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Reflexões sobre a vivência nos estágios 

supervisionados em Educação Física escolar

Reflexiones sobre la vivencia en las pasantías supervisadas en Educación Física escolar

 

*Acadêmica do Curso de Educação Física Licenciatura

da Universidade Federal de Santa Maria, UFSM

**Professora de Educação Física

Professora do Departamento de Metodologia do Ensino

da Universidade Federal Santa Maria, Mestre em Educação

(Brasil)

Cícera Andréia de Souza*

cissadesouza@yahoo.com.br

Rafaella Righes Machado*

rafaellarighes@hotmail.com

Ângela Bortoli Jahn**

abjahn@terra.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O presente artigo pretende realizar reflexões pautadas em observações registradas durante a realização do Estágio Supervisionado II em Educação Física, no Ensino Fundamental, com o objetivo de socializar as práticas vivenciadas, bem como realizar uma comparação com a atuação no Estágio Supervisionado I, na mesma disciplina, no Ensino Médio. Pensar e repensar sobre a prática docente precisa ser considerado como uma ação de compromisso para com a educação. Consideramos que relatar experiências é também socializar o conhecimento, visando sempre o aperfeiçoamento da atuação profissional.

          Unitermos: Educação. Educação Física. Estágio Supervisionado. Formação de professores.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 155, Abril de 2011. http://www.efdeportes.com/

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"Sem a curiosidade que me move,

que me inquieta, que me insere na busca,

não aprendo nem ensino".

Paulo Freire

Introdução

    Este artigo pretende realizar reflexões pautadas em observações registradas durante a realização de Estágio Supervisionado II em Educação Física, no Ensino Fundamental, com o objetivo de socializar as práticas vivenciadas, bem como realizar uma comparação com a atuação no Estágio Supervisionado I, na mesma disciplina, no Ensino Médio. Esta é uma prática essencial para a atuação do professor, já que a formação acontece constantemente. De acordo com Freire (1996) esse momento de reflexão crítica sobre a prática é um momento fundamental, já que é pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se podem melhorar as próximas práticas.

    Com base nessa compreensão, pensar sobre a prática docente precisa ser considerado como uma ação de compromisso para com a educação. É necessário que haja uma busca constante pelo conhecimento, trata-se de um processo contínuo na formação do professor.

    A educação é permanente não por que certa linha ideológica ou certa posição política ou certo interesse econômico o exijam. A educação é permanente na razão, de um lado, da finitude do ser humano, de outro, da consciência que ele tem de finitude. Mas ainda, pelo fato de, ao longo da história, ter incorporado à sua natureza não apenas saber que vivia, mas saber que sabia e, assim, saber que podia saber mais. A educação e a formação permanente se fundam aí. (FREIRE, 1997 p. 20).

    Sendo assim, torna-se importante desde a formação inicial, o entendimento de que a prática de ser professor exige investigação, pesquisa, reflexão sobre o ensinar e o aprender. Essas práticas fazem parte da docência, é a “dodiscência” 1- docência -discência – que juntamente com a pesquisa tornam-se práticas essenciais à atuação do professor.

    Visando esta busca constante pela formação, é que iniciamos no ano de 2010 o Estágio Supervisionado I, no 1º semestre, e o Estagio II, no 2º semestre, na Disciplina de Educação Física. As disciplinas de Estágio Supervisionado I (Ensino Médio), Estágio Supervisionado II (Ensino Fundamental) e Estágio Supervisionado III (Educação Infantil), fazem parte do currículo do Curso de Educação Física Licenciatura da Universidade Federal de Santa Maria, e são consideradas, por boa parte dos alunos como as fases mais importantes da vida acadêmica. É através dessas práticas docentes que os futuros professores têm as primeiras oportunidades de serem mediadores do conhecimento.

    O Estágio Supervisionado I, ao mesmo tempo em que gerou sentimentos de angústia e insegurança, proporcionou aprendizagens relevantes para o conhecimento da área de intervenção do professor de Educação Física Escolar. Foi o primeiro contato direto como professoras do Ensino Médio.

    Dessa experiência, partimos para o Estágio Supervisionado II, carregando na bagagem os conteúdos, as práticas e teorias aprendidas, até então, no Curso de Educação Física e sabendo, antes de tudo, que um novo desafio nos esperava. Agora, os alunos seriam outros: novas personalidades, histórias de vida, comportamentos, outra comunidade escolar, outros corpos em desenvolvimento, em movimento. E ainda, nós já não éramos mais as mesmas...

Relatando as experiências de Estágio na Educação Física Escolar

    A Educação Física, na condição de componente curricular das escolas, possui princípios comuns para o Ensino Fundamental e Ensino Médio. A inclusão e a diversidade são alguns desses princípios propostos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Sendo assim, no que diz respeito aos objetivos dos conteúdos, ainda que haja objetivos comuns aos dois níveis de ensino, a proposta é de que no Ensino Médio o aluno possa aprofundar os conhecimentos que adquiriu durante o Ensino Fundamental, ou seja, o grau de complexidade dos conteúdos deve ser maior.

    No entanto, na prática, tivemos a oportunidade de observar que muitos professores não possuem uma sequência que aprofunde os conteúdos de Educação Física com o passar dos anos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio.

    No Estágio Supervisionado I, vivenciamos essa realidade, já que introduzimos muitas vezes, por questão de necessidade dos alunos, conteúdos que na verdade deveriam ser aprofundados neste nível de ensino. “Os que já sabem e conhecem o conteúdo proposto não querem voltar e os que não sabem sentem envergonhados” (DARIDO et al, 1999, p. 142).

    É comum também, que escolas com Ensino Médio, trabalhem a Educação Física “por clubes”, ou seja, o aluno escolhe uma modalidade esportiva, por exemplo, e o pratica durante todo o ano, ou se quiser, durante todo o Ensino Médio. No decorrer do Estágio Supervisionado I podemos vivenciar esse tipo de aula, e a impressão que tivemos foi que esta exige um professor e um aluno especializado em determinado esporte, o que facilita a atuação do professor, no entanto vai contra a diversidade proposta pelos PCNs (1998) e os Referenciais Curriculares do Estado do Rio Grande do Sul (2009).

    No Estágio Supervisionado II, teoricamente, os alunos por estarem nas séries finais do Ensino Fundamental, já teriam experiências práticas “de base dos conteúdos”, mas infelizmente como no Estágio Supervisionado I, ocorreram situações onde precisamos introduzir determinado conteúdo de Educação Física. Ainda assim, tivemos mais facilidade, já que ao contrário dos alunos do Ensino Médio, dificilmente ocorreram situações de vergonha de se expor, rejeição a novidades e/ou diferenças individuais significativas.

    Também em se tratando de conteúdos, estes puderam ser mais diversificados no Estágio Supervisionado II, mesmo sendo evidente a resistência de alguns professores e alunos quanto à prática de outras atividades que não fossem o esporte como o conhecem, ou seja, o esporte de rendimento. Percebemos que os alunos do Ensino Fundamental são mais receptíveis às atividades que têm atreladas a si características lúdicas, fato este que pode ser justificado devido a maior homogeneidade dos grupos, tanto no que se refere aos aspectos motores, como sociais.

    No Ensino Médio os alunos estão rodeados por cobranças quanto à inserção no mercado de trabalho, vestibular, novas responsabilidades por estarem atingindo a maioridade, ou seja, estão cercados de incertezas quanto ao seu futuro. Acreditamos que isto tenha prejudicado o andamento das aulas, pois segundo Darido et al (1999), as perspectivas a cerca da Educação Física passam a ficar em segundo plano. A Educação Física sendo no turno oposto das demais disciplinas dificultou ainda mais participação total e/ou empenho dos alunos, pois muitos apresentaram atestados para pedir dispensa das aulas, alegando estarem trabalhando e/ou em cursinhos pré-vestibulares.

    Em uma pesquisa onde se verificou a opinião dos alunos do Ensino Médio, dispensados das aulas de Educação Física, esta constatou que 93% dos alunos dispensados alegaram que, caso a disciplina fosse no mesmo turno das demais, retornariam às aulas (GABINI, 1995 apud DARIDO, 1999). Este fato não foi observado no Ensino Fundamental, pois os alunos dificilmente faltavam às aulas.

    Observamos também, outros aspectos que atrapalharam o andamento das aulas de Educação Física no Ensino Médio: quadras expostas ao clima e falta de sala de aula para a realização das atividades. Fatos estes, que não ocorreram no Estágio do Ensino Fundamental, contribuindo assim, para o êxito da maioria das aulas e para um novo olhar dos alunos sobre as aulas de Educação Física, vista pela maioria até então, como uma disciplina de valor unicamente procedimental.

Considerações finais

    Realizar esta reflexão sobre nossas experiências nos Estágios Supervisionados I e II do Curso de Educação Física Licenciatura, nos familiariza com a área da educação, de modo que estas vivências farão parte da nossa futura atuação profissional. O ser professor ou professora está intimamente relacionado ao ato de refletir “na e sobre a ação, porque desta forma estaremos supervalorizando o saber, o fazer e o porquê fazer, que são fontes do processo de produção de conhecimento” (Krug, 2001).

    Sendo assim, além de ensinarmos conteúdos pertinentes à Educação Física, estivemos sempre aprendendo, entendendo o porquê de determinado procedimento e não de outro, conhecendo características e comportamentos de alunos de faixas etárias diferentes, bem como de classes econômicas e histórias de vidas distintas. Também foi possível conviver com diversos professores, que compartilharam muitas de suas experiências e conhecimentos enquanto professores de Educação Física, contribuindo, dessa forma, com a nossa formação profissional.

    Ao final destas etapas, com a realização dos Estágios Supervisionados I e II, a soma de muitas experiências e vivências nos deu mais segurança e subsídios teórico-práticos para futuras atuações como docentes. Consideramos que relatar experiências é também socializar o conhecimento, visando sempre o aperfeiçoamento da atuação profissional.

Nota

1.     A esse propósito, ver FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia – Saberes necessários á prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996, p.28.

Referências bibliográficas

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