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A importância e os perigos do lactato no treinamento de natação

La importancia y los peligros del lactato en el entrenamiento de natación

 

*Graduado em Educação Física - Faculdade Albert Einstein, Brasília

**Especialista em Treinamento de Força e em Fisiologia do Exercício

Professor do curso de Educação Física da Faculdade Albert Einstein, Brasília

***Mestre em Educação Física. Professor do curso de Educação Física

da Faculdade Albert Einstein, Brasília

(Brasil)

Paulo Roberto Silva Barroso*

Maurilio Tiradentes Dutra**

Sebastião Lobo da Silva***

maurilio.dutra@uol.com.br

 

 

 

 

Resumo

          A evolução constante do treinamento que objetiva alcançar altos índices de resultados sugere um maior controle e cuidado na sua aplicação. A natação é uma modalidade esportiva que vem evoluindo a cada ano e seu treinamento não pode prescindir deste controle rigoroso. Nesse cenário, a concentração do lactato sanguíneo figura como elemento importante, tanto no desenvolvimento do sistema anaeróbio lático, quanto como um dos principais elementos de avaliação, na medida em que pode ser utilizada para determinar as zonas de intensidade de treinamento. Em adicional, pode ajudar a determinar o condicionamento do atleta e até avaliar a sua performance competitiva. Sendo assim, o presente trabalho de revisão bibliográfica buscou descrever a importância e os perigos do lactato no treinamento de natação de alto rendimento. Para tanto, foi realizada extensa pesquisa em livros e bases de dados de artigos científicos relacionados ao tema. Foi possível concluir que o lactato tem grande influência no treinamento de natação, sugerindo a necessidade de um controle e aplicação do treinamento cautelosos. De igual modo, os profissionais devem atentar para a relevância de uma correta interpretação dos resultados de testes que utilizam o lactato sanguíneo, no intuito de minimizarem-se riscos pertinentes ao excesso de treinamento.

          Unitermos: Treinamento desportivo. Natação. Lactato.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 154, Marzo de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O controle e o treinamento do sistema anaeróbico lático tornam-se cada vez mais comuns e com relevante importância na performance. O uso da concentração do lactato sanguíneo como indicador da intensidade do treinamento e condicionamento do atleta tornou-se imprescindível e comum em função da facilidade existente para obtenção e análise das amostras, devido à utilização dos instrumentos eletrônicos (JACOBS, 1986). De acordo com Kokobun (1999), o primeiro contato no Brasil com a análise do lactato foi em 1980, com muita restrição em função da dificuldade de importação de materiais. Em 1984, depois de seis meses, conseguiram-se reproduzir as técnicas dos pesquisadores internacionais e então, somente em 1988, houve condições efetivas de aplicar as análises no esporte.

    A sofisticação dos treinamentos e a obtenção de altos níveis de resultados exigem cada vez mais determinação, tempo e esforço dos atletas (SILVA; RIBEIRO, 2003). Isso faz com que se torne necessário um maior controle na definição do treinamento a ser aplicado, respeitando variáveis desde o efeito da temperatura da água na performance, produção do lactato e freqüência cardíaca (MOUGIOS; DELIGIANNIS, 1993) até o controle do lactato no organismo infantil e controle do nível de estresse causado pelo treinamento intenso nessas idades (SILVA; RIBEIRO, 2003).

    O presente trabalho busca descrever, com base em revisão bibliográfica em livros, sítios da internet e bases de dados de artigos científicos relacionados ao tema, como o treinamento anaeróbio figura num mesociclo de natação, o processo fisiológico do lactato na natação e a importância da treinabilidade do sistema anaeróbio lático para a melhora da performance. Ademais, aborda aplicações de treinamentos e séries específicas de produção, remoção e tolerância ao lactato, a fim de utilizar ao máximo esse sistema, bem como a importância do controle do lactato sanguíneo como indicador de intensidade de esforço para definição das zonas de treinamento.

Periodização

    Segundo Bompa (2001) o principal objetivo do treinamento é fazer com que o atleta atinja um alto nível de desempenho, em especial, na principal competição e em excelente forma atlética. Para tal, é elaborada a periodização de treinamento com a divisão em etapas a fim de atingir objetivos específicos (TUBINO, 2003).

    O desenvolvimento de uma periodização começa pelo estabelecimento da temporada de competições em função de um calendário. A partir daí surgem várias nomenclaturas determinando os ciclos de treinamento como a sugerida por Bartholomeu Neto et al (2009), que divide 23 semanas de treinamento em: (i) período de endurance geral; (ii) período de endurance específica; (iii) período competitivo e (iv) período de polimento, ou, segundo Kokobun (1999) (i) pré temporada, (ii) desenvolvimento aeróbico, (iii) desenvolvimento anaeróbico, (iv) especifico e (v) competitivo.

Periodização aplicada à natação

    Conforme testado por Bartholomeu Neto et al. (2009), uma temporada de 23 semanas (macrociclo) pode ser divida em 4 fases (mesociclo): (i) endurance geral, que no macrociclo pode compreender de 15 a 20% do total da programação, com duração de 4 a 6 semanas; (ii) endurance especifica com 30 a 40% da programação, com de 4 a 8 semanas de duração; (iii) período competitivo, de 6 a 8 semanas, figurando 30% do total; e, (iv) polimento que compreende de 10% a 15%. A divisão das valências de treinamento e as formas de aplicação variam desde a preferência do treinador até a especificidade do atleta.

    No treinamento de natação, o tipo de microciclo mais usual entre os treinadores é o microciclo semanal que pode ser dividido de 06 a 10 sessões semanais, subdividindo-se em treinamento principal e treino complementar (HANNULA, 1995). Segundo Bompa (2004), dentro de um microciclo, a dinâmica de carga de um treinamento também pode variar.

    As sessões de treinamento podem receber metragens, respeitando a especificidade, idade e gênero dos atletas em relação ao período do treinamento em que se encontram (MAGLISCHO, 1983).

    Cada período tem seu objetivo específico, como proposto por Bartholomeu Neto et al. (2009), assim como cada sessão de treinamento, que pode apresentar diferentes características fisiológicas.

    Segundo Maglischo (1983) pode-se notar contribuições das diferentes fontes energéticas e suas porcentagens nas provas de natação.

    Pereira, (1989) definiu que as intensidades de exercícios podem ser expressas através da concentração de lactato no sangue. Maglischo (1999) sugere avaliar a capacidade anaeróbica por meio da análise do lactato sanguíneo após esforços máximos. Na natação, a maior parte das provas duram de 20 segundos a 4 minutos (50 a 400m), onde se exige uma utilização tanto das vias aeróbicas como anaeróbicas (exceto nas provas de 800 e 1500m, que utilizam predominantemente o sistema oxidativo).

    Como hoje em dia existe a facilidade no controle e, também, a importância eminente do treinamento do sistema anaeróbico lático na natação, é importante dar ênfase na aplicação, controle e cuidado deste sistema de treinamento (OLBRECHT, 2000).

Lactato

    De acordo com vários pesquisadores, é detectado um aumento de lactato no sangue após os treinamentos, e sua produção ocorre principalmente durante a glicólise anaeróbica, nas fibras musculares brancas (KARLSSON et al., 1972).

    O lactato difunde-se do músculo em exercício para os capilares, de onde é transportado para o fígado e, na presença de oxigênio, é oxidado em piruvato e então convertido em glicose pela gliconeogênese (STAGNER; TANNER, 2008).

    Segundo Maglischo (1983), quando o lactato produzido no exercício se acumula em excesso no sangue alcançando um nível determinado, ocorre à acidose, diminuindo o aproveitamento da glicólise anaeróbica deixando os movimentos mais lentos, menos potentes e mais dolorosos.

    Pereira (1989) comprovou a importância da avaliação do lactato sanguíneo na prescrição e controle do treinamento dividindo em quatro níveis de intensidade, trabalho aeróbico com lactato até 2 mM, trabalho de baixa acidose até 4 mM, trabalho de média acidose até 6 mM e de elevada acidose superior a 6 mM. Jacobs (1986) por sua vez, afirma que quando a concentração de lactato sanguíneo atinge valores superiores à 5mM a fadiga é evidente na continuação do exercício.

    As fontes anaeróbicas láticas constituem, na natação, a principal fonte energética nas distâncias de 100 e 200 metros (nado livre, estilos e medley) e com importante papel nas provas de 400 metros (livre e medley) (PLATONOV; FESSENKO, 2003).

    Deminice et al. (2005) comprovaram significativas correlações entre o tempo de execução e o aumento da concentração de lactato no sangue em séries de treinamento intervalado de alta intensidade de 100, 200 e 400m nadados.

    De acordo com Maglischo (1999), existem três maneiras de o atleta retardar os efeitos do acúmulo do lactato. A primeira reduzindo a proporção do acúmulo do lactato (através das séries de produção de lactato), a segunda aumentando a taxa de eliminação do lactato nos músculos (séries de remoção do lactato) e a terceira através do aumento de tolerância ao acúmulo de lactato (séries de tolerância ao lactato).

Produção de lactato

    Qualquer treinamento com intensidade suficiente para produzir acidose aumenta a atividade das enzimas anaeróbicas. Em função disso, o pico de lactato no sangue pode ser alcançado em séries repetitivas de 50 a 200 metros com duração de 30 a 90 segundos no esforço máximo. A atividade dessas enzimas também pode ser aumentada em distâncias maiores desde que seja desenvolvida na velocidade máxima ou quase máxima (MAGLISCHO, 1983).

    Esse tipo de treinamento faz com que os atletas nadem mais rápido no final das provas de 50 e 100 metros, retardando a produção de lactato. As distâncias recomendadas para esse tipo de série ficam entre 25 e 75m, distâncias que permitem atingir alto índice de produção de lactato sem uma grande acidose. Para manter a velocidade máxima na série, o intervalo deve permanecer entre 1 e 3 minutos (o esforço deve ser máximo, mas o atleta não deve sentir dor). O volume total da série fica entre 200 a 600 metros e deve ter de três a quatro séries na semana para atingir o efeito desejado (PUSSIELDI, 1998).

    Maglischo (1999) ainda cita que o treinamento de produção de lactato pode ser realizado em duas ou três etapas numa série de treinamento. Para recuperação, os atletas devem fazer de 10 a 20 minutos de natação relaxada, a fim de reduzir o lactato sanguíneo, pois, nesse tipo de série a acidose eleva-se lentamente, podendo reduzir o efeito do treinamento se as séries forem mais longas que a sugerida.

Remoção do lactato

    O acúmulo da concentração de lactato faz com que o pH no músculo fique abaixo da neutralidade provocando a acidose (KARLSSON et al., 1972).

    Esse acúmulo no músculo pode se reduzir com a melhora da eficiência da braçada e adaptação ao ritmo de nado, diminuindo o consumo de energia e a necessidade da glicólise anaeróbica (MAGLISCHO, 1983).

    Existe, também, um tipo de treinamento específico para aumentar o processo de remoção do lactato no sangue. Consiste em realização de provas de meio fundo que fazem com que a eliminação do lactato na musculatura ativa seja mais eficiente, aumentando a atuação das enzimas no interior do músculo (MAGLISCHO, 1983).

    Segundo Olbrecht (2000), algumas pesquisas revelam que alguns atletas podem “limpar” mais lactato que os outros e que isso pode ser em função da sua capacidade aeróbia superior, podendo, assim, determinar um volume de série de remoção diferente para cada atleta.

    Segundo pesquisado por Donnavan; Brooks (1983), o treino de endurance afeta diretamente a remoção do lactato, reduzindo a taxa do lactato sanguíneo. O autor considerou também que esse tipo de trabalho não aumenta a produção do lactato e sim acelera o processo de limpeza do mesmo.

    Levando-se em consideração que nas competições de natação um atleta nada em média três provas individuais, além das provas de revezamento, e, ainda, precisa nadar várias vezes a mesma prova em um curto espaço de tempo (preliminares, semifinais e finais), percebe-se a importância do clearance do lactato e desse tipo de treinamento no contexto da natação (SOKOLOVAS, 2003), Draper et al. (2006) sugeriram, nos resultados de sua pesquisa, os benefícios da utilização do descanso ativo de curta duração no clearance do lactato logo após a execução de exercícios em séries eliminatórias, comprovando a importância do descanso ativo pós e pré-esforço.

Tolerância ao lactato

    Segundo Maglischo (1999), quando ocorre o acúmulo em alto nível do ácido lactato, produzindo a acidose, o atleta começa a experimentar a dor. Os nadadores que têm uma maior capacidade em suportar as dores da acidose são capazes de produzir mais lactato, utilizando a glicólise anaeróbica por mais tempo e conseqüentemente mantendo sua velocidade perto da máxima por muito mais tempo (característica importante para os velocistas).

    Esse tipo de treinamento é importante para aumentar a capacidade de tamponamento, quando o músculo tampona o lactato retardando o declínio do pH no músculo. Pesquisas recentes não deixam dúvida de que essa capacidade de tamponamento é um mecanismo treinável (MAGLISHO, 1999).

    Dessa forma, evidencia-se a importância do metabolismo anaeróbico para atletas velocistas, porém o tempo que o atleta pode tolerar suas taxas de lactato pode limitar sua performance (DEMINICE et al. 2007).

    As séries para treinamento de tolerância ao lactato devem ter um volume máximo de 300 a 1000 metros, entre 75 e 200 metros a cada repetição; pode-se utilizar algumas séries de 50, com duas a quatro repetições e intervalo curto. Essa série produzirá altos índices de lactato e estimularão o processo de tamponamento. O intervalo deve ser longo o suficiente para a recuperação da acidose. Cada repetição deve ter de 05 a 15 minutos de recuperação e sendo executado de forma ativa. As repetições devem ser nadadas na maior velocidade possível e o atleta deve atingir uma percepção 10 na escala de esforço de Borg (MAGLISCHO, 1999).

    Na performance competitiva, não só a capacidade de produzir, mas também a de sustentar os altos níveis de lactato sanguíneo nos últimos metros de prova está associada diretamente com o sucesso da mesma. No estudo de Deminice et al. (2007) concluiu-se que, uma das adaptações do treinamento de tolerância foi a de que os nadadores tornam-se capazes de manter por mais tempo a velocidade rápida de produção do lactato, retardando a diminuição da velocidade de nado. Estes autores testaram a série de treinamento intervalado de alta intensidade como índice de determinação da tolerância à acidose na natação e concluíram que a determinação dessa tolerância é um parâmetro útil para a determinação da aptidão anaeróbica e predição da performance nos 100m, além de ressaltar a importância da habilidade técnica do nadador a despeito da sua aptidão anaeróbica.

Controle e aplicações

    Dentre os diversos métodos de avaliação surgidos com a evolução do treinamento desportivo, a análise do lactato sanguíneo vem sendo empregada em diferentes modalidades como a principal ferramenta de avaliação de intensidade (OLBRECHT et al. 1985).

    Maglischo (1999) sugere que o controle das velocidades de treinamento e administração efetiva do treinamento de endurance exija um monitoramento preciso das alterações correntes das capacidades aeróbias e anaeróbias. Em função de ser o método mais exato para avaliar essas tarefas, o teste de lactato sanguíneo vem sendo o mais utilizado na natação.

    A análise do lactato não é um privilégio dos atletas. Também é utilizada, segundo Lopes (1999), para avaliar o nível da acidose metabólica em doentes críticos e pode ter suas taxas aumentadas em função da hipóxia, adrenalina, endotoxemia, déficit de tiamina, alcalose, asma aguda, dentre outras.

    Lopes (1999) cita que em repouso a taxa de lactato no sangue é de 2mM e pode ser alterada em exercícios para até 5mM; acima desse valor ocorre a acidose, atingindo uma acidose severa com 10mM. Na literatura específica encontra-se concentrações, em atletas de natação, superiores à 12mM após esforço máximo (COLWIN, 1991), mostrando a complexidade e importância do controle no treinamento.

    O perfil do lactato sanguíneo pode sofrer alterações significativas em 20 semanas de treinamento, mostrando a relação entre esta variável e os efeitos do treinamento (PENNY; LEE; SWANWICK, 2001).

    Os testes sanguíneos podem ser utilizados para melhorar o treinamento de quatro maneiras: (i) determinando as velocidades de treinamento, (ii) monitorando o progresso do treinamento, (iii) diagnosticando os pontos fracos do treinamento e (iv) comparando o potencial de desempenho nos atletas (MAGLISCHO, 1999).

Velocidades de treinamento

    As velocidades que influem na intensidade de treinamento podem ser determinadas diretamente através da determinação do limiar de lactato (MAGLISCHO, 1999). O autor sugere um dos testes mais populares para a determinação do limiar:

  • 6 repetições de 300 m de forma progressiva, com 1 minuto de intervalo entre eles;

  • Obtém-se a amostra de sangue do atleta em repouso, após o aquecimento e antes do primeiro tiro;

  • Coleta-se nova amostra de sangue em cada intervalo dos próximos 5 tiros;

  • Por último, amostras do lactato sanguíneo nos 1º, 3º, 5º, 7º e 9º minutos após o último nado em esforço máximo;

  • Observa-se o “tiro” em que a curva de lactato sanguíneo cresce de forma significativa;

  • Calcula-se a velocidade nadada no tiro em questão, a partir daí, aplica-se essa velocidade de limiar para as diferentes distâncias.

    Além deste, existem diversos protocolos para determinação do limiar (Griess et al. 1988; Pereira et al. 2002). Contudo, ainda não existe um protocolo totalmente preciso (MAGLISCHO, 1999). Esses protocolos podem trazer conseqüências negativas ao treinamento caso não sejam corretamente aplicados, pois podem indicar uma intensidade inadequada para a prescrição (ALMEIDA et al. 1999).

Progresso do treinamento

    O progresso do treinamento pode ser avaliado com a simples comparação de um teste para outro. Se ocorre um aumento da concentração de lactato sem correspondente aumento na velocidade, podemos dizer que houve uma deterioração da capacidade do atleta. Esse tipo de comparação ajuda na detecção do problema, possibilitando ao treinador corrigi-lo durante a temporada (MAGLISHO, 1999).

Pontos fracos no programa de treinamento

    A partir de testes do lactato sanguíneo é possível detectar deficiências no treinamento por meio da comparação de um teste para outro. É possível determinar se a programação está trabalhando mais um sistema de treinamento do que outro (sprint x endurance). Os desvios mais comuns no treinamento de natação são influenciados, ou pelo fato do nadador não ter se esforçado suficientemente em um dos testes ou pela piora em sua capacidade anaeróbica (MAGLISCHO, 1999).

Comparação de desempenho

    A análise de desempenho liga os resultados de testes fisiológicos e biomecânicos ao desempenho de cada nadador na competição, bem como sua evolução dentro de uma competição (STAGNER; TANNER, 2008).

    Maglischo (1999) sugere a utilização das curvas de velocidade do lactato para comparar um atleta com outro ou seu desempenho em uma competição.

Perigos e cuidados

    Além da importância do lactato no treinamento, existem alguns cuidados a serem tomados com o tipo de treinamento e controle do mesmo. Silva e Ribeiro (2001) descrevem que em estudos recentes, evidenciou-se a sofisticação dos treinamentos em função da obtenção de resultados, exigindo dos atletas maior determinação, maior carga horária e maior esforço, o que pode contribuir para o estresse físico e mental.

    Em relação à treinabilidade em jovens nadadores, Silva et al. (2007), ao testarem as respostas agudas pós-exercício dos níveis de lactato e creatinofosfoquinase (CPK) de atletas adolescentes, constataram que todos os aspectos testados indicaram dificuldade em estabelecer níveis adequados de intensidade durante a infância e os primeiros anos da adolescência, sugerindo, assim, cautela na prescrição de atividades, referenciando-se em outros indicadores como aspectos do crescimento, amadurecimento biológico e esforço percebido, a fim de minimizar comprometimentos à saúde dos atletas.

    Silva e Ribeiro (2001), em pesquisa sobre a reatividade do treinamento anaeróbico em atletas de natação, concluíram que existe uma grande necessidade de pesquisas em relação a esse tipo de aplicação, apontando estudos, tanto na área de psicologia quanto na de fisiologia mostrando que as crianças não estão preparadas para assimilação positiva das cargas de treinamento com intuito de adquirir a performance esportiva.

    Outro fator importante a ser ressaltado, é que, quando ocorre um aumento súbito no volume ou na intensidade de treinamento em atletas intensamente motivados para exceder seus limites, pode ocorrer o supertreinamento ou overtraining, o que é muito comum no período de desenvolvimento anaeróbico. Em função do aumento da intensidade e, por conseguinte, dos níveis de lactato objetivando desenvolver e aumentar a tolerância ao mesmo e à dor existe a possibilidade de causar sérios danos físicos e psicológicos aos atletas caso não haja controle adequado (MAGLISCHO, 1999).

    Existem outros fatores externos e psicológicos que não devem ser descartados em relação ao lactato, como, por exemplo, o estudo feito por Mougious e Deligiannis, (1993), que testaram o efeito da temperatura da água na performance, na produção de lactato e na freqüência cardíaca nas intensidades máximas e sub máximas na natação, comprovando que a temperatura da água influi diretamente na performance e nos níveis de lactato no sangue antecipando o ponto de inflexão do lactato e induzindo aumento precoce da FC quando a temperatura está abaixo do ideal, o que pode prejudicar o resultado.

Considerações finais

    No desenvolvimento deste trabalho de revisão foi descrita a importância do sistema lático na natação, bem como seus métodos e aplicações para o aprimoramento. Além disso, foram descritos os perigos e cuidados em sua aplicação.

    Com a evolução do treinamento e avanço tecnológico, tornou-se possível um maior controle e determinação das formas e intensidades de treinamento. O lactato sanguíneo é utilizado para avaliar diferentes situações dentro do treinamento, desde a determinação das intensidades até a avaliação da performance do atleta.

    Por meio da revisão bibliográfica apresentada e analisada neste trabalho, foi possível concluir que o lactato apresenta hoje um papel fundamental no treinamento de natação, mas é muito importante saber respeitar as diversas variáveis que influenciam nas avaliações e nos treinamentos como, a idade biológica do atleta, o gênero, os fatores que cercam os testes, o nível de estresse, o condicionamento individual, o estado psicológico na hora do teste, as temperaturas da água e ambiente, dentre outras. Também são importantes o cuidado na aplicação dos treinamentos sugeridos e cautela em sua aplicação e na escolha do melhor protocolo a fim de se evitar o sobretreinamento.

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