efdeportes.com

Gestão ambiental de eventos esportivos: 28º Enduro da Independência

Gestión ambiental de eventos deportivos: 28º Enduro de la Independencia

Environmental Management of Sports Event: 28° Enduro Independence

 

*Mestre em Turismo e Meio Ambiente pelo Centro Universitário UNA

Administrador especialista em Comunicação pela PUC Minas

**Doutora em Ciências e Bióloga. Professora do Centro Universitário UMA

(Brasil)

Jomane Casagrande*

jomane@yahoo.com.br

Fernanda Carla Wasner Vasconcellos**

fernanda.wasner@prof.una.br

 

 

 

 

Resumo

          A avaliação de impacto ambiental é um instrumento de gestão. Sendo bem aplicado, há possibilidades de gerar diretrizes para uma boa gestão. Com esta ferramenta, foi desenvolvida uma pesquisa no 28º Enduro da Independência, em setembro/2010. Com o objetivo de mostrar quais os principais impactos gerados por um evento esportivo off road, foi possível identificar que, os resultados econômicos são satisfatórios aos envolvidos direto ou indiretamente, além de gerar poucos aspectos negativos. Com o uso de critérios de gestão no planejamento do evento e das equipes, os pontos negativos podem ser minimizados e transformados em oportunidades durante um evento esportivo.

          Unitermos: Esporte. Eventos. Gestão. Impacto ambiental.

 

Resumen

          La evaluación de impacto ambiental es un instrumento de gestión. Si está bien aplicado, hay posibilidades de generar pautas para una buena gestión. Con esta herramienta, se realizó una investigación en el 28º Enduro de la Independencia en septiembre de 2010. Con el objetivo de mostrar los principales impactos generados por un evento deportivo todo terreno, fue posible identificar que los resultados económicos son satisfactorios para los involucrados directa o indirectamente, y generan unos pocos aspectos negativos. Con el uso de criterios de gestión en la planificación del evento y los equipos, los negativos se pueden minimizar y convertirse en oportunidades durante un evento deportivo.

          Palabras clave: Gestión. Deportes. Eventos. Impacto ambiental.

 

Abstract

          The environmental impact assessment is a management tool. Is well organized, there are possibilities of generating guidelines for sound management. With this tool, a search was conducted at 28º Enduro Independence in September 2010. With the aim of showing what the main impacts generated by an off-road sporting event, it was possible to identify that the economic results are satisfactory to those involved directly or indirectly, and generate few negative aspects. With the use of management criteria in planning the event and teams, the negatives can be minimized and turned into opportunities during a sporting event.

          Keywords: Sports. Events. Management. Environmental impact.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 152, Enero de 2011. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    A práticas esportivas estão crescendo cada vez mais em todo o mundo. As pessoas estão valorizando o tempo disponível em atividades naturais, além da busca pelos esportes e lazer ao ar livre que cresce e o que gera novas expectativas que, por pressões da vida moderna, buscam a socialização através do bem estar físico. Com isso, a crescente expansão de práticas de lazer realizadas através da interação com a natureza vem ganhando adeptos a cada dia, porém estas práticas podem gerar impactos socioambientais (DACOSTA, 2007b).

    A preocupação principal está na transformação ou alteração de qualquer forma de matéria ou energia no meio, seja ele físico, ecológico ou social, sempre preservando a qualidade ambiental. Para mensurar os danos gerados à natureza pelos eventos esportivos, é necessário uma avaliação dos impactos ambientais, que, bem estudado constituem um grande aliado às práticas de gestão e sustentabilidade que normalmente significa investimentos no meio ambiente, onde deixa de agir em função dos riscos e passa a perceber também as oportunidades (PHILIPPI JR.; MAGLIO, 2005; MOREIRA, 2006).

    Ainda não existe uma legislação ambiental nacional aplicada pelos órgãos regulamentadores dos esportes off road que, especifique e determine as regras para os eventos esportivos oficiais. Uma determinação que direcione uma gestão socialmente responsável permitindo que os eventos aconteçam com critérios e tenham o real dimensionamento das suas interferências ao meio ambiente, para que possam assim transformar as ameaças em oportunidades.

    Diante desta percepção, o objetivo do artigo é apontar como uma gestão ambiental aliada às práticas de avaliação de impactos, podem ser importantes para um gerenciamento de um evento esportivo off road, do tipo Enduro com motocicletas.

    A metodologia de pesquisa para avaliar os impactos ambientais do 28º Enduro da Independência, no percurso entre Pouso Alegre/MG e Betim/MG, no período de 04 a 07 de setembro de 2010, adaptou-se a metodologia de Vieira (2007) que contempla a identificação de impactos ambientais em práticas esportivas na natureza (IMPAC-AMBES) a partir da descrição básica do projeto esportivo. Com esta matriz de avaliação, os desejos e percepções dos pilotos, comunidades e comerciantes locais foram avaliados através de questionários semi-estrururados, ao longo do evento, em uma população de 385 participantes. O que conferiu um erro de 0,1 na amostra realizada (BARBETTA, 2002, p. 60-61).

Desenvolvimento

    A preocupação e discussão entre as atividades esportivas e o meio ambiente vem adquirindo importância ao longo dos tempos, pois há poucos estudos e pesquisas que abordam este tema. O esporte já tem um século de estudo enquanto as atividades de lazer chegam a quatro décadas. De acordo com DaCosta (2006b), em 1907, Pierre de Coubertin, propôs que os praticantes de esportes fossem educados para não deixar lixo nos locais utilizados. Nos anos 70, os primeiros estudos abordando impactos das atividades de lazer foram discutidos nos Estados Unidos e Canadá. Na década de 80, os filósofos também fizeram suas contribuições e desenvolveram pensamentos sobre agressão à natureza pelos humanos (DE MASI, 2001).

    A prática do esporte, principalmente durante os grandes eventos, interferem no ecossistema, de maneiras diferentes e podem causar danos, que variam de desprezíveis à grande impactos. Esta situação pode variar de acordo com o tempo de duração do evento e pela quantidade de envolvidos, como público, desportistas e organização (TARRADELLAS, 2003).

    A demanda pelas práticas esportivas é crescente em todo o mundo. A valorização do tempo de lazer com a escolha de atividades ao ar livre cresce e gera novas expectativas nas pessoas, que, por pressões da vida moderna se socializam através de um bem estar físico o que vem ganhando adeptos a cada dia causando uma preocupação em relação aos procedimentos adotados, tanto na utilização do lazer como bem de consumo quanto pela utilização de forma indiscriminada no ambiente natural (DACOSTA, 2007a).

    Esta atividade faz com que muitas destas pessoas busquem a distração sem o sofrimento das práticas esportivas que evidenciam apenas a questão fisiológica, mas por priorizarem a emoção e o bem estar psicológico sem o compromisso de superar os limites, de se distrair sem sofrer, é a busca pela vertigem, a emoção à flor-da-pele (BRUHNS, 2009). A paixão pela aventura é tão antiga quanto a própria espécie, é querer quebrar as regras do cotidiano, negar as leis da vida, explorar o espaço físico para impedir o tempo e ter a experiência de explicar o inexplicável (BETRÁN; BETRÁN, 1999).

    Assim, o lazer e as atividades de natureza passam a ser vistas como um mercado, muitas pessoas vêem esta prática como forma de obtenção de status que pode ser detectado através de um maior consumo de equipamentos esportivos, desde a compra de roupas específicas à compra de automóveis de alto valor (BAHIA; SAMPAIO, 2007a).

    Um aspecto que abrange todos os esportes é o número de praticantes, pois a passagem de um veículo num local em determinado período de tempo torna-se menos prejudicial ao ambiente do que o pisoteio constante de uma caminhada. Muitas vezes, estas práticas são vistas como provedores de impactos negativos, mas nem sempre são. Também, os impactos podem variar conforme a modalidade e o número de pessoas que transitam ao mesmo tempo no local. Existem ainda aqueles que são comuns a todas práticas, como: deposição de lixo e alteração da paisagem (ALMEIDA, 2007).

    Neste contexto, aplica-se o conceito de impacto ambiental proposto pelo CONAMA que o define como: qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente afetam:

  1. a saúde, a segurança e o bem estar da população;

  2. as atividades sociais e econômicas;

  3. a biota;

  4. as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;

  5. a qualidade dos recursos ambientais (BRASIL, 2008, p.740).

    Vieira e Tubino (2007, p. 139-140) apontam uma definição para impacto ambiental com uma visão mais voltada para os esportes, como a modificação ou alteração do ambiente natural sem causar alteração no ecossistema. Ainda, através da prática esportiva, podem ser afetados os meios biótico (fauna e flora), abióticos (solo, água e atmosfera) e antrópicos (elementos sócio-ambientais e culturais).

    Os veículos podem estar presentes nos esportes com função de apoio ou de modalidade, que é o caso dos “Fora de Estrada”, mais conhecidos por off road, cuja principal característica é a prática de romper obstáculos naturais: transpor pedras, riachos, valas, ladeiras e percorrer trilhas de estradas de terra e terrenos acidentados utilizando veículos de tração motor (AMORIM; NAVARRO; BITENCOURT, 2006).

Eventos esportivos e gestão

    Para Tenan (2002), os acontecimentos que não fazem parte de uma rotina podem ser considerados eventos. Com planejamento antecipado e organizado, data especial ou não, nome e local marcado em espaço de tempo determinado.

    Um evento é um fato que deve despertar a atenção, com o objetivo de ser notícia e divulgar o organizador. É um acontecimento criado com a finalidade específica de promover a relação entre organização e público (CESCA, 2004). Um evento é algo que ocorre, e não apenas aparece e, se bem sucedido só existe porque uma pessoa ou um grupo o fizeram acontecer. Independente do porte, o fundamental para sua realização são as tarefas e os detalhes que seus organizadores planejaram. Para o espectador, o evento pode representar a emoção de uma vida (WATT, 2004).

    Em um evento, é necessário que sua proposta seja bem detalhada para que os objetivos sejam alcançados. É um acontecimento previamente organizado, com objetivos claramente definidos. Um evento geralmente ter um motivo marcante, como o social, cultural, esportivo, entre outros. O acontecimento sempre é marcante, e segue uma cronologia de metas e resultados, para que haja uma interação dos desejos dos organizadores, público e patrocinadores (POIT, 2006).

    A característica principal de um acontecimento é proporcionar uma ocasião extraordinária ao encontro de pessoas. Os eventos podem ser classificados por categoria, institucional ou promocional, tais como: os congressos, convenções, palestras, feiras, conferências, dentre outros; por área: cultural, social, empresarial, turístico, esportivo. Além de ser comemorativo, que pode ser realizado para homenagear pessoas ou datas importantes (GIACAGLIA, 2004).

    Os eventos esportivos, assim como o gerenciamento das entidades que são responsáveis pelos esportes, estão sob o comando de uma nova área de conhecimento, a gestão esportiva, que além de administrar os eventos, também controlam outras áreas do desporto como a preparação física do indivíduo para que seja capaz de gerir os destinos das instituições. Para que esta eficiência seja alcançada, é necessária uma qualificação que represente as bases do esporte aliados aos conceitos de administração, com trabalhos fundamentados que resulte na formação de campeões e de bons eventos. A organização desportiva terá resultados satisfatórios com planejamento, organização, controle e execução dos programas. Caso contrário, será uma gestão de improvisos (CAPINUSSU, 2002).

    Diante da tradição que está associada aos movimentos esportivos de utilizar e depender do voluntariado e às dificuldades financeiras, os cargos de administradores desportivos têm sido ocupados por dirigentes benévolos. No ponto de vista etimológico, algumas diferenças possam estabelecer em torno da designação. Porém o profissional de Gestão Desportiva se consolidará progressivamente sendo um aliado dos dirigentes nas diversas estruturas dos sistemas desportivos e da administração pública e privada, na atuação das organizações nos eventos (SARMENTO; PINTO; OLIVEIRA, 2010).

Gestão ambiental

    No Dicionário Socioambiental Brasileiro (PIZZATTO & PIZZATTO, 2009, p.166), o termo gestão ambiental é definido como: “tarefa de administrar o uso produtivo de um recurso renovável, sem reduzir a produtividade e a qualidade ambiental, normalmente em conjunto com o desenvolvimento de uma atividade”.

    Além deste conceito, a gestão ambiental de uma organização demonstra quase sempre uma postura reativa, procurando evitar os riscos e limitando-se ao entendimento dos requisitos legais, o que normalmente significa investimentos no meio ambiente: deixa de agir em função apenas dos riscos e passa a perceber também as oportunidades (MOREIRA, 2006).

    Nos eventos esportivos, as questões ambientais que apresentam intervenção de maior importância e ameaças aos meios natural e social estão diretamente ligadas à governança corporativa e à dissolução dos valores sociais com repercussões negativas nas relações dos humanas com a natureza. Com isso, os eventos esportivos abrangerem três segmentos básicos empresariais, competição de alto rendimento e atividades de lazer (DACOSTA, 2007a).

    Com o surgimento de novas modalidades, o aumento do número de participantes e o mercantilismo inserido neste contexto, aliado ao despreparo de alguns organizadores, e a não obrigatoriedade de estudos ou licenciamentos ambientais prévios para realização de eventos esportivos podem, ocasionar a degradação do ambiente. Para uma existência harmoniosa entre as práticas esportivas e o meio ambiente, é necessária uma boa gestão dos eventos nas áreas naturais, desde um bom planejamento com o conhecimento da intensidade da prática, capacidade de carga, análise técnica de impactos positivos e negativos e programas de educação ambiental (BAHIA, 2005).

Resultados

    Ao longo dos 960 km percorridos, os competidores, em grande maioria com idade entre 30 a 50 anos, demonstraram preferência por motocicletas da marca Honda em 51% e Yamaha em 24%. Estes competidores representam em 74% Minas Gerais e São Paulo.

    De acordo com os dados da Tabela 1, os moradores e comerciantes das comunidades que foram entrevistadas, o Enduro da Independência causa baixo ou baixíssimo impacto ao meio ambiente, apontado por 87% da pesquisa. De forma que apenas 9% percebe como alto grau de impacto ambiental, informações que completam a percepção da Tabela 2.

Tabela 1. Impacto do Enduro no maio ambiente

Impacto

Entrevistados

Baixíssimo

41%

Baixo

46%

Médio

3%

Alto

9%

Não há

1%

    A geração de poeira é percebida em 28% dos pilotos como impacto, enquanto 50% dos entrevistados nas comunidades acreditam que esta é a maior interferência para o meio ambiente. Apenas 3% dos participantes acham que há geração de fumaça ou gases, enquanto 36% dos moradores entendem que a fumaça interfere no ambiente. Os pilotos acreditam que a maior interferência do off road no meio ambiente é a geração de valas, com 55% de percepção. Mas apenas 14% dos moradores têm esta visão. A geração de lixo nas trilhas é entendida por 14% dos pilotos como interferência, enquanto nenhum representante das comunidades acha que esta é uma questão de interferência. Estes dados estão representados na Tabela 2.

Tabela 2. Interferência do enduro no meio ambiente

Impacto

Percepção dos Pilotos

Percepção da Comunidade

Geração de poeira

28%

50%

Geração de gases e fumaça

3%

36%

Abertura de valas nas trilhas

55%

14%

Geração de lixo nas trilhas

14%

0%

    Todas as atividades humanas interferem no ambiente de alguma forma. Mas, há uma preocupação com os impactos socioambientais que as atividades e esportes de natureza possam causar. Não é fácil descrever com precisão os efeitos que os esportes possam causar no ambiente, mas, podem ser mensurados em cada modalidade, porque alguns impactos são potenciais ou não, e podem ser percebidos como indiretos e diretos. Os impactos que ocorrem indiretamente são: a)contaminação do ar e b)alteração da paisagem. Já os imediatos são: c)acúmulo lixo; d)compactação do solo; e)erosão do solo e f)interferência das atividades (TARRADELLAS, 2003).

a.     Para os impactos indiretos causados pelo esporte off road, pode ser apontado a contaminação do ar com poeira, fumaça e gases, diante de uma percepção dos entrevistados nas comunidades, onde 50% acredita que a maior interferência do Enduro para o meio ambiente está na geração de poeira, enquanto 36% entende que esta interferência está na geração de gases e fumaça conforme apresentado no Gráfico 1.

Gráfico 1. Possíveis impactos do Enduro para o meio ambiente

b.     A alteração da paisagem foi detectada através de fotografias, que, embora o evento passe apenas uma vez pelo local sugere-se que o impacto gerado pode não ser o suficiente para descaracterizar o ambiente. Então, as paisagens podem ser classificadas de três maneiras: Naturais, Modificadas e Organizadas. As Naturais são aquelas que não tiveram interferência humana, como na Figura 1. As modificadas sofreram de alguma forma a ação do homem (Figura 2) e, as organizadas, consistem de planejamento do ambiente (Figura 3).

Figura 1. Paisagem natural

Figura 2. Paisagem modificada

Figura 3. Paisagem organizada

c.     Para os impactos diretos, o acúmulo de lixo é percebido pelos moradores em 75% que os participantes do evento enduro, jogam seus lixos em tambores e, apenas 5% acham que o descarte é feito no chão.

d.     Quanto a questão de erosão do solo, 34% dos pilotos apontaram gostar da prática do enduro nas trilhas ao meio das matas fechadas e com raízes, com isso, dependendo da estrutura do solo bem como sua fragilidade, esta escolha pode gerar erosões causadas por sulcos ou ravinas. Além disso, 26% afirmou preferir trilhas novas, que tende a criar novos caminhos, possibilitando novas retirada da vegetação nativa.

e.     Enquanto as erosões geram preocupações e apontam impactos, a compactação do solo não pode ser percebida da mesma forma. Segundo Miranda e Muniz (2009) o grau de compactação do solo, pela pressão da pata dos animais pode ser até duas vezes maior do que a exercida pelas rodas de um trator e, nos atoleiros fica mais compactada. A presença do gado bovino nas cabeceiras de riacho fica bem distinta na região da vereda do atoleiro.

f.     O evento também interfere nas atividades cotidianas das comunidades. Daí, há duas percepções, uma por parte dos moradores e outra pelos participantes do evento. Os pilotos das motos acreditam em 40% que há interferência na comunidade com a geração de barulho, mas nenhum participante percebeu mudança no comércio por onde o enduro passou. Já os moradores das comunidades acharam que a maior interferência foi na alteração do trânsito com 60%.

    Os moradores e comerciantes atribuem que o evento é importante para a cidade, 89% de aceitação e 7% aponta como há vantagens para a cidade a realização do evento no município, com apenas 4% acreditando que não há vantagens. Ainda, nenhum entrevistado entende que o evento não é importante, conforme apresentado na TAB. 3. Mas, todos os entrevistados disseram que querem que o evento passe novamente em suas cidades em outras realizações.

Tabela 3. Importância do evento para a cidade

Percepção

Comunidades entrevistadas

Importante

89%

Não é importante

0%

Tem vantagens

7%

Não tem vantagens

4%

    Um fato relevante foi quanto as questões econômicas, em que os comerciantes demonstraram em 13% que houve uma alteração significativa nas vendas, proveniente do Enduro, conforme aponta o Gráfico 5.

    Para Martins e Lima (2007), as atividades na natureza gera uma série de benefícios econômicos para os municípios que recebem os praticantes, aumentando as ofertas de prestação de serviços ao ecoesporte gerando então uma alternativa econômica para regiões. Além de um aumento no consumo de alimentos, combustíveis para veículos, hospedagem entre outros.

Gráfico 5. Interferência do enduro nas comunidades

    Os moradores e comerciantes atribuem que o evento é importante para a cidade, 89% de aceitação e 7% aponta como há vantagens para a cidade a realização do evento no município, com apenas 4% acreditando que não há vantagens. Ainda, nenhum entrevistado entende que o evento não é importante, conforme apresentado na TAB. 5. Mas, todos os entrevistados disseram que querem que o evento passe novamente em suas cidades em outras realizações.

    Na literatura, Almeida, Pimentel e Saito (2008) apontam a prática esportiva na natureza, como positiva, e há uma demanda por aventura de forma variável. Na maioria das vezes, com referência ao meio antrópico, como a proliferação e conscientização da necessidade de preservar os recursos naturais e necessidade de preservar o patrimônio histórico e natural.

Tabela 5. Importância do evento para a cidade

Percepção

Comunidades entrevistadas

Importante

89%

Não é importante

0%

Tem vantagens

7%

Não tem vantagens

4%

    Como impactos dos eventos esportivos podem ser vistos como diretos e indiretos, eles também podem ser positivos ou negativos. Diante de alguns pontos que podem caracterizar danos ao meio ambiente, há questões relevantes no gerenciamento e impactos ambientais, de forma positiva. Os impactos podem ser positivos por possibilitar o desenvolvimento local, geração de renda e consciência ecológica (ALMEIDA, 2005).

    Os entrevistados apontam que além das questões econômicas, o evento leva como benefício o atrativo e lazer para as comunidades. Esta percepção está em 24% na visão dos pilotos e, como destaque, 32% para os moradores. No contexto da economia, o evento demonstra a geração de renda em 76% na visão dos participantes e 68% para os moradores. Os pilotos entendem que os segmentos mais beneficiados nas comunidades é a rede hoteleira, com 46%, enquanto 34% dos moradores e comerciantes acreditam que este benefício é atribuído aos postos de combustíveis conforme a Tabela 4.

Tabela 4. Benefício do Enduro para as cidades

Benefício

Percepção/Pilotos

Percepção/Comunidade

Geração de renda na hotelaria

46%

11%

Geração de renda no seg. alimentício

17%

23%

Geração de renda no seg. Combustíveis

13%

34%

Atrativo e lazer

24%

32%

    Os moradores, quando questionados pelos locais mais procurados pelos participantes durante o Enduro, informaram que 46% dos pilotos procuram os postos de combustíveis ao longo dos municípios por onde o evento percorre, seguido por 26% dos restaurantes (Gráfico 2).

Gráfico 2. Necessidades dos participantes no evento

    O gasto que cada piloto tem no evento é dividido em combustíveis, hospedagens, alimentação, peças para as motos, lembranças das cidades por onde passa e outras despesas. Diante destes gastos, os participantes atribuíram que a metade do orçamento para o evento é destinado ao setor hoteleiro. 25% do dispêndio é feito com alimentação e 22% é destinado ao abastecimento da motocicleta e carro de apoio. 90% dos participantes gastam entre R$ 250,00 e R$ 500,00 em cada cidade do Enduro.

    De acordo com POYTER (2008), os eventos esportivos oferecem grandes oportunidades de trabalho temporário em atividades relacionadas com o lazer, turismo, hotéis e restaurantes. Além da elevada taxa de ocupação na rede hoteleira durante o evento esportivo. Entre os benefícios gerados para a cidade, pode destacar a ocupação da rede hoteleira, consumo de souvenires e combustíveis, além dos restaurantes, que são os grandes beneficiados (CASAGRANDE; VASCONCELOS, 2010).

Natureza do impacto

    Para mensurar a natureza do impacto, foi adaptado de Vieira (2004) em que ele apresenta um estudo dos impactos ambientais dos esportes de natureza, e desenvolveu uma tabela generalista para ser utilizada na pesquisa, a IMPAC-AMBES, que foi adaptada para o off road e produzido um quadro de fatores de referências ambientais como ferramenta de gestão e avaliação (Quadro 1).

Quadro 1. Fatores e referências ambientais

NATUREZA DO IMPACTO

OCORRÊNCIA

EFEITO

DURAÇÃO

INTENSIDADE

MEDIDAS

MITIGADORAS

AÇÕES HUMANAS E CONSEQUÊNCIAS

NULA

CONSTANTE

OCASIONAL

IMEDIATA

MEDIO LONGO

TEMPORARIO

PERMA

NENTE

DESPREZIVEL

SIGNIFICAT.

SIM

NÃO

1) AGUA

A) DERRAMATENTO DE ÓLEO E GRAXA

..

..

X

X

..

X

..

X

..

..

X

B) LIXO NÃO ORGÂNICO

X

..

..

..

..

..

..

..

..

..

..

C) LIXO ORGÂNICO

X

..

..

..

..

..

..

..

..

..

..

D) CONTAMINAÇÃO

X

..

X

X

..

X

..

X

..

..

X

E) USO DE SABÃO E DETERGENTES

X

..

..

..

..

..

..

..

..

..

..

F) LAVAGEM COM SOLVENTES

..

..

X

X

..

X

..

X

..

..

X

G) ACÚMULO DE LIXO

..

..

X

X

..

X

..

..

X

X

..

H) DESGASTE DE ESTRUTURA DE FUNDO AQUÁTICO

..

..

X

X

..

X

..

X

..

..

X

2) SOLO

a) EROSÃO

..

X

X

..

X

..

X

..

X

..

X

b) COMPACTAÇÃO

..

X

X

..

X

..

X

X

X

..

X

c) ALARGAMENTO DAS TRILHAS

..

..

X

X

..

X

..

X

..

X

..

d) ABERTURA DE NOVAS TRILHAS

..

..

X

..

X

X

..

X

..

..

..

e) LIXO ORGÂNICO

..

..

X

X

..

X

..

X

..

..

X

f) LIXO NÃO ORGÂNICO

..

..

X

X

..

X

..

X

..

..

X

g) DERRAMENTO DE COMBUSTÍVEL/ÓLEO

..

..

X

X

..

X

..

X

..

..

X

3)ATMOSFRA

 

a) EMISSÃO DE GASES POLUENTES

..

..

X

X

..

X

..

X

..

..

..

b) EMISSÃO DE POEIRA

..

..

X

X

..

X

..

X

..

..

X

4) FAUNA

a) DESLOCAMENTO P/ OUTRAS ÁREAS

..

..

X

X

..

X

..

X

..

..

X

b) MORTE DE ANIMAIS

X

..

..

..

..

..

..

..

..

..

..

c) DESTRUIÇÂO DE HABITATS

X

..

..

..

..

..

..

..

..

..

..

5) FLORA

a) PISOTEAMENTO

X

..

..

..

..

..

..

..

..

..

..

b) DESMATAMENTO

X

..

..

..

..

..

..

..

..

..

..

c) INCÊNDIO

X

..

..

..

..

..

..

..

..

..

..

d) REMOÇÃO DA VEGETAÇÃO

..

..

X

X

..

X

..

X

..

..

X

6) OUTROS

a)DESCARACTERIZAÇÃO DA PAISAGEM

..

..

X

..

X

X

..

X

..

..

X

b) DETERIORIZAÇÃO

PATRIMÔNIO HIST/CULT

X

..

..

..

..

..

..

..

..

X

..

c) GERAÇÃO DE RENDA

..

X

..

X

..

X

..

..

X

..

..

d)ATRATIVO/LAZER

..

X

..

X

..

X

..

..

X

..

..

Fonte: Adaptação de Vieira, 2004, p. 352-354.

Conclusões

    A avaliação de impacto ambiental é um instrumento de gestão. Sendo bem aplicado, há possibilidades de gerar diretrizes para solucionar e mensurar os problemas para uma boa gestão e para as práticas de sustentabilidade.

    Diante dos dados da pesquisa, foi possível concluir que o evento, na visão dos participantes e moradores, é importante para os municípios, porque há vantagens como atrativo de lazer além de geração e renda. Os segmentos mais beneficiados são a hotelaria, seguido pela rede de alimentação e abastecimento. Quanto a percepção dos impactos ao meio ambiente é nulo ou baixíssimo. Embora apresente alguns danos ocasionais, como geração de valas, poeira e alteração no trânsito.

    A análise feita pelos critérios técnicos propostos por Vieira (2004), através da tabela de avaliação IMPAC-AMBES, aponta que os impactos ocorrem ocasionalmente, com efeitos imediatos e temporários, mas que suas intensidades são desprezíveis. As medidas para mitigação estão ligadas diretamente à educação ambiental e as medidas de controle e prevenção da poluição.

    Um evento esportivo off road gerenciado através de práticas socioambientais que respeitam o meio ambiente e as populações por onde é percorrido, geram resultados econômicos satisfatórios aos envolvidos direto ou indiretamente no evento, como as comunidades, participantes, organizadores, representantes públicos e patrocinadores, além de gerar poucos impactos negativos. Porque, o uso de critério no planejamento dos trechos e no preparo da equipe, eles podem ser minimizados. Daí a importância de fazer um levantamento e um gerenciamento de impacto de um evento esportivo off road, bem como a criação de uma legislação ambiental nacional para os esportes motociclísticos fora de estrada.

Referências bibliográficas

  • ALMEIDA, Ana Cristina Pimentel Carneiro de. Esportes de aventura na natureza: um estudo de caso no estado do Pará. 2005. 303 f. Tese (Doutorado) - Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido - PDTU, Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, Universidade Federal do Pará, Belém, 2005.

  • ALMEIDA, Ana Cristina Pimentel Carneiro de. Os Impactos Ambientais e os Esportes de Aventura. In: ALMEIDA, Ana Cristina Pimentel Carneiro de; DACOSTA, Lamartine P. Meio Ambiente, Esporte, Lazer e Turismo: Estudos e Pesquisas no Brasil 1967– 2007. Rio de Janeiro: Gama Filho, 2007. Vol.3, p. 175-184.

  • AMORIM, Simone; NAVARRO, Patrícia; BITENCOURT, Valéria. Rally – Off Road. In: DACOSTA, Lamartine. Atlas do esporte no Brasil: atlas do esporte, educação física e atividades físicas de saúde e lazer no Brasil. Rio de Janeiro: CONFEF, 2006. p.11- 17.

  • BAHIA, Mirleide Chaar. Lazer – Meio Ambiente: em busca das atitudes vivenciadas nos esportes de aventura. 2005. 144 f. (Mestrado em Educação Física) - Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade Metodista de Piracicaba, Piracicaba, 2005.

  • BAHIA, Mirleide Chaar; SAMPAIO, Tânia Maria Vieira. Lazer – Meio Ambiente: em busca das atitudes vivenciadas nos esportes de aventura. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v. 28, n. 3, p. 173-189, maio 2007a.

  • BARBETTA, Pedro Alberto. Estatística aplicada às ciências sociais. 7. ed. Florianópolis: UFSC, 2002. 315 p.

  • BETRÁN, A. O.; BETRÁN, J. O. Las actividades físicas de aventura en la naturaleza. Estudio de la oferta y demanda en el sector empresarial. Apunts: Educación Física y Deportes, Barcelona, n. 57, p. 86-94, 3.tri.1999.

  • BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Licenciamento Ambiental. In: Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resoluções do CONAMA. 2. ed. Brasília: Conama, 2008. p. 737 – 877.

  • BRUHNS, Heloisa Turini. A busca pela natureza: turismo e aventura. São Paulo: Manole, 2009. 191 p.

  • CAPINUSSU, José Mauricio. Administração Desportiva Moderna. São Paulo: IBRASA, 2002. 110 p.

  • CASAGRANDE, Jomane ; VASCONCELOS, Fernanda Carla Wasner. Turismo Esportivo Através de um Evento de Mountain Bike. In: 9º Fórum Internacional de Esportes, 9, 2010, São José. Anais do 9º Fórum Internacional de Esportes, Florianópolis: Unesporte. 2010.

  • CESCA, Cleuza Gertrude Gimenes. Comunicação eletrônica: as transformações nas organizações. Revista Famecos. Porto Alegre - RS, n. 25, ano 0, p. 168-173, dez. 2004

  • DACOSTA, Lamartine P. Atividade Física e o Meio Ambiente. In: ALMEIDA, Ana Cristina P.C de & DACOSTA, Lamartine P. Meio ambiente, esporte, Lazer e turismo. Rio de Janeiro: Gama Filho, 2007a, p. 341-344.

  • DACOSTA, Lamartine P. Princípios do Esporte para Todos. In: Meio Ambiente, Esporte, Lazer e Turismo: Estudos e Pesquisas no Brasil 1967– 2007. ALMEIDA, Ana Cristina Pimentel Carneiro de; DACOSTA, Lamartine P.. Rio de Janeiro: Gama Filho, 2007b. p. 121-123, vol. 1.

  • DE MASI, Domenico. O Ócio Criativo. 4. ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2001. 336p.

  • GIACAGLIA, Maria Cecília. Organização de eventos: teoria e prática. São Paulo. Pioneira Thomson Learning, 2004. 101p.

  • MIRANDA, Maria Cristiane Pestana Chaves; MUNIZ, Francisca Helena. Impacto do Gado Bovino Sobre os Ecossistemas do Parque Estadual do Mirador – Pem. Revista Pesquisa em Foco, São Luiz, v. 17, n. 1, p. 31-42, 2009.

  • MOREIRA, Maria Suely. Estratégia e implantação do sistema de gestão ambiental (Modelo ISO 14000). Nova Lima: INDG. 2006. 320 p.

  • PHILIPPI JR., Arlindo; MAGLIO, Ivan Carlos. Política e Gestão Ambiental: Conceitos e Instrumentos. In: PHILIPPI JR., Arlindo; PELICIONE, Cecília Focesi. Educação Ambiental e Sustentabilidade: Barueri: Manole, 2005. Cap. 9, p. 217–256.

  • PIZZATO, Luciano; PIZZATO, Raquel. Dicionário Socioambiental Brasileiro. Curitiba: Tecnodata Educacional, 2009. 368p.

  • POIT, Davi Rodrigues. Organização de eventos esportivos. 4. ed. São Paulo: Phorte, 2006. 215 p.

  • POYTER, Gavin. The 2012 Olympic Games and the reshaping of East London. In: IMRIE, Robert; LEES,Loretta; RACO, Mike. Regenerating London: governance, sustainability and community in a global city. London: Routledge-USA, 2008. cap. 8. p. 132 - 150

  • SARMENTO, José Pedro; PINTO, Assunção; OLIVEIRA, André Esteves. Gestor Desportivo. Perfil Organizacional e Funcional. Porto: Fórum Olímpico de Portugal.

  • TARRADELLAS, Joseph. El Movimiento Olímpico y el medio ambiente: lecciones universitarias olímpicas. Centre d’Estudis Olímpics (UAB). Cátedra Internacional de Olimpismo (CIO-UAB), Barcelona, 2003.

  • TENAN, Ilka Paulete Svissero. Eventos. São Paulo: Aleph, 2002. 90 p.

  • VIEIRA, Valdo. Desenvolvimento de um instrumento de identificação de impactos ambientais em práticas esportivas na natureza (IMPAC-AMBES). In: Meio Ambiente, Esporte, Lazer e Turismo: Estudos e Pesquisas no Brasil 1967– 2007. ALMEIDA, Ana Cristina Pimentel Carneiro de; DACOSTA, Lamartine P.. Rio de Janeiro: Editora Gama Filho, 2007. Vol.2, p. 345-362.

  • VIEIRA, Valdo; TUBINO, Manoel J.G.. Impactos Ambientais em Práticas Esportivas na Natureza. In: ALMEIDA, Ana Cristina P.C de & DACOSTA, Lamartine P. Meio ambiente, esporte, Lazer e turismo. Rio de Janeiro: Gama Filho, 2007, p. 137-144.

  • WATT, David C. Gestão de eventos em lazer e turismo. Trad. Roberto Cataldo Costa – Porto Alegre: Bookman, 2004. 206 p.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 15 · N° 152 | Buenos Aires, Enero de 2011
© 1997-2011 Derechos reservados