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Estado nutricional de estudantes de uma escola da rede pública de 

ensino da cidade de Santa Maria em diferentes fases da vida escolar

El estado nutricional de los estudiantes de una escuela de la red pública de 

enseñanza de la ciudad de Santa María en diferentes períodos de la vida escolar

 

Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS

(Brasil)

Everton Granato de Leon

Susana Cararo Confortin

José Antônio Franchi Bovolini

Daniela Lopes dos Santos

susycc77@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Objetivo: verificar o estado nutricional de escolares de uma escola pública da cidade de Santa Maria-RS em diferentes faixas etárias. Método: estudo transversal, realizado em uma escola pública do município de Santa Maria, RS, Brasil, em 2009. Foram investigadas 60 crianças, divididos em três grupos (20 indivíduos cada) pela faixa etária (nascidos em 1992, 1995 e 2001). Os escolares foram selecionados aleatoriamente, sendo realizadas medidas antropométricas (massa corporal, estatura e dobras cutâneas) nos que retornaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido assinados pelos responsáveis. Resultados: a média do percentual de gordura dos nascidos em 1992 foi de 20,70 ± 6,51, enquanto nos nascidos em 1995 foi de 16,15 ± 6,35 e os nascidos em 2001 apresentaram média de 20,60 ± 9,04. Há uma prevalência de sobrepeso e obesidade nos indivíduos nascidos em 2001, sendo o percentual de gordura considerado acima dos padrões para sua idade. Os nascidos em 1992 tiveram uma média de IMC de 20,87 ± 2,25, os nascidos em 1995, de 19,90 ± 2,34 e os nascidos em 2001, de 19 ± 4,78, estando estes últimos com IMC acima do considerado ideal para a faixa etária. Conclusões: altas prevalências de sobrepeso e obesidade foram identificadas nos nascidos em 2001, ou seja, os mais jovens do grupo estudado. Conclui-se que medidas de educação em saúde e nutrição para crianças e adolescentes seriam muito bem vindas nas escolas como forma de prevenção da obesidade.

          Unitermos: Estado nutricional. Escolares. Obesidad.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 155, Abril de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A prevalência mundial da obesidade e desnutrição infantil vem apresentando um rápido aumento nas últimas décadas, podendo ser caracterizada como uma verdadeira epidemia mundial. Sendo relevante a avaliação do estado nutricional dos alunos em aulas de Educação Física, pois além de ser uma disciplina que trabalha com a constituição física do corpo e seu desenvolvimento, também envolve questões relacionadas à saúde e qualidade de vida, sendo de fundamental importância este acompanhamento pelo professor na escola (OLIVEIRA e FISBERG, 2003).

    O número de crianças e adolescentes com obesidade está crescendo exponencialmente e há tendência da doença persistir na vida adulta. Há estudos mostrando que cerca de 50% de crianças obesas aos seis meses de idade e cerca de 80% das crianças obesas aos cinco anos de idade permanecerão obesas na adolescência e vida adulta. Além disso, em paralelo à obesidade, apresentam várias doenças crônico-degenerativas como a hipertensão arterial e dislipidemia (ABRANTES et al., 2002; PARENTE et al., 2006). Além da maior taxa de morbi-mortalidade associada a esta condição, há também conseqüências socioeconômicas. Estimativa divulgada pela Organização Mundial de Saúde sugere que os custos diretos e indiretos com atenção a obesidade representam entre 2 a 8 % dos gastos com a saúde (WHO apud TASSITANO, 2009).

    Estudos têm sido destinados a verificar as principais causas desse problema, fazendo levantamentos populacionais e de avaliação nutricional no Brasil. Atualmente, os estudos sobre obesidade e desnutrição têm discutido a necessidade de elaborar métodos eficazes de avaliação nutricional direcionados a cada faixa etária, considerando indivíduos em idade escolar (SIGULEM, 2000). Nesse sentido, há necessidade de estudos envolvendo o crescimento e desenvolvimento de crianças e adolescente. Tal propósito fundamenta-se no estabelecimento de indicadores referenciais que possam contribuir para a monitoração do nível de saúde e qualidade de vida de um segmento populacional (PIRES, 2004).

    Para o diagnóstico do sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes, em estudos populacionais, a antropometria é utilizada por ser um método simples, não dispendioso e não invasivo (EISENSTEIN, 1994; ZEFERINO et al., 2003). As medidas antropométricas mais utilizadas como preditoras da adiposidade são massa corporal, estatura, dobras cutâneas e circunferências. Assim, o objetivo deste estudo foi verificar e comparar o estado nutricional de escolares, nascidos em diferentes épocas da vida escolar, os nascidos em 2001, 1995 e 1992, dos alunos de uma escola estadual de Santa Maria (RS), analisando as diferenças entre as faixas etárias estudada.

Metodologia

    O grupo de estudos foi representado por 60 estudantes da rede pública de ensino, de ambos os sexos, devidamente matriculados no ano de 2009 do município de Santa Maria. Após a autorização da direção da escola, os indivíduos foram informados sobre o estudo e os que se enquadravam em uma das três faixas etárias: os nascidos em 2001, 1995 e 1992, foram convidados a participar. As faixas etárias escolhidas tiveram com intuito mostrar as diferentes fases da vida escolar. Os nascidos em 2001, demonstrando o inicio da vida escolar, os nascidos em 1995 o meio da vida escolar e os nascidos em 1992 o fim da vida escolar, correspondendo aos alunos do 2º ano do ensino fundamental, 7ª série do ensino fundamental e 3º ano do ensino médio. Os sujeitos que concordaram em participar do estudo receberam um “termo de consentimento” que foi preenchido pelos pais ou responsáveis, autorizando o uso de seus dados. Foram agendados encontros com cada sujeito, durante as aulas de Educação Física, para a realização da coleta de dados, que ocorreu na própria escola, em uma sala cedida pela direção, com a participação de 3 pesquisadores devidamente qualificados e na presença do professor responsável pela sala de aula. O grupo de estudos foi formado por 20 sujeitos de ambos os sexos de cada faixa etária prevista no estudo, totalizando 60 escolares.

    Foram coletados dados pessoais, tais como data da avaliação, data de nascimento, sexo, turma, turno, série. A massa e a estatura foram mensuradas, sendo utilizadas para calcular o Índice de Massa Corporal (IMC). A massa corporal que foi mensurada utilizando-se uma balança digital da marca Plenna, com escala de resolução de 100g calibrada antes do início das coletas. Foi utilizado o protocolo proposto por Alvarez e Pavan (2007) considerando a posição ortostática quando o individuo subia na balança, com o mínimo possível de peso extra e descalço. A estatura foi aferida utilizando-se de fita métrica fixada verticalmente na parede com resolução de 0,1 cm. Foi utilizado o protocolo de mensuração proposto por Alvarez e Pavan (2007) no qual o sujeito, descalço ou de meias, com os pés unidos e a cabeça no plano de Frankfurt, mantém contato com a parede com as superfícies posteriores do calcanhar, cintura pélvica, cintura escapular e região occipital, considerando-se uma inspiração máxima do sujeito em duas medidas, adotando-se a média aritmética como medida final.

    As dobras cutâneas tricipital e subscapular foram mensuradas utilizando-se um plicômetro da marca Cescorf, com precisão de 0,1mm. A mensuração de cada dobra foi realizada duas ou três vezes, considerando um erro de 5% para as duas primeiras medidas. Foram considerados a técnica e os pontos anatômicos apresentados por Harrison et al. (1991). Realizou-se o somatório das duas dobras cutâneas e por meio da equação proposta por Slaugghter e Colaboradores (1988) calculou-se o percentual de gordura (%G) da seguinte forma:

    Os dados obtidos foram analisados através de estatística descritiva. Após a análise de normalidade dos dados, foi aplicada uma análise de variância one way (ANOVA) entre os dados obtidos em cada grupo, considerando-se como referência de comparação o ano de nascimento (1992, 1995 e 2001). Adotou-se um nível de significância de 5%.

Resultados

    Foram avaliados o estado nutricional em três faixas etárias de escolares de uma escola pública de Santa Maria-RS através do percentual de gordura e do IMC. Pode-se observar na Tabela 1 que, em relação a média do peso corporal, existe uma diferença significativa na massa corporal entre os alunos nascidos em 1992 e 2001 e entre os nascidos em 1995 e 2001, sendo a maior massa corporal nos nascidos em 1992. Não houve diferença significativa entre as médias de peso corporal dos nascidos em 1992 e 1995.

Tabela 1. Valores de média e desvio-padrão de massa corporal de acordo com a idade

    Na tabela 2 podemos observar a relação de média na variável estatura, na qual houve diferença significativa entre os nascidos em 1992 e 2001, bem como entre os nascidos em 1995 e 2001, mas não houve diferença significativa entre os nascidos em 1992 e 1995.

Tabela 2. Valores de média e desvio-padrão de estatura de acordo com a idade

    Em relação ao percentual de gordura não houve diferença significativa entre as diferentes idades estudadas, o que é um dado preocupante, pois indica que os estudantes nascidos em 2001, estão com o percentual de gordura próximo aos dos alunos que são até 9 anos mais velhos.

    É importante observar na Tabela 3 que a média do percentual de gordura dos nascidos em 2001 (20,60 ± 9,04) é maior do que a dos nascidos em 1995 (16,15 ± 6,35) e praticamente a mesma dos nascidos em 1992 (20,70 ± 6,51). Esse é um dado relevante, pois comprova a prevalência de sobrepeso e obesidade dos indivíduos da faixa etária de 8 anos (nascidos em 2001) indicando que as crianças estão com o percentual de gordura acima do considerado normal para idade.

Tabela 3. Valores de média e desvio-padrão do percentual de gordura por idade

    Na tabela 4 verifica-se que o IMC dos 3 grupos foi muito semelhante, sendo os nascidos em 1992 com 20,87 (± 2,25), os nascidos em 1995 com 19,90 (± 2,34) e os nascidos em 2001 com 19,00 (± 4,78). Essas informações remetem a indicativos de que as crianças nascidas em 2001, que tem, portanto, 8 anos, estão com o percentual de gordura e IMC acima do considerado ideal para a faixa etária e próximos dos nascidos 9 anos antes.

Tabela 4. Valores de média e desvio-padrão do IMC (Índice de Massa Corporal) por idade

    Na Tabela 5 estão apresentadas as prevalências de estado nutricional, segundo classificação de Cole et al. (2000), para as três faixas etárias estudadas, divididas por sexos. Pode-se verificar uma maior tendência de sobrepeso e obesidade nos meninos da faixa etária de 8 anos do que nas meninas e a ausência de obesidade, tanto nos meninos como nas meninas, nas faixas etárias de 14 e 17 anos.

Tabela 5. Prevalências de estado nutricional por gênero e faixas etárias

Discussão

    Os resultados encontrados, mesmo evidenciando baixas prevalências de baixo peso/desnutrição, indicam que o estado nutricional deve ser considerado um elemento importante na saúde dos escolares. Corroborando com os achados de estudos de base populacional brasileira representativo, que indicam queda da desnutrição e tendência secular positiva de estatura entre crianças e adolescentes (ANJOS, 2000; MONTEIRO et al., 1999). Entretanto, o excesso de gordura corporal em alguns estudantes da faixa etária de nascidos em 2001 merece atenção, confirmando a tendência da obesidade infantil. Conforme Gortmaker (apud ABRANTES, 2001) a prevalência de obesidade está crescendo intensamente, na infância e na adolescência, e tende a persistir na vida adulta. Acredita-se que cerca de 50% de crianças obesas aos seis meses de idade e 80% das crianças obesas aos cinco anos de idade, permanecerão obesas.

    A pesquisa realizada por Reis (2004) com escolares da cidade de Blumenau-SC apresentaram valores semelhantes quanto à diferença de massa corporal entre as faixas etárias corroborando com o presente estudo. Entretanto, se analisarmos a massa corporal por faixa etária, o mesmo estudo apresenta valores superiores na faixa etária de 8 anos, e as faixas etárias de 14 e 17 anos apresentam valores inferiores, sendo os valores diferentes dos obtidos nesta pesquisa.

    Estudos realizados por Pires (2004), com escolares de Florianópolis - SC, apresentaram resultados semelhantes em relação a diferença de massa corporal entre as faixas etárias de 14 e 17 anos, corroborando com os achados deste estudo. Enquanto Farias (2005) demonstrou valores semelhantes de peso corporal semelhantes ao nosso estudo apenas na faixa etária dos 14 anos. Diniz (2001) pesquisou com escolares do Município de Ijui - RS e do Município de Sergipe – MA e apresentou valores similares aos deste estudo quanto a massa corporal dos escolares da faixa etária dos 8 anos, com os estudados no Município de Ijui - RS. Por outro lado, comparando-se o peso corporal da mesma faixa etária com os dados obtidos com escolares de Sergipe – MA, os resultados são piores.

    Segundo Malina e Roche (apud LOHMAN, 1987) a análise inter gerações ou mudanças na tendência secular podem revelar aumentos, diminuições ou falta de alterações no tamanho.

    Em relação à média da estatura observada no estudo de Pires (2004) verificou-se uma diferença significativa entre as faixas etárias de 14 e 17 anos, contrapondo aos resultados encontrados neste estudo. Sendo assim, os valores do mesmo estudo analisados separadamente por faixa etária, apresentam valores inferiores de estatura para faixa etária dos 14 anos e valores superiores para faixa etária dos 17 anos. Entretanto Reis (2004) apresenta valores semelhantes aos deste estudo, quanto a média de estatura dos indivíduos e também quanto a diferença entre as faixas etárias, obtendo valores inferiores de estatura paras faixas etárias dos 8 e 14 anos. Anjos (1999) também revelaram valores similares quanto à diferença de estatura entre as faixas etárias.

    No presente estudo, a prevalência de obesidade na faixa etária de 2001 foi maior que a prevalência nas faixas etárias de 1995 e 1992. Esta diferença poderia ser explicada por serem as diferentes fases do ritmo de crescimento normal das crianças e dos adolescentes. Sendo a obesidade infantil uma patologia reconhecida por gerar conseqüências em curto e longo prazo (DAMIANI, 2000), e por ser importante preditor da obesidade adulta (FONSECA, 2001), a prevenção nas primeiras etapas de vida, bem como diagnóstico precoce e efetivo tratamento, são fundamentais para melhoria do prognóstico (BALABAN, 2001).

    A freqüência de sobrepeso e obesidade encontrada nos escolares da faixa etária de 2001 avaliados é elevada e semelhante ao observado no sudeste do Brasil (NEUTZLING, 2000), confirmando a gravidade do problema nas escolas de obesidade.

    Ao relacionar o estado nutricional através da média do percentual de gordura dos indivíduos da faixa etária de 1995 de ambos os sexos com a pesquisa de Farias (2004) observa-se uma expressiva inferioridade nos valores verificados no presente estudo, destacando-se um bom estado nutricional da maioria dos sujeitos da faixa etária de 1995 desta pesquisa. Silva (2005) pesquisou escolares do sexo masculino com idade de 8 anos de uma escola pública de Pouso Alegre-MG, demonstrando que não existe diferença significativa quanto ao percentual de gordura entre os indivíduos, corroborando com os achados deste estudo.

    Em estudo realizado por Vargas (2000) com adolescentes na faixa etária dos 17 anos, os resultados encontrados apresentaram um percentual médio de gordura corporal total de 28,5% (± 7,1) sendo significativamente diferente o presente estudo, o que demonstra o bom estado nutricional dos indivíduos da faixa etária dos 17 anos, da escola estudada.

    O IMC não é totalmente independente da estatura, especialmente em crianças e jovens com idade menor que quinze anos. O IMC reflete tanto a massa do tecido magro quanto a massa de gordura do indivíduo (STOLARCZYK, 2000).

    Os valores médios de IMC do estudo de Reis (2004) diferem em todas as faixas etárias, o que não acontece no presente estudo. Se comparado o IMC por faixa etária com o mesmo estudo, os valores são semelhantes para as faixas etárias de 14 e 17 anos, e diferentes para a faixa etária de 2001, colaborando com essa pesquisa.

    Se compararmos os valores médios do IMC da faixa etária de 8 anos com o estudo de Diniz (2006) os resultados desse estudo são relativamente maiores. O mesmo resultado foi encontrado quando comparado com o estudo de Costa (2006) que realizou sua pesquisa com escolares da rede pública de Santos – SP.

Considerações finais

    De acordo com os resultados encontrados pelo presente estudo, considerando os estudantes avaliados, percebe-se que 20% dos estudantes apresentam excesso de gordura, mas a grande maioria está num nível considerado ideal para o percentual de gordura independente do gênero e da faixa etária. Quanto às variáveis antropométricas, observa-se que a massa corporal e a estatura das faixas etárias de nascidos em 1995 e 1992 apresentam valores semelhantes, não ocorrendo quando comparadas estas faixas etárias com a faixa etária de nascidos em 2001. Sugerem-se novos estudos com um número maior de indivíduos e que o número de faixas etárias seja aumentado considerado nas investigações.

Bibliografia

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