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A organização temporal relativa de iniciantes na natação sem 

e com pegada dupla: aspectos variantes da habilidade nadar

La organización temporal relativa de iniciantes en la natación con y sin respiración bilateral: aspectos variables de la habilidad de nadar

 

*Discente da Faculdade de Educação de Educação Física

**Orientador e Docente da Faculdade de Educação Física

da Universidade de Santo Amaro

(Brasil)

Bruno Melo dos Santos*

bruno_19b@hotmail.com

Prof° Dr. Carlos Alexandre Felício Brito**

brito-ca@uol.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Acreditando que a percepção do nadador, quanto ao meio que está inserido é relevante em sua intenção de nadar, este estudo objetivou observar e analisar a influência da restrição perceptiva visual em nadadores iniciantes com e sem pegada dupla. O modelo teórico explicativo que baliza este trabalho foi sugerido por Brito (2005). A pesquisa foi realizada de forma direta, sendo utilizada a metodologia descritiva e exploratória. A amostra foi composta por 6 (seis) voluntários, de ambos os sexos, em idade entre 11 (onze) e 13 (treze) anos. Foi utilizado um cronômetro Seiko de 100 memórias para registro do tempo percorrido nos 12,5 metros, e uma filmadora (Sharp, modelo VL-AHI3IU, HI 8, 14.345 MS, Power zoom 16x). Os resultados foram analisados pela estatística descritiva (média aritmética e desvio padrão) e pelo coeficiente de variabilidade (CV). Os principais resultados encontrado foram: i) os nadadores de GI se adaptaram melhor (devido a menor variabilidade - 14,28%) as condições da restrição (campo inferior) quando comparado ao GII (57,86%); ii) o GI obteve variabilidade de Estratégia de Nado (En) e de Tempo (s) menores do que o GII, Por exemplo, na tarefa Sem Restrição, a diferença da variabilidade da En do Gi para o GII, foi de 44%, enquanto a do Tempo foi de 221%; iii) quando verificado a restrição no Campo Inferior (obstrução que melhor influenciou GI) a diferença da En foi de 305% e a do Tempo de 885% do GI em relação ao GII. Os dados coletados expressam menor adequação da auto-organização do GII quando comparado ao GI. Acredita-se que existem possibilidades de o problema da sincronização do nadar ser sanado, dando ênfase no trabalho com o CAPn, tentando modificar o comportamento fenomenal do aprendiz.

          Unitermos: Natação. Sincronização. Percepção. Controle motor.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 154, Marzo de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    As pesquisas na área do comportamento, especificamente no que diz respeito ao controle motor, têm procurado discutir como ocorre à organização temporal nas habilidades motoras. Neste sentido, há um esforço para compreensão desta estrutura e descobrir a natureza das suas representações, em seus aspectos variantes (Características de superfície) e invariantes (Estrutura profunda) (Manoel and Connolly, 1995; Xavier Filho e Manoel, 2002; Schmidt e Wisberg, 2001).

    Para descobrir estes aspectos alguns estudos têm manipulado alguns parâmetros (distância; velocidade; força; peso; amplitude) flexíveis do movimento e verificado que há em sua estrutura aspectos que se mantêm constantes (organização temporal relativa) (Freudenheim et al., 2005; Xavier Filho e Manoel, 2002).

    Entretanto, não se tem observado estudos conduzidos na manipulação perceptual mantendo-se as características de superfícies constantes (Brito, 2008). Assim, a hipótese deste estudo foi a de verificar se há variabilidade nos parâmetros flexíveis do nado crawl com manutenção do ritmo de nado e distância após restrição da tarefa no campo perceptual (demanda visual) em nadadores iniciantes com e sem pegada dupla.

    Maglischo (1999) comenta que os movimentos dos braços do nadador são sincronizados alternadamente com o rolamento do corpo, e vice-versa, facilitando a aplicação da força propulsiva numa posição hidrodinâmica durante os ciclos de braçadas. E ainda, o ponto mais importante de um ciclo de braçada é quando o braço que está à frente emerge na água, enquanto o outro se prepara para iniciar a varredura para cima, pois permite que o corpo role em direção ao braço que está para iniciar a varredura para cima. O braço que está para emergir na água promove maior equilíbrio mantendo uma posição hidrodinâmica.

    Atualmente, na literatura internacional, existem trabalhos que investigam a existência desta sincronização comentada por Maglischo (1999) como um padrão de ordem em nadadores de alta, média e baixa habilidade (Chollet, Chalies, Chatard (2000); Seifert, Chollet, Bardy (2004); Seifert (2010), bem como em estudos com nadadores deficientes. Estes autores observaram em suas pesquisas três tipos de sincronização. Na primeira delas denominada como captura (momento de latência entre o braço direito e o esquerdo que se encontram de forma oposta na fase não propulsiva), característica observada em nadadores de longa (1500m a 800m) e de média distância (400m a 200m); oposição (momento onde os dois braços encontram-se na fase propulsiva), característica de nadadores de velocidade (100m) e superposição (momento onde os dois braços tendem a estarem na fase não propulsiva, porém ao mesmo tempo) observados em nadadores velozes (50 metros). Esta descrição é observada nos nados de crawl e costas, pois os mesmos são alternados. Nos nados de peito e borboleta há uma superposição natural da própria característica exigida pelos nados.

    Quando se promove exercícios pedagógicos, em que o seu início tende a ser na varredura de um braço quando o outro também chegar à frente, junto ao primeiro, isto poderá conduzir a estimulação e memorização de um movimento inadequado, a saber: a pegada dupla. Após a varredura para cima e a fase aérea, antes de emergir, cada braço faz uma pequena pausa de apoio, estendido à frente, enquanto o outro realiza a fase submersa. Somente quando o braço propulsivo terminar a fase aérea e também chegar à frente do corpo, o braço que estava servindo como apoio inicia sua fase aquática. Na pegada dupla, isso se repete alternadamente com cada braço (BONACELLA, 2008).

    O nadar será compreendido “como uma ação do homem na água de forma intencional permanecendo imóvel ou em movimento independente de artifícios que possam facilitar a sua sustentação.” (BRITO e ARAÚJO, 2004). A intencionalidade neste artigo está sendo considerada segundo os pressupostos da Teoria Gestáltica, na qual foi apresentada por Brito (2005) em sua tese de doutorado e mais tarde sendo publicado na forma de livro (BRITO, 2008). Ele denominou como Campo Atrativo Perceptual do nadar (CAPn), na qual é definido como o sistema gerador de tensões que poderá regular a sincronização do nado. A mesma é dependente do meio geográfico (ambiente) exigindo, desta forma, uma auto-organização por parte do nadador quanto as suas ações. Porém, o nadador irá buscar em sua competência aquática (intenção) a melhor forma de se adequar a este meio percebido.

    Para o entendimento de como há possibilidade do nadador adquirir novos padrões em sua habilidade no nadar, é necessário compreender o conceito de restrições. A restrição é conceituada como um fator que pode definir o comportamento fenomenal, pois toda a ação é adquirida e sincronizada dentro de um conjunto de restrições. Esse conjunto de restrições pode ser do meio geográfico (ambiente), do organismo (nadador) ou da própria tarefa (o nadar). Deve-se entendê-la como os limites ou condições impostas ao nadador, levando à sincronização do movimento. Verifica-se na Figura 1 esquema sobre o papel das restrições na habilidade nadar.

Figura 1. Esquema representando o papel das restrições como limites ou condições que poderiam influenciar na sincronização do movimento do nadador (BRITO, 2008).

Objetivo

    Observar a influência da restrição perceptiva visual em nadadores iniciantes com e sem pegada dupla.

Metodologia

Amostra e local

    Outrora na Universidade de Santo Amaro, selecionou-se um grupo de alunos com idade entre 11 (onze) e 13 (treze) anos, que participavam das atividades do PAEC (Programa de Atividades Esportivas a Comunidade). Os nadadores selecionados foram incluídos na pesquisa cumprindo os requisitos:

  1. Querer participar da pesquisa de forma voluntária;

  2. Assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Pai ou responsável);

  3. Estar apto a prática da natação;

  4. Iniciantes na natação com competência técnica para nadar o nado crawl.

    Após cumprimento das exigências estabelecidas foram formados 2 (dois) grupos de nadadores, divididos da seguinte forma: Grupo I (GI), nadadores sem pegada dupla e Grupo II (GII) nadadores com pegada dupla. Totalizando 6 (seis) voluntários, cerca de 27% do grupo de alunos, com a faixa etária citada no nível de iniciação à natação, que recebem aulas de natação freqüentemente no PAEC.

Instrumentos utilizados na aplicação do teste

    Foi utilizado um cronômetro Seiko de 100 memórias para registro do tempo percorrido nos 12,5 metros. A filmadora (Sharp, modelo VL-AHI3IU, HI 8, 14.345 MS, Power zoom 16x) utilizada na pesquisa foi utilizada para evitar possíveis erros de registro dos parâmetros analisados pelo avaliador.

    O registro das informações foi analisado conforme descrito abaixo:

Figura 2. Croqui do local onde foi aplicado o teste

    Uma ficha contendo nome, tempo de natação, peso e estatura do aluno, foi utilizada para registro das informações do mesmo. E ainda, foram registrados temperatura da água, data de realização do teste, número dos voluntários, tempo de execução da tarefa, número de braçadas e espaço para inserir as observações gerais, caso existissem.

Aplicação do teste

    Previamente, foi averiguado se os alunos possuíam óculos de natação, pois se não o tivessem, deveriam utilizar um de costume das aulas de natação. O motivo para tal fato se deve para evitar as interferências na execução da tarefa estabelecida (Adaptação).

    Antes de começarem a nadar as crianças se alongaram (ombros, tronco, pernas) junto a um aplicador da pesquisa e, se aqueceram de maneira livre na piscina, entretanto, de forma a não se cansarem, ou seja, tranquilamente, inviabilizando possíveis influências na pesquisa. Enquanto isso, fixou-se duas raias paralelas formando um corredor pelo qual os alunos deveriam realizar a tarefa. Isso ocorreu em aproximadamente dez minutos.

    Após o aquecimento, a tarefa foi proposta: ao sinal do aplicador, nadar 12,5 metros no ritmo que considerassem tranqüilo, de acordo com a habilidade de cada um, sem virada (a medida da piscina era 25x12,5), quando chegar ao final da distância tocar na borda e, sair pela lateral. Visando fixar a idéia de tranqüilidade nos alunos, foi dito que “nadassem bonito”, de forma a exibirem seu nado crawl. Quando na tarefa com respiração contrária, foi dito aos alunos que respirassem do lado contrário daquele de costume (Lado dominante), todos os aprendizes respiravam pelo lado direito.

Perturbação na sincronização do nadar

    A restrição foi manipulada por meio de folhas brancas (A4) nos óculos de natação e, desta forma, passível de obstrução da passagem da luz nos óculos dos nadadores de acordo com a configuração desejada. Portanto, cada voluntário experimentou uma situação igual na restrição da luz, em cada momento, em suas retinas (Aplicação do Princípio da Constância Perceptiva).

    A ordem das perturbações aplicadas pode ser observada a seguir:

  • Olhos sem serem vendados (Sem Restrição) – Campo total;

  • Olhos vendados no Campo Inferior (visão do campo superior);

  • Olhos vendados totalmente à direita (olho direito obstruído de luz) – porém com respiração à esquerda, Respiração Contrária;

  • Olhos vendados, porém mantendo uma abertura pequena (Forame) – com Divergência.

Procedimentos analíticos

    Os resultados foram analisados pela estatística descritiva (média aritmética e desvio padrão) e pelo coeficiente de variabilidade (CV). Para efetivação dos cálculos foi utilizado o SPSS.vs.13.0.

Resultados e discussão

    A seguir, são apresentadas as características das amostras do estudo quanto à idade (anos), estatura (cm), peso corporal (kg) e tempo de natação (experiência):

Tabela 1. Nadadores sem pegada dupla de acordo com a idade (Anos), estatura (Cm), peso (kg) e tempo de natação (Experiência)

 

Tabela 2. Nadadores com pegada dupla de acordo com a idade (Ano), estatura (Cm), peso (Kg) e tempo de natação (Experiência)

    Essa pesquisa focou-se em compreender o comportamento fenomenal da natação em nadadores iniciantes após restrição da tarefa perceptual da visão tendo como suporte explicativo os conceitos da Teoria Gestáltica, na qual podem ser compreendidas pelo que Brito (2008) denominou de Campo Atrativo Perceptual do nadar (CAPn). “Embora o CAPn permaneça o mesmo para todos os nadadores, o efeito gerado na retina é que poderá alterar o comportamento fenomenal.” (BRITO, 2008, p.85)

    Isso ocorre em função do que adquirimos no decorrer do tempo ser diferente para cada um, logo, a maneira como se percebe e como se organizam as experiências para uma determinada ação poderá modificar a sincronização, portanto a forma de nadar.

    O CAPn é um sistema gerador de tensões que promovem instabilidade no ambiente, exigindo uma auto-organização do nadador quanto suas ações. Modifica-se o CAPn, altera-se o comportamento fenomenal do nadador, que busca melhor se adequar no ambiente percebido.

    Analisando os dados obtidos nessa pesquisa observaram-se variações consideráveis entre o Grupo I (GI) e o Grupo II (GII).

    Veja a seguinte Tabela:

Tabela I. Comportamento dos nadadores de baixa habilidade Sem Pegada Dupla (GI) após restrição perceptiva 

(Sem Restrição; Campo Inferior; Respiração Contrária e; Forame com Divergência). Os valores são expressos por Média ± Desvio Padrão

    No GI, os alunos obtiveram elevado índice de variabilidade da Estratégia de Nado (En) na tarefa Sem Restrição quando comparado aos outros campos. Porém, se comparado ao GII, o primeiro logo se mostra sobreposto, ou seja, melhor adaptado ao meio líquido – nado crawl. Uma vez que variou 38,36 contra cerca de 60% do segundo (GII) (Tabela 3 e 4).

    A restrição no Campo Inferior proporcionou tensões na organização temporal nos nadadores de tal forma que a En e o Tempo variaram respectivamente 62,8% e 56,4% a menos do que Sem Restrição, transparecendo que os nadadores sem pegada dupla se adaptaram melhor (devido à menor variabilidade) as condições desta restrição (campo inferior), como apontado em estudos previstos por Brito (2008). Porém, os nadadores com pegada dupla não alteraram o seu padrão de movimento, relatado mais adiante, o que implica pensar que esta restrição não produz efeito na reorganização temporal dos nadadores (Tabela 3 e 4).

    Na restrição com a Respiração Contrária, a En variou 93,4% a mais do que a tarefa anterior e, o Tempo, 340,3% a mais com relação à mesma obstrução. Observando que respiração contrária teve melhor efeito aos nadadores com pegada dupla, o que implicará pensar numa adaptação organizacional melhor entre todas as situações do experimento, muito embora se observe um aumento na variabilidade do tempo, para estes nadadores. Podemos pensar que eles demandam maior tempo para reorganizar o sistema cognitivo para esta nova situação.

    Quando observamos a restrição com Forame Divergente a En teve grande variabilidade, indicando que há elevado índice de instabilidade e, neste sentido, interferindo na auto-organização dos nadadores do GI. Estes dados são corroborados com os achados nos estudos apresentados por Brito (2008), porém foram analisados em nadadores de alta e baixa habilidade.

    Houve alta variabilidade interna no grupo, porém o Campo Superior (obstrução inferior) mostrou-se influenciar positivamente na auto-organização do aluno, indicando uma relevante inclusão do mesmo no planejamento pedagógico das aulas de natação para esse tipo de nadador (Sem Pegada Dupla).

    Agora vejamos a Tabela 4:

Tabela 4. Comportamento dos nadadores de baixa habilidade Com Pegada Dupla (GI) após restrição perceptiva 

(Sem Restrição; Campo Inferior; Respiração Contrária e; Forame com Divergência). Os valores são expressos por Média ± Desvio Padrão

    Os dados observados no GII também mostraram alta variabilidade interna. Quando observamos Sem Restrição a Estratégia de Nado obteve elevada variabilidade entre as de mais tarefas.

    A tarefa Campo Inferior obteve 3,59% a menos de variabilidade da En quando comparada à Sem Restrição, porém o Tempo variou cerca de 23,33% a mais quando comparada à mesma restrição.

    Em Respiração Contrária, essa diferença da tarefa Sem Restrição aumenta ainda mais, a En variou 52,4% a menos, entretanto o Tempo, 35,9% a mais. Isso, possivelmente, ocorreu devido os nadadores perceberem neste campo (Respiração Contrária) maior tensão em seu CAPn (foi dito aos alunos que respirassem do lado contrário do costumeiro deles: lado direito), exigindo assim maior atenção nos movimentos realizados, logo aumentando o tempo, porém foi observado uma diminuição na variabilidade da Estratégia de Nado. Indicando assim, melhor adequação da auto-organização de nadadores com este tipo de problema técnico nesta tarefa.

    Por fim, em Forame Divergente, observa-se uma tendência a aumentar a variação da Estratégia de Nado, cerca de 40,35%, diminuindo o Tempo em 13,66% comparada com Respiração Contrária.

    Ambos os grupos tiverem elevadas variabilidades internas devido à manipulação do CAPn com a obstrução nos óculos de natação, entretanto as amostras Sem Pegada Dupla mostraram-se mais habilidosas com relação ao GII (Com Pegada Dupla). O GI obteve variabilidade de Estratégia de Nado e de Tempo menores do que o GII. Por exemplo, na tarefa Sem Restrição, a diferença da variabilidade da En do GI para o GII, foi de 44%, enquanto a do Tempo foi de 221%. Quando com restrição no Campo Inferior (obstrução que melhor influenciou GI) a diferença da En foi de 305% e a do Tempo de 855% do GI para o GII. Já em Respiração Contrária (obstrução que melhor influenciou a Estratégia de Nado do GII) a diferencia da Estratégia de Nado foi de 3,2%, porém a de tempo foi de 160%, indicando melhor organização temporal do GI para com o GII.

    Pode-se indicar o Campo Superior como campo que melhor influenciou o ajuste da Estratégia de Nado, nos nadadores iniciantes que não utilizaram de pegada dupla em sua intencionalidade do nadar. “(...) na medida em que os objetos em movimentos produzem alterações nos padrões retinianos e, com efeito, há modificações no comportamento fenomenal. O que é fixado pelo nadador neste momento, é aquilo que tiver maior energia no campo.” BRITO, 2008, p. 88

    Os movimentos alternados do crawl devem ser coordenados com o rolamento do corpo, e vice-versa, facilitando a aplicação da força propulsiva e mantendo o corpo em uma posição aerodinâmica. Quando em provas de longa distância, o braço que está à frente entra na água enquanto o outro termina sua varredura, é o momento mais importante, pois permite que o corpo role em direção ao braço que está terminando a varredura. O braço que está para emergir na água (alongado para frente) facilita a posição hidrodinâmica, pois promove maior equilíbrio para o braço que está completando a varredura para cima (MAGLISCHO, 1999), todavia a sincronização desta técnica leva a uma desaceleração durante a varredura para baixo do braço que estava estendido à frente, mas acredita-se que tal desaceleração é compensada durante a varredura para cima do mesmo braço (momento mais importante da propulsão esse autor).

    Por outro lado, a pegada dupla pode não ser considerada erro técnico utilizado na aplicação dos exercícios no planejamento pedagógico dos professores. Segundo BONACELLA (2008), é um exercício pedagógico necessário, pois o apoio de um dos braços estendidos à frente promove melhor sustentação horizontal, reforça a orientação direcional do nado e, principalmente, favorece uma respiração lateral melhor com este apoio prolongado. Geralmente este tipo de exercício é executado com a prancha. Segundo o mesmo autor, ela é utilizada pela maioria dos professores, valendo-se do mecanismo psico-motor da transferência, completa-se a coordenação para se chegar ao padrão. Não sendo um caminho pedagógico ruim, para o autor. Ou seja, defende a pegada dupla com o objetivo de melhorar a aprendizagem da braçada, mas indica que posterior a adequação do movimento, o aluno necessitará de outra aprendizagem para se chegar, finalmente, a técnica padrão do nado crawl.

    Para BONACELLA (2008) na discussão de introduzir a respiração junto à aprendizagem da braçada, o ensino a partir do movimento global, introduzindo a respiração, também é uma boa opção, entretanto, proporciona-se mais dificuldades ao aprendizado da braçada, e também exigirá, mais tarde, um novo aprendizado: a técnica correta, requerendo as experiências anteriores.

    Segundo estudo realizado pela escola de natação AQUABARRA (2008), quando falamos de coordenação de um estilo de natação “nós estamos referindo à forma de coordenar os movimentos do corpo para que, além de atingir a máxima velocidade com a menor resistência, a fadiga apareça o mais tarde possível, isto é, coordenar os movimentos de ambos os braços, coordenar o movimento dos braços com o da respiração e coordenar os movimentos de braços e pernas” (p. 32).

    Sabendo que uma das melhores coordenações é “quando o braço bloqueado inicia sua tração imediatamente depois da finalização da braçada, produzindo sempre um momento propulsivo e fazendo que a velocidade do nadador seja mais consistente” (AQUABARRA, 2008, p. 33), a pegada dupla tem poucas vantagens e muitos inconvenientes, em competições de alto nível pelo menos, não dizendo muito além na questão pedagógica.

    A popularização da pegada dupla quando apresentada pelos japoneses nos Jogos Olímpicos de 1932 foi um retrocesso de vinte anos. O que levaram à vitória de 1932 e 1936 foi a “eficácia da pernada do batimento alternado submerso, com quadris e joelhos baixos.” (AZEVÊDO, 1993, p. 9)

    A utilização da pegada dupla pode ser benéfica quando utilizada em exercícios pedagógicos, porém cabe salientar que quanto mais praticada, mais o sistema cognitivo memoriza tal movimento, implicando no ensino de outra aprendizagem: a técnica adequada do nado. O problema não é usar, entretanto, até quando dispor dessa estratégia para a prática pedagógica da iniciação do nado crawl?

    Os dados coletados expressam menor adequação da auto-organização do GII quando comparado ao GI. Fazendo com que ponderemos, quando no planejamento pedagógico, sobre a utilização ou não da pegada dupla como estratégia de ensino para nadadores iniciantes.

Considerações finais

    O Campo Atrativo Perceptual do nadar (CAPn) interfere no comportamento fenomenal, exigindo adequação na auto-organização do nadador, pois observamos no estudo alterações representativas na Estratégia de nado (En) após a restrição perceptiva visual.

    A importância de estimular o CAPn, no nadador iniciante, é fundamental na medida que se deseja solucionar uma problemática do ensino da natação: a sincronização (controle motor). Cada aluno possui um campo de qualidade percebido em sua ação, na qual as forças deste campo serão representadas por ele de tal forma que os parâmetros de nado tendem a ser modificados (Tempo, Velocidade, Freqüência de movimento, Amplitude) e, portanto, uma nova forma poderá surgir e, em certo sentido, tender a se ajustar a esta nova necessidade de resolver o problema devido à restrição (auto-organização).

    Nesse estudo, os nadadores não foram questionados quanto seus relatos durante o nado. São relatos subjetivos enriquecedores, que poderiam corroborar a nossa descoberta com mais ou menos intensidade (isso depende de suas experiências, e, não somente o que é refletido em sua retina).

    Acreditamos que o planejamento da natação o professor deveria incluir as respostas subjetivas do aluno, junto ao desenvolvimento do trabalho de estímulos do CAPn. Refletir sobre as tensões na estrutura do nadar, de forma a incorporá-las na intervenção pedagógica, é pensar melhor como solucionar o problema da sincronização, implicação esta que se justifica no presente estudo. Os dados encontrados encorajam a ponderar sobre o que se deve realizar para melhorar a prática. Assim, os campos indicados no estudo devem ser estimulados nas aulas de natação. O CAPn pode ser uma possível solução no problema da sincronização.

    Possíveis estudos como a utilização da pegada dupla no ensino da natação podem contribuir quanto sua eficiência. Para nós, esta ferramenta não se mostrou eficácia, uma vez observada pela estratégia de nado e comparada ao grupo sem pegada dupla. Outro ainda seria mostrar os aspectos invariantes (ciclo de braçadas) de tais alunos, objetivando revelar mais detalhes desta estrutura.

    Com os expostos e discutidos, levantou-se uma relevante influência da forma como os nadadores iniciantes percebem o ambiente que está inserido, com sua auto-organização, ou seja, de acordo com cada restrição os nadadores se comportaram de forma diferente, buscando melhor ajustar sua organização temporal de acordo com a sua experiência. Logo, por meio das restrições propostas, observou-se em quais situações, a sincronização dos nadadores mostrou-se mais e menos favoráveis.

Referências bibliografias

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