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Trabalho noturno, sono e exercício físico

Trabajo nocturno, sueño y ejercicio físico

 

Acadêmica/o do curso de Educação Física – UEPA

(Brasil)

Marco Aurélio Gomes de Oliveira

oliveira_marcoaurelio@hotmail.com

Ana Caroline Araujo Campos

carole_kampos@hotmail.com

Alessandra Cordeiro Sousa

lekaenf@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O trabalho em turno surge a partir da Revolução Industrial fazendo com que o homem trabalhe por mais tempo e também estendendo essa atividade ao período noturno devido o surgimento da luz elétrica. No entanto, a alternância desse modo de trabalho acaba interferindo no ciclo circadiano do indivíduo e conseqüentemente no seu desempenho físico e cognitivo aumentando as chances de um acidente de trabalho. O exercício físico por sua vez adianta ou atrasa o pico da fase da temperatura corporal que induz o sono. Quando modulado a intensidade, duração e horário dessa atividade, a mesma pode ser utilizada como forma de evitar os efeitos deletérios causados pelo trabalho em turnos, agindo como forma de prevenção dos acidentes de trabalho. Nessa linha, a implementação da Ginástica Laboral para trabalhadores noturnos mostra-se como um ótimo instrumento para minimizar possíveis acidentes em ambiente de trabalho no período noturno.

          Unitermos: Trabalho Noturno, Sono, Exercício Físico, Ritmo Circadiano.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 154, Marzo de 2011. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    O presente estudo aborda o trabalho noturno, as conseqüências do sono no desempenho físico e a utilização de exercícios como forma de minimizar o cansaço físico decorrente dessa atividade profissional. Para tal, foi realizado o método de pesquisa bibliográfica (CARVALHO, 2008) da literatura científica sobre o assunto.

    A sociedade cresce cada vez mais em ritmo acelerado, sempre com novas tecnologias, canteiros de obras e redes de serviços a disposição da população consumidora 24 horas sem parar. Para tal feito, necessita de mão-de-obra que atenda a demanda de serviço e assim intercalam turnos para dar conta das exigências do mercado.

    Reflexo de exorbitantes cargas de trabalho e ambientes laborais desfavoráveis para a prática profissional recai ao corpo e mente. E conseqüentemente a diminuição do desempenho físico causado por um ambiente estressor, afeta a prática profissional e suas funções cotidianas. Uma das causas é a jornada noturna de trabalho e constantes alterações de turno do mesmo (METZNER e FISCHER, 2001; GASPAR, MORENO, MENNA-BARRETO, 1998).

    Embora o exercício físico e o sono aparentem ter mecanismos diferentes de regulação, ambos estão estreitamente correlacionados (ATKINSON e DAVENNE, 2007). Podendo assim, quando bem organizados, serem usados para o melhor desempenho um do outro.

2.     Ritmos biológicos do desempenho físico

    O nosso corpo atua através de ritmos como os batimentos cardíacos, respiração, ciclo menstrual, entre outros. Tais atividades fisiológicas e metabólicas que apresentam uma repetição biológica cíclica são chamadas de ritmos biológicos. Esses ritmos são divididos em três; O Ritmo Ultradiano que possui mais de um ciclo em um período de 20 horas, as secreções hormonais são um exemplo. O Ritmo Circadiano que é associado ao dia solar e tem a duração de 24 horas (4 ± horas) quase todas as variáveis fisiológicas e comportamentais ocorrem nessa ritmicidade e seu principal regulador é o ciclo sono-vigilia. Por último temos o Ritmo Infradiano, cuja sua repetição é superior a 28 horas, são exemplos desse a menstruação e processos reprodutivos sazonais (AIRES, 2009; GARRETT e WILLIAM, 2003).

    Existe uma variação endógena circadiana rítmica dos hormônios que podemos perceber o padrão diurno dos seres humanos por ela. Os corticosteróides que preparam o corpo para a vigília, têm seu nível máximo de secreção ao despertar do individuo, a insulina também possui o seu pico maior de liberação e ação pela parte da manhã e início da tarde. Outros parâmetros fisiológicos que indicam o perfil diurno são a resposta diurética maior de manhã, pico de temperatura corporal ás 17 horas e número máximo de hemácias na quantidade de hemoglobina em torno das 12 horas (AIRES, 2009).

    Em outras palavras, o homem por questões fisiológicas desempenha suas atividades cotidianas melhores ao dia se comparado a noite. Respostas físicas também não são exceções, devido aos ritmos circadianos, podemos observar então picos dos componentes do desempenho físico que ocorrem melhor durante o dia e tem o seu nível mais baixo no período noturno. Alguns deles são os desempenhos psicomotores, atividade motora, flexibilidade articular, força muscular, produção de energia em curto prazo e variação da capacidade aeróbica e anaeróbica (GARRETT e WILLIAM, 2003; MELLO e TUFIK, 2004)

3.     Trabalho noturno

    Fischer (2007) diz que com o advento da lâmpada elétrica em 1879 por Thomas Edison, os hábitos de sono da população modificaram já que a utilização de materiais elétricos e oferta de bens e serviços passaram a ser de 24 horas, fazendo com que a população dormisse mais tarde devido o fato de ter a luz e assim estender as atividades cotidianas, que antes paravam com o por do sol e o cair da escuridão. Com o início da revolução industrial e aumento do sistema capitalista, novas formas de trabalhos surgiram, o que também interferiu no padrão de sono da população que passou a ter mais jornadas de trabalho noturno e grandes jornadas de trabalho. A autora ainda acrescenta dizendo que jornadas como essas alteram o ciclo circadiano do trabalhador, dessa maneira devemos tomar cuidado com atividades laborais semelhantes, pois as interferências do ciclo circadiano do sono podem trazer sérios comprometimentos ao funcionamento cerebral.

    O trabalho noturno apresenta-se nos mais variados setores produtivos de nossa sociedade, sendo aderido frente a uma necessidade de produção e de trabalho continuo que é chamada sociedade 24-h (FISCHER, 2004 apud MELLO 2009). Uma relação de trabalho desse modo necessita do funcionário uma série de adaptações para que os mesmos respondam de forma igual ou semelhante em relação a um trabalho diurno.

    Podemos observar vários problemas relacionados a atividades laborais em uma sociedade 24-h. Dentre os principais, se destaca a fadiga por causa das longas jornadas de trabalho, refletindo assim no aumento de risco de acidentes (DOMINGUES, 2008). Além do fato dos trabalhadores noturnos terem o horário de trabalho desfavorável em relação ao seu nível de desempenho físico que é diurno. E principalmente quando há a manutenção do trabalho por mais de 8 horas, o nível de segurança desses plantões passa a ser comprometido no período noturno (FOLKARD e TUCKER, 2003).

    A tolerância ao trabalho depende das condições que influenciam diretamente a ele. O fato de o indivíduo trabalhar em um período noturno faz com que desempenhe suas tarefas de forma menos eficiente, além de um maior risco de sofrer acidente. E por estar em um ambiente desfavorável as suas condições normais de adaptabilidades fisiológicas, acaba sofrendo por formas estressoras ambientais podendo causar incapacidade funcional precoce, refletindo assim em sua saúde (MORENO, CRC; FISCHER, FM; ROTENBERG, 2003)

    Os estudos realizados na área demonstram que os efeitos do trabalho noturno são déficits de sono, sonolência durante e após o trabalho, altas das taxas de acidentes e outras doenças causadas por questões insalubres, como ambiente ocupacional e organização da jornada de trabalho desfavorável (FISCHER, 2004).

    Por isso vem crescendo o interesse pelo estudo das atividades de trabalho em turno, assim como também os efeitos que elas podem causar no desempenho físico e cognitivo, além de meios para minimizar tais efeitos da longa jornada de trabalho e privação do sono parcial ou total nesse período (RAJARATNAM; ARENDT, 2001).

    Borges et al (2009) utilizando um período de sesta durante o turno da noite de serviço de um grupo de enfermagem observou que os trabalhadores que sestavam durante o turno da noite, apresentavam quadros de menor sonolência se comparado aos que não realizavam a sesta, independente do horário. Resultados semelhantes obtidos por Lovato (2009) demonstraram maior vigília e desempenho cognitivo por parte da amostra quando realizado sesta de 30 minutos à noite. Segundo o pesquisador, um período de cochilo como esse, seria útil para manter um ambiente de trabalho seguro para aqueles em torno dele.

    Outros trabalhos (PURNNEL, 2001; HAYASHI, 1999) com sesta de 20 minutos durante a tarde ou à noite, também indicam aumento da vigília, velocidade das respostas e desempenho. Agindo diretamente na classificação subjetiva de fadiga e contrabalanceando os déficits de desempenho anteriormente apresentados. A amostra descreveu menor sonolência após os exercícios além de sentirem mais dispostos em fazerem algum tipo de exercício físico devido à satisfação após a pesquisa.

4.     Sono e atividade física

    O sono mantém uma linha tênue de relação com a temperatura corporal, ocorrendo devido à diminuição da luminosidade ambiental e liberação da melatonina pela glândula pineal. A melatonina na corrente sanguínea faz com que a temperatura corporal diminua e induza assim ao sono, mecanismo esse controlado pelo núcleo surpaquiasmático localizado no hipotálamo (GEIB et al. 2003; DOUGLAS, 2002). O exercício físico por sua vez, adianta ou atrasa a fase da temperatura corporal, agindo diretamente no sono, sendo determinante também a intensidade e duração desse exercício (BACK et al., 2007 ; MELLO et al., 2005; SANTOS, TUFIK e MELLO, 2007).

    A privação do sono causa efeitos deletérios ao corpo e um trabalhador noturno também sofre por causa dela. No entanto, o exercício físico utilizado durante a privação parcial ou total de sono, acaba agindo de forma ainda não conhecida, protegendo o corpo dos efeitos dessa privação. Mantendo-o em um estado de vigília maior se comparado a indivíduos que não realizam exercícios físicos durante a privação de sono (ANTUNES, 2006; ANTUNES et al., 2008).

    Atualmente em algumas empresas, existe a implementação da Ginástica Laboral (GL), que com exercícios de curta duração tem como objetivo atuar de forma preventiva e terapêutica na saúde do trabalhador. Visando concomitantemente, despertar o corpo do funcionário, reduzir acidentes de trabalho, prevenir doenças, vícios posturais além de proporcionar uma melhor disposição para o trabalho (MILITÃO 2001).

    Moreno E. (2008) aplicou um programa de ginástica laboral em trabalhadores noturno da cidade de Sorocaba com seções de quinze minutos, três vezes por semana, durante três meses no horário das 22h45min. Tendo como resultado que o programa de exercícios físicos associado à GL minimiza os efeitos deletérios do trabalho noturno.

    Corroborando com o assunto, Mello (2000) descreve que indivíduos que praticam exercícios físicos apresentam uma menor incidência de sonolência e padrão de sono de melhor qualidade em comparação aos fisicamente inativos.

5.     Considerações finais

    A questão de ter que realizar uma jornada de trabalho ou qualquer outra atividade relacionada com o cotidiano, muitas vezes se embate na realização do sono que é algo fisiológico. Surge então o interesse pelo máximo desempenho físico e cognitivo com o mínimo padrão de sono ou alternância de horário de realização do mesmo. Alguns utilizam, dependendo do tempo e atividade, uma privação total de sono, outros intercalam períodos de sono e vigília.

    Nesse foco a realização da atividade física, mais especificamente a GL, com o intuito de proporcionar ao trabalhador um labor com menor número de agentes estressores é uma boa opção aos trabalhadores de turnos. Sendo que a Ginástica Laboral Preparatória no início do expediente como forma de despertar o corpo que antes se encontrava em inércia devido o sono é a que mais se adequaria se fosse aplicada durante o período noturno de trabalho.

    No entanto, trabalhadores noturnos não costumam ser privilegiados pela prática da GL, que se apresenta como a melhor opção para minimizar os efeitos do sono, aumentar a temperatura corporal do trabalhador e deixá-lo em um estado de vigília maior. Prevenindo dessa maneira, acidentes causados pela privação parcial de sono.

Referências

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