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Corpo capitalista

Cuerpo capitalista

 

Universidade Federal de Santa Maria

(Brasil)

Susana Cararo Confortin

Anapaula Pastorio

susycc77@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O corpo humano, desde a antiguidade, pode ser considerado um componente viável ao capitalismo. No sistema feudal, o corpo era visto com o meio de gerar lucro, na Idade Média começa a ser identificado o processo de individualização do corpo. Entre os períodos, de certeza à incerteza, a identidade pessoal tornou-se frágil, sendo que o indivíduo passou a cultuar o próprio corpo. Com a urbanização, a industrialização, o surgimento do sistema fabril e, principalmente, o avanço tecnológico, o corpo tornou-se um objeto de consumo, corpo-moeda. Percebe-se que com o transcorrer do tempo, o conceito transforma-se, modificando a visão do ser humano no meio bio-físico-sócio-cultural, mas sendo o corpo imprescindível para o ciclo do capitalismo.

          Unitermos: Corpo. História. Capitalismo.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 152, Enero de 2011. http://www.efdeportes.com/

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    A Antropologia é definida como: “Ciência que se ocupa do homem e tem por objeto o estudo e a classificação dos caracteres físicos dos grupos humanos”. A história é o instrumento que possibilita a compreensão do homem na sua totalidade, pois além de conhecer os antepassados, pode servir de alicerce para a construção do conhecimento. O antropólogo é o responsável em estudar o ser humano, sua classificação e suas características físico-sócio-culturais. Para executar sua função de forma coerente, deve passar por cima de sua própria cultura, integrando-se e vivenciando a cultura a ser estudada, para que os produtos desta experiência de observação sejam verídicos e não distorções de uma realidade diferente.

    Um dos grandes temas dos estudos antropológicos é o corpo humano que, desde a antiguidade, pode ser considerado um componente viável ao capitalismo. Já no sistema feudal, o corpo era visto com o meio de gerar lucro, pois a pessoa que tivesse boa forma física e força era designada ao trabalho escravo (servo), aumentando o capital dos senhores feudais. Na Idade Média começa a ser identificado o processo de individualização do corpo, que se amplia a partir da segunda Guerra Mundial. Segundo Malu Fontes:

    “Neste contexto, órfão dos grandes ideais e das certezas que nortearam a humanidade, o homem é estimulado a voltar-se para o individualismo, para a própria imagem, para o culto ao próprio corpo, último reduto de apego, fidelidade e adoração". (FONTES, 2006, p. 122).

    O período de incerteza advém da ruptura causada pelo avanço científico, onde através de suas descobertas a ciência explica o homem racionalmente. Até então, a Igreja era a detentora de todo o saber, controlando a sociedade conforme seus ideais. Na transição destes períodos, de certeza à incerteza, a identidade pessoal tornou-se frágil, sendo que o indivíduo passou a cultuar o próprio corpo, pois este era seu único bem permanente, ou seja, ninguém poderia apropriar-se dele. Essa nova ideologia, caracterizada pela corpolatria – adoração do próprio corpo – já estava implícita nos moldes do capitalismo, pois a busca da própria satisfação gerará lucros, prazer e, posteriormente, culto à beleza. A idolatria ao corpo desta etapa, diz respeito à saúde, evidenciando o bem-estar físico.

    Com a urbanização, a industrialização, o surgimento do sistema fabril e, principalmente, o avanço tecnológico, o corpo passou a ocupar lugar de destaque no cenário social. Todas essas transformações atingiram as diferentes áreas, influenciando todo o contexto sócio-cultural na busca pelo corpo perfeito, e numa sociedade capitalista, não poderia ser diferente, o corpo tornou-se um objeto de consumo, corpo-moeda.

    Tendo o corpo como um referencial estético, a ciência aprofundou seus estudos na busca por métodos mais fáceis e emergentes de chegar ao corpo idealizado. Com isso, áreas específicas como a Medicina, Farmácia, Nutrição e Educação Física viram uma forma de ganhar dinheiro. A Medicina através das cirurgias plásticas, lipoaspirações, a farmacologia com as drogas emagrecedoras e rejuvenescedoras, a Nutrição dos complexos alimentares e vitamínicos, das dietas e a Educação Física, com a ginástica, musculação e o surgimento de um novo profissional especializado: o personal trainer.

    A mídia detém um poder de persuasão sobre a sociedade, tendo influência através da divulgação e disseminação de produtos, logomarcas, enfim, do corpo ideal. Os meios de comunicação alcançam todas as classes sociais, sendo que embora de diferentes formas, cada um dentro de suas possibilidades econômicas procura atingir o padrão de beleza preconizado. O apelo ao corpo perfeito é tão forte, que leva as pessoas a optarem por medidas drásticas, perdendo a conscientização de que saúde deve estar em primeiro lugar.

    “Assim sendo, todo corpo que não se ajusta a esse projeto médico e cultural de uma corporeidade-moeda e hedonista tende a ser classificado como um corpo dissonante, um corpo in-válido, não válido, quando comparado e confrontado com a lógica da boa forma e do vigor físicos. O corpo dissonante, ou seja, aquele que não adere aos artifícios de reformulação e adequação da aparência tende a despertar reações de estranhamento e até mesmo de repulsa.” (FONTES, 2006, p. 129)

    Os corpos que não se inserem na massa, são chamados de dissonantes, caracterizados pela obesidade, velhice, ou deficiência física e mental. Antigamente, os corpos dissonantes eram motivos de vergonha, sendo escondidos ou abandonados pelas suas famílias, considerados como castigos divinos. Atualmente, buscam-se a aceitação e a inclusão social desses corpos, através de projetos, programas, campanhas, enfim, da conscientização que eles são seres humanos integrantes da sociedade, capazes de realizar atividades dentro de suas possibilidades e com algumas adaptações.

    A sociedade capitalista vê também nestas pessoas com algumas limitações um meio de obter lucros, investindo em novos equipamentos para que elas se sintam adaptadas à realidade que as cerca. Apesar dos avanços técnico-científicos, a sociedade consumista, em geral, continua rejeitando estas pessoas, tendo como desculpa o fato de elas não se enquadrarem ao perfil estético proclamado, não valorizando o ser humano como deveria: cada indivíduo com suas diferenças e potencialidades.

    Percebe-se que o corpo é imprescindível para o ciclo do capitalismo, pois a busca pela inserção no mercado de trabalho e a aceitação no meio social depende da boa aparência física, e quem não se insere nos padrões é excluído e rejeitado, ficando a margem da sociedade. Assim, com o transcorrer do tempo, o conceito transforma-se, modificando a visão do ser humano no meio bio-físico-sócio-cultural.

Referencial teórico

  • Fontes, M. Uma leitura do culto contemporâneo ao corpo. Contemporânea, Vol. 4, nº 1, p. 117-136, Junho 2006.

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