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O trabalho/lazer precarizado de 

travestis do centro da cidade de Maringá, PR

El trabajo/ocio precarizado de los travestis del centro de la ciudad de Maringá, PR

Work/leisure precarious transvestite of the city centre of Maringá, PR

 

Acadêmico de Educação Física - Licenciatura na Universidade

Estadual de Maringá (UEM-PR). Membro do Grupo de Estudos

em Educação Física, Educação e Marxismo (EDUFESC/DEF/UEM)

e do Grupo de Estudos e Pesquisas Marxistas (MARXLUTTE)

Matheus Frota

frota_matheus@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Esta pesquisa, apoiada pelo grupo de Estudos e Pesquisas Marxistas Lúdico, Trabalho, Tempo livre e Educação (MARXLUTTE) do Departamento de Educação Física da UEM/PR, busca compreender as relações entre o trabalho precário e Exercito Estrutural de reserva ambos inerente ao modo de produção capitalista, assim como seus reflexos nefandos na produção e reprodução da existência de travestis do centro na cidade de Maringá-PR. Para esse movimento investigativo, buscarei aproximações com a produção do conhecimento sustentado pelo método marxista cujos autores aprofundam o tema e possibilitam as articulações da investigação.

          Unitermos: Capitalismo. Trabalho precário. Exercito estrutural de reserva.

 

Abstract

          This research, supported by a group of Marxist Studies and Research Playful, Work, Leisure and Education (MARXLUTTE) Department of Physical Education at UEM / PR, seeks to understand the relationship between precarious work and Army Reserve inherent structural capitalist mode of production, as well as its nefarious consequences on production and reproduction the existence of transvestites center in Maringa-PR. For this trend investigative approaches seek to produce knowledge held by Marxist method whose authors deepen the subject and allow the joints of the investigation.

          Keywords: Capitalism. Precarious work. Structural army reserve.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 156 - Mayo de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introduçâo

    O foco desse estudo foi observar a vida e a organização social do trabalho precarizado de travestis no centro da cidade de Maringá, e analisar suas características fundamentais de reprodução metabólica sob a lógica do capital. O interesse em focar o trabalho dos travestis surge quando não encontramos pesquisas que tratam desta população marginalizada no método marxista. As categorias Desemprego Estrutural, Trabalho/Lazer Precário e Prostituição surgiram por meio do campo investigatório com contatos e depoimentos dos sujeitos mediados.

    Quem nunca afirmou ou nunca ouviu alguém falar que os tempos mudaram? E mudou literalmente. A sociedade de hoje tem como base o capitalismo globalizado que vem se constituindo nos últimos duzentos anos. Dessa forma a sociedade moderna vem presenciando profundas transformações, tanto nas formas de materialidade, quanto na esfera da subjetividade, dadas às complexas formas de ser e existir da sociabilidade humana (ANTUNES, 2006).

    Nesse âmbito, a sociedade se divide em duas classes sociais, a burguesa expropria todos os produtos e materiais resultantes de uma organização de trabalho social na forma de propriedade privada dos meios de produção das riquezas humanas e, a proletária, se constitui unicamente pela capacidade de conter força de trabalho e é, portanto, obrigada a vendê-la/trocá-la para a sua sobrevivência (MARX, 1983).

    Ao mesmo tempo em que se desenvolvem as tendências acima mencionadas, o capital recorre cada vez mais às formas precarizadas e intensificadas de exploração do trabalho na classe trabalhadora, fundamentais para seu ciclo reprodutivo. O aumento dos trabalhadores que vivenciam as condições de desemprego é parte constitutiva crescente do desemprego estrutural - denominado “exército de reserva” por Karl Marx - que atinge o mundo do trabalho, em função da lógica destrutiva que preside seu sistema de metabolismo societal, então, na atualidade, a era da acumulação flexível, merecem destaques e devem ser seguidas como exemplos, empresas que dispõem de menor contingente de força produtiva e que, apesar disso, têm maiores índices de produtividade (ANTUNES, 2006).

    Com as transformações no mundo do trabalho, diante da lógica do capital, surgem, concomitantemente, conseqüências para o lazer. Com isso, o tempo de lazer também foi sendo controlado por meio da mercadorização do lazer.

    O processo de desenvolvimento da produção industrial foi o marco para o surgimento do trabalho assalariado e a distinção entre as classes e aumento exponencial na prostituição e, com o advento das fábricas, o trabalho precário ganha força e passa ser a razão da existência humana, sendo este segundo Padilha (2003) “fonte de riqueza e dignidade”, numa nova forma de sociedade pautada numa perspectiva na qual o ‘tempo é dinheiro’. O tempo de trabalho e o tempo de lazer encontram-se intimamente ligados, no qual, o movimento de um, afeta o movimento do outro, sendo o lazer simplesmente uma mercadoria, proporcionando momentos de descanso e recuperação das energias, tanto físicas como psicológicas, para o melhor desempenho produtivo durante a jornada de trabalho. A produtividade humana é ilimitada por causa das máquinas, pois é ela quem determina o ritmo de trabalho, afastando o homem de alcançar a sua liberdade, violando a sua condição de humano criador de produtos úteis ao seu valor de uso.

    Sobre esse assunto Touraine (1994) citado na obra de Werneck (2000), afirma que no ideal capitalista tudo deve ser sacrificado em função do trabalho, este não garante salvação, mas concede o acúmulo de riquezas aos detentores do capital e dos meios de produção, sendo o capitalismo mantido pela mão-de-obra assalariada, tendo como recurso a venda da força de trabalho em troca de um salário.

    Como o trabalho é desumano na lógica do capital, o lazer é um dos poucos momentos de realização e prazer, assumindo assim um caráter compensatório para a frustração do processo de produção.

    Deste modo, tendo como base a transformação das relações de trabalho inseridas na sociedade capitalista, compreendemos que não somente o trabalho passou por mudanças, mas também o lazer, pois passou a ser determinado e realizado em função das relações de trabalho, e da forma pela qual a sociedade passou a ser organizar mediante a lógica da produção.

    No capitalismo, nos deparamos com o trabalho e o lazer precários ao longo de sua história, formando um sistema onde um intervém no desenvolvimento do outro, ou seja, uma íntima ligação entre eles, resultante na situação de dominação do lazer pelo trabalho.

    Assim, o lazer passou a ser visto como um momento de recuperação das forças físicas e psíquicas para o trabalho (PADILHA, 2003). O simples momento concedido ao lazer, a fim de restaurar forças e trazer ânimo para as próximas longas jornadas de trabalho, faz com que o lazer se entenda como cultura vivenciada no tempo de não trabalho e de livre escolha, visto como meio de compensar o trabalho, não permitindo assim que o indivíduo possa se emancipar e desenvolver as suas mais amplas faculdades humanas.

    Portanto, para que a exploração e subordinação do homem ao lucro se expandam, sem levar em conta as conseqüências mais nefastas, devido à natureza do sistema econômico capitalista, a burguesia necessitou, e necessita constantemente realizar transformações/reformas no modo de produção, objetivando superar as crises orgânicas do capital. Conseqüentemente, desencadeia-se maior precarização do trabalho/lazer, aumento no desemprego estrutural e também da prostituição, pois desde o advento da Revolução Industrial como já acima relatado, cresce galopantemente essa profissão em travestis. (KELLY, 2010)1.

    Na prostituição, muitos podem ganhar rendimentos que lhes permitem comprar moradia, carro, entre muitos outros pertences que a maioria dos trabalhadores não possui. Em apenas um dia, se prostituindo, posando para fotos ou filmagens pornográficas, um travesti pode ganhar mais do que muitos trabalhadores ganham em um mês de árduo trabalho. É justamente por causa desses desajustes provocados pela lógica econômica do capital, de precarização do trabalho e, aumento do desemprego estrutural que muitas pessoas guindam-se para a prostituição, e dessa forma, muitos jovens da periferia das grandes cidades conseguem ganhar bem mais do que a média dos trabalhadores formais (KELLY, 2010).1

    Dessa forma, diante das reflexões/inquietações acerca da precarização do trabalho e do desemprego estrutural cada vez maior na era da acumulação flexível, assim, como o crescimento incomum na prostituição em travestis, surge à pergunta: qual a relação entre a prostituição e a lógica do trabalho precário no capital?

Metodologia

    Para essa pesquisa utilizarei o materialismo histórico e dialético, subsidiado principalmente por Marx e Engels. O processo investigativo amparado pelo marxismo exige a fuga ao pluralismo e ao ecletismo, pois buscará aproximações iniciais com o método marxista de pesquisa de forma coerente e consistente. Assim, a pesquisa terá como eixo teórico-metodológico o conhecimento produzido por Karl Marx e Friedrich Engels sob três pilares fundamentais, o método dialético, a perspectiva de revolução e o modo de produção.

    Segundo (MINAYO, 2004 p. 108) esse método significa “[...] abordagem da realidade, a qual é considerada como processo histórico em dinamismo, provisoriedade e transformação”.

    Desta forma, pensamos ser essencial, conforme Frigotto (1989), que o enfoque materialista histórico e dialético rompa com a ideologia hegemônica/dominante de sustentação da economia capitalista e, portanto, esse método de pesquisa se apresenta contra hegemônico.

    Trotski citado na obra de Deslandes (1994), em relação ao método marxista de pesquisa argumenta que seria totalmente impossível investigar as causas dos mais diversos fenômenos, no interior do metabolismo social da sociedade capitalista, sem residir à aproximação com os fenômenos econômicos, não no plano subjetivo, tal como a fenomenologia e o pós-modernismo (idealistas), devido buscarem causas e fenômenos na consciência subjetiva do interior de alguns sujeitos históricos, em suas intenções e planos, mas sim, imprescindivelmente, no plano objetivo/material, pois é simplesmente imperioso, conforme o método marxista que o ponto de vista material/objetivo seja o pilar para as possíveis compreensões dos mais diversos fenômenos históricos sociais presentes no interior de cada modo de produção.

    Portanto, o método marxista se faz por meio de sua extraordinária explicação que a formação intelectual, política, filosófica, técnica em fim, as mais íntimas sensações e sentimentos dos sujeitos se formam da existência de condições materiais e, não ao contrário, como fazem o idealismo e outras teorias do conhecimento. Assim, além de materialista o método marxista é dialético, pois investiga a evolução e os movimentos históricos de cada modo de produzir e reproduzir a vida humana na relação constante entre a luta de forças em conflito, no antagonismo de classes. Nas palavras de Marx (2007):

    A história nada mais é que o suceder de gerações distintas, em que cada uma delas explora os materiais, os capitais e as forças de produção a ela transmitidas pelas gerações anteriores; portanto, por um lado ela continua a atividade anterior sob condições totalmente alteradas e, por outro, modifica com uma atividade completamente diferente as antigas condições (p. 40).

    Portanto para a construção dessa pesquisa, utilizarei algumas categorias, a qual, segundo Minayo (1994) referem-se a um conceito que abrange elementos ou aspectos comuns entre si, pois, são capazes de estabelecer classificações em torno de um conceito, cuja abranja toda essa conjuntura sócio histórica. Assim, as categorias abordadas serão: trabalho precário/lazer precário, desemprego estrutural e prostituição.

    Na fase de pesquisa de campo, visitaremos o local de realização de nossa pesquisa e entrevistaremos alguns travestis a fim de que eles respondam algumas questões iniciais em estudo. Por fim, na última fase, analisaremos os conteúdos das entrevistas e observações realizadas em nossas visitas articuladas as categorias do estudo.

    Na seqüência, serão apresentados dois quadros com as categorias centrais e as subcategorias juntamente as palavras chaves, temas e contextos advindos das falas dos sujeitos a partir das entrevistas realizadas.

Consumo e Fetiche

Discriminação Social/ Preconceito

Gosto

Faço compras

Vou ao cabelereiro

Vou ao shopping

Gasto muito

Ah.... ih... de pencas

Preconceito e discriminação vai ter em qualquer lugar né.....

Bastanteee....

Quadro 1. Categorias centrais, temas, contextos e palavras-chave advindas do campo de investigação

 

Desemprego estrutural

Trabalho Lazer precário

Prostituição

Jornada de trabalho

Lucro

Concorrência

 

Necessidade

Compensatório

Modo de vida

Lucro

Consumismo

Dinheiro

Exploração de Classes

Dinheiro

Fetiche

Avareza

Condição

Necessidade

Discriminação social

Preconceito

Quadro 2. Subcategorias contextos e palavras-chave advindas do campo de investigação

Considerações finais

    O modo de produção capitalista determina nossos conceitos de trabalho, assim gira uma lógica de produção e reprodução da vida para a preservação do capital, uma lógica que trata de um processo organizativo do trabalho cuja finalidade essencial, real, é a intensificação das condições de exploração do trabalho humano, mesmo com conseqüências potencialmente das mais perigosas para a sobrevivência humana. Assim, a inerência capitalista de exploração do trabalho e o acúmulo de riquezas nas mãos privada da burguesia, deterioram o trabalho humano e mutila o trabalhador, pois o tempo fundamental da sua vida está no trabalho e o desenvolvimento das suas mais variadas aptidões é perdido em razão da produtividade e acúmulo de capital (Marx, 1983).

    O trabalho é, portanto, o elemento mediador entre a esfera da necessidade e a realização desta necessidade (LUKÁCS, 1979), necessariamente no capital o trabalho adquire forma assalariada/ precarizada, fetichicizada, dada à necessidade imperativa em expandir cada vez mais seu valor de troca (ANTUNES, 2006).

    Nas palavras de Tonet (2003) pode se entender o capital como:

    [...] Uma relação social e não uma coisa. Esta relação, por sua vez, tem origem na compra e venda da força de trabalho do produtor pelo capitalista. Vale enfatizar que esta compra e venda pode assumir as mais variadas formas, implicando sempre a dominação do capital sobre o trabalho e a apropriação privada (ainda que de forma indireta) da maior parte da riqueza produzida. Nesta relação, o capitalista paga ao trabalhador um salário, que representa o custo socialmente estabelecido da reprodução da força de trabalho. Como o custo dessa reprodução é menor do que aquilo que o trabalhador produz durante o tempo de trabalho contratado, a parte que sobra, em geral, a parte maior vai para as mãos do capitalista, transformando-se nas varias formas da propriedade privada (TONET, 2003, p.35).

    A exploração humana, do trabalho humano, é simplesmente toda a base que sustenta a estrutura econômica do capital, por meio do ganho da mais valia pelo capitalista; ainda, e por ser, a consciência humana determinada na maneira em que os homens produzem e reproduzem a sua existência, nas suas relações objetivas com a natureza e a sociedade civil, fantasticamente, nos manuscritos Econômicos Filosóficos sobre o trabalho submetido à mercadoria, Marx (2005) ressalta que o trabalho determinado, submetido a essa lógica do capital, cada vez mais empobrecerá e desumanizará o homem ao passo que mais mercadorias fúteis a sociedade produzirá. Assim, diante dessa cruel e infeliz realidade de explotação humana na sociedade em que vivemos e, ainda mais, de formação de consciências inumanas, alienadas, gananciosas, conformadas e consumistas, tem-se cada vez maior busca por poder, consumo e futilidades de poucos ao passo que muitos mal possuem o que comer.2 A sociedade civil consolida os objetivos expansionistas, imperativos, degradantes do capital, notamos que, em seu desenvolvimento recente, aprofundam-se as tendências de crises apontadas por Marx; portanto, para que essa realidade de exploração e subordinação do homem ao lucro se expanda, devido à natureza gananciosa, corrupta e cínica do sistema econômico capitalista, a burguesia necessitou, e necessita, constantemente, realizar transformações/reformas no modo de produção, objetivando superar as crises orgânicas do capital.

    As conseqüências dessas reformas, precarizam cada vez mais o trabalho/lazer, aumenta o desemprego estrutural, a miséria absoluta e a prostituição, posto os imperativos de reprodução/manutenção do capital, na qual, faz com que as funções produtivas e de controle do processo de trabalho social sejam radicalmente separadas entre aqueles que produzem (proletários) e aqueles que controlam (burguesia), sendo necessário ao trabalhador vender sua força de trabalho para garantir sua existência, ao passo que enriquece o capitalista (ANTUNES, 2006). Para Antunes (2006):

    “O capital deflagrou, então, varias transformações no próprio processo produtivo, por meio da constituição das formas de acumulação flexível, do downsizing, das formas de gestão organizacional, do avanço tecnológico, dos modelos alternativos ao binômio taylorismo/fordismo, onde se destaca especialmente o “toyotismo” ou modelo japonês. Essas transformações, decorrentes da própria concorrência intercapitalista (num momento de crises e disputas intensificadas entre os grandes grupos transnacionais e monopolistas) e, por outro lado, da própria necessidade de controlar as lutas sociais oriundas do trabalho, acabaram por suscitar a resposta do capital a sua crise estrutural. Opondo-se ao contra poder que emergia das lutas sociais, o capital iniciou um processo de reorganização das suas formas de dominação societal, não só procurando reorganizar em termos capitalistas o processo produtivo, mas procurando gestar um projeto de recuperação da hegemonia na mais diversa esfera da sociabilidade [...]” (ANTUNES, 2006, p. 47).

    Atualmente, o processo produtivo da era da acumulação flexível, o toyotismo e seus avanços tecnológicos, em favor da incessante busca para aumento da produtividade e lucro, ocasionam mudanças que afetam o mundo do trabalho como o desemprego em massa, aumento no ritmo e encargos dos trabalhadores, aumentos salariais nulos, precarização e desqualificação do trabalho, assim como enfraquecimento das lutas sindicais, pois as empresas/indústrias demitem trabalhadores quando as vendas e o lucro diminuem. Segundo Menegat (2006), as mobilizações perderam peso pela ameaça do desemprego, tanto quanto pelas dificuldades de reunião e organização dos trabalhadores.

    Desse modo, na sua plena maturidade, a fim de evitar mobilizações sociais, união coletiva entre os trabalhadores, nas quais, vítimas são da essência acumulativa, degenerativa e gananciosa do capital e uma possível ameaça de revolução, a ideologia reacionária, dominante, dissemina em todo o mundo globalizado, as tendências acima mencionadas.

    Oportunamente e inicialmente aqui buscarei relacionar a prostituição dos travestis com: a precariedade no mundo do trabalho/lazer; as discriminações e preconceito que sofrem, e, por haver esses preconceitos, muitas vezes a fim de se defenderem moram juntas, oposto a família burguesa, assim, são muitas vezes vítimas da violência física e moral como relata o Sujeto 1: Ixi, várias. Mas sempre me defendo como posso..., quando perguntado: Você já viu alguma agressão ou sofreu alguma? E Sujeito 3: Verballll, preconceito verbal de gente, passa e te xingar e te falar e ai vamo joga bola João é um preconceito num é, é uma forma de agressão é o que mais a gente encontra, o desrespeito com um alguém que a pessoa nunca nem viu, nem conversou e já sai falando coisas medíocres. O consumismo e o fetiche, nas quais, encontram-se na consciência dos sujeitos ao mesmo tempo em que as condições de exploração do trabalho no mundo capitalista precarizam-se, intensificam-se, tanto quanto, o desemprego estrutural galopa a passos jamais vistos.

    A prostituição nada mais é que uma forma de venda da força de trabalho, contudo, por não estarem submetidas à preservação da ordem no capital, no que se diz a família burguesa, na qual, conforme Marx é a primeira forma de propriedade privada, onde o homem torna a mulher e seus filhos nada mais que instrumentos para a produção, os travestis, então, são vítimas ardorosas de discriminações e preconceitos da barbárie capitalista, com intuito unicamente de preservar todas essa imundícies do capital (ENGELS, 1987).

    Devido ao sistema do capital, com a consolidação do sistema toyotista, e as demais características argumentadas acima, claramente, por meio dos sujeitos percebem-se os imperativos que regem a ordem vigente em nossa sociedade para produção e reprodução social do capital. O principal objetivo no trabalho precarizado dos travestis é sobreviver e, consequentemente, expandir o valor de troca das mercadorias o que mais uma vez nos comprova os fantásticos escritos de Marx em sua forte crítica a Hegel, provando que a consciência dos homens nada mais é que a pura abstração material do meio em que vivem, portanto, é a realidade material que determina nossa consciência e não ao contrário. Assim, a consciência dos homens no modo de produção capitalista possui um forte apego ao dinheiro, pois essa é a característica da economia globalizada e da política neoliberal. Olha... na verdade confundem nosso trabalho com promiscuidade, a gente não é promíscua, entendeu? Faço mais por dinheiro realmente... não sinto prazer nenhum. Grana fácil é o motivo pelo qual realizo esse trabalho (Sujeito 7).

    A finalidade exploradora, desumana, inconseqüente do sistema do capital, traz transformações em que se diz respeito à classe trabalhadora. Tais transformações são articuladas a lógica de precarização do trabalho para acúmulo de riquezas em posse burguesa, conforme o relato abaixo. Constata-se que, por estarem submetidos ao trabalho precário no capital, na era da acumulação flexível, nos quais se intensificam a exploração do trabalho humano, ao mesmo tempo que o trabalho é temporário, em regime de tempo determinado de miseráveis salários pago pelas horas trabalhadas e sem direito trabalhista, faz com que travestis sintam necessidade de vender seu corpo como forma de manter sua existência, a fim de conseguir sobreviver na sociedade capitalista, que, para tal sobrevivência, são obrigados a pagarem aluguel por uma via publica para cafetinas. “Só pelo fato do nós trabalharmos aqui a gente paga 30 reais por dia, ou seja, eu pago 900 reais por mês para trabalhar aqui, todos os dias, né?! Pago pra cafetina... ihhhh... dae tem aluguel, tudo né?! ajudo minha família também, que não é daqui, e... da pra manter sim... quando eu não trabalhava com isso, eu não conseguia sobreviver, jamais iria ajudar minha família, não ia conseguir...” (Sujeito 7).

    Marx (1983), em sua extraordinária crítica ao modo de produção capitalista, a respeito de exército estrutural de reserva, explica que devido ao progresso da produtividade do trabalho social, ou seja, uma maior quantidade dos meios de produção pode ser mobilizada com um dispêndio progressivamente menor da força de trabalho humano, causando maior taxa de desempregos, isto, vigora-se como uma lei na sociedade do capital, pois quanto maior a produtividade no trabalho, mais precária, portanto, a condição de existir dos trabalhadores; com mais venda da força de trabalho mais rápido o crescimento dos meios de produção e da produtividade do trabalho.

    Todos os meios, portanto, aplicados ao trabalho social, são aplicados à custa do trabalho de cada indivíduo, e todos os meios para desenvolver a produção redundam em meios de dominar e explorar o trabalhador; mutilam-no reduzindo a um fragmento do ser humano assemelhando a máquina, destroem o conteúdo de seu trabalho convertendo-o em tormento, nostalgia e tédio. O desenvolvimento de toda sua potência intelectual se torna estranha; todas as horas de sua vida se transformam em horas de trabalho e, assim, trabalho e lazer sofreram enormes mutações para consolidar e sustentar o modo de produção atual. Ao comparar o tempo nas sociedades anteriores, esse era imprevisto com atividades pouco ou mesmo sem muitas programações, todavia, como inicialmente relatado, a lógica do capital de acúmulo/lucro, traz temeras conseqüências ao trabalho, concomitantemente, ao lazer, devido ao fato de formarem um sistema articulado. O capital necessita, para existir, produzir a mais valia, aumentando a jornada de trabalho e, portanto, é fundamental que o tempo de trabalho seja maior em nossas vidas e o lazer funcionalista, servindo como recuperação das forças psíquicas e físicas para o trabalho, consequentemente, de manutenção dos interesses burgueses (PADILHA, 2003).

    Além destas seqüelas do trabalho o lazer funcionalista, visando recuperação das massacrantes horas de trabalho, está na reprodução do capital. A forma e o meio de vida para a grande maioria da população é um meio de acumulação de riqueza para uma minoria (estima-se que hoje 40% de toda a riqueza mundial estejam na mão de 1% da população segundo os dados da OIT). Assim, o capital se torna mercadoria, por tudo e para tudo se paga, exclusivamente, para reproduzir a busca inconseqüente de acumulação de capital. O lazer, portanto, ditos os objetivos expansivos, contraditórios, gananciosos da sociedade em que vivemos passa a ser determinado pela classe dominante.

    Notemos nas entrevistas dos sujeitos o lazer funcionalista e sua mercadorização, sendo o lazer, para o capital, ao mesmo tempo uma mercadoria e uma forma de recuperação das ardorosas horas de trabalho ficando evidente na fala quando perguntado o que faziam quando não estavam trabalhando, no que ocupavam-se; Olha... pelo fato da gente trabalhar a noite, a gente acaba ficando muito boêmia, né?! Muito noturna... então a gente fica dormindo na maior parte do tempo, a gente acaba fazendo nada, mas balada é de segunda a segunda... mas, assim, de dia a gente vai no shopping normalmente, no cabeleireiro... enfim... Frequento a sociedade normal, shopping, balada (Sujeito 3).

    Na medida em que se acumula capital, obrigatoriamente tende a piorar, precarizar a situação de vida do trabalhador e, assim, o modo de se produzir a vida e, conseqüentemente, as relações humanas, no capital, é ao mesmo tempo acúmulo de riqueza num pólo e, cruelmente, a acumulação de miséria, de trabalho atormentante, de escravatura, ignorância, brutalização e degradação moral no pólo oposto da imensa maioria da população (MARX, 1983).

    Além de toda essa contradição, inerente ao sistema capitalista, o resultado da concorrência é, pois, o acúmulo de capital em poucas mãos e, consequentemente, um terrível monopólio. Por meio disso, Karl Marx conclui que o desemprego estrutural, aumenta a concorrência, fazendo parte do metabolismo social para acúmulo de capital, portanto é parte do sistema do capital o exército de reserva (MARX, 1983). O desemprego estrutural afeta diretamente a vida cotidiana no capital, com o intuito, de extrair o máximo de mais valia possível do trabalhador.

    Na fala a respeito do exército estrutural e da concorrência, nota-se: Nossaaaaaaa, demais! Tem, bastaaaante!, a concorrência inerente ao modo de produção capitalista (Sujeito 2)

    Devido, então, a estrutura econômica capitalista ser sustentada pela exploração do trabalho humano e acúmulo de capital, quanto maior a exploração, maior o acúmulo de riquezas em posse da burguesia; o exército/desemprego estrutural é parte do metabolismo social, consequentemente, a indigência, então os vagabundos, os alcoólatras, os criminosos, em fim as prostitutas/travestis, vistos os imperativos capitalistas, com trabalhos extenuantes, em que, o ritmo e o encargo dos trabalhadores são limites em razão da produtividade, foram determinados a vender seu corpo como forma de manter sua existência, como qualquer outro trabalhador que é determinado a vender sua força de trabalho para manter-se vivo.

    Engels (1987) argumenta que os pensamentos da classe dominante são, também, os pensamentos dominantes de cada época, então, a classe que é a potência material dominante da sociedade é também a potência de todas as outras mais íntimas relações espirituais humanas, portanto, a classe burguesa, na qual, dispõe dos meios de produção, dispõe também dos meios de produção intelectual e espiritual. Uma vez que uma classe domina e a outra é dominada, evidencia que, como seres pensantes, como produtores de idéias de um determinado tempo histórico, a produção e a distribuição dos pensamentos de sua época são preservados para a manutenção do sistema então hegemônico (MARX, 2007).

    Assim, fica cada vez mais claro que o modo de produzir e reproduzir a vida no capital é que determina a consciência dos homens e, portanto, preconceito e a discriminação social, atualmente, se tornam produto da hegemonia burguesa a fim de preservar a ordem de produção e reprodução da vida em prol do desenvolvimento, inconseqüente, desumano, bárbaro e cruel do modelo econômico capitalista.

    Ao observar trechos das entrevistas como quando perguntado se já sofreram ou já viu alguma agressão “Ixi, várias. Mas sempre me defendo como posso”(Sujeito 1), ou quando perguntado se “encaravam” muito preconceito no seu dia-a-dia e na sua opinião porque existia esse tipo de preconceito: “Bastanteee, mas também não é nada que você vá arrumas confusão, esse tipo de coisa nehhh!!”, “Talvez por falta de conhecimento que a pessoa não tenha ou de uma educação também, já que veio de infância, porque as pessoas não conhecem entendeu!? que acaba tendo um tipo de preconceito” (Sujeito 5). Nota-se que as falas acendem toda a crítica feita por Marx em relação ao preconceito, e as suas brilhantes explicações da existência na sociedade em que vivemos.

    O regime capitalista de produção determina uma forma social organizada para produzir e reproduzir-se. São experiências naturais, do cotidiano, a compra e a venda de mercadorias, é relação mais simples, corriqueira, fundamental, maciça e comum para manter o modo de produção atual, pois o lucro do capitalista está no momento em que vende sua mercadoria (NETTO, 2006). Assim, por ter a sociedade do capital uma incessante busca por lucro, o dinheiro e o fetiche, por sua vez é a alma do sistema do capital, é preciso sempre expandir o valor de troca das mercadorias para acúmulo e sustentação do sistema (SADER, 1999). Nesse sentido o autor, ainda nos explica que a Fetiche ou o consumismo é uma condição essencial para o sucesso pessoal e individual nesta sociedade. O dinheiro é sinônimo de poder, status parece que comprará tudo e a todos.

    Assim, como bem observou Marx, o modo de produção capitalista se consolidou e se consolida na medida em que produz e vende suas mais variadas mercadorias e, por meio dessa venda obtém uma quantidade de capital suficiente o bastante para pagar o salário do trabalhador (porção mínima), e extrair a mais valia (porção maior) que, necessariamente serão utilizadas na forma de se produzir mais mercadorias e também, de fornecer o lucro ao burguês, ao sustentar toda imundície/barbárie que temos atualmente.

    Mesmo com, conseqüências, potencialmente das mais perigosas para a humanidade, o capital e suas coisificações, na qual, trata Mészáros (2002) que tais coisificações humanas são devidas à maneira em que a sociedade do capital faz a consciência das pessoas, traz, para nós, que as características inerentes a natureza humana, se perdem ao se corromper por dinheiro, ao naturalizar a miséria, a desigualdade, a ganância, e ao disseminar o preconceito, a individualidade, o fetiche e todas as demais barbáries essenciais para sustentação da sociedade do capital, nas quais, estão presentes e em expansão no mundo contemporâneo, tal lógica de preservação e sustentação do sistema, (ou seja, de constantemente aumentar o valor de troca das mais diversas mercadorias), é encontrada no trecho da entrevista quando perguntado o que faziam no tempo de não trabalho Ahhhh, eu [...] Ah eu saio, vo pro restaurante come, vo compra (risos) [...], É ééé...(risos). E quando perguntado do que mais gostava de fazer a resposta foi imediata [...] De gasta (risos).

    Para manter a doença do lucro inconseqüente, desumano, cruel no capital, pois a finalidade essencial, não é outra senão acumular capital, “naturalmente” ocorre, uma inversão das mediações humanas de primeira para segunda ordem, e vice-versa, aos quais todos, e até as mais básicas e mais íntimas necessidades dos indivíduos se transformem em necessidades de produção, venda e lucro. Desse modo, a completa subordinação das necessidades humanas a reprodução do valor de troca no interesse da auto-realização expansiva do capital tem sido o traço mais marcante desde sua origem.

    Com estudos imprescindíveis do marxismo nota-se que a sociedade atualmente, configura toda sua estrutura econômica, jurídica e políticas voltadas para a produção/reprodução do sistema capitalista. A vida humana é condicionada de acordo com os objetivos expansionistas do capital. Então, nos sujeitos entrevistados e investigados, observamos que o modo de se organizarem e reproduzem sua existência, nada mais é que uma determinação da economia capitalista, pois como quaisquer outros trabalhadores precisam ardorosamente se submeter todos os dias ao trabalho precário, aos preconceitos e as descriminações, são mutiladas em relação ao desenvolvimento das suas mais variadas aptidões humanas, pois sua existência não perpassa nada mais que trabalhar, descansar e consumir, em fim como qualquer outro trabalhador, sua existência é determinada para materializar todas as inconseqüentes ações destrutivas do capital.

Notas

  1. KELLY, Suzy. Discriminação e Preconceito. Disponível em: http://farofadigital.com.br/comportamento_travest.htm. Acessado em: 03/09/2010

  2. Disponível em: http://video.google.com/videoplay?docid=7065205277695921912, acessado em 06/09/2010.

Referências

  • ANTUNES, Ricardo. Os Sentidos do Trabalho: Ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. Copyright 2006.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 16 · N° 156 | Buenos Aires, Mayo de 2011  
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