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Reabilitação cardiovascular, doença arterial coronariana 

e infarto agudo do miocárdio: efeitos do exercício físico

Rehabilitación cardiovascular, enfermedad arterial coronaria e infarto agudo de miocardio: efectos del ejercicio físico

 

*Graduada em Educação Física

Pós-graduanda em Musculação e Personal Trainer

Centro Universitário de Patos de Minas, UNIPAM, Patos de Minas, MG

**Graduado em Educação Física, Universidade de Franca, UNIFRAN

Mestre em Promoção da Saúde, UNIFRAN

Doutorando em Ciências Nutricionais, Universidade Estadual

Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP Araraquara

Docente do curso de Educação Física do UNIPAM, Patos de Minas, MG

e da Universidade de Franca, UNIFRAN/Franca

Priscilla Rosa Queiroz Ribeiro*

priscillarqr@yahoo.com.br

David Michel de Oliveira**

david@unipam.edu.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Visto que as doenças que acometem o sistema cardiovascular, causando prejuízos em seu funcionamento, são as principais causas de morte no mundo e sabendo que o sedentarismo aumenta significativamente o risco para o desenvolvimento dessas doenças, além de estar relacionado com a mortalidade por todas as causas, torna-se de suma importância a promoção de hábitos de vida mais ativos como forma de prevenção e reabilitação cardiovascular. Haja vista o afirmado acima, se nota a importância da adoção de programas e da realização de estudos sobre prevenção e reabilitação cardiovascular para que se possa minimizar tanto a morbidade e mortalidade quanto os custos sociais e econômicos causados pelas doenças cardiovasculares, sobretudo a doença arterial coronariana (DAC) e o infarto agudo do miocárdio (IAM). O presente estudo teve por objetivo verificar através de revisão de literatura os efeitos do exercício físico no processo de reabilitação cardiovascular, principalmente frente a DAC e o IAM. A revisão bibliográfica realizada apontou a importância da reabilitação cardiovascular com ênfase em exercícios físicos como forma de combate às doenças cardiovasculares (DCV), salientando-se que estes programas devem contemplar tanto exercícios aeróbios quanto resistidos.

          Unitermos: Reabilitação cardiovascular. Doenças cardiovasculares. Exercícios físicos.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 152, Enero de 2011. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    As doenças cardiovasculares (DCV) são doenças que atingem o sistema cardiovascular alterando o seu funcionamento. Sendo o sistema cardiovascular o responsável por transportar o oxigênio e os nutrientes necessários ao funcionamento das células e recolher os co-produtos do metabolismo dessas, fica evidente que o funcionamento inadequado desse sistema pode provocar prejuízos ao funcionamento de todo o corpo.

    Dentre as doenças cardiovasculares de maior ocorrência pode-se destacar a doença arterial coronariana (DAC) ou aterosclerose, a insuficiência cardíaca (IC), a angina, o infarto agudo do miocárdio (IAM), as doenças valvulares, as arritmias e as doenças hipertensivas, entre outras. Sendo que este estudo enfocará especificamente a aterosclerose, o infarto agudo do miocárdio e processo de reabilitação cardiovascular.

    Visto que as doenças que acometem o sistema cardiovascular, causando prejuízos em seu funcionamento, são as principais causas de morte no mundo e sabendo que o sedentarismo aumenta significativamente o risco para o desenvolvimento dessas doenças, além de estar relacionado com a mortalidade por todas as causas (NOBRE; SANTOS; FONSECA, 2005), torna-se de suma importância a promoção de hábitos de vida mais ativos como forma de prevenção e reabilitação cardiovascular.

    Hoje já é conhecida a efetividade de programas de reabilitação cardiovascular na redução e/ou remoção de fatores de risco para as DCV e também a boa relação custo-efetividade destes programas já que estes apresentam custos relativamente baixos, quando comparados ao tratamento medicamentoso, por exemplo, e por isso, torna-se imprescindível a utilização desses na reabilitação cardiovascular.

    Haja vista o afirmado acima, se nota a importância da adoção de programas e da realização de estudos sobre prevenção e reabilitação cardiovascular para que se possa minimizar tanto a morbidade e mortalidade quanto os custos sociais e econômicos causados pelas doenças cardiovasculares, sobretudo a DAC e o IAM. Ressalta-se também a utilização de exercícios físicos nesses programas, já que a prática regular e bem orientada “ou mesmo o estilo de vida mais ativo tem demonstrado ser um meio de proteção contra a ocorrência de doenças cardiovasculares, reduzindo não só a mortalidade cardiovascular, mas também a mortalidade por todas as causas” (NOBRE; SANTOS; FONSECA, 2005).

    O presente estudo teve como objetivo realizar uma revisão de literatura sobre a reabilitação cardiovascular e suas respostas frente a protocolos de exercício físico, utilizando-se para isso a verificação de estudos clássicos e contemporâneos analisando os efeitos do exercício físico no processo de reabilitação cardiovascular, frente a DAC e o IAM, buscando, dessa forma, levantar informações sobre o tema abordado, de forma a possibilitar uma contribuição científica para a área de Ciência da Atividade Física.

2.     Reabilitação cardiovascular

    “Arte e ciência de restituir ao indivíduo o grau de atividade física e mental, compatível com a capacidade funcional do seu coração”, essa foi a primeira definição de reabilitação cardiovascular referida por La Chapelle (GIANNINI; FORTI; DIAMENT, 2000), já Godoy (1997) define reabilitação cardiovascular “como um ramo de atuação da cardiologia que, implementada por equipe de trabalho multiprofissional, permite a restituição, ao indivíduo, de uma satisfatória condição clínica, física, psicológica e laborativa”.

    Os efeitos benéficos dos exercícios físicos sobre as cardiopatias foram descobertos ainda no século XVIII e corroborados cerca de 100 anos depois, entretanto, com o passar do tempo os benefícios foram esquecidos e adveio a crença de que a prática física seria perigosa para as pessoas com DCV. Apenas na segunda metade do século XX é que programas de reabilitação cardiovascular começaram a ser implantados. Apesar de hoje ser bastante conhecida e divulgada a eficácia da reabilitação cardiovascular ainda é pequena a adesão dos pacientes cardiopatas a esses programas, Alves et al. (2005) afirma que apenas cerca de 10% a 30% dos candidatos participam de programas formais.

    A reabilitação cardiovascular tem como objetivos primordiais “aprimorar a capacidade funcional, eliminar ou reduzir os sintomas induzidos pela atividade, reduzir a incapacidade e identificar e modificar os fatores de risco para DAC na tentativa de reduzir a mortalidade e a morbidez cardiovasculares” (LAFONTAINE; GORDON, 2003). De acordo com Araújo (2004) e Ricardo e Araújo (2006) dados indicam uma redução de 20% a 30% na mortalidade de pessoas que participam de programas formais de reabilitação cardiovascular.

    É importante destacar o caráter multiprofissional que deve ter um programa de reabilitação cardiovascular, para que esse possa exercer influência positiva em várias esferas da vida do paciente. Neste estudo o enfoque é a atuação do profissional de Educação Física no processo de reabilitação cardiovascular com ênfase no exercício.

2.1.     Fases da reabilitação cardiovascular

    Para a recuperação do paciente após um evento cardiovascular são propostos programas de reabilitação divididos em quatro fases, cujas descrições e características são apontadas por Alves et al. (2005) e Gardenghi e Dias (2007).

    A fase I é realizada ainda na unidade coronariana e se baseia em atividades de baixa intensidade (< ou = a 2 METS). Essa fase visa preparar psicologicamente os pacientes para a realização de atividades diárias após a alta e consiste também em educação e aconselhamento sobre a necessidade de mudanças no estilo de vida. Algumas respostas adversas podem se manifestar nessa fase, como arritmias, hipotensão durante o exercício e angina. Se a resposta ao programa for adequada, a intensidade poderá ser aumentada, respeitando-se a individualidade biológica.

    A fase II é realizada também em ambiente hospitalar e pode ser iniciada 24 h após a alta. Consiste em atividades físicas monitoradas e desenvolvimento da capacidade de automonitoração (FC, percepção do esforço, sintomas). A partir do momento em que o paciente aprende a se automonitorar ele está apto a passar para a próxima fase.

    A fase III começa cerca de 2 meses após o evento cardiovascular e pode ser realizada em ambiente extra-hospitalar, já que não é mais necessária a monitoração intensa. Consiste em evitar a evolução da cardiopatia bem como prevenir a reincidência de um evento cardiovascular.

    A fase IV é realizada em ambiente externo e consiste na manutenção da prática física, já que nessa fase o paciente está apto a praticar exercícios físicos se automonitorando. É aconselhável a adesão a um treinamento físico bem orientado.

2.2.     Indicações e benefícios

    De acordo com Piegas (2004) “a reabilitação cardíaca é indicada em todas as situações clínicas que caracterizam evolução estável”. No I Consenso Nacional de Reabilitação Cardiovascular Godoy (1997) indica o ingresso em um programa de reabilitação cardiovascular dos indivíduos portadores de fatores de risco de DAC; portadores de DAC, isquemia miocárdica silenciosa, angina estável, hipertensão; pós-IAM, pós-revascularização miocárdica, pós-angioplatia coronária; valvopatias; portadores de cardiopatias congênitas; cardiomiopatia dilatada; pós-transplante cardíaco; portadores de marcapasso.

    São vários os benefícios da reabilitação cardiovascular com ênfase em exercícios para as pessoas portadoras de DCV. O treinamento físico associado a modificações no estilo de vida reduz em 20 a 35% a mortalidade cardiovascular (GODOY, 1997). Além da ação do exercício físico sobre os fatores de risco pode-se apontar ainda como benefícios a melhora da perfusão miocárdica com aumento da circulação colateral; a melhora da viscosidade sanguínea, o que minimiza o processo de aterogênese, a predisposição a ruptura da placa e consequentemente a isquemia; o aumento da velocidade do fluxo sanguíneo no interior da artéria e o atrito no endotélio, que causam dilatação das artérias coronárias estimulando a liberação e expressão de RNAm para a síntese de óxido nítrico, que tem ação vasodilatadora; aumento da capacidade funcional; alívio dos sintomas e bem estar psicosocial (LEITE, 1997; FARDY et al., 2001; ALVES et al., 2005; GARDENGHI; DIAS, 2007).

2.3.     Contra-indicações e riscos

    Existem algumas contra-indicações à prática de exercícios físicos por parte de pessoas portadoras de DCV, estas são apontadas no I Consenso Nacional de Reabilitação Cardiovascular e estão apresentadas no quadro a seguir:

  • Insuficiência cardíaca

  • Infarto agudo do miocárdio

  • Angina estável grau IV (CCS) e instável

  • Miocardite ativa

  • Pericardite aguda

  • Aneurismas de aorta torácica ou abdominal

  • Embolias pulmonar ou sistêmica recentes

  • Tromboflebite

  • Hipertensão pulmonar ou arterial grave não tratadas

  • Estenose aórtica e insuficiência mitral graves

  • Taquicardia ventricular, em repouso

  • Infecções agudas

  • Lesão de tronco de coronária esquerda ou equivalente, não tratadas

  • Obstrução arterial periférica graus III, IV e II limitante (Fontaine)

  • Retinopatia diabética com deslocamento de retina

Quadro 1. Contra-indicações absolutas ao treinamento físico convencional.

Fonte: Godoy (1997). Tabela modificada de Haskell WL.

    O número de complicações durante programas de reabilitação cardiovascular é baixo, entretanto, podem ocorrer episódios de morte súbita, IAM e parada cardiorespiratória, portanto, esses programas devem contar com recursos materiais e profissionais para possíveis casos de emergência.

2.4.     Teste ergométrico

    Para a adequada prescrição de programas de exercícios para a reabilitação cardiovascular é importante que se realize antes um teste ergométrico ou se possível ergoespirométrico, já que estes “contribuem para definir a intensidade do exercício mais adequada à capacidade física do indivíduo e embasar a progressão do condicionamento” (ALVES et al., 2005).

    O teste ergométrico é o registro da atividade elétrica do coração através de eletrocardiograma durante esforço físico e pode ser realizado em esteira ergométrica ou cicloergômetro. O teste ergométrico pode ser realizado isoladamente ou combinado com a análise dos gases expirados (ergoespirometria), sendo que sempre que possível deve ser utilizado este segundo, uma vez que “além de avaliar a capacidade de reserva funcional do sistema cardiovascular e respiratório, fornece dados como o consumo de pico de oxigênio, produção de dióxido de carbono, ventilação pulmonar, pressão expirada de oxigênio e de dióxido de carbono, entre outros dados” (GARDENGHI; DIAS, 2007), apresentando grande importância clínica para análise e prescrição segura de exercícios físicos para indivíduos cardiopatas.

    As finalidades para a realização do teste ergométrico estão apresentadas a seguir:

  • Avaliação da capacidade funcional

  • Determinação do risco para futuros eventos

  • Determinação de fatores limitantes

  • Reavaliação do esquema terapêutico

  • Orientação para a prescrição de atividades físicas e programas de reabilitação

  • Seleção de pacientes com indicação de estudo hemodinâmico

  • Efeitos psicológicos e avaliação prognóstica

Quadro 2. Finalidades do teste ergométrico.

Fonte: Piegas (2004).

2.5.     Prescrição de exercícios

    Para a prescrição segura de exercícios físicos para cardiopatas é necessário que essa seja individualizada e leve em consideração a individualidade do sujeito. Na elaboração do programa deve-se abordar a intensidade do exercício, a freqüência, a duração e o tipo de exercício, sendo que, em relação a este último, Godoy (1997) afirma que “em programas de atividade física, visando à saúde e a qualidade de vida, devem estar incluídas: resistência aeróbia, resistência muscular localizada (RML) e flexibilidade”.

    Para determinação da intensidade do exercício utiliza-se geralmente a escala de Borg ou a freqüência cardíaca de treinamento. Com a utilização da escala de Borg de acordo com a percepção subjetiva de esforço (PSE) do indivíduo nas fases iniciais do treinamento determina-se a intensidade do exercício que corresponda com a percepção do sujeito em 10 a 12 pontos da escala de Borg graduada de 6 a 20 (GODOY, 1997). Na prescrição através da FC treinamento utiliza-se a fórmula de Karvonen baseando-se na FC máxima, obtida através da ergometria ou através da fórmula FC máx.= 220 – idade, na FC repouso e na porcentagem da FC para o treinamento, que deve variar entre 50 a 80%. Nesse caso utiliza-se a seguinte fórmula: FC treinamento = (FC máx. – FC rep.) x % de treinamento físico + FC rep. (ALVES et al., 2005; GARDENGHI; DIAS, 2007). Em relação à freqüência e duração em programas de reabilitação cardiovascular, as sessões de treinamento devem ser realizadas com uma freqüência de 3 a 5 vezes semanais e com duração mais prolongada entre 30 e 60 minutos (Ibidem).

    Os exercícios físicos aeróbios por envolverem grandes grupos musculares, serem realizados de forma cíclica e mantidos por longo período de tempo geralmente são os mais utilizados com indivíduos cardiopatas e são bastante eficientes tanto na prevenção quanto na reabilitação cardiovascular.

    Os exercícios de resistência são também de grande importância por atuarem na manutenção da força muscular necessária para a realização das atividades diárias. Para a reabilitação cardiovascular estes devem ser realizados preferencialmente de forma dinâmica (isotônica), com uma carga de até 50 a 60% da carga voluntária máxima, em séries (cerca de 3) de aproximadamente 15 repetições, com um intervalo mais prolongado entre as séries (GODOY, 1997; ALVES et al., 2005; GARDENGHI; DIAS, 2007).

3.     Doença Arterial Coronariana (DAC)

3.1.     Fisiopatologia

    A doença arterial coronariana (DAC), também denominada aterosclerose coronariana, “é um fenômeno patológico que resulta em lesões que comportam o potencial de obstruir o fluxo sanguíneo principalmente nas artérias coronárias, carótidas, ilíacas e femorais e na aorta” (SQUIRES, 1999) e suas principais manifestações são a angina pectoris, o infarto agudo do miocárdio e a morte súbita (COLOMBO; AGUILLAR, 1997).

    A artéria coronária normal é constituída por quatro camadas celulares que formam a parede arterial e por um canal por onde o sangue flui no interior da artéria, a luz arterial. As quatro camadas que formam a parede arterial são, de interna para externa, o endotélio, que atua como uma barreira entre o sangue e a parede arterial e é formado por células seletivamente permeáveis; a íntima, que é formada por tecido conjuntivo com presença de algumas células musculares lisas; a média, onde estão contidas a maior parte das células musculares lisas e também tecido conjuntivo elástico; e a adventícia, formada por colágeno, elastina, fibroblastos e poucas células musculares lisas (MOORE; DALLEY, 2007). “A íntima é a área da parede arterial onde se formam as lesões da aterosclerose” (SQUIRES, 2003), já o endotélio, em condições normais, tem um efeito protetor sobre o processo aterosclerótico, por produzir substâncias como o óxido nítrico e o plasminogênio que inativam as plaquetas, inibem a aderência das células do sangue à parede arterial, inibem a migração e proliferação das células musculares lisas e dissolvem coágulos sanguíneos, respectivamente. No entanto, quando lesionada a camada endotelial exerce papel crítico no surgimento da DAC (Ibidem).

    O processo aterosclerótico se inicia com a lesão das paredes arteriais, sendo que os danos à parede arterial acontecem como uma resposta aos vários fatores de risco para DCV, destacando-se em relação a DAC o tabagismo, a hipertensão, os níveis elevados de colesterol e a inatividade física. Em resposta à lesão arterial os linfócitos, células de defesa do sangue, acumulam-se na íntima, local da lesão, e se transformam em macrófagos. Os macrófagos são células fagocitárias, que fagocitam a LDL-c e outros resíduos aumentando a placa aterosclerótica e provocando a liberação de proteínas que estimulam a produção de colágeno e aumentam o estreitamento das artérias. Usualmente, ocorre a formação de um coágulo que obstrui a luz arterial e priva o miocárdio do fluxo sanguíneo necessário ao seu funcionamento, causando eventos isquêmicos que podem inclusive levar a um infarto agudo do miocárdio (IAM) (NIEMAN, 1999; SQUIRES, 2003; MCARDLE; KATCH; KATCH, 2008).

3.2.     Epidemiologia

    A doença arterial coronariana (DAC) é a principal e mais encontrada forma de doença cardiovascular (GERBER; ZIELINSKY, 1997; NIEMAN, 1999) e também a principal causa de mortalidade em países industrializados desenvolvidos e em desenvolvimento, incluindo o Brasil (SQUIRES, 2003; ROMALDINI et al., 2004; STABELINI NETO et al., 2008), constituindo-se ainda como a principal causa de morte súbita (GIANNINI; FORTI; DIAMENT, 2000) e representando também um grande ônus econômico.

    Apesar de a maior incidência de DAC ocorrer a partir da meia idade, vários estudos que analisaram os vasos arteriais de crianças e adolescentes com diversas causas de morte têm mostrado a presença de placas ateroscleróticas já nessas fases da vida (GERBER; ZIELINSKY, 1997; ROMALDINI et al., 2008; SANTOS et al., 2008; MCARDLE; KATCH; KATCH, 2008), sendo que quanto maior a agregação de fatores de risco mais grave o quadro aterosclerótico, o que explica os grandes números epidemiológicos dessa doença em todas as idades, já que um grande número de fatores de risco tem-se feito presentes no estilo de vida adotado pela sociedade contemporânea.

3.3.     Efeitos do exercício físico

    A inatividade física é um dos principais fatores de risco para a DAC chegando a duplicar o risco de desenvolvimento dessa doença (NIEMAN, 1999; MCARDLE; KATCH; KATCH, 2008). A prática regular de exercícios físicos tem um efeito protetor contra a DAC e “muitos especialistas acreditam que uma das principais razões das pessoas ativas apresentarem menos doença coronariana é que os outros fatores de risco estão tipicamente sob controle” (NIEMAN, 1999), entretanto, estudos têm demonstrado que para oferecer seu efeito protetor o exercício físico tem que ser permanente durante a vida do indivíduo (SANTOS et al., 2008).

    Apesar da controvérsia existente em relação aos verdadeiros efeitos do exercício físico sobre as DAC devido ao questionamento sobre se as pessoas são saudáveis por fazerem exercícios físicos ou se fazem exercícios físicos por serem saudáveis, hoje são amplamente aceitos e divulgados os diversos efeitos benéficos dos diferentes tipos de exercício físico sobre a DAC. Em relação aos exercícios resistidos, segundo Nieman (1999), as artérias coronárias dos indivíduos praticantes desse tipo de exercício físico têm capacidade de “se expandir mais, são menos rígidas na velhice e são mais largas do que as dos indivíduos não treinados. Mesmo quando existe alguma placa, [...], são suficientemente largas para diminuir o risco de uma oclusão total, acarretando um ataque cardíaco”. Já em relação aos exercícios aeróbicos, esses são os mais amplamente aceitos como forma protetora contra a DAC e são vários os seus efeitos benéficos conhecidos, apresentados no quadro a seguir:

  • Melhora a circulação e o metabolismo do miocárdio de forma a proteger o coração do estresse hipóxico. As melhoras incluem uma vascularização aprimorada e uma capacidade do fluxo sanguíneo coronariano aumentada através do controle alterado do músculo liso vascular coronariano, assim como uma maior reatividade dos vasos de resistência coronarianos. Aumentos moderados nas reservas cardíacas de glicogênio e na capacidade glicolítica também se revelam benéficos se o suprimento de oxigênio do coração acaba sendo comprometido bruscamente.

  • Aprimora as propriedades mecânicas do miocárdio para permitir que o coração treinado com exercícios mantenha ou aumente a contratilidade durante um desafio específico.

  • Estabelece características da coagulação sanguínea e outros mecanismos hemostáticos mais favoráveis, incluindo maior fibrinólise e produção de prostaciclina endotelial.

  • Normaliza o perfil dos lipídeos sanguíneos de forma a retardar ou até mesmo reverter a aterosclerose.

  • Altera favoravelmente a freqüência cardíaca e a pressão arterial, de forma que o trabalho do miocárdio diminui profundamente durante o repouso e o exercício.

  • Suprime o aumento de peso corporal relacionado à idade e promove uma composição corporal e uma distribuição da gordura corporal mais desejáveis, particularmente um nível reduzido de tecido adiposo intra-abdominal.

  • Estabelece um equilíbrio neuro-hormonal mais favorável a fim de conservar oxigênio para o miocárdio; melhora a mistura de carboidratos e gorduras metabolizados pelo corpo.

  • Proporciona uma saída favorável para o estresse e a tensão psicológicos.

Quadro 3. Possíveis mecanismos para os efeitos benéficos do exercício aeróbico regular sobre 

o risco de doença cardíaca coronariana e mortalidade. Fonte: McArdle, Katch e Katch (2008).

4.     Infarto Agudo do Miocárdio (IAM)

4.1.     Fisiopatologia

    A ruptura da placa aterosclerótica, a vasoconstrição e a formação de um trombo oclusivo levam a ocorrência de evento isquêmico no miocárdio, sendo que a propensão da placa à ruptura geralmente não está relacionada ao seu tamanho e percentual de oclusão, mas sim a sua vulnerabilidade, assim, “a aterosclerose coronariana obstrutiva grave não é um pré-requisito para a ocorrência de infarto agudo do miocárdio” (SQUIRES, 2003). De acordo com o mesmo autor a ruptura da placa e oclusão arterial por formação de trombo e/ou vasoespasmo com duração menor que dez minutos antes da dissolução do coágulo desencadeia um quadro de angina pectoris, já uma ruptura mais extensa da placa e obstrução trombótica por um tempo aproximado e superior a sessenta minutos antes da dissolução do coágulo caracteriza um quadro de infarto agudo do miocárdio (IAM).

    A isquemia é a interrupção do fluxo sanguíneo normal para o miocárdio reduzindo assim o suprimento de oxigênio necessário ao seu funcionamento, tanto a angina pectoris quanto o IAM são eventos isquêmicos do miocárdio (TOPOL, 2005).

    A angina pectoris é uma dor transitória e de localização e intensidade variadas. Geralmente a dor se manifesta abaixo do esterno, na maxila, pescoço e braços, podendo ocorrer também no epigástrio e espaço interescapular; a intensidade é variável e a sensação é de pressão, sufocação, enfado, queimação e opressão e habitualmente é desencadeada por situações de esforço e emoção, podendo, entretanto, ocorrer em repouso (SQUIRES, 2003).

    O infarto agudo do miocárdio (IAM) é a necrose das células cardíacas (miócitos) ocasionada por eventos isquêmicos prolongados (superior a sessenta minutos) provocados por oclusão coronariana completa e o que diferencia um IAM reversível de um irreversível é a ruptura da membrana dos miócitos, sendo que “o miócito não consegue recuperar-se quando ocorre ruptura da membrana e o conteúdo citoplasmático (p. ex., enzimas) é lançado na circulação” (SQUIRES, 2003). Piegas (2004) afirma que “cerca de 75% a 85% dos pacientes apresentam dor torácica como sintoma predominante. A dor, usualmente prolongada (>20min) e desencadeada por exercício ou por estresse, pode ocorrer em repouso”, entretanto, cabe ressaltar que a intensidade da dor é variável e que o evento pode até ser indolor.

    Algumas complicações podem surgir como consequência do IAM e também constituem-se como causa de mortalidade, entre essas complicações é importante destacar-se as arritmias ventriculares, como a taquicardia ventricular e a fibrilação ventricular, a ruptura da parede livre ventricular, o aneurisma ventricular esquerdo, a ruptura do septo interventricular, a extensão ou recidiva do infarto, a disfunção ventricular esquerda, a ruptura do músculo papilar que causa regurgitação da válvula mitral e a pericardite (síndrome de Dressler) (GIANNINI; FORTI; DIAMENT, 2000; SQUIRES, 2003; PIEGAS, 2004).

4.2.     Indicadores

    De acordo com Escosteguy et al. (2003) o diagnóstico de IAM está “geralmente baseado no tripé história clínica, evolução eletrocardiográfica e curva enzimática”. Como já mencionado anteriormente quando a membrana dos miócitos se rompe algumas substâncias citoplasmáticas, como as enzimas cardíacas, são lançadas pela área necrosada para a corrente sanguínea e essas substâncias são importantes indicadores de estresse cardíaco sendo bastante úteis no diagnóstico de IAM.

    A creatina cinase (CK) é uma enzima que catalisa o fosfato de creatina para a ressíntese de ATP e uma de suas isoenzimas, a MB, está presente no coração. De acordo com Squires (2003) “um aumento na concentração sanguínea de CK-MB é um marcador enzimático precoce específico para necrose do miocárdio”, o autor afirma que se o paciente for atendido dentro das primeiras 24 horas após o início do IAM “as mensurações de CK total e de CK-MB possuem uma excelente sensibilidade para a identificação da necrose miocárdica” (Ibidem).

    A mioglobina, uma hemoproteína transportadora de oxigênio presente nos músculos esquelético e cardíaco, apresenta valor preditivo negativo e “é considerada excelente para afastar o diagnóstico de IAM” (PIEGAS, 2004), embora de acordo com o mesmo autor não seja um marcador específico, visto que cerca de 25% dos pacientes apresentam concentrações sanguíneas elevadas dessa hemoproteína ainda que não apresentem lesão cardíaca.

    Outro indicador de IAM liberado pelo miocárdio lesado é a troponina I cardíaca, que é uma proteína contrátil do miocárdio. Essa proteína é utilizada no diagnóstico precoce de IAM, mas também é um importante marcador tardio já que suas concentrações permanecem elevadas por até 10 dias após a ocorrência do infarto (SQUIRES, 2003). De acordo com Piegas (2004) “mais do que para o diagnóstico, os marcadores bioquímicos de lesão miocárdica possuem papel prognóstico nesses pacientes”, no que reside a importância das mensurações desses marcadores.

    A proteína C reativa (PCR) é um marcador inflamatório que prediz o risco para as DCV. De acordo com Santos et al. (2003) “estudos imuno-histoquímicos demonstraram sua presença nos tecidos inflamados, nos vasos ateroscleróticos e no miocárdio infartado”. Segundo Hermsdorff e Monteiro (2004) a adiposidade abdominal é um preditor de elevação dos níveis de PCR, devido a grande expressão dessa proteína no tecido adiposo abdominal. Santos et al. (2003) afirmam que quanto mais elevados os níveis de PCR maior a extensão da aterosclerose e destaca o interesse por esse marcador inflamatório como preditor de eventos isquêmicos devido a facilidade de determinação de sua concentração sérica.

4.3.     Epidemiologia

    Segundo McArdle, Katch e Katch (2008) “a cada ano ocorrem 1,5 milhão de infartos do miocárdio, com 500 mil fatalidades”. No Brasil os valores anuais estimados são de 300 a 400 mil casos e os óbitos provocados por IAM chegam a 60.080, sendo a principal causa de morte isolada no país, o que se confirma também em outros países desenvolvidos e em desenvolvimento.

4.4.     Exercício físico e IAM

    Os já mencionados efeitos do exercício físico frente à DAC e seus fatores de risco por si só justificam a importância da utilização deste como forma de prevenção do IAM, mas há evidências também dos efeitos benéficos do exercício físico após a ocorrência do infarto. Piegas (2004) afirma que “a prática regular de exercícios físicos vigorosos em pacientes após infarto do miocárdio demonstrou redução significativa do risco de morte cardiovascular e da mortalidade global”.

    Por volta das décadas de 60 e 70 era preconizado o repouso de três semanas do sujeito infartado, entretanto, hoje, são conhecidos os efeitos deletérios desse repouso e as vantagens da prática de exercícios físicos pós IAM (Ibidem). Piegas (2004) afirma que “programas de condicionamento físico resultam em melhora da capacidade funcional, além de redução da freqüência cardíaca, da pressão arterial sistólica e da concentração plasmática de catecolaminas em intensidades submáximas de exercício” e aponta ainda que “após programas de treinamento, o consumo de oxigênio do miocárdio é menor a uma mesma intensidade de exercício e os pacientes podem tolerar intensidades maiores de esforço sem apresentar evidências de isquemia miocárdica”.

5.     Considerações finais

    Os programas de reabilitação cardiovascular com ênfase em exercícios físicos são importante forma de controle das DCV, como DAC e IAM, e apresentam bom custo efetividade, visto o alto ônus econômico e social dessas doenças. A partir dos estudos analisados nota-se que esses programas devem contemplar tanto exercícios aeróbios quanto resistidos, uma vez que esses dois têm apresentado efeitos positivos frente as DCV e se apresentado como formas de melhorar a qualidade de vida dos cardiopatas.

Referências

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  • Araújo, Claudio Gil Soares de (Ed.). Normatização dos equipamentos e técnicas da reabilitação cardiovascular supervisionada. Arquivos Brasileiros de Cardiologia. São Paulo, Nov. 2004. v. 83. n. 5.

  • COLOMBO, Roberta Cunha Rodrigues; AGUILLAR, Olga Maimoni. Estilo de vida e fatores de risco de pacientes com primeiro episódio de infarto agudo do miocárdio. Revista Latino-Americana de Enfermagem. Ribeirão Preto, abr. 1997. v. 5. n. 2.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 15 · N° 152 | Buenos Aires, Enero de 2011
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