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O corpo como instrumento de representação da sexualidade e das 

diferenças de gênero nas turmas do PIBID / Educação Física 

em uma escola pública da cidade de Santa Maria, RS

El cuerpo como instrumento de representación de la sexualidad y de las diferencias de género

en las clases de PIBID / Educación Física en una escuela pública de la ciudad de Santa María, RS

 

Curso de Educação Física

Licenciatura da Universidade Federal de Santa Maria

do Estado do Rio Grande do Sul, UFSM

(Brasil)

Michele Ziegler de Mattos

Adriano Tusi Barcelos

Cristian Leandro Lopes da Rosa

Thiego Martins Messina

michelecefd@ibest.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Considerando a importância atribuída as discussões existentes no espaço escolar sobre gênero e sexualidade, temos como objetivo deste estudo a caracterização de como é a representação do corpo pelos alunos participantes do Pibid / Educação Física que se justifica muitas vezes pela aparência ou forma física.

Participaram do estudo os alunos do PIBID/Educação Física de uma escola pública da cidade de Santa Maria.

          Unitermos: Relação de meninos e meninas. Gênero e sexualidade. Representação do corpo.

 

Abstract

          Considering the importance given existing discussions in school about sex and sexuality, we aim to study the characterization of how the body is the representation by students participating in Pibid / Physical Education which often justifies the appearance or physical form. The study included students PIBID / Physical Education from a public school in Santa Maria.

          Keywords: Relation of boys and girls. Sex and sexuality. Body’s representation.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 154, Marzo de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Sabemos que o gênero não marca apenas diferenças nas relações entre meninos e meninas, homens e mulheres, mas imprime sobre os corpos, modos de ser, comportamentos e atitudes que se traduzem em desigualdades.

    A partir desse olhar, o estudo se propõe a diagnosticar como é a representação do corpo pelos alunos do Pibid / Educação Física em uma escola pública de Santa Maria e se essa escola participa de debates que tratam desses assuntos, na tentativa de minimizar preconceitos que possam existir no meio escolar.

    Este estudo se propôs a debater o tema, a partir da observação das aulas realizadas no projeto desenvolvido na escola. O Pibid / Educação Física, através das práticas pedagógicas, verificou que em várias modalidades esportivas desenvolvidas pelo projeto, o interesse de meninos e meninas são parecidos, ou seja, muitas meninas apresentavam interesse pelo futebol e muitos meninos pela prática de alguma modalidade considerada pela sociedade como que historicamente praticadas por um número bem mais expressivo de meninas, como por exemplo, as aulas de dança.

    Por se entender que a escola em que foi feito o estudo possuí estudantes de classe média baixa e está situada em uma comunidade carente de Santa Maria, a busca na comunidade escolar é para com as soluções das dificuldades de aprendizagem, de frequência e de permanência, planejamento interdisciplinar e contextualizado, prevenção ao uso de drogas e orientação para a sexualidade responsável, todos esses aspectos são desenvolvidos permanentemente, durante as aulas, através de orientação Educacional e/ou promoção de palestras, seções de vídeo, pesquisas e debates, e essa maneira de desenvolver estes aspectos podem ser utilizados também para uma compreensão melhor dos alunos sobre gênero e sexualidade, para tentar romper os preconceitos que ainda existem quanto a este tema, muitas vezes pela falta de informações, de conhecimento da comunidade.

    Nesse contexto de debates sobre gênero e sexualidade, citamos também o corpo canônico, ou seja, aquele tido e apresentado como desejável nos meios de comunicação, e que representa muitas vezes o que chamamos de corpo ideal, marcado pelo culto a boa forma física, no qual está representado nos espaços escolares principalmente através do universo feminino. O corpo ideal para a maioria das meninas, antes de ser belo, deve ser sinônimo de magro, saudável, onde a aparência e a forma física prevalecem. Nas aulas observadas durante o desenvolvimento do projeto Pibid/Educação Física na escola estudada, notou-se que as meninas consideravam importante o que era apresentado na mídia, e consideravam ainda, que a mídia é um instrumento forte para introduzir a moda atual dentro dos espaços escolares. E isso era comprovado através da forma como as meninas se vestiam para a prática das atividades. A mídia ao transmitir informações e posicionamentos, embora definidos por interesses de mercado e audiência, contribui ao despertar curiosidades, mostrando novas situações e outras realidades, e nesse sentido o PIBID/Educação Física admite apropriar-se das mídias e meios de comunicação para aprimorar o processo de ensino aprendizagem, através de temas pertinentes de como o corpo é visto pela sociedade e representado.

    O projeto Pibid/ Educação Física sempre procurou observar o que acontece nos meios de comunicação para questioná-lo na sala de aula, discutindo-o com os alunos, ajudando-os a que percebam os aspectos positivos e negativos das abordagens sobre cada assunto. Desde 1996, através dos Parâmetros Curriculares Nacionais, que intensificou o debate sobre o tema Gênero e Sexualidade, o assunto passou a ser considerado um Tema Transversal, ou seja, deverá ser tratado dentro da programação, através de conteúdos transversais nas diferentes áreas do currículo. (RIBEIRO, C.R.). No nosso caso, por se tratar de aulas de Educação Física, os debates e questionamentos surgiram a partir da própria prática e dos problemas enfrentados que surgiram durante o desenvolvimento da aula, eram discutidos com o grupo na tentativa de solucioná-los.

    Quando os professores do projeto perceberam a dificuldade dos alunos em dar as mãos nas aulas de dança, e da imagem que o corpo poderia representar ao ato de movimentar-se através da dança, procuramos discutir durante as aulas, as questões corpo, gênero e sexualidade. Percebeu-se que os meninos, apesar de estarem em menor número em relação às meninas, tinham grande interesse em aprender a dança, entretanto, o ato de aprender a dançar só era considerado viável quando estes utilizavam o corpo como um instrumento social, mas individualizado. No momento em que o corpo não representou apenas um ser individualizado e passou a interagir com os outros corpos, podendo ser tocado, houve repulsa entre eles. Isso foi representado quando os mesmos passaram a dançar em duplas, e não mais sozinhos.

    Ainda, observou-se que o mesmo acontecia nas aulas de futsal, porém de forma positiva, onde as meninas que gostavam de participar das aulas de futsal recebiam o apoio dos meninos da turma. Como professores da escola, ficamos surpresos, pois, a própria modalidade esportiva, que é através da mídia repassada e também foi construída culturalmente desse modo tornou- se quase que exclusivamente, destinada apenas aos homens.

    Ao discutir como se vem pensando o corpo, especialmente seu estudo nas práticas escolares, Souza coloca que,

    A escola, uma das instituições responsáveis pela transmissão e generalização do conhecimento e do sujeito científicos na sociedade, vem tendo como referencia os conhecimentos biológicos e médicos no ensino do corpo. Desse ponto de vista, a educação escolarizada tem restringindo os processos de ensino aprendizagem sobre o corpo aos conteúdos e metodologias propostas no ensino de ciências ou nas aulas de educação física (2008b, p.31).

    As questões de corpo, gênero e sexualidade, que queremos abordar nesse estudo, é um debate da atualidade, porém é um assunto que está há muito tempo dentro dos espaços escolares, porém, esse tema era desconsiderado antigamente. O filme Billy Elliot (2000) trabalha bastante as questões de gênero e sexualidade, o filme trata do interesse de um menino que lutava boxe, que com o passar do tempo acaba conhecendo e gostando da dança, mais precisamente o balé, e a partir daí, o garoto enfrenta diversas dificuldades, desde preconceitos dentro de casa, como preconceitos da sociedade, por fim, o filme transmite a lição de que não importa o sexo, a dança deve ser para todos, tenta romper com esse preconceito que existe com o homem que dança, mostrando que todos têm direito de vivenciar o que gosta e o quer. Isso é algo que foi imposto pela sociedade, de que o homem deve ser contido na expressão de seus sentimentos. Como relatado anteriormente, o fato de que o homem deve ser contido ao expressar suas emoções, pode ser determinante nas ações e atitudes dos alunos em idade escolar e podem interferir no aprendizado. Através das atividades desenvolvidas durante o projeto, conseguimos observar a dificuldade dos meninos em participar de certas modalidades, pensando no que os outros iriam dizer.

    Para Stake (1983, p.5-14), o estudo de caso tem como preocupação (...) retratar naturalmente a realidade do fenômeno educacional. O presente estudo teve por objetivo a caracterização de como é a representação do corpo pelos alunos participantes do Pibid/ Educação Física que se justifica muitas vezes pela aparência ou forma física para perceber o perfil dos alunos participantes do projeto, qual é a aceitação que os alunos têm do próprio corpo, e como é a relação entre meninas e meninos que participaram do projeto na escola estudada.

Caminhos metodológicos

    A população estudada foi formada por crianças de idades entre 12 e 17 anos, de ambos os sexos, estudantes do Ensino Fundamental e do Ensino Médio de uma escola pública da cidade de Santa Maria-Rio Grande do Sul.

    Inicialmente todas as turmas participantes do Pibid/Educação Física foram observadas, totalizando 6 turmas, assim como todos os estudantes da escola estudada que participaram do projeto Pibid/ Educação Física.

    Caracteriza-se por um estudo de caso na perspectiva qualitativa com observação simples in loco com o intuito de perceber a relação entre meninos e meninas durante as aulas realizadas pelo projeto Pibid / Educação Física e se os problemas relacionados á Gênero e Sexualidade surgiam dos próprios alunos ou de uma imposição inicial, mesmo que involuntária dos professores responsáveis em ministrar as aulas do projeto.

Resultados

    Apesar dos inúmeros avanços e transformações pelas quais a sociedade vem passando nas últimas décadas, as relações entre mulheres e homens mantêm uma grande assimetria. Essa diferença se manifesta também no interior da escola. A escola, por sua vez, reflete o sexismo que trespassa toda a sociedade, reproduzindo, com frequência, as estruturas sociais e reforçando os preconceitos e privilégios de um sexo sobre o outro e colaborando para a construção da identidade sexual das meninas e dos meninos. É preciso que meninas e meninos percebam que suas condutas não tenham nada a ver com capacidades inatas, nem naturais, mas que tenham sido construídas socialmente e reproduzam os modelos de conduta existentes.

    Constatou-se através da observação das turmas, que as meninas parecem sofrer mais influência da mídia, quando se fala na representação que o corpo pode assumir, ao se tratar de corpo ideal. E que durante as aulas do projeto, notou-se que as meninas sempre participaram das aulas bem arrumadas, bem ajeitadas, não se preocupavam com a roupa adequada para a prática de Educação Física, mas preocupadas com sua auto-estima, com a beleza, elas queriam passar a imagem de mais velhas, em relação à idade que elas possuíam e desejavam também que a imagem delas fosse notada pelos meninos, ou seja, nem sempre a preocupação das meninas estava no aprendizado do conteúdo, mas sim no momento da aula que elas seriam notadas pelos meninos, a aparência era muito mais importante que o ato de aprender determinados conteúdos.

    Além disso, a escola precisa discutir formas de ensinar os conteúdos, de forma a não reforçar o sexismo, entre os alunos. Os professores que ministraram as aulas durante o projeto tentaram reduzir essas manifestações preconceituosas dentro do espaço escolar de gênero e sexualidade, e apesar de se tratar de uma automatização muito presente, onde os professores muitas vezes entregam a bola de futsal para os meninos e convidam apenas as meninas para as aulas de dança, verificou-se que toda a ação de transformação dessas diferenças entre os sexos, apesar das dificuldades, foi bem aceita pelos alunos.

    Enfim, o estudo demonstrou que o corpo pode apesar de ser individualizado, ser principalmente social, e essa interação existente entre os alunos que se representou nesse estudo pelo ato de dar as mãos em uma aula de dança, só passou de individualizado para social a partir da insistência dos professores em se discutir o tema. As primeiras intervenções do Pibid/ Educação Física na escola estudada contribuíram para aproximar os meninos e as meninas, que passaram a participar de várias modalidades em conjunto e também de expressar as vontades contidas, ou seja, os meninos que tinham vontade de dançar ou de fazer modalidades como voleibol, considerado um esporte historicamente mais feminino do que masculino, do ponto de vista da sociedade, estão cada vez mais assumindo a vontade de aprender a modalidade, assim como as meninas que participam do projeto, que estão cada vez mais presentes nas aulas de futsal.

    Verificou-se também que as diferenças de gênero e sexualidade surgem dos alunos e também dos professores, mas que os professores ainda não conseguem perceber que promovem o sexismo, quando organizam a distribuição das atividades, o que nos faz pensar que para mudar as atitudes sexistas presentes na sociedade e enraizadas na escola, professores deverão explicitar as desigualdades de gênero para permitir a transformação dessas concepções e comportamentos sociais presentes nos alunos.

Discussão

    O Estudo de caso permite ao pesquisador que, gradativamente, vá chegando mais perto da compreensão da realidade do grupo que será estudado, podendo esse contato variar dependendo da situação a ser vivenciada, dos objetivos da pesquisa, do tempo e da experiência do pesquisador em trabalho de campo, da aceitação do grupo e do número de pessoas envolvidas nas observações (André, 1995).

    Também Lucena Dall’Alba (2006), afirma que as identidades sexuais e de gênero são socialmente construídas, isso implica pensar que elas não são “naturalmente” dadas, nem essenciais. Diferentes culturas constituem de maneiras diversas, o sentido das práticas sexuais e de gênero assim como os sujeitos e seus lugares sociais.

    Ao fazer uso dessa afirmação, queremos dizer que os resultados encontrados através das observações realizadas são características próprias da região Norte da cidade de Santa Maria, especificamente da escola onde as os dados foram coletados, o que não justifica que em outra escola os mesmos problemas possam ser encontrados.

    Apesar de alguns professores ainda não perceberem que mesmo em um ato despercebido, promove-se a desigualdade entre meninos e meninas, seja na distribuição das atividades ou mesmo na distribuição dos grupos nas aulas de Educação Física, talvez seja mais produtivo para nós, educadoras e educadores, deixar de considerar toda essa diversidade de sujeitos e de práticas como um "problema" e passar a pensá-la como constituinte do nosso tempo.

    Esse sexismo ainda é muito comum nas escolas, mas como LOURO (2003) diz que isso já vem há muito tempo, pois as mulheres não tinham direitos na sociedade, mas ao passar do tempo essa opressão foi diminuindo, mas a marcas do passado permaneceram.

    “A escola que nos foi legada pela sociedade ocidental moderna começou por separar adultos de crianças, católicos de protestantes. Ela também se fez diferente para os ricos e para os pobres, e ela imediatamente separou os meninos das meninas” (LOURO, 2003, p-57)

    Muitas vezes, mesmo não querendo ser preconceituosa, a escola é, e este preconceito interfere diretamente na educação dos alunos, prejudicando assim, a liberdade de expressão destes, e reprimindo as potencialidades dos alunos.

    Louro (2003, p-58) diz que a escola delimita espaços, o que cada um pode e não pode fazer, o lugar dos meninos e das meninas.

    Dornelles e Wenetz (2010) falam que o corpo torna-se lugar de identidade e de sexualidade. A sexualidade não só constitui uma escolha pessoal, mas também é uma questão social e política.

    O esporte e a dança, enquanto conteúdos da educação física, durante muito tempo adotaram/adotam instrumentos de diferenciação e hierarquização dos sexos a partir de suas práticas.A educação física pode assumir um papel importante quando problematiza permanentemente em seus conteúdos o corpo e os lugares, espaços, gestos, ações e sentimentos que meninos e meninas, homens e mulheres, professores e professoras, atletas produzem nos contextos da vida social. Para tanto, cabe à educação física em seus conteúdos, desmistificar saberes, poderes, conhecimentos e situações socialmente construídos que impedem a inclusão daqueles/as que não se enquadram nos padrões de homens, brancos, heterossexuais, adultos e de classe média (SAYÃO, 2002 apud FURLAN; SANTOS 2010 p.8).

    Louro (2007) apud Furlan e Santos (2010) No caso da educação física, é importante pensar o papel dos professores na problematização e vivência das questões de gênero, na prática pedagógica, junto aos seus alunos, estando nesse sentido, esclarecidos sobre o assunto.

    Furlan e Santos (2010) falam que a separação entre meninos e meninas ainda permanecem, principalmente na aula prática, as diferenças físicas entre os sexos é considerado por muitos professores, eles explicam que uma aula mista prejudicaria o andamento das aulas, pela fragilidade das meninas, ou pelo medo em que elas se machuquem, mas é importante ressaltar que essa separação de gêneros vem perdendo a força ano após ano e os professores vêm percebendo que as aulas mistas ajudam no desenvolvimento da solidariedade, gerando um melhor entendimento da construção social das diferenças de gênero pela tolerância de ambos os sexos.

Referências

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