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Atuação dos agentes comunitários de saúde frente ao controle de

 tuberculose pulmonar nas Unidades Básicas de Saúde do Município

de Ubá, MG: uma abordagem da busca ativa

Desempeño de los agentes comunitarios de salud frente al control de la tuberculosis pulmonar 

en las Unidades Básicas de Salud del Municipio de Ubá, MG: un abordaje de búsqueda activa

Performance of community health workers on the control of pulmonary 

tuberculosis in the Basic Health Clinic of Ubá, MG: an approach to active search

 

*Acadêmicas do Curso de Enfermagem

da Fundação Presidente Antônio Carlos, FUPAC, Ubá

**Especialista em Enfermagem do Trabalho

(Brasil)

Marília Duarte Lopes*

Rosimary Fernandes Moreira*

José Dionísio de Paula Junior**

rosimary_fm@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A tuberculose é uma doença infecciosa contagiosa e constitui um grave problema de saúde pública. A atuação dos Agentes Comunitários de Saúde, na realização da busca ativa de casos, é fundamental para o controle da doença. Objetivo: Verificar a atuação dos Agentes Comunitários de Saúde abordando a busca ativa para o controle da tuberculose. Materiais e métodos: Foi analisada a atuação dos Agentes Comunitários de Saúde das Unidades Básicas de Saúde do município de Ubá de ambos os sexos. O instrumento de análise foi um questionário semi-estruturado aplicado nos meses de setembro e outubro nas próprias Unidades Básicas de Saúde. Para análise dos dados utilizou-se a estatística descritiva com cálculo das médias, desvio padrão e porcentagem. Resultados: Os resultados permitiram identificar que a maioria dos Agentes Comunitários de Saúde do município de Ubá atua e tem conhecimento sobre a busca ativa de casos de tuberculose. Conclusão: A maioria dos Agentes Comunitários de Saúde do município de Ubá contribuem para o aumento importante na detecção de novos casos de tuberculose na comunidade, atuando para o controle da tuberculose, possuindo conhecimentos necessários para execução da busca ativa, atitude fundamental para o controle da mesma.

          Unitermos: Tuberculose. Busca ativa. Agente Comunitário de Saúde.

 

Abstract

          Tuberculosis is a contagious and infectious disease that is a serious public health problem. The work of Community Health Workers, in conducting an active search for cases, it is essential to control the disease. Objective: To investigate the role of Community Health Agents covering the active search for tuberculosis control. Materials and methods: they reviewed the Community Health Agents Basic Health Units in the city of Ubá of both sexes. The analysis tool was a semi-structured questionnaire applied in September and October in their own Basic Units of Health. To data analysis we used descriptive statistics with calculation of the average, standard deviation and percentage. Results: The results showed that the majority of Community Health Workers in the city of Ubá, operate and has knowledge about the search for active cases of tuberculosis. Conclusion: The Community Health Workers in the city of Ubá contribute to the significant increase in detecting new cases of tuberculosis in the community, working effectively in its control, with knowledge required to perform active search which is fundamental attitude to the tuberculosis control.

          Keywords: Tuberculosis. Active search. Community Health Workers.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 154, Marzo de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A Tuberculose (TB) é uma doença infecciosa e contagiosa, causada por um microorganismo denominado Mycobacterium tuberculosis, também conhecido como bacilo de Koch (BK), que se propaga através do ar, por meio de gotículas contendo os bacilos que são expelidos pelo doente com TB pulmonar ao tossir, espirar ou falar em voz alta. Quando essas gotículas são inaladas por pessoas sadias, podem provocar infecção tuberculosa e o risco de desenvolver a doença, a população de risco deve ser identificada e a procura de casos é obrigatória. 1, 2, 3, 4, 5.

    A TB permanece como um dos principais agravos à saúde a ser enfrentado em âmbito global e está diretamente relacionada às más condições de vida e à pobreza. 1, 3, 4, 6, 7.

    Denomina-se “Caso de Tuberculose” todo indivíduo com diagnóstico confirmado por baciloscopia ou cultura. “Caso Novo” é o doente com TB que nunca usou ou, por menos de um mês, utilizou drogas antituberculosas. 3, 4, 5, 6, 8.

    O Brasil é um dos 22 países prioritários pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que representa 80% da carga mundial de TB 9. As regiões Norte, Nordeste e Sudeste são aquelas que apresentam as maiores taxas de incidência da doença. Em 2007, o Brasil notificou 72.194 casos novos, correspondendo a um coeficiente de incidência de 38/100.000 hab. Destes, 41.117 casos novos foram bacilíferos (casos com baciloscopia de escarro positiva), apresentando um coeficiente de incidência de 41/100.000 hab. Estes indicadores colocam o Brasil na 19ª posição em relação ao número de casos e na 104º posição em relação ao coeficiente de incidência. 4, 7, 8.

    É importante destacar que, anualmente, morrem no Brasil 4.500 pessoas por TB, doença curável e evitável. Em 2008, a TB foi a principal causa de morte por doenças transmissíveis e a 1ª causa de morte dos pacientes com Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS)8. O município de Ubá notificou, do ano de 2007 a setembro de 2010, 175 casos de TB, com o total de 7 óbitos por TB nesse período. 10

    Tendo em vista a situação calamitosa do controle da TB no país, observa-se a necessidade de se criar alternativas para o controle da doença que se volte para prática de saúde participativa, coletiva, integral, vinculada à realidade da comunidade e capaz de ultrapassar as fronteiras das unidades de saúde. 11, 12.

    O Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PCNT) introduziu novas possibilidades de intervenção em sua proposta de trabalho, assinalando que, a inserção das ações de controle da TB no âmbito das Estratégias Saúde da Família (ESF) poderia promover integração dos serviços, significando oportunidade para expansão das atividades de controle da doença. Nessa direção, vem sendo proposto que os serviços de saúde se organizem para que as ESF incorporem suas atividades à responsabilidade para o desenvolvimento das ações de controle da doença. 6, 13, 14.

    Vale ressaltar que, uma das prioridades do PNCT relaciona-se ao diagnóstico precoce da doença, através da realização da busca ativa de casos, ou seja, procura de casos suspeitos de TB. 6, 12, 13, 14, 16. As ações de busca ativa estão voltadas para os grupos com maior probabilidade de apresentar TB, quais sejam: sintomáticos respiratórios (pessoas com tosse com três semanas ou mais); suspeitos radiológicos; pessoas com doenças e/ou em condição social que predisponham à TB e, principalmente, os comunicantes, definidos como toda pessoa, parente ou não, que coabita com o doente de TB. 3, 4, 5, 6, 12, 13, 14, 15, 16.

    Para a assistência, tem-se como princípio, que todas as equipes das unidades de saúde devem ser treinadas e atualizadas para oferecer melhor auxílio ao paciente com TB. Assim, todas as categorias devem ser contempladas no planejamento de cursos e treinamentos pelas secretarias estaduais e municipais de saúde. 5, 6, 12.

    Ao nível inicial de contato entre os indivíduos e o sistema de serviços de saúde, os cuidados primários são proporcionados por Agentes Comunitários de Saúde (ACS) trabalhando em equipe 12. Na ESF, portanto, espera-se que o ACS assuma um posto, muitas vezes, central, pois, mostra-se familiarizado com valores, costumes e linguagem da comunidade, podendo, assim, produzir uma união entre o uso de tecnologia/conhecimento em saúde e as crenças locais. O ACS seria, então, um facilitador, capaz de construir pontes entre os serviços de saúde e a comunidade, identificando prontamente seus problemas, atuando no trabalho de promoção à saúde e prevenção de doenças. Nas áreas onde há visita domiciliar periódica do ACS, deve-se incluir a detecção de casos de TB entre sintomáticos respiratórios e comunicantes. 4, 5, 12.

    De acordo com o PNCT, cabe aos ACS desenvolver ações para o controle da TB como: identificar os sintomáticos respiratórios nos domicílios e na comunidade; orientar a coleta e encaminhamento de escarro do sintomático respiratório na comunidade; encaminhar o caso suspeito à equipe da unidade de saúde; comunicar à equipe o caso suspeito; orientar e encaminhar os contatos à unidade de saúde para consulta, diagnóstico e tratamento. 4, 6, 12, 14, 17.

    Os programas de saúde, para melhor eficácia do serviço de controle da TB, deverão incorporar ao serviço ACS bem qualificados, bem remunerados e que realizem atividades compatíveis com seu nível educacional, oferecendo a eles treinamento constante e supervisão adequada. 12.

    Portanto, faz-se necessário à elaboração e implementação de uma efetiva política de Recursos Humanos que garanta a formação e a capacitação continua dos profissionais 18 que permita, dentre outras habilidades, a apropriação de outros saberes e conhecimentos que ofereçam os subsídios necessários na complexidade da atenção aos usuários acometidos de TB. 16.

    A motivação para o presente estudo surgiu devido à grande importância de realizar busca ativa de casos de TB, pois essa atitude é fundamental para o controle da doença, e por serem os ACS os principais autores para essa conquista.

    Muitos estudiosos são unânimes em ressaltar que a investigação dos comunicantes e sintomáticos respiratórios contribui para o controle da TB, seja de forma direta, por meio da detecção da fonte de infecção, seja indiretamente, por meio da prevenção de ocorrência de novos casos da doença. 3, 4, 5, 6, 12, 13, 14, 15, 16. Diante disso, torna-se necessário a realização da busca ativa de sintomáticos respiratórios e comunicantes, pelos profissionais de saúde. Com base nisso, cabe a nós avaliar a atuação dos profissionais de saúde frente ao controle da TB, com enfoque nos ACS.

    Considera-se que os dados encontrados mobilizem as equipes de saúde quanto à importância da realização da busca ativa, da capacitação dos profissionais para realização da mesma e de seus benefícios, contribuindo para redução dos novos casos de TB pulmonar no município.

    O presente trabalho tem como objetivos: analisar a atuação dos ACS abordando a busca ativa para o controle da TB e verificar o nível de conhecimento dos ACS sobre a busca ativa.

Materiais e métodos

Tipo de estudo

  • O estudo é uma pesquisa de campo do tipo transversal exploratória.

Cenário do estudo

  • A pesquisa ocorreu nas 17 UBS pertencentes ao município de Ubá, sendo 2 Rurais e 15 Urbanas, na presença dos ACS.

  • O contato com as unidades ocorreu por meio de um ofício, em que foram apresentados os objetivos do estudo e solicitado autorização para a realização da mesma.

Características da amostra

    De um total de 100 ACS atuantes no município de Ubá, participaram da pesquisa 85 ACS com idade entre 21 e 54 anos; do gênero masculino e feminino. Os métodos de inclusão foram: ser ACS da UBS entrevistada. Os métodos de exclusão foram: ACS de férias, licença no momento da entrevista, ou recusa em participar da mesma.

    A forma de obtenção da amostra foi intencional.

Instrumentos

    O instrumento utilizado para coletar os dados foi um questionário semi-estruturado (instrumento em apêndice) contendo 10 questões de múltipla escolha e 01 questão discursiva, elaborada pelas autoras, com questões relativas à: grau de formação, tempo de serviço, número de casos que já existiram ou existem de TB na micro-área, conhecimentos e orientações recebidas sobre TB e busca ativa, além das ações realizadas no momento da busca ativa de casos de TB, assim como dificuldades na execução da mesma.

Procedimentos

    Foram realizadas visitas às 17 UBS, nos meses de setembro e outubro de 2010, nas quais 85 ACS responderam ao questionário na presença das pesquisadoras.

    Para a realização da pesquisa foi elaborado um termo de consentimento livre e esclarecido de acordo com a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Antes de responder ao questionário, cada participante foi orientado a respeito dos objetivos do estudo, da garantia do caráter confidencial e voluntário da pesquisa, bem como do compromisso de divulgação dos resultados do trabalho. Após, o referido termo foi assinado em duas vias, sendo uma de posse do participante.

    O trabalho foi encaminhado ao Comitê de Pesquisa da Fundação Presidente Antônio Carlos – FUPAC.

Análise estatística dos dados

    A análise dos dados deu-se através da estatística descritiva com cálculos das médias, desvio padrão e porcentagem por meio do programa Excel.

Resultados

    Considerando as características sociais dos 85 ACS entrevistados das UBS do município de Ubá 70 (82,35%) eram do gênero feminino e 15 (17,65 %) do gênero masculino, com idade média de 31,08 anos, e desvio padrão de 7,64 anos. Com relação ao grau de formação, 1 (1,18%) possui ensino fundamental, 3 (3,52 %) ensino médio incompleto, 37 (43,52%) ensino médio completo, 30 (35,3%) ensino superior incompleto, 14 (16,48%) ensino superior completo.

Gráfico 1. Distribuição quanto ao grau de formação dos ACS

    Com relação ao tempo de serviço como ACS, 5 (5,89 %) responderam trabalhar na UBS no período de seis meses a um ano, 12 (14,11%) um ano a dois anos, 68 (80 %) trabalham mais de dois anos.

Gráfico 2. Distribuição relativa ao tempo de serviço como ACS

    Quando questionado sobre a existência de casos de TB na micro-área, 52 (61,18%) responderam que já existiram ou existem casos de TB e 33 (38,82%), no tempo de serviço, nunca presenciaram nenhum caso.

Gráfico 3. Distribuição quanto à existência de casos de TB na micro-área

    Sobre as orientações recebidas referente à TB, 35 (41,18%) receberam-nas na própria UBS, 16 (18,82%) receberam orientações através de cursos de capacitação ministrados pelo município, 3 (3,52%) receberam de terceiros, 22 (25,89%) receberam orientações tanto na UBS quanto em cursos de capacitação ministrado pelo município e, ainda, por terceiros, 8 (9,41%) tiveram orientações tanto na UBS como através de cursos e 1 (1,18%) não obteve nenhum tipo de orientação.

Gráfico 4. Distribuição quanto às orientações recebidas sobre TB

    Quanto ao conceito de busca ativa de casos de TB, os resultados foram: 6 (7,06%) afirmam que busca ativa é supervisionar a ingestão da medicação, 6 (7,06 %) acreditam que é encaminhar o paciente com a doença para UBS, 63 (74,12%) responderam que é a procura de casos suspeitos de TB na comunidade, 5 (5,88%) afirmam que é o tratamento do doente, 5 (5,88%) foram desconsideradas pois responderam mais de uma alternativa.

Gráfico 5. Distribuição quanto ao conceito de busca ativa de casos de TB para os ACS

    Quando questionado sobre o principal motivo da realização da busca ativa de casos de TB, os resultados foram: 7 (8,24%) para realização precoce de exames sanguíneos para diagnóstico da doença, 72 (84,70%) para evitar a disseminação da Tuberculose, através da descoberta precoce de casos, 5 (5,88%) para acompanhar casos de tuberculose já existentes, 1 (1,18 %) não soube informar.

Gráfico 6: Distribuição relativa ao principal motivo da realização da busca ativa de casos de TB

    Quando perguntado sobre a prioridade no momento da busca ativa de sintomáticos respiratórios, 17 (20%) disseram ser a presença de febre e perda de peso, em algum membro da família, 60 (70,58%) acreditam ser a presença de tosse por tempo igual ou maior que 3 semanas, em algum membro da família, 2 (2,36%) preocupam-se se a ingestão da medicação está sendo realizada, 1 (1,18 %) não soube informar, 5 (5,88%) foram desconsideradas pois responderam mais de uma alternativa.

Gráfico 7. Distribuição quanto à prioridade no momento da busca ativa de sintomáticos respiratórios

    Sobre a ação do ACS, no momento da descoberta de um sintomático respiratório, os resultados foram: 2 (2,36%) orientam repouso e isolamento, 15 (17,64%) apenas comunicam ao enfermeiro o aparecimento do caso suspeito, 65 (76,46%) priorizam a coleta de escarro para exame laboratorial e encaminham o caso suspeito à UBS, 1 (1,18%) não soube informar como proceder e 2 (2,36%) foram desconsideradas pois responderam mais de uma alternativa.

Gráfico 8. Distribuição relativa à ação no momento da descoberta de sintomático respiratório

    Quando questionados sobre onde intensificar a busca ativa, no momento da descoberta de um caso novo de TB, as respostas foram: 3 (3,52%) na equipe da UBS, 42 (49,42%) nos comunicantes, 34 (40%) nos familiares do doente, 4 (4,70%) na comunidade em geral, 2 (2,36%) foram desconsideradas pois responderam mais de uma alternativa.

Gráfico 9. Distribuição relativa à intensificação da busca ativa no momento da descoberta de um novo caso de TB

    Quanto à sua atuação frente à busca ativa de casos TB, classificaram-se como: 18 (21,18%) ótimo, 59 (69,42%) bom, 4 (4,70%) regular e 4 (4,70%) ruim.

Gráfico 10. Distribuição relativa à auto-avaliação quanto ao seu desempenho frente à busca ativa de casos de TB

    Foi constatada na questão discursiva, que em 36 (42,35%) respostas a maior dificuldade encontrada pelo ACS no momento da busca ativa é a falta de informações cedidas pelo morador. Já em 15 (17,65%) respostas, a maior dificuldade se encontrava no acesso aos moradores, 40% equivalem as demais respostas.

Discussão

    O gráfico 4 que aborda as orientações recebidas sobre TB, difere do estudo de Campinas e Almeida19 que realizaram uma entrevista semi-estruturada com ACS, em uma unidade na zona norte do município de São Paulo, com objetivo de avaliar a importância da atuação do ACS no acolhimento aos doentes com TB em uma UBS, desses 81,8% relataram que nunca receberam capacitação. Possivelmente a diferença ocorreu pela falta de interesse do município em disponibilizar cursos de capacitação para os profissionais ou desinteresse da UBS em procurar se informar sobre cursos disponíveis para os mesmos.

    Analisando o gráfico 7, que aborda a prioridade no momento da busca ativa de sintomáticos respiratórios, corrobora com Oliveira et al 9, que utilizaram um questionário elaborado por Starfield e Macinko, adaptado para atenção a TB por Villa e Ruffino-Netto, em 108 doentes de TB, objetivando avaliar, na percepção dos doentes, o desempenho dos serviços de saúde responsáveis. Observou-se que 65% dos doentes disseram que os profissionais de saúde, principalmente os ACS, solicitam sempre informações sobre a presença de tosse em algum membro da família. Já comparado com Maciel et al 12, que aplicaram um questionário em 105 ACS, pertencentes ao município de Vitória - ES, analisando o conhecimento e auto-percepção dos ACS no controle da TB, observa-se, no mesmo, que apenas 26,7% recorrem à tosse por tempo igual ou maior que três semanas para a identificação dos sintomáticos respiratórios, contradizendo o presente estudo. Monroe et al 18, contradiz a nossa pesquisa, ao realizar uma entrevista semi-estruturada com coordenadores do Programa de Controle de Tuberculose (PCT), de 9 municípios de São Paulo, com o objetivo de analisar o envolvimento das equipes da Atenção Básica a Saúde nas ações de controle da TB ante as percepções dos coordenadores do PCT, em que um dos coordenadores relatou que “[...] a própria UBS não incorpora que tosse a mais de três semanas pode ser tuberculose [...]”. Os autores Rodrigues & Cardoso 20 não trazem a mesma evidência da nossa pesquisa, ao fazer um estudo em 21 UBS em Belém - Pará, através de uma pesquisa direcionada a 1.008 usuários das unidades, objetivando conhecer o número de sintomáticos respiratórios identificados e não identificados pelo serviço. A identificação dos mesmos nas unidades não foi feita em 72 % dos casos. Provavelmente, estas diferenças ocorreram porque, no município de Ubá, apenas 1 (1,8%) dos ACS não recebeu nenhum tipo de orientação sobre o controle da TB, constatado no gráfico 4, uma vez que as orientações são necessárias para se obter bons resultados.

    Sobre a atuação do ACS ao identificar um sintomático respiratório, apontado no gráfico 8, contradiz o estudo de Rodrigues & Cardoso 20, uma vez que, somente 33% dos sintomáticos respiratórios identificados na pesquisa foram encaminhados para coleta do exame. Marcoliino et al 13 aplicaram um questionário a 82 profissionais de saúde de Bayeux-PB, com o objetivo de avaliar o acesso às ações de controle da TB, no contexto das equipes de saúde da família, em que constatou-se que 61% dos entrevistados mencionaram “nunca” realizar o exame na unidade, discordando de nosso estudo. Provavelmente, as divergências ocorreram devido a não capacitação dos ACS das UBS, déficit de material para realização do mesmo ou, ainda, pela recusa dos pacientes.

    Quando se analisa o gráfico 9, em que foi questionado sobre a intensificação da busca ativa no momento da descoberta de um novo caso de TB, percebe-se as mesmas evidências que Gazetta et al 16, que utilizaram em seu estudo dados secundários do Sistema de Informação de Notificação de Tuberculose, prontuários e planilhas de registro do PCT, com objetivo de descrever as ações de controle dos comunicantes no PCT do município de São José do Rio Preto – SP, foi demonstrado que 16,3% dos comunicantes não tinham nenhum grau de parentesco com o doente.

    Considerando as dificuldades encontradas pelos ACS, no momento da busca ativa, 42,35%, relataram ser a falta de informações cedidas pelo morador. Nogueira et al 14 explicitaram uma compreensão semelhante ao fazer um estudo através do levantamento de resultados de baciloscopia antes e após a implantação da Busca de Sintomático Respiratório (BSR), através da aplicação de um questionário aos ACS, com objetivo de analisar a incorporação da BSR no controle da TB na percepção do ACS, em que 60% dos ACS disseram que a principal dificuldade está nos pacientes que respondem que a tosse é causada pelo fumo ou gripe e 12% dos ACS disseram que a principal dificuldade é o medo do usuário de possuir a doença. Campinas e Almeida19 demonstram resultados similares, no qual 27,3% dos ACS relataram que as dificuldades sociais e econômicas, interferem na adesão, como revela um dos discursos: “[...] Quando a pessoa se fecha e não quer atender, tem medo de saber o que ele tem, é muito mais complicado [...] então elas negam que estão doentes [...]”. Outra dificuldade, evidenciada em nosso estudo, é observada em 17,65% dos ACS cujo o acesso aos moradores é restrito. Nogueira et al 14, também fazem uma abordagem semelhante a esta, visto que 23% dos ACS mencionaram que a maior dificuldade é a ausência dos membros da família no momento da visita, uma vez que, nesse horário a maioria está trabalhando.

Conclusão

    Da apreciação do conjunto dos resultados obtidos, a maioria dos ACS do município de Ubá contribuem para o aumento importante na detecção de novos casos de TB na comunidade, atuando para o controle da doença, possuindo conhecimentos necessários para execução da busca ativa, atitude fundamental para o controle da mesma.

    Reafirma-se que a capacitação permanente dos profissionais é um atributo fundamental para o controle da doença, sendo essencial para os bons resultados da pesquisa.

    Espera-se que a pesquisa mobilize as equipes de saúde quanto à importância da realização da busca ativa, da capacitação dos profissionais para realização da mesma e de seus benefícios, contribuindo para redução de novos casos de TB pulmonar no município.

Questionário

Iniciais:

Idade:

UBS: Área: Micro-área:

1.     Qual o seu grau de formação:

( ) Ensino Fundamental.

( ) Ensino Médio Completo.

( ) Ensino Médio Incompleto.

( ) Ensino Superior Incompleto.

( ) Ensino Superior Completo.

2.     Há quanto tempo você trabalha como Agente Comunitário de Saúde?

( ) Menos de seis meses.

( ) Seis meses a um ano.

( ) Um ano a dois anos.

( ) Mais de dois anos.

3.     Durante seu tempo de serviço, existe ou já existiu algum caso de Tuberculose na sua micro-área? Se sim, quantos?

( ) Sim ______

( ) Não

( ) Não sabe informar

4.     Você já recebeu alguma orientação sobre a Tuberculose?

( ) Sim, orientação na própria UBS.

( ) Sim, curso de capacitação ministrado pelo município.

( ) Sim, por terceiros.

( ) Todas as alternativas anteriores.

( ) Não.

5.     Para você em que consiste a BUSCA ATIVA de casos de Tuberculose?

( ) Supervisionar a ingestão da medicação.

( ) Encaminhar o paciente com a doença para a UBS.

( ) Procura de casos suspeitos de Tuberculose na comunidade.

( )Tratamento do doente.

( ) Não sabe informar.

6.     Para você qual o principal motivo da realização da BUSCA ATIVA de casos de Tuberculose?

( ) Para realização precoce de exames sanguíneos para diagnóstico da doença.

( ) Para evitar a disseminação da Tuberculose,através da descoberta precoce de casos.

( ) Para notificar mais casos de Tuberculose.

( ) Para acompanhar casos de tuberculose já existentes.

( ) Não sabe informar.

7.     Quando se realiza BUSCA ATIVA de casos Tuberculose, deve-se focalizar os sintomáticos respiratórios, o que você prioriza neste momento?

( ) As condições de moradia e higiene.

( ) Presença de febre e perda de peso, em algum membro da família.

( ) Presença de tosse por tempo igual ou maior que 3 semanas, em algum membro da família.

( ) Se a ingestão da medicação está sendo realizada.

( ) Não sabe informar.

8.     Ao identificar um sintomático respiratório, qual seria sua ação?

( ) Orientar repouso e isolamento.

( ) Orientar sobre alimentação.

( ) Apenas comunicar ao enfermeiro o aparecimento do caso suspeito.

( ) Priorizar a coleta de escarro para exame laboratorial e encaminhar o caso suspeito á UBS.

( ) Não sabe informar.

9.     No momento da descoberta de um caso novo de Tuberculose, na sua micro-área, a BUSCA ATIVA deve ser intensificada principalmente:

( ) Na equipe da UBS.

( ) Nos comunicantes ( pessoas que tiveram e têm contato com o doente).

( ) Nos familiares do doente.

( ) Na comunidade em geral.

( ) Não sabe informar.

10.     Como você classificaria sua atuação frente à BUSCA ATIVA de casos de Tuberculose?

( ) Ótimo.

( ) Bom.

( ) Regular.

( ) Ruim.

11.     Quais as principais dificuldades encontradas para a realização da BUSCA ATIVA de casos de Tuberculose na sua micro-área?

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 15 · N° 154 | Buenos Aires, Marzo de 2011
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