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Ansiedade e suas interferências no surf competição

La ansiedad y sus interferencias en el surf de competición

Anxiety and its interference with surf competition

 

*Graduado em Educação Física

pela Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC

Atualmente é aluno especial do Mestrado em Atividade Física e Saúde, UFSC

Atua profissionalmente como Professor de Educação Física Escolar

e Personal Trainer

**Professora/o de Educação Física

Wagner Luiz Testa*

Vanessa Santos da Costa**

Vicente Piacentini**

wagner.testa@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Este trabalho tem o objetivo de analisar o nível de ansiedade de dois atletas profissionais de surfe em distintas situações, para verificar se há um aumento da ansiedade na situação pré-competição. Será utilizado um termômetro digital para a verificação do nível de estresse através do aumento da temperatura corpora e um freqüencimetro para a freqüência cardíaca. A amostra será composta por dois atletas profissionais de surfe em três situações: Repouso, pré-competição (uma hora antes) e pré-competição (meia hora antes). Este estudo possibilitou verificar o perfil de ansiedade do atleta para assim desenvolver técnicas e fundamentos para serem executados, a fim de minimizar os efeitos do estresse que irá desencadear a ansiedade.

          Unitermos: Ansiedade. Competição. Surfe.

 

Abstract
         
This study aims to examine the level of anxiety of two professional athletes surfing in different situations to see if there is an increased anxiety in the pre-contest. Will use a digital thermometer to check the level of stress by increasing body temperature e FC. The sample will consist of two professional athletes surfing in three situations: Home, pre-race (one hour ahead) and pre-race (half an hour before). This study helped determine the profile of the athlete's anxiety and thus to develop techniques and fundamentals to be executed in order to minimize the effects of stress that will trigger the anxiety.
          Keywords: Anxiety. Competition. Surfing.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 156 - Mayo de 2011. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    A prática do surfe é milenar. Nasceu na Polinésia, fincou suas raízes no Havaí, cresceu e se expandiu na Califórnia e se espalhou pelos oceanos, sendo hoje praticado em todas as praias do Planeta que oferecem condições (STEINMAN, 2003).

    O surfe está ganhando adeptos de várias faixas etárias e de diferentes classes econômicas, por ser um esporte saudável e prazeroso, que coloca o surfista em contato profundo e direto com os elementos da natureza. Segundo Steinman (2003) “O surfe estimula a produção das endorfinas, entre outras substâncias químicas cerebrais que aliviam o estresse e propiciam, além de uma sensação de bem-estar, uma mudança favorável no estado de humor”.

    No entanto, quando o surfe deixa de ser praticado simplesmente por lazer e atinge o nível profissional, o praticante não desfruta somente dos efeitos benéficos que o surfe propicia, porque, assim como em todo esporte competitivo o atleta sofre pressão para ter um bom desempenho.

    Sabendo da importância que a ansiedade reflete no desempenho do atleta durante a competição, este trabalho tem o objetivo de analisar o nível de ansiedade de dois atletas profissionais de surfe em distintas situações, para verificar se há um aumento da ansiedade na situação pré-competição.

Ansiedade

    Segundo Weinberg e Gould (2001, p. 96) “Ansiedade é um estado emocional negativo, caracterizado por nervosismo, preocupação e apreensão e associado com agitação do corpo”.

    O autor acima classifica a ansiedade em: Ansiedade-estado e ansiedade-traço. A primeira refere-se a um estado emocional negativo, durante um determinado tempo, associado à ativação do sistema nervoso autônomo. Está associada a uma demanda, e tem importantes conseqüências em determinadas situações de avaliação ou competição (WEINBERG E GOULD, 2001).

    A segunda é relacionada a uma tendência comportamental de perceber determinadas situações, que no caso não seriam tão avaliativas ou competitivas, ou perigosas, como ameaçadoras, e então a pessoa responderia com um aumento significativo da ansiedade estado, isso é ligado à personalidade da pessoa (WEINBERG E GOULD, 2001).

    A psicologia do esporte explica a ansiedade e suas interferências e influencias em situações de competição. Uma forma de orientação é através de medidas fisiológicas e psicológicas. Como, por exemplo, questionários de auto-relato e medidas da temperatura corporal e a freqüência cardíaca, com a utilização de instrumentos como termômetros e monitores cardíacos.

Estresse

    O processo de estresse é composto por quatro estágios: demanda ambiental; percepção da demanda; resposta ao estresse e consequências comportamentais. (Weinberg e Gould, 2001).

    Existem várias situações que interferem no estresse, relatadas pelos atletas, como: desempenho das capacidades físicas; investimentos e custos financeiros; preocupações ao talento; lesões e problemas familiares. Isto se refere à importância e a incerteza que o atleta dá a cada evento. Por exemplo, ao final de campeonato vai gerar certamente mais estresse do que uma partida comum no decorrer do campeonato.

    Então, situações de estresse elevam a ansiedade e a ativação e causam um desequilibro na homeostase, causando uma série de desconfortos. Dentre eles estão, a tensão muscular, ocasionando um déficit na coordenação motora, tendo complicações na parte técnica, ocasionando assim um ciclo desastroso e prejudicando todo o contesto tático.

Treinamento de habilidades psicológicas

    Para amenizar os problemas de atletas nestas situações desfavoráveis, a psicologia do esporte desenvolveu técnicas para ajudar as pessoas a terem um desempenho mais efetivo através do treinamento de habilidades psicológicas (THP). O THP refere-se à prática sistemática e consistente de habilidades mentais ou psicológicas. Habilidades psicológicas são como habilidades físicas, podendo ser ensinadas, aprendidas e treinadas por meio do ensino de habilidades mentais.

    Vários estudos que compararam atletas bem-sucedidos e menos bem-sucedidos em termos de habilidades psicológicas revelaram consistentemente que atletas mais bem-sucedidos tinham melhor concentração, níveis mais elevados de autoconfiança, mais pensamentos orientados à tarefa e níveis mais baixos de ansiedade (GOULD. EKLUND E JACKSON, 1992).

Surfe competição

    No Brasil, a história do surf começou timidamente na década de 30 e hoje toma proporções bastante significativas, posicionando-se entre os três esportes mais praticados no país. Outrora, esse esporte passou por preconceitos sociais, em que seus praticantes eram vistos como desocupados, numa época politicamente conturbada da década de 70. Já na década de 80, com a explosão do mercado da “surfwear”, iniciou-se uma nova fase para o surf.

    A indústria do surfe cresce sem parar e cada vez mais pessoas aderem ao “estilo surfe” de viver. As competições, os modelos de pranchas, as manobras e a abordagem dos atletas também sofreram mudanças evolutivas e hoje temos pranchas mais velozes e soltas que permitem a execução de manobras modernas; atletas mais focados e concentrados profissionalmente no esporte; e competições que dão ao atleta melhores chances de mostrar seu talento.

    Um campeonato de surfe funciona da seguinte forma:

Quadro 1. Estrutura de um campeonato de surfe

Evento

Nº de atletas por bateria

Nº de atletas

que avançam para próxima fase

Tempo de duração da bateria

N° de ondas permitidas

Nº de ondas computadas

Amador

4

2

15min.

10

10 – 15(final)

2

Profissional

4

2

20 min.

10 - 15

2

Profissional

(Super Surf)

3 (1ª fase)

2 (fases seguintes)

1

25 – 30 min.

10 - 15

2

WQS

4

2

20 – 30min.

10 - 15

2

WCT

3 (1ª fase)

2 (fases seguintes)

1

25 – 30 min.

10 - 15

2

    Dividido em baterias de 4, 3 ou 2 competidores (ver tabela), os atletas tem um tempo disponível (15, 20, 25 ou 30 min.), dependendo da competição; para pegar no máximo 10 – 15 ondas (conforme a condição do mar). As ondas serão avaliadas por uma comissão técnica que dispõe de 5 juízes e um head judge (coordena o trabalho dos juízes). As duas melhores ondas serão computadas e a soma de suas médias (gerada pelos 5 juízes) determinará a colocação de cada atleta na bateria.

    O trabalho de um surfista competidor, na hora da bateria, se resume a entrar na água e no período de tempo determinado pegar duas ondas que somem uma média mais alta do que a de seu(s) adversário(s).

    O livro de regras da ASP (Associação de Surfe Profissional) traz o seguinte anunciado: “O surfista deve executar manobras radicais e controladas nas partes mais críticas da onda com estilo, força e velocidade para aumentar o potencial de pontuação. Deverá ser levado em conta o surfe inovador e progressivo na hora de pontuar a performance apresentada. Aquele surfista que seguir este critério com maior grau de dificuldade e controle nas melhores ondas receberá as melhores notas”.

    Porém existem muitas variáveis que podem atrapalha-lo. Os competidores vão remar para o outside (depois da arrebentação) e lá disputarão pela posse da onda; O mar é inconstante, ou seja, o atleta pode ter uma ideia do tempo em que entram as séries com as melhores ondas, mas deve levar em consideração que esse tempo não é preciso e que uma onda nunca é igual à outra; A condição do tempo, do mar e da ondulação pode variar de uma hora para outra; Seu adversário quer o mesmo que você (vence / passar a bateria); Cada tipo de onda exige um tipo de equipamento e um erro na escolha pode ser fatal; Até mesmo um desentendimento com a namorada ou com o patrocinador, ou o fato de ter acordado indisposto no dia da competição pode diminuir a qualidade da atenção e da performance.

    Entre outros problemas a concentração da atenção nessas variáveis, pode gerar ansiedade. Um atleta ansioso pode perder o foco da tarefa e dificilmente renderá 100% do seu potencial.

Metodologia

    De maneira experimental será utilizado um termômetro digital para a verificação do nível de estresse através do aumento da temperatura corporal, e um freqüencimetro da marca polar para medida da freqüência cardíaca (FC). A amostra será composta por dois atletas profissionais de surfe em três situações: Repouso, pré-competição (uma hora antes) e pré-competição (meia hora antes).

Resultados

Quadro 2. Descrição dos resultados

Atleta 1

Atleta 2

Dia 24/10 às 16h.
Situação: em casa no pé
Medidas: Indicador 25° polegar 21°
Medida da Freqüência cardíaca: 68.

Dia 11/11

Situação: 1h antes da bateria
Medidas: Indicador 27° polegar 30°

Medida da Freqüência cardíaca: 80

1/2h antes da bateria permanecem as mesmas medidas.

Dia 26/10 às 16h.
Situação: Assistindo TV.

Medidas: Indicador 24° polegar 26°
Medida da Freqüência cardíaca: 72

Dia 11/11

Situação: 1h antes da bateria
Medidas: indicador 28° polegar 28°

Medida da Freqüência cardíaca: 85

1/2h antes da bateria permanecem as mesmas medidas.

Conclusão

    Na questão da temperatura corporal dos atletas observamos um aumento em ambos os atletas como também na FC (Quadro 2), no entanto esse aumento nas variáveis não pode ser relacionado à questão da ansiedade, e sim ao próprio aquecimento e ativação corporal para a competição. No caso teríamos um aumento de ansiedade se a temperatura corporal, como na FC, no momento pré-competição, tivesse diminuído muito ou aumentado muito em comparação com a medida da temperatura corporal feita em repouso fora do ambiente de competição. Neste estudo foi possível verificar o perfil de ansiedade do atleta através da temperatura corporal e da FC, servindo de modelo para futuros estudos mais analíticos e controlados utilizando mais instrumentos para investigar assim outras variáveis. Enfim, a partir disso será possível desenvolver técnicas e fundamentos para serem executados, afim de, minimizar os efeitos do estresse que irá desencadear a ansiedade em situações pré-competição.

Referencias

  • ASP (Associação de Surfe Profissional). O livro de regras da ASP, 2008.

  • GOULD, D.; EKLUND, R.C.; JACKSON, S.A. U.S. Olympics wrestling excellence I: mental preparation, precompetitive cognition and affect. The Sport Psychologist, Champaign, v.6, p.358-82, 1992a.

  • _____. 1988 U.S. Olympics wrestling excellence II: thoughts and affect occuring during competition. The Sport Psychologist, Champaign, v.6, p.383-402, 1992b.

  • STEINMAN, J. Surfe e Saúde. Florianópolis, 2003.

  • WEIMBERG, RS; GOULD, D. Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício. Tradução de Maria Cristina Monteiro. 2 edição. Porto alegre: Artmed Editora, 2001.

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