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Perfil antropométrico e da composição corporal de policiais militares 

de uma companhia pertencente a uma cidade do interior de Minas Gerais

Perfil antropométrico y de composición corporal de policías militares de una compañía de una ciudad del interior de Minas Gerais

 

*Universidade de Volta Redonda, UNIFOA

**Universidade Federal de Viçosa e Faculdades Sudamérica

***Escola Preparatória de Cadetes do Ar - EPCAR
(Brasil)

Mateus de O Braga*

Edna Maria dos Santos*

Maria das Graças Gonçalves Leite*

Wellington Segheto**

Fabrícia Geralda Ferreira***

fafege@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O policial militar, para o pleno exercício de suas funções, possui a prerrogativa e o dever de apresentar níveis de saúde e condicionamento físico adequadamente ajustados à exigente demanda por segurança pública. Sendo assim, o objetivo do presente estudo foi verificar o perfil antropométrico de policias militares da ativa em uma companhia de uma cidade do interior de Minas Gerais. Para tanto, foi selecionada uma amostra composta por 18 indivíduos do sexo masculino, com idades entre 18 e 41 anos (26,9 ± 6,2 anos), submetidos a um processo de avaliação antropométrica, com medidas da massa corporal, estatura, perímetros da cintura e do quadril (cm) e espessura das dobras cutâneas (mm) peitoral, abdominal e coxa. Em seguida foram calculados os valores para Índice de Massa Corporal (IMC), Índice de Relação Cintura Quadril (IRCQ) e %Gordura Corporal. Os resultados foram tratados por meio de estatística descritiva por meio de média, desvio-padrão, mínimo valor e máximo valor. O grupo avaliado apresentou 68,5%, 63,7% e 41,2% de seus integrantes acima dos pontos de corte transversal para os critérios de avaliação da normalidade no % Gordura Corporal, IMC e IRCQ, respectivamente. Considerando a relevância da função do Policial Militar e as exigências características do exercício de suas atribuições deve-se observar que o mesmo precisa apresentar estados de higidez e aptidão física compatíveis e adequadas.

          Unitermos: Perfil antropométrico. Composição corporal. Policiais militares.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 154, Marzo de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A polícia militar, enquanto órgão do Estado, que possui como função promover e garantir a segurança pública tem enfrentado grandes desafios no combate à violência e a criminalidade. Para o exercício de suas funções, o policial militar precisa estar preparado para atender às novas e crescentes demandas que as questões de segurança pública lhe impõem. De modo específico, deve ser munido de recursos técnicos e táticos para intervir em favor da ordem social. Precedendo a toda preparação técnico-tática, deve-se considerar que um nível adequado de higidez e aptidão física, por parte dos indivíduos que servem a essa autarquia, é o gradiente que cria condições ideais para efetiva realização de qualquer intervenção militar.

    Estudiosos dos principais exércitos do mundo são consensuais em perceberem que a melhoria da aptidão física contribui para o aumento da prontidão dos militares para o combate (JACOBINA ET AL 2007). Para Weineck (1990) indivíduos mais aptos têm menor índice de acometimentos por doenças, lesões, possuem maior prontidão para o esforço e maior capacidade de recuperação orgânica pós-esforço. Este perfil requerido para o exército, bem como os benefícios relatados em relação às pessoas com altos níveis de aptidão física, podem ser considerados como desejáveis para policiais militares, entendendo que isto contribui para uma melhor resposta no desempenho das funções diárias com exigência física.

    Freitas, Prado e Santos Silva (2007), destacam que é exigido do policial militar durante o exercício de sua função, permanecer na posição em pé ou caminhando por horas e correr transportando material pesado o que leva, muitas vezes, a uma condição de exaustão. Assim, o policial deve apresentar graus elevados de aptidão física e isso inclui um perfil antropométrico em parâmetros, no mínimo, normais, quanto ao índice de massa corporal, índice de relação cintura-quadril e percentual de gordura corporal.

    A aplicação de procedimentos estatísticos para verificação do padrão de ocorrência de determinadas variáveis antropométricas, como no presente estudo, em relação a um contingente de policiais militares, constitui-se num relevante instrumento de avaliação do nível de higidez. Este tipo de avaliação é um importante indicador, dentre outros, para se identificar a ocorrência de fatores de risco coronariano, do estado atual de aptidão física do indivíduo e de alguns aspectos envolvidos na obtenção de um bom condicionamento físico.

    Sendo assim, o presente estudo teve como objetivo verificar o índice de massa corporal (IMC), o índice de relação cintura-quadril (IRCQ) e o percentual de gordura (%GC) de Policiais Militares de uma Companhia de uma cidade do Interior de Minas Gerais.

Procedimentos metodológicos

Amostra

    Fizeram parte deste estudo 18 policiais militares da ativa, do sexo masculino, com faixa etária de 26,9 ± 6,2, que servem em uma companhia de uma cidade do interior de Minas Gerais.

Procedimentos

    Os voluntários, após convite para participar do estudo, foram esclarecidos quanto aos objetivos e procedimentos do mesmo, assinando um termo de consentimento pós-informado, sendo respeitado todos os princípios éticos para pesquisas com seres humanos.

    A massa corporal total e a estatura foram aferidas utilizando-se uma balança com toesa acoplada, da marca Welmy, com precisão de medida de 100g e capacidade máxima de 150 kg. A cada avaliado, vestindo short, era solicitado subir no centro da plataforma da balança, de costas para a mesma, ereto, com o olhar fixo à frente. A seguir, utilizando-se o estadiômetro acoplado à balança, o mesmo era posicionado sobre o vértex da cabeça do avaliado, sendo a leitura referente à distância compreendida entre a superfície da plataforma e o ponto mais alto da cabeça. Após a mensuração da estatura e massa corporal, calculou-se o IMC dividindo-se o peso corporal total (kg) pela estatura (m) elevada ao quadrado.

    Utilizando-se uma fita antropométrica Cardiomed, foram medidos os perímetros da cintura e do quadril, respectivamente. Na cintura, a medida foi realizada posicionando-se o instrumento no ponto de menor circunferência do abdômen. Na medida do quadril a fita foi posicionada no plano horizontal, sobre o ponto de maior volume muscular (FERNANDES FILHO, 2003). O Índice de Relação Cintura-Quadril (RCQ) foi obtido dividindo-se o perímetro da cintura (cm), pelo perímetro do quadril (cm).

    Para mensuração das dobras cutâneas, utilizou-se um plicômetro científico da marca Cescorf com precisão de medida de 0,1 mm e uma pressão constante da mola de 10g/cm3. Foram mensuradas três dobras (peito, abdômen e coxa), para subseqüente tratamento pelo protocolo de Jackson & Pollock (1978). As dobras cutâneas foram aferidas seguindo as indicações propostas por Fernandes Filho (2003).

Análise dos dados

    O tratamento dos dados foi feito através da estatística descritiva, com os dados sendo apresentados em média (x), desvio-padrão (DP), valores mínimo (Min) e máximo (Máx). Tratamento através de percentil também foi utilizado para verificação do percentual de indivíduos da amostra que se encontraram acima dos pontos de corte transversal considerados para a normalidade nas variáveis estudadas, tornando assim possível verificar a prevalência de fatores de risco como sobrepeso e obesidade.

Resultados

    A tabela 1 apresenta o perfil antropométrico verificado para a amostra de policiais militares. Nota-se, nesta tabela, que os valores médios encontrados para o %GC e IMC estão acima dos pontos de corte transversal para a normalidade estabelecidos na literatura, sendo 15% para %GC (PETROSKI, 2003), e de 25 kg. M2 para o IMC, segundo Jacobina et al (2007).

Tabela 1. Perfil antropométrico de Policiais Militares

    O IRCQ (0,88±0,06) foi avaliado segundo a média de idade, de acordo com o padrão sugerido por Bray e Gray (1988, citados por de JACOBINA et al , 2007) e Freitas, Prado e Santos Silva (2007)). Assim sendo, para a média de idade encontrada neste estudo (26,9±6,2 anos), o grupo amostral está classificado no limite superior da faixa de risco moderado ascendendo a alto risco, evidenciando uma tendência perigosa de acúmulo de gordura no abdômen, constituindo assim risco potencial para a saúde.

    A Tabela 2 apresenta a composição do porcentual para os pontos de corte transversais que representam a faixa de normalidade padronizada para as variáveis estudadas. O valor de referência de 15% para a %GC está posicionado no 31º percentil da distribuição amostral, significando que mais de 68% do grupo avaliado encontra-se acima do padrão desejável para o parâmetro gordura corporal relativa, denotando um estado de sobrepeso ou obesidade. O IMC foi subdividido em dois subgrupos de referência para classificação de sobrepeso (IMC1) e obesidade (IMC2). O IMC1, cujo valor de referência é 25 kg.m-2, ocupa o 36º percentil, e o IMC2, cujo valor de referência é 30 kg.m-2, ocupa o 89º percentil, ou seja, 63,7% da amostra encontram-se na classificação de sobrepeso ou obesidade e 11% são considerados obesos. Seguindo o mesmo raciocínio para o IRCQ, pode-se verificar que, aproximadamente, 41% do grupo avaliado encontram-se na classificação de alto risco para doenças cardíacas tendo o excesso de peso e a obesidade como fatores de risco.

Tabela 2. Valores de referência para normalidade das variáveis % Gordura Corporal, IMC e IRCQ, Percentis relativos

ao grupo avaliado e prevalência de fatores de risco de doenças cardíacas relacionadas a Excesso de Peso e Obesidade

Discussão

    A gordura corporal tem sido largamente usada como indicador de saúde e aptidão física. Salém et al (2004) verificaram a relação dos compartimentos da composição corporal e apontaram que a massa corporal total correlaciona-se negativamente com a corrida e subida na corda e positivamente com o arremesso de peso. A porcentagem de gordura corporal possui correlação negativa com exercícios de suspensão na barra, corrida e subida na corda. A massa de gordura possui correlação negativa com a corrida e por sua vez foi verificado que indivíduos com maiores valores de massa corporal total e massa muscular alcançaram resultados acima da média em todos os testes aplicados no referido estudo.

    Souza-e-Sá Junior et al (2007), a partir de uma amostra cujo critério de exclusão foi IMC < 28 kg.m-2, encontrando IRCQ (0,93±0,05) e % gordura (24,9±4,2), avaliaram as relações entre o IMC e indicadores bioquímicos de risco coronariano e verificaram um aumento na prevalência de hipercolesterolemia, HDL-c < 40mg.dl-1, glicemia de Jejum ≥100mg.dl-1 e hipertensão arterial referida. Estes autores também verificaram uma diminuição dos mesmos indicadores de risco coronariano associados a incrementos na atividade física semanal e aumentos da taxa metabólica de repouso.

    Freitas, Prado e Santos Silva (2007) verificaram níveis de % gordura corporal inadequados em grupo de policiais militares no município de Aracaju / SE; esse grupo apresentou desempenho inadequado nas avaliações de mensuração do VO2máx, concluindo haver forte associação entre a quantidade de gordura corporal e o desempenho em atividades de endurance de alta intensidade. Do mesmo modo, Salém et al (2004) encontrou correlação negativa entre o componente massa gorda e o desempenho em testes de aptidão física. Do contrário, valores acima da média para massa corporal total, massa corporal magra, massa muscular e mesomorfia relacionam-se a resultados acima da média nas provas físicas analisadas.

    Em estudo de Jacobina et al (2007), os indicadores antropométricos foram avaliados distintamente em grupos que diferiam em patente militar, tempo de carreira e idade (Grupo 1 Cadetes, n=58, 22,26±1,22 anos; Grupo 2 Capitães, n=60, 30,55±1,36 anos; Grupo 3 Majores e Tenentes-coronéis, n=62, 38,48±2,08 anos). Os resultados apontaram para um aumento do peso corporal total, IMC, IRCQ e %GC (Grupo 1: 72,85±7,74kg, 23,38±1,96kg.m-2, 0,85±0,35, 9,94±3,37%, respectivamente; Grupo 2: 82±10,89kg, 26,71±2,76 kg.m-2, 0,87±0,45, 18,23±4,99%, respectivamente, e, Grupo 3: 80,86±10,77kg, 26,64±2,99 kg.m-2, 0,93±0,39, 21,70±4,88%, respectivamente). O grupo mais jovem obteve média abaixo de 25 kg.m-2. Os dados foram cruzados com os resultados do teste de aptidão física do exército (TAF), realizados com os mesmos grupos e, percebeu-se queda no desempenho, considerada discreta para uma amostra de indivíduos ativos fisicamente, em função da idade e das alterações antropométricas também associadas.

    Já em estudo realizado com o Corpo de Bombeiros do Estado de Santa Catarina, Boldori (2002) verificou acentuada queda dos componentes da aptidão física em função do processo de envelhecimento, ao mesmo tempo, observou um incremento significativo no percentual de gordura ao comparar grupos etários jovens (20-29,9 anos) e mais velhos (40-50 anos). Todavia, os resultados dos testes de aptidão revelaram que 33,7% do contingente avaliado necessitava melhorar sua condição física. Não foi observado nenhum caso de condição de risco à saúde pela baixa aptidão. Da mesma forma, verificou-se que os indivíduos com melhores escores nos testes de aptidão física apresentam índices de capacidade de trabalho maiores.

    Assim os achados do presente estudo são semelhantes, em termos de perfil, aos resultados de outros estudos que investigaram as correlações e associações existentes entre os indicadores antropométricos e níveis de higidez, aptidão física e prevalência de fatores de risco para doenças cardíacas (SOUZA-E-SÁ JUNIOR et al, 2007; FREITAS, PRADOS e SANTOS SILVA, 2007; JACOBINA et al 2007; NEVES & DUARTE, 2005; SALÉM et al, 2004). Todos esses estudos citados foram realizados com grupos ativos de Policias Militares ou integrantes do Exército Brasileiro.

    No delineamento do presente estudo, não foram coletados dados acerca da condição física dos policiais militares quanto a resistência aeróbia e muscular, força muscular e flexibilidade. Todavia, por indução dos resultados encontrados em estudos anteriores, há uma possibilidade real de que existam carências no condicionamento físico do grupo em questão. Diante disso, deve ser considerado todo o processo de preparação, treinamento e capacitação do universo de policiais militares que atuam na cidade avaliada, tanto a parte nutricional quanto a prescrição e execução de programas de treinamento físico.

    Os resultados do presente estudo refletem certa preocupação quanto ao contingente de policial de uma cidade do interior de Minas Gerais, pois o policial militar possui a honrosa missão de defender a sociedade, através do policiamento ostensivo e preventivo, mesmo com risco da própria vida. Nota-se a necessidade do policial militar apresentar um estado de higidez e aptidão física para o bom desempenho dos seus serviços, além de uma excelente formação técnica especial.

Considerações finais

    Percebe-se na literatura científica que a aplicação de protocolos de %GC, IMC e IRCQ como preditores de risco para várias doenças, estado de saúde e nível de aptidão física é efetiva e recomendável.

    Os resultados, do presente estudo, apontam a necessidade de revisão das rotinas diárias dos policiais militares da cidade estudada quanto a hábitos nutricionais e nível de atividade física diária e/ou treinamento físico semanal, tendo em vista o fato de que a maior parte do grupo avaliado encontra-se fora dos padrões antropométricos desejáveis e compatíveis com a boa saúde.

    Sugere-se que sejam implementados novos estudos com delineamentos mais abrangentes, quanto ao tamanho da amostra, aplicando-se testes de aptidão física a fim de permitir verificar as relações com o desempenho físico e à saúde anteriormente discutidas, no contexto da Policia Militar.

    A maioria dos indivíduos deste estudo foram classificados com %GC acima do padrão desejável para a faixa etária, sendo os mesmos classificados no limite superior de risco moderado para a saúde.

Referências bibliográficas

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