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Ballet, ensino e tradição. Pensando sobre 

o ensino do ballet para crianças pequenas

Ballet, enseñanza y tradición. Pensando la enseñanza del ballet para niños pequeños

 

Graduada em Educação Física e pós graduada

em Arte, Corpo e Educação pela UFRGS

(Brasil)

Samanta Bueno Medina

prof.samantabailarina@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Cada vez mais, crianças em tenra idade iniciam sua prática no ballet. Como educadora física e professora de ballet, preocupa-me como e o que ensinar a essas crianças a fim de proporcionar uma formação integral e não ocasionar uma especialização precoce. Algumas propostas tem sido elaboradas, mas ainda pouco difundidas. Pode-se inferir que há um novo caminho que precisa se expandir, a fim de ampliar o conhecimento e melhorar a forma do processo ensino-aprendizagem do ballet para crianças. Embora todos estejam começando a se encontrar no dialogo da pluralidade do desenvolvimento, ainda é lento o processo de desapego da reprodução da aula tradicional e da ilusão de que a simples inserção da brincadeira é capaz de torná-la adaptada às crianças.

          Unitermos: Ballet. Educação. Metodologia.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 154, Marzo de 2011. http://www.efdeportes.com/

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    Como professora de ballet, sempre me questionei sobre o que, porque e como ensinar a seres tão pequenos uma arte tão complexa. Pode parecer dúvida de iniciante e inexperiente, mas quanto mais contato com as crianças, mais me questionava sobre suas reais necessidades.

    Tanto na escola infantil que oferece o ballet extra- curricularmente quanto na academia de dança, encontramos algumas barreiras iniciais: 1° sabemos que muitas das crianças que ali estão foram incitadas por seus pais, e por isso não sabemos o quanto realmente elas desejam a prática; 2° o ballet é para elas e deve ser, levando em consideração todas as teorias educacionais atuais, até os 8 anos uma brincadeira, porém isso torna difícil ensiná-lo como tradicionalmente foi aprendido.

    A 3° possível barreira é a comum expectativa de que o ballet disciplina. Muitos pais colocam suas filhas no ballet para que sejam disciplinadas e graciosas. Porém, lidamos com novos padrões de educação que também divergem das tradicionais e rígidas formas de ensinar ballet.

    Sabemos que muitos professoras prezam pela forma tradicional de ensino e, na minha opinião, “sacrificam” as crianças à rígida reprodução da técnica e de seu modo de aprendizado desprezando o que eu considero ser um dos porquês de se ensinar ballet: outros conhecimentos (vivencias corporais) que a criança deve obter na sua infância. E sei que aqui, alguns podem me questionar dizendo que esses outros conhecimentos o professor de educação física deve passar. Defendo minha idéia de duas formas: o que nós somos se não educadores físicos da prática da dança- especificamente o ballet? e, muitas dessas crianças, possivelmente mais da metade, só terão o ballet como prática nos 7 primeiros anos de vida o que nos incumbe de auxiliá-las para que tenham uma formação motora, cognitiva e social o mais saudável possível.

    O que pretendo tratar nesse artigo é que o fato de que venho percebendo ao longo da minha prática necessidades de adequações didáticas e metodológicas para o ensino do ballet para crianças acompanhando os estudos mais recentes na área do desenvolvimento cognitivo, motor e sócio-afetivo do ser humano, especialmente aqueles que ressaltam as diferenças entre crianças e adultos.

    Apanhando o que temos, sabemos que o ensino do ballet clássico se faz geralmente, baseado em métodos técnicos desenvolvidos e reproduzidos de acordo com a tradição. Esses métodos ou escolas, Vaganova, Cubano, Royal, entre outros, foram estruturados inicialmente para o ensino a partir dos 7 anos. Além disso, são métodos de pouco acesso aos professores que não pertencem a uma escola vinculada a um desses métodos, muito comum de serem encontrados no trabalho nas escolas de educação infantil, geralmente com baixa prática em ballet, com envolvimento com dança ou educação física e que sabemos que assim chamam a aula pelo valor culturalmente estabelecido a essa prática.

    Segundo Bertoni (1992), a criança já apresenta desde cedo condições anatômicas e psico-sociais para a prática da dança, porém devem ser observadas as limitações que a idade impõe.

    Percebo que, ao saber disso, pais e professores se afobam em iniciar as crianças e assim, correm o risco de uma potencial especialização precoce e também do desestímulo das crianças pela atividade logo nos primeiros anos de prática. Como uma educadora física, não posso deixar de ressaltar a importância dos professores que atuam com a educação infantil, pois serão responsáveis por boa parte do desenvolvimento motor, afetivo e cognitivo dessas crianças.

    Sendo assim, Fachada (2005) salienta que as principais implicações da dança para crianças se dão na formação do entendimento do esquema corporal, entendendo-se que esquema corporal é construído pela integração de tudo que o ser humano apresenta e pode ser trabalhado. Para isso, a professora deve propor “exercícios pertinentes” a fim de auxiliar na construção do esquema corporal da criança. Levando em consideração algumas linhas psicomotoras, isso significa representar, organizar e orientar de forma analítica (destrezas corporais) e sintética (imaginação, dramatização, construção de personagens) (Fachada,p.148). É também necessário desenvolver trabalhos que visem à formação da imagem corporal, que são as impressões do sujeito a partir de seus desejos, baseando-se nas experiências sensoriais, nas relações com as outras pessoas e na imagem que se estrutura no convívio com seus familiares. Ela finaliza dizendo

    ...Se o corpo for considerado apenas uma máquina de nervos e músculos que aprende o que lhe é ensinado, serão utilizadas técnicas e receitas padronizadas (...) A dança corre o risco de robotizar a criança (...) mas também pode se tornar um veículo de transformação, auxiliando o sujeito a ter desejos para poder fazer, saber fazer (...) construindo imagens com significado (p.150)

    Deve-se então ressaltar a importância do trabalho que é feito com as crianças nesse âmbito, pois não há um consenso de como se deve ensinar o ballet para crianças entre 3 e 8 anos de idade. Com base em Damásio (2000) e Aragão (s.d.) reforço a importância da escolha da metodologia que utilizaremos para ensinar as bailarinas, especialmente às crianças pequenas. Como se sabe, dar aula é um caminho quase natural no início da vida profissional do bailarino, pelo menos no Brasil. Professores iniciantes eram procurados para realizar essa função, como se pouca maturidade artística e pedagógica não fosse relevante em se tratando de um trabalho com crianças (Damásio, 2000). O que acontece, são aulas conduzidas como recreação ou expressão baseadas na reprodução do movimento através da imitação e repetição de gestos técnicos.

    Damásio (2000) diz que a arte da dança está em um momento ótimo de produção e discussão, mas que ainda é pouca a discussão sobre o ensino da dança, como ele se dá, o que privilegiar e o que faz o professor de dança. Aragão (s.d.) destaca que após estudar métodos de dança e lecionar muito chegou à conclusão de que o fator determinante para o êxito de um professor está na metodologia, independente do método ou escola adotada.

    Fachada (2005) questiona: “[...] temos consciência de que somos responsáveis pelas marcas positivas e /ou negativas deixadas em nossas crianças durante a formação do corpo- sujeito, no ensino da dança?”(p. 145) E eu pergunto mais: temos noção de que podemos contribuir ou não para formar um corpo-sujeito consciente? Concordo com Fachada (2005) quando a autora ressalta que “[...] um corpo na dança não pode ser visto somente como veículo de transmissão de uma linguagem, pois esse corpo possui um passado e desejos futuros.” (p.147)

    Algumas propostas têm sido elaboradas, mas ainda são pouco difundidas. Embora ainda seja lento o processo de desapego da simples reprodução da aula tradicional, todos começam a se encontrar no diálogo da pluralidade do desenvolvimento. Com esse artigo pretendo incitar a abertura de um espaço para essa discussão, tão necessária e que parece estar começando a instigar professoras de ballet de crianças, entrando em um novo patamar no ensino do ballet, desejando buscar a informação e a troca para contemplarmos cada vez melhor nossas crianças.

Bibliografia

  • ARAGÃO, V. Reflexões sobre o ensino do balé clássico. In PEREIRA, Roberto e SOTER, Sílvia (org.). Lições de dança 1. UniverCidade Editora, s.d.p.149-158.

  • BERTONI, I. A dança e a evolução; O ballet e seu contexto histórico; Programação didática. São Paulo: Tanz do Brasil, 1992.

  • DAMASIO, C. A dança para crianças. In: PEREIRA, R. e SOTER, S. (org). Lições de dança 2. Rio de Janeiro, UniverCidade, 2000.

  • FACHADA, R. Implicações do pensamento corpóreo na formação do esquema e da imagem corporal da criança na dança. In PEREIRA, Roberto (org.). Lições de dança 5. UniverCidade Editora, 2005. p. 143-150.

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