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Influência do nível de atividade física sobre a 

pressão arterial de repouso e durante o exercício físico

Influencia del nivel de actividad física sobre la presión arterial de reposo y durante el ejercicio físico

 

*Acadêmico de Educação Física. Universidade Federal de Juiz de Fora

**Acadêmica de Educação Física. Bolsista FAPEMIG de Iniciação Científica

Universidade Federal de Juiz de Fora

**Graduado em Educação Física

Especialista em Aspectos Biodinâmicos do Movimento

Mestrando em Aspectos Biodinâmicos do Movimento Humano

Faculdade de Educação Física. Universidade Federal de Juiz de Fora

Rhenan Bartels Ferreira*

Josiane Pereira da Silva**

Raphael de Alvarenga Mattos*

Tiago Peçanha de Oliveira***

tiago_faefid@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Introdução: Níveis elevados de pressão arterial sistólica e diastólica, tanto no repouso, quanto no exercício, são uma das principais causas de morte por doenças cardiovasculares. A prática regular de exercícios físicos promove redução da pressão arterial de repouso. Todavia ainda é controverso se a prática de atividades físicas proporciona uma melhora da resposta da pressão arterial frente a um esforço de mesma carga relativa. Objetivo: testar a hipótese de que indivíduos com maiores níveis de atividade física apresentam menores valores de pressão arterial de repouso durante o exercício se comparados com indivíduos com menores níveis de atividade física. Métodos: Participaram do estudo, 18 indivíduos, saudáveis, do sexo masculino. O protocolo experimental constou de aplicação do questionário de atividade física (Baecke, 1982), registro da pressão arterial de repouso e durante uma sessão de exercício físico. Dividiu-se a amostra nos seguintes grupos, de acordo com o nível de atividade física: BaixoNAF e AltoNAF. Comparou-se a pressão arterial de repouso e durante o exercício entre os grupos. Resultados: A pressão arterial sistólica de repouso foi significativamente menor no grupo de AltoNAF. Não houve diferenças estatisticamente significativas na pressão arterial diastólica de repouso, nem na pressão arterial sistólica e diastólica durante o exercício, entre os grupos. Conclusão: A prática de atividades físicas possui influência positiva sobre a pressão arterial sistólica de repouso e deve ser incentivada como recurso terapêutico não-medicamentoso para a prevenção da hipertensão arterial.

          Unitermos: Pressão arterial. Exercício físico. Nível de atividade física.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 153, Febrero de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Níveis elevados de pressão arterial (PA) sistólica (PAS) e diastólica (PAD), tanto no repouso, quanto no exercício, são uma das principais causas de morte por doenças cardiovasculares (Stokes et al., 1987; Singh et al., 1999; Mundal et al., 1994).

    A prática regular de exercícios físicos promove redução da PA de repouso (PA-rep). Diversos estudos mostram que indivíduos submetidos a um período de treinamento apresentaram menores valores de PA-rep em relação ao período pré-treinamento (Whelton et al., 2002; Kelley 1995). Além disso, o treinamento físico também previne a ocorrência de hipertensão arterial. Blair et al (1984) demonstraram que indivíduos com baixa capacidade física tiverem maiores chances de desenvolver níveis elevados de pressão arterial em repouso em comparação com indivíduos ativos, após um período de 4 anos de acompanhamento.

    Durante a prática de atividades físicas, dada a demanda metabólica elevada, observa-se aumento da freqüência cardíaca e do volume sistólico, promovendo aumento do débito cardíaco e, conseqüentemente, da PA, sobretudo a PAS (Higginbotham et al., 1986; Leary et al., 2000; Burger et al., 2009). Assim como no repouso, o prática de atividades físicas também reduz a PA durante o exercício físico (PA-ex) para uma mesma carga absoluta. Ou seja, indivíduos fisicamente ativos apresentam respostas hemodinâmicas de menor magnitude frente ao mesmo trabalho, quando comparados a indivíduos sedentários ou com menores níveis de atividade física (Vanhoof et al., 1989; Lima et al., 1998). Todavia ainda é controverso se a prática de atividades físicas proporciona uma melhora da resposta da pressão arterial frente a um esforço de mesma carga relativa. Deste modo, o presente estudo tem o objetivo testar a hipótese de que indivíduos com maiores níveis de atividade física (NAF) apresentam menores valores de PA-rep e PA-ex frente a uma mesma carga relativa de exercício, se comparados com indivíduos com menor NAF.

Métodos

Amostra

    Participaram do estudo 18 indivíduos (idade = 21,9 ± 2 anos; IMC = 24,0 ± 2 kg/m2), saudáveis, do sexo masculino. Todos os indivíduos foram aconselhados a não ingerir bebida alcoólica ou cafeinada, assim como a não praticar qualquer exercício físico 24 horas antes dos testes. O uso de medicamentos que afetassem a função cardiovascular foi critério de exclusão para o estudo. Os indivíduos foram devidamente orientados quanto aos procedimentos a serem realizados e assinaram o termo consentimento livre e esclarecido. O protocolo experimental foi aprovado pelo comitê e ética em pesquisa com seres humanos da Universidade Federal de Juiz de Fora.

Protocolo experimental

    O protocolo experimental ocorreu em dois dias, com intervalo de 24 horas, no mínimo, entre os dias. No primeiro dia, os voluntários realizaram medidas antropométricas (massa corporal e estatura), avaliação do nível de atividade física e um teste de esforço máximo. No segundo dia, os mesmos voluntários realizaram a aferição da PA-rep e foram submetidos a uma sessão de exercício físico em cicloergômetro, com aferição da PA-ex.

Nível de atividade física

    O nível de atividade física foi avaliado por meio do questionário internacional do nível de atividade física (QIAF) (Baecke et al., 1982), validado para estudos com adultos brasileiros (Florindo & Latorre, 2003). A partir da soma dos escores obtidos nos domínios AFO (atividade física ocupacional), EFL (exercícios físicos no lazer) e ALL (atividades de lazer e locomoção), obteve-se o escore geral de atividade física, denominado nível de atividade física (NAF).

Teste de esforço máximo

    Para avaliação da aptidão aeróbica, os indivíduos realizaram um teste de esforço máximo, em cicloergômetro de frenagem eletromagnética, com potência inicial de 100 W e incrementos de 25 W a cada minuto, até a exaustão voluntária máxima. A potência pico, em watts, atingida no teste foi registrada e utilizada para a prescrição da sessão de exercício do segundo dia.

Medida da pressão arterial

    A PA foi aferida pelo método auscultatório, com um esfigmomanômetro de coluna de mercúrio. Para aferição da PA-rep, os indivíduos permaneceram em repouso, na posição supina, durante 15 minutos. A PA-rep foi mensurada duas vezes, sendo utilizado para análise o valor médio das duas aferições. A PA-ex foi aferida 3 vezes durante o exercício, sendo consideradas todas as três medidas para as análises.

Sessão de exercício

    Todos os voluntários realizaram uma sessão de exercício submáximo em cicloergômetro, em uma intensidade de 50% da carga máxima (watts) atingida no teste de esforço máximo, com duração de 30 minutos.

Tratamento estatístico

    Os dados foram apresentados em média ± desvio padrão. Os indivíduos foram divididos - quanto ao NAF - em dois grupos iguais: baixoNAF (n=9) e altoNAF (n=9). Para comparação de grupos, utilizou-se de Teste T para medidas independentes.

Resultados

Amostra

    A caracterização da amostra segue detalhada na Tabela 1. Não houve diferenças estatisticamente significativas entre os grupos nas variáveis idade e IMC.

Tabela 1. Caracterização da amostra

Grupo

Idade (anos)

IMC (kg/m2)

NAF (escore)

Grupo BaixoNAF

21,9±1,5

23,9±2,8

8,2±0,6*

Grupo AltoNAF

22,5±1,8

24,1±1,9

9,8±0,7

(*) p <0,05

Influência do nível de atividade física sobre a pressão arterial de repouso

    As Figuras 1 e 2 apresentam a comparação dos valores de PAS-rep e PAD-rep entre os grupos. O grupo altoNAF apresentou valores de PAS-rep significativamente mais baixos do que o grupo baixoNAF (p<0,05). Não houve diferenças entre os grupos na PAD-rep.

Figura 1. Comparação da PAS-rep entre os grupos (* p<0,05)

 

Figura 2. Comparação da PADrep entre os grupos

 

Influência do nível de atividade física sobre a pressão arterial durante o exercício

    As Figuras 3 e 4 apresentam a comparação dos valores de PAS-ex e PAD-ex entre os grupos. Não houve diferenças significativas entre os grupos para nenhum valor de PAS-ex e PAD-ex.

Figura 3. Comparação do comportamento da PASex entre os grupos

 

Figura 4. Comparação do comportamento da PADex entre os grupos

Discussão

    No presente estudo, observou-se que, indivíduos com maior NAF apresentam menor PAS-rep. O mesmo não aconteceu com a PAD-rep e com a PAS-ex e PAD-ex.

Influência do nível de atividade física sobre a pressão arterial de repouso

    Os resultados do presente estudo, quanto a influência do NAF na PA-rep, concordam com os achados da literatura. Whelton et al. (2002), em uma elegante metanálise, demonstraram que 44, de 53 experimentos, encontraram reduções significativas da PAS-rep. Enquanto isto, 34, de 50 ensaios, não apresentaram reduções significativas da PAD-rep.

    Os mecanismos responsáveis pela diminuição da PA-rep em resposta a prática regular de exercícios físicos ainda não estão totalmente esclarecidos, porém adaptações hemodinâmicas e/ou neuro-humorais parecem estar relacionadas a essa resposta (Laterza et al., 2006). Alguns estudos conduzidos em hipertensos mostraram que a redução do débito cardíaco (DC) e/ou da resistência periférica total (RPT), podem explicar a diminuição da PA-rep após a adoção de uma vida fisicamente ativa. A redução da atividade simpática parece estar por trás de tais respostas (Urata H et al.,1987; Laterza et al., 2006).

Influência do nível de atividade física sobre a pressão arterial durante o exercício

    No presente estudo, um maior NAF não determinou menor PA-ex. Inicialmente, deve-se destacar que a carga utilizada nos exercícios foi de mesma magnitude relativa para os indivíduos dos dois grupos. Em números absolutos, a carga foi maior nos indivíduos do grupo AltoNAF do que nos do grupo BaixoNAF. Os estudos que mostraram redução da PA-ex após um período de treinamento físico utilizaram cargas absolutas de trabalho. Uma determinada carga que, antes do treinamento físico, representava um valor percentual da potência pico de um indivíduo, passará, com o aumento de condicionamento físico do mesmo, a representar um valor percentual menor após este período. Tal indivíduo necessitará de uma demanda metabólica menor para exercer este trabalho e, portanto, os níveis de PA-ex apresentar-se-ão diminuídos (Lima et al.,1998; Vanhoof et al.,1989).

    Outro fator que deve ser levado em consideração diz respeito ao fato de o grupo AltoNAF ter sido formado por indivíduos com práticas “normais” de atividade física. Talvez as diferenças pudessem aparecer caso tivessem sido avaliados atletas ou participantes de programas exercícios físicos de maior intensidade.

Aplicação prática e futuras investigações

    Os resultados apresentados reforçam o papel hipotensor da atividade física e contribuem para o incentivo populacional pela escolha de hábitos de vida ativos como medida preventiva e terapêutica para o controle dos níveis pressóricos. Entretanto, não foi observado qualquer influência do NAF sobre a PA-ex. Neste sentido, é importante que mais estudos sejam realizados, com amostras maiores e mais diversificadas. A realização de estudos longitudinais também ajudariam a melhorar o entendimento sobre o tema exposto.

Conclusão

    Indivíduos com maior NAF apresentam menor PAS-rep. O mesmo não foi observado na PAD-rep, PAS-ex e PAD-ex. Os resultados do presente estudo reforçam o papel hipotensor da atividade física regular.

Referências

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