efdeportes.com

O impacto da obesidade e do sobrepeso nos níveis de qualidade de 

vida percebida em homens e mulheres da cidade de Aveiro, Portugal

El impacto de la obesidad y el sobrepeso en los niveles de calidad de 

vida percibida en hombres y mujeres de la ciudad de Aveiro, Portugal

 

Licenciatura plena em Educação Física

Universidade Federal de Pelotas

Faculdade de Desporto

Universidade do Porto, Porto

Gicele de Oliveira Karini

Gabriel Barros da Cunha

gicelekarini@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo do presente estudo é identificar o impacto da obesidade nos níveis percebidos de qualidade de vida dos sujeitos nos diferentes domínios da qualidade de vida. A amostra foi constituída de 201 indivíduos (M = 90; F = 111), sendo que 135 sujeitos foram incluídos no grupo com IMC elevado e 66 sujeitos no grupo com IMC normal. O instrumento utilizado para a avaliação subjetiva de qualidade de vida foi o questionário reduzido MOS SF-36. Na estatística analítica, foi inicialmente testado o pressuposto de normalidade de distribuição dos dados por meio do teste de Kolmogorov-Smirnov. Tendo em vista o não atendimento de tal pressuposto pela variável independente do estudo, optou-se pela comparação do comportamento dos grupos a partir do teste não-paramétrico de Mann-Whitney (Wilcoxon). Adotaram-se como estatisticamente significativos resultados com valores p ≤0,05. De acordo com os resultados, dois dos oito domínios referentes à qualidade de vida apresentaram diferença estatisticamente significativa em relação ao Índice de Massa Corporal, nomeadamente a Função Física (p0,001) e a Vitalidade (p=0,04). Dessa maneira podemos concluir que a obesidade e o sobrepeso estão fortemente associados à piores escores de qualidade de vida, principalmente em componentes físicas.

          Unitermos: Obesidade. Sobrepeso. Qualidade de vida.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 156 - Mayo de 2011. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    Na sociedade hodierna, a obesidade é considerada uma das maiores epidemias. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 67,8% dos portugueses têm sobrepeso ou obesidade. Já no Brasil, 51,7% da população têm sobrepeso ou é obesa. De etiologia multifatorial, a obesidade pode ser causada por diversos fatores, que na sua grande maioria incluem dieta desequilibrada e inatividade física (Nahas, 2006; Mota & Sallis, 2002).

    Os resultados de diversos estudos promovem fortes associações entre obesidade e doenças cardiovasculares. Alguns estudos relacionam também o elevado peso corporal a baixos níveis de saúde geral (Aguilar et al., 2009; Shoup et al., 2008; Hopman et al., 2007). O impacto da obesidade também está intimamente ligado as componentes funcionais, sociais e psicológicas do indivíduo, podendo afetar diretamente atividades do cotidiano, como vestir-se e subir escadas, assim como influenciar na auto-estima e na vida social dos indivíduos (Nahas, 2006; Mota & Sallis, 2002).

    Dessa forma, reconhecendo os elevados índices de obesidade existente na população e o forte impacto do sobrepeso e da obesidade na saúde geral, muitos esforços vêm sendo orientados, quer no meio acadêmico, quer no eixo das políticas públicas, com o intuito de perceber o impacto da obesidade sobre os níveis de qualidade de vida.

    Sendo assim, o objetivo do presente estudo assenta-se em identificar o impacto da obesidade e do sobrepeso na auto-percepção de qualidade de vida dos sujeitos nos diferentes domínios que compõem a qualidade de vida.

Metodologia

    O presente estudo apresenta um delineamento transversal, possuindo uma amostra de 201 indivíduos (M = 90; F = 111), sendo 135 sujeitos (67,2%) incluídos no grupo com IMC elevado (com excesso de peso, IMC≥25) e 66 sujeitos (32,8%) no grupo com IMC normal (sem excesso de peso, IMC entre 18,5 e 24,99).

    O estudo foi realizado com alunos de um Health Club da cidade de Aveiro, na região central de Portugal. A coleta de dados do estudo foi realizada nos meses de Junho e Julho de 2009, sendo realizada em sua totalidade pelos autores deste estudo.

    Como facilitador do encontro entre os sujeitos da amostra e os pesquisadores, foi promovido um pré-agendamento telefônico, onde os sujeitos consentiam sua participação ou não no estudo, com prévia marcação para a coleta de dados, consoante a disponibilidade do sujeito a ser avaliado. Durante as sessões de avaliação, todos os sujeitos leram e assinaram uma carta de consentimento para participação no estudo, estando cientes dos objetivos do estudo e esclarecidos sobre a utilização de seus dados.

    Quanto às avaliações antropométricas, o peso foi avaliado através da balança de marca TANITA, modelo TBF-410MA, com variação de 0,1 kg e capacidade máxima de 200 Kg. Todos os sujeitos foram avisados anteriormente às avaliações de que deveriam vestir roupas leves. Todas as medidas de peso corporal foram realizadas com os sujeitos descalços. A mensuração da altura foi realizada através de um estadiômetro metálico acoplado a balança, com variação de 0,1 cm, onde os indivíduos eram medidos em pé, descalços, com os calcanhares unidos, coluna reta, braços estendidos junto ao corpo e olhar dirigido ao horizonte.

    Através das medidas do peso e altura coletadas, foi possível chegarmos ao IMC (Índice de Massa Corporal), que é obtido pela seguinte fórmula: IMC= Peso (em Kg) / Estatura² (em metros).

    A classificação final do Índice de Massa Corporal (IMC) foi realizada conforme os critérios da Organização Mundial de Saúde. Para facilitar a apresentação dos resultados, dividimos os sujeitos em dois grupos: (a) Com excesso de peso- indivíduos com IMC igual ou superior a 25 kg/m²; (b) Sem excesso de peso- indivíduos com IMC entre 18,5 kg/m² e 24,99 kg/m². Não houve sujeitos com classificação de baixo peso no banco de dados.

    O instrumento utilizado para a avaliação subjetiva de qualidade de vida foi o questionário reduzido MOS SF-36, que é uma avaliação breve do estado de saúde, podendo ser utilizado para vários fins. Sua utilização vem mostrando grande crescimento dentre a comunidade científica a partir do século XX (Ribeiro, 2005).

    Sendo um dos instrumentos mais utilizados atualmente, o MOS SF-36 possui 36 itens, distribuídos por 8 dimensões: Dor Corporal (2 itens), Função Física (10 itens), Desempenho Físico (4 itens), Percepção Geral de Saúde (5 itens), Vitalidade (4 itens), Função Social (2 itens), Desempenho Emocional (3 itens), Saúde Mental (5 itens), além de mais um item que corresponde a Transição de Saúde, que mensura a percepção de mudança na saúde geral do sujeito nos últimos 12 meses, mas que não constitui uma dimensão.

    A escolha do instrumento adotado justifica-se por ser a técnica mais utilizada na avaliação da qualidade de vida tanto em pessoas saudáveis, como no caso do presente estudo, quanto em pessoas acometidas por diferentes tipos de enfermidades.

    Segundo Ribeiro (2005), o fato de ser a técnica mais utilizada não garante por si só, ser uma boa técnica, mas o fato de ser uma das técnicas mais estudadas e publicadas em jornais científicos dá a garantia de aceitação do instrumento e de sua validade na avaliação do Estado de Saúde e de Qualidade de Vida.

    Além disso, conforme Ribeiro (2000), o SF-36 apresenta tanto a perspectiva positiva quanto a perspectiva negativa dos estados de saúde, mensurando conceitos de saúde destinados como valores básicos fundamentais para o bem-estar geral de cada um.

    Para a análise dos dados, foi utilizado o programa Statistical Package for Social Science (SPSS) para Windows, versão 15.0 (SPSS Incorporation, Chicago, Estados Unidos).

    Foi empregada a estatística descritiva para o cálculo de frequências absolutas e relativas, médias, desvios-padrão (dp) e amplitude. Na estatística analítica, foi inicialmente testado o pressuposto de normalidade de distribuição dos dados por meio do teste de Kolmogorov-Smirnov.

    Tendo em vista o não atendimento de tal pressuposto pela variável independente do estudo, optou-se pela comparação do comportamento dos grupos a partir do teste não-paramétrico de Mann-Whitney (Wilcoxon). Adotaram-se como estatisticamente significativos resultados com valores p ≤0,05.

Resultados

    Para uma melhor análise do impacto do Índice de Massa Corporal (IMC) na auto-percepção da qualidade de vida, os sujeitos foram divididos em apenas dois grupos: Com excesso de Peso (IMC≥25) e Sem excesso de Peso (IMC≥18,5 e ≤24,99), visto que nenhum sujeito participante da amostra foi classificado com baixo peso.

    Em praticamente todos os domínios que compõem a qualidade de vida, os indivíduos sem excesso de peso obtiveram melhores escores médios, com exceção do domínio Dor Corporal, onde os sujeitos com excesso de peso apresentaram, por uma pequena diferença na pontuação, melhor pontuação média.

    Como é possível perceber na tabela 1, dois dos oito domínios apresentaram diferença estatisticamente significativa em relação ao Índice de Massa Corporal. Foram eles Função Física (p0,001) e Vitalidade (p=0,04).

Tabela 1. Escores médios segundo os domínios que compõem a qualidade de vida relativamente à variável independente Índice de Massa Corporal

Discussão

    Tendo em conta os resultados encontrados no presente estudo, é possível inferir que o principal achado assenta-se na interferência do IMC de maneira significativa nos domínios Função Física e Vitalidade, quando comparamos sujeitos com excesso de peso e sujeitos com o peso corporal normal. Dessa forma, os resultados apontam para uma percepção mais positiva de qualidade de vida nos indivíduos que possuem o IMC normal, relativamente aos domínios que fazem parte da componente física (função física e vitalidade1) e componente mental (vitalidade).

    Vuillemin et al. (2005) verificaram uma relação inversamente proporcional do IMC com as componentes físicas da qualidade de vida, mas não com as componentes mentais, o que difere, em parte, dos resultados encontrados no presente estudo, onde foram encontradas diferenças estatisticamente significativas tanto em algumas componentes físicas quanto em uma das componentes mentais.

    Aguilar et al. (2009) em seu estudo envolvendo 4110 indivíduos com mais de 16 anos realizaram uma pesquisa com delineamento transversal, nas Ilhas Canárias. Foram avaliados o IMC e a qualidade de vida de todos os sujeitos através do instrumento EQ-5D2. Seus resultados indicaram que sujeitos com IMC normal tem 18% menos chance de apresentar baixos níveis de qualidade de vida, demonstrando uma relação inversamente proporcional entre os escores de qualidade de vida e o IMC dos integrantes da amostra. Sujeitos com obesidade severa apresentaram escores de qualidade de vida significativamente mais baixos quando comparados à sujeitos com IMC normal, estando a severidade da obesidade diretamente associada a menores escores de qualidade de vida.

    Os resultados obtidos no estudo de Aguilar et al. (2009) assemelham-se aos achados nesta pesquisa, embora a avaliação de qualidade de vida tenha sido realizada por um instrumento diferente do questionário SF-36, onde são avaliados oito domínios da qualidade de vida, e não cinco, como no inquérito EQ-5D, apresentado pelos autores.

    Hopman et al. (2007), em seu estudo de coorte no Canadá, onde participaram 2792 homens e 6302 mulheres com 25 anos ou mais, verificaram a associação entre o Índice de Massa Corporal e a Qualidade de Vida dos sujeitos. Os indivíduos que compuseram a amostra foram divididos em grupos segundo a faixa etária, sendo que todos os grupos de idade demonstraram ter um IMC médio acima da média recomendada à saúde.

    Relativamente à qualidade de vida, para as mulheres, estar com baixo peso, sobrepeso ou obesidade foi fortemente associado a menores escores médios de qualidade de vida em praticamente todos os domínios. Para os homens, estar com sobrepeso ou obesidade foi associado a baixos escores de qualidade de vida em alguns domínios, e em outros, foram verificados escores superiores.

    Desta forma, de acordo com a opinião da comunidade científica e com os resultados encontrados no presente estudo, podemos identificar forte influência do excesso de peso na qualidade de vida de homens e mulheres.

Conclusão

    Os achados do presente estudo contribuem para a compreensão do impacto que a obesidade e o sobrepeso podem apresentar na qualidade de vida dos indivíduos. Após a análise dos resultados e uma discussão com a literatura especializada, podemos inferir que os valores elevados de peso corporal parecem estar associados a baixos níveis de percepção de qualidade de vida, interferindo nas atividades físicas do cotidiano como vestir-se e tomar banho, bem como nos níveis de vitalidade, compreendida como a energia para a execução das tarefas diárias. Dessa maneira podemos considerar que a obesidade e o sobrepeso promovem um impacto negativo na qualidade de vida dos indivíduos.

Notas

  1. O domínio Vitalidade juntamente com a Saúde Geral são as duas únicas dimensões que fazem parte tanto das Componentes Físicas quanto das Componentes Mentais que compõem a Qualidade de Vida.

  2. EQ-5D é um instrumento validado para a utilização da população saudável e não saudável em geral, utilizado para mensurar a Qualidade de Vida. Seus resultados são avaliados em 5 domínios: mobilidade, auto-cuidado, atividades usuais, dor/desconfortos e ansiedade/depressão, que são avaliados pelos entrevistados numa escala de três níveis- Nenhum Problema, Problemas Moderados e Problemas Extremos, de acordo com a sua saúde no dia da avaliação (Aguilar et al., 2009).

Bibliografia

  • Aguilar, P.S.; Navarro, S.R.M.; Fariña, Y.R.; Martín, M.M.T. (2009). Obesity and health-related quality of life in the general adult population of the Canary Islands. Quality of Life Research, 18, 171-177.

  • Hopman, W.M.; Berger, C.; Joseph, L.; Barr, S.I.; Gao, Y.; Prior, J.C.; Poliquin, S.; Towheed, T.; Anastassiades, T. (2007). The association between body mass index and health-related quality of life: data from CaMos, a stratified population study. Quality of Life Research, 16, 1595-1603.

  • Mota, J.; Sallis, J. (2002). Actividade Física e Saúde: fatores de influência da atividade física nas crianças e nos adolescentes. Porto: Campo das Letras.

  • Nahas, M. (2006). Atividade Física, Saúde e Qualidade de Vida: conceitos e sugestões para um estilo de vida ativo. Londrina: Midiograf.

  • Ribeiro, A. (2000). Actividade física habitual em adultos idosos: caracterização do tempo de actividade na semana e no fim-de-semana. Porto: Alfredo M. F. M. Ribeiro. Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.

  • Ribeiro, J.L.P. (2005). O Importante é Saúde. Porto: Merck, Sharp & Dohme.

  • Shoup, J.A.; Gattshall, P.D.; Estabrooks, P. (2008). Physical activity, quality of life, and weight status in overweight children. Quality of Life Research, 17, 407-412.

  • Vuillemin, A.; Boini, S.; Bertrais, S.; Tessier, S.; Oppert, J.M.; Hercberg, S.; Guillemin, F.; Briançon, S. (2005). Leisure time physical activity and health-related quality of life. Preventive Medicine, 41, 562-569.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 16 · N° 156 | Buenos Aires, Mayo de 2011  
© 1997-2011 Derechos reservados