2006; CALIANI, 2009; HERNANDES E VALENTINI, 2010).

    Segundo Giugliano e Carneiro (2004) nas últimas décadas, as crianças tornaram-se menos ativas incentivadas pelos avanços tecnológicos. Uma relação positiva entre a inatividade, como o tempo gasto assistindo televisão, e o aumento da adiposidade em escolares foi observada. O aumento da atividade física, por outro lado, diminui o risco de obesidade, atuando na regulação do balanço energético e preservando ou mantendo a massa magra (ossos, músculo e água), em detrimento da massa gorda (gordura).

    Ainda, Giuliano e Carneiro (2004) relatam que 75% da rotina diária das crianças abrangem o tempo de sono e o tempo sentado. Para os autores, o número de horas de sono interfere na gordura corporal em crianças. O sono pode atuar favoravelmente na manutenção da composição corporal e deve ser estimulado nos casos de sobrepeso e obesidade.

    Mello, Meyer e Luft (2004) indicam que a quantidade total de gordura, o excesso de gordura em tronco ou região abdominal e o excesso de gordura visceral, são complicações da obesidade infantil que podem ocasionar doenças crônico-degenerativas como o aumento do colesterol e a hipertensão arterial sistêmica, que somadas, aumentam o risco de doença coronariana, além do diabetes e inatividade física. Essas complicações aumentam a taxa de mortalidade. As afirmações do autor são corrobadas por Oliveira e Fisberg (2003), que destacou um rápido aumento da obesidade infantil demonstrando a preocupação com as alterações metabólicas como dislipidemia, hipertensão, diabetes melito tipo 2 e doenças cardiovasculares. Dessa forma, Pierine et al (2006) apontam que a obesidade infantil é uma patologia sistêmica, onde 30% das crianças obesas podem, também, desenvolver doenças cardiovasculares e síndrome metabólica.

    Mello, Meyer e Luft (2004) apresentam vários fatores que influenciam o comportamento alimentar, entre eles fatores extremos (unidade familiar, atitudes com os pais e amigos, valores sociais, culturais, alimentos rápidos), e os fatores internos (necessidades e características psicológicas, imagem corporal, valores e experiências pessoais, auto-estima, preferências alimentares, saúde e desenvolvimento psicológico).

    Ao pensarmos nos fatores externos, Pierine et al (2006) realizaram uma pesquisa na qual verificou-se baixa qualidade nutricional no lanche escolar, com reduzida quantidade de fibras, cálcio e ferro, e elevada quantidade de carboidratos processados, lipídios e sódio, e talvez pela forte influência da mídia, os alimentos mais consumidos pelos alunos, foram açúcares (doces), bolacha recheada, frios, pães, refrigerantes, batata frita ou chips e salgados. O interesse dos pesquisadores foi relacionar o nível de atividade física, a qualidade alimentar do lanche escolar e a composição corporal das crianças e jovens. Os resultados demonstraram que 33% estão com excesso de peso, 60% são inativos fisicamente e 58% possuem grande quantidade de gordura abdominal. Mais uma vez os autores alertam para que as escolas proporcionem programas de exercício físico e educação alimentar às crianças e jovens.

    No Brasil, a obesidade está presente nas diferentes faixas econômicas, principalmente nas faixas de classe mais alta. A classe sócio-econômica influencia a obesidade por meio da educação, da renda e da ocupação, resultando em padrões comportamentais específicos que afetam ingestão calórica, gasto energético e taxa de metabolismo (MELLO, MEYER e LUFT, 2004).

    Triches e Giuliano (2005) concordam com os trabalhos descritos acima e confirmam que as causas da obesidade estão ligadas as mudanças no estilo de vida e hábitos alimentares de baixa qualidade, também apontando o alto consumo de guloseimas como: bolachas recheadas, salgadinhos, doces, refrigerantes e omitindo o café da manhã. Os autores apontam, ainda, que a obesidade infantil pode ser observada com mais freqüência nas regiões mais desenvolvidas como sul e sudeste.

    Oliveira e Fisberg (2003) descrevem que a partir da idade escolar, os alunos criam autonomia para decidirem o que ingerir de alimentos, se essa autonomia não for estimulada saudavelmente pode ser um dos fatores responsáveis pela obesidade infantil. Infelizmente existe uma influência negativa. E a mídia é considerada uma das principais, pois nos comerciais de programas infantis, 65% das propagandas de alimentos concentra-se nos ricos em açúcares e lipídios.

    Geralmente a criança obesa é pouco hábil no esporte, não se destacando. A ginástica de academia não é lúdica e dificilmente é tolerada por um longo período, porque é um processo repetitivo. Idéias criativas são necessárias para aumentar o gasto calórico e do metabolismo, principalmente no período de férias e atividades como descer escadas do edifício onde mora, pular corda, brincar de pega-pega na quadra devem ser incentivadas.

    Vários fatores são importantes na gênese da obesidade, como os fatores genéticos, fisiológicos e metabólicos; no entanto, os que poderiam explicar este crescente aumento do número de indivíduos obesos parecem estar mais relacionados às mudanças no estilo de vida e aos hábitos alimentares. Podemos observar que todos os trabalhos apresentados concordam que o aumento no consumo de alimentos ricos em açucares simples e gorduras somado a diminuição da prática de exercícios físicos, são os principais fatores relacionados à obesidade.

    A obesidade infantil torna-se um sério problema de saúde pública, que vem aumentando em todas as camadas sociais da população. Prevenir a obesidade infantil significa diminuir de uma forma racional à incidência de doenças crônico-degenerativas. Na sociedade, a escola é um local importante onde esse trabalho de prevenção pode ser realizado, através de atividades interdisciplinares que foquem nos conhecimentos sobre saúde, com estímulos para a prática de exercícios físicos fora da escola e melhoria dos hábitos alimentares.

    A escola é sugerida como o local mais apropriado para as intervenções relacionadas à saúde, já que é o local mais acessível para crianças e adolescentes, como sugerem Marques e Gaya (1999). Os autores afirmam que a escola e a educação física escolar devem oferecer uma educação voltada para a saúde, já que se identificam com interesses relacionados à saúde pública.

    Sendo a obesidade uma preocupação da saúde pública, é necessário proporcionar às crianças conceitos relacionados à aptidão física, atividade física e saúde. Para Nahas e Corbin (1992) esses conceitos já passaram por várias transformações.

    A aptidão física é entendida como a capacidade geral do indivíduo e seu rendimento e disposição para um determinado trabalho (WEINECK, 2003). E conceituado como a saúde individual, sendo relacionada a fatores hereditários, ambientais e de estilo de vida. Para ser um indivíduo saudável é necessário ter equilíbrio nos hábitos alimentares, no nível de estresse e nas atividades físicas da vida diária. Exercício físico pode ser entendido como uma atividade física planejada e estruturada de maneira sistemática que tem como objetivo promover mudanças em alguns dos componentes da aptidão física (NAHAS E CORBIN, 1992). Dessa forma, é importante ressaltar a diferença entre os conceitos de exercício físico e atividade física, pois o segundo termo é conceituado como qualquer movimentação corporal que tenha um gasto calórico acima do repouso (CASPERSEN,1985 apud NAHAS E CORBIN, 1992).

    A escola é a porta de entrada para encorajar o aumento da atividade física na vida diária e estimular o exercício físico regular na vida de uma criança e, por isso, o professor de educação física tem a responsabilidade de além de apresentar os fundamentos esportivos a uma criança ou adolescente, mostrar a importância do exercício físico em sua vida como uma forma de prevenção da obesidade e outras doenças (HALLAL, 2010).

    Impolcetto et al (2007) discutem a necessidade da organização dos conteúdos oferecidos na disciplina de educação física escolar tendo em vista as possibilidades de práticas corporais que podem ser oferecidas de maneira sistematizada aos alunos.

    O papel da Educação Física na escola é amplamente discutido. Autores como Daólio (1996) apresentam a educação física escolar como “parte da cultura humana”. Para exemplificar o autor sugere que o aluno do ensino fundamental e médio deveria ter um conhecimento voltado ao movimento em suas mais diversas expressões. Porém, o autor discute que em virtude da valorização da visão esportivista, o corpo passa a ter um caráter apenas biológico e voltado ao rendimento esportivo.

    Dessa forma, a educação física plural é uma proposta apresentada por Daolio (1996) e trata da inclusão e da prática de várias formas de movimento voltada para a cultura corporal de maneira que os alunos possam compreender, discutir e transformar os temas relacionados ao corpo. Dessa forma, entendemos que o aluno seria estimulado a movimentar-se com prazer e conhecer as possibilidades do próprio corpo.

    Concordando com a proposta apresentada por Daolio (1996), Freire e Oliveira (1999) afirmam que o objetivo da educação física na escola é “tornar oportuna a aprendizagem relacionada a fatos, conceitos, princípios, procedimentos, valores, normas e atitudes, referentes a conhecimentos sobre o movimento humano, que permitam, individual e intencionalmente, a otimização de possibilidades e potencialidades para a movimentação genérica ou específica, harmoniosa e eficaz e, sem correspondência, a capacitação para, em relação ao meio em que vive, agir, interagir, adaptar-se e transformar, na busca de uma melhor qualidade de vida” (p.13).

    Lovisolo (2002) discute sobre a posição do professor de Educação Física e discute a importância desse papel dentro do projeto da escola. E dessa maneira a disciplina deveria ter como objetivo a formação intelectual, emotiva e corporal das pessoas. O autor reforça suas idéias com a frase: “Diria que o educador físico deve ajudar na construção da emoção de sentirmos a potência da vida no próprio corpo” (p.102) Com essa importância, o profissional de educação física escolar pode influenciar a maneira pela a qual o aluno se relaciona com o próprio corpo e como cuida dele. Essa maneira de introduzir as questões relacionadas ao corpo no conteúdo da disciplina seria uma forma de demonstrar para as crianças a importância de manter um estilo de vida ativo.

    Guimarães, Pellini e Araújo (2001) indicam que as aulas de Educação Física estão quase totalmente voltadas para os conteúdos esportivos, dando uma maior importância para as técnicas. Sendo a criança um ser sócio-cultural, observamos que essas aulas voltadas às técnicas esportivas fragmentam a formação integral do aluno, não dando importância a fatores como: respeito, cooperação e afetividade, que são a base para a criança viver em sociedade. Assim sendo, entendemos a importância da discussão sobre atitudes e valores nas aulas de Educação Física, já que esse equilíbrio psicológico também está relacionado ao conceito de saúde.

    A característica fundamental da disciplina de Educação Física na escola tem sido vista tradicionalmente com um conteúdo prático voltado para a reprodução de gestos técnicos do movimento esportivo. A relação professor-aluno muitas vezes é confundida como treinador-atleta por ambas as partes. Celante (2001) relata que os conteúdos e objetivos do ensino médio são os mesmos verificados no ensino fundamental. E de alguma forma, o conhecimento sobre saúde poderia ser melhor distribuído e aproveitado.

    Os conhecimentos apresentados na disciplina são restritos aos esportes tradicionais como voleibol, futebol e basquete, sendo o esporte tratado como conteúdo principal da disciplina. Outros conteúdos são desenvolvidos e apresentados sem qualquer sistematização ao longo do ano letivo (ROSÁRIO e DARIDO, 2005). Essa problemática amplia a preocupação quanto ao nível de aptidão física e quantidade de exercício físico que as crianças brasileiras praticam, visto que a Educação Física escolar não pode ser considerada uma prática regular de exercício físico.

    Essa visão sobre a Educação Física escolar foi discutida por Silva et al (2006) que estudaram escolares na faixa etária de 10 anos. Os autores avaliaram as crianças durante todo o período que ficam na escola e perceberam um predomínio das atividades físicas de baixa intensidade, mesmo nas aulas de educação física. Foi observado que durante o recreio, os meninos apresentaram um aumento no tipo de atividade física por praticarem brincadeiras com intensidade alta quando comparado as meninas. Isso demonstra que cada vez mais as crianças podem se tornar adultos inativos propensos a maiores problemas de saúde.

    Essas preocupações também nortearam os estudos de Ronque et al (2007). Na pesquisa foram avaliados 511 estudantes com o objetivo de avaliar a antropometria e testes motores. Os resultados demonstraram que o nível de aptidão física das crianças avaliadas está muito abaixo do esperado e a obesidade é um quadro alarmante. Os autores afirmam que programas sistematizados de exercício físico na infância e na adolescência contribuem positivamente para o desenvolvimento e manutenção da aptidão física de escolares e devem ser estimulados e, se possível, trabalhados na escola.

    Com base em trabalhos científicos como os citados anteriormente entendemos que a participação da criança nas aulas de Educação Física não indica que a mesma mantenha ou melhore sua aptidão física tornando-se mais saudável. Entretanto, o estímulo a movimentação corporal, pode influenciá-la positivamente para buscar um estilo de vida ativo, e levar consigo esses hábitos para a vida adulta.

    Santin (2001) relata um depoimento de um atleta que sugere que o corpo sempre transmite alguma mensagem que entendemos ou não. O cansaço físico é citado como um alerta de que o corpo precisa de mais tempo para se recuperar. Será que a obesidade infantil não poderia ser entendida como um sinal de alerta, que indica uma população cada vez mais inativa e menos saudável?

    Maitino et al (2007) verificaram que a inatividade física este presente em 42% dos alunos de periferia de Bauru, São Paulo. Em Niterói, Rio de Janeiro, este índice atingiu 85% dos meninos e 94% das meninas.

    Baruki et al (2006) encontraram uma relação entre o estado nutricional da criança e os níveis de atividade física, mostrando que crianças eutróficas (com boa qualidade nutricional) eram mais ativas, praticavam atividades físicas mais intensas e gastavam menos tempo assistindo à televisão, comparadas às crianças com sobrepeso/obesidade.

    Bracco et. al (2002), discutem que apesar da dificuldade de se obter um consenso sobre a recomendação de exercício físico para a promoção da saúde em crianças e adolescentes, o nível de exercício físico apresenta relação inversa com a idade, e, valores acima de 30 minutos diários não são suficientes para prevenir a obesidade em crianças, e a necessidade de exercício físico em crianças é maior que a preconizada para os adultos. Esses dados demonstram que as aulas de Educação Física na escola não são suficientes para auxiliar no processo de emagrecimento daqueles que precisam.

    Além disso, Barker, Olsen e Sorensen (2007) propuseram que qualquer agravo nutricional, fundamentalmente a desnutrição, ocorrido em período crítico do crescimento e desenvolvimento, poderia ter efeito deletério durante toda a vida por induzir mecanismos adaptativos que, na vida adulta, favoreceriam o ganho de peso excessivo. Esta hipótese pode fundamentar em parte os achados da prevalência de desnutrição e obesidade no país.

    Devemos entender que existem diferenças metodológicas entre os estudos citados. Porém, todos demonstram que a inatividade física está presente na atual vida diária de crianças no Brasil. Para Mello, Meyer e Luft (2004), a criança e o adolescente tendem a ficar obesos quando inativos, e a própria obesidade poderá fazê-los ainda mais inativos. O que se observa é que as crianças com uma qualidade nutricional melhor tem mais disposição para realizar atividades físicas em relação às crianças obesas. A partir das considerações apresentadas nos parágrafos acima podemos sugerir, mais uma vez, que a praticar regular de exercício físico é fundamental na prevenção da obesidade, e deve ser estimulada nas aulas de Educação Física com apoio de outras disciplinas.

    Várias são as ferramentas disponíveis ao profissional de Educação Física para avaliar as condições antropométricas relacionadas à saúde da população. Peso e altura são referências utilizadas para verificar e acompanhar o desenvolvimento infantil. Para a OMS (Organização Mundial da Saúde), o uso de medidas antropométricas pode detectar precocemente disfunções orgânicas, fatores de riscos para doenças crônicas, estados de subnutrição ou obesidade. Atualmente existe um consenso quanto a utilização de parâmetros adequados de avaliação dessa patologia. Um dos indicadores mais utilizados em estudos populacionais é o IMC (índice massa corporal), uma equação difundida em todo o mundo para avaliação da obesidade que relaciona peso e altura do indivíduo (ESCALANTE et al, 2009)

    Beck et al (2007) comentam que na escola a aplicação de medidas antropométricas não é muito utilizado. Os autores sugerem que sua utilização na escola colabora para a compreensão das mudanças ocorridas no crescimento e no desenvolvimento humano, bem como possibilita a detecção de possíveis anormalidades e enfermidades. E recomendam, ainda, a realização de medidas antropométricas no início e no final do ano letivo, para observar o desenvolvimento anual dos alunos.

    Essa poderia ser uma das ferramentas utilizadas pelos professores para incluírem conceitos de saúde nos conteúdos da Educação Física escolar. Entendemos que a responsabilidade de trabalhar com esse tema não está só ligada à área da Educação Física, e sim a um trabalho multidisciplinar. Ao apresentar os conhecimentos relacionados ao movimento corporal e a importância do movimento para a saúde, os professores conseguem estimular um estilo de vida ativo aos escolares.

Conclusão

    A prevenção da obesidade continua sendo o melhor caminho, principalmente se ocorrer antes da idade escolar e mantidas durante a adolescência. É muito importante que seja incorporado ao currículo formal das escolas, em diferentes séries, o estudo de nutrição e hábitos de vida saudável, pois neste local e momento é que pode começar o interesse, o entendimento e mesmo a mudança dos hábitos das crianças, por intermédio dos professores.

    O presente estudo conclui que a obesidade infantil pode trazer sérios problemas para a saúde, por isso é importante que o profissional de Educação Física oriente e incentive seus alunos a praticarem exercícios físicos não só pela competição, mas pela própria saúde. A escola tem que estimular os alunos a terem uma alimentação saudável, mas nada disto é válido sem ter a cooperação dos pais.

    Frente ao exposto, sugerimos que um trabalho multidisciplinar realizado pela escola sobre o tema saúde, assim como um acompanhamento do desenvolvimento dos escolares através de métodos simples de avaliação física que podem contribuir positivamente para uma população mais saudável.

    É importante que estudos sejam realizados periodicamente sobre o tema, oferecendo maior conhecimento aos profissionais envolvidos com a saúde pública.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 16 · N° 157 | Buenos Aires, Junio de 2011  
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