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Relação entre flexibilidade e força e suas influências em lesões 

da musculatura do quadril em jogadores profissionais de futebol

Relación entre la flexibilidad y la fuerza y su influencia en las lesiones de la musculatura de la cadera en futbolistas profesionales

Relationship between flexibility and strength and their influences in hip muscle injuries in professional footballers

 

*Fisioterapeuta graduada pelas Faculdades Unidas

do Norte de Minas, FUNORTE. Montes Claros, Minas Gerais

**Pós-graduada em Atividades Físicas e Esportes para Portadores de Deficiência

pela Universidade Estadual de Montes Claros, Unimontes - e em Didática – Fundamentos

Teóricos da Prática Pedagógica - pela Faculdade de Educação São Luiz – Jaboticabal SP

Professora dos Cursos de Graduação em Educação Física e Fisioterapia

das Faculdades Unidas do Norte de Minas – FUNORTE - Montes Claros, Minas Gerais

***Pós-graduado em Emergências de Saúde na Educação Inclusiva

pelas Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, FIPMOC

Pós graduando em Saúde Coletiva com Ênfase na Estratégia de Saúde da Família

pelas Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros. FIPMOC

Professor dos Cursos de Graduação em Biomedicina, Fisioterapia e Nutrição

das Faculdades Unidas do Norte de Minas, FUNORTE - Montes Claros, Minas Gerais

Raquel Oliveira Silva*

Marta Suely Custódio Novais**

Wagner Luiz Mineiro Coutinho***

wagner.coutinho@funorte.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O futebol é um esporte que merece destaque pela sua popularidade e pelo número de lesões decorrentes de sua prática. No entanto, a preservação de músculos e articulações saudáveis pode ser favorecida pelo bom funcionamento do sistema musculoesquelético. O presente estudo verificou a relação entre a flexibilidade e força da musculatura do quadril e suas influências em lesões neste segmento entre jogadores profissionais de futebol. Trata-se de um estudo descritivo, quantitativo, com amostra constituída por 21 sujeitos do sexo masculino, com idade acima de 18 anos. Utilizou-se como instrumentos para coleta de dados questionário semi – estruturado para avaliar a incidência de lesões, a amplitude de movimento por goniometria e a força muscular com auxilio um esfigmomanômetro. Obteve-se a análise dos dados por estatística descritiva e pelo teste de correlação de Pearson. Adotaram-se os preceitos éticos de acordo com a Resolução nº 196 do Conselho Nacional de Saúde. Verificou-se que os goleiros foram os atletas que menos apresentaram histórico de quaisquer tipos de lesões, dado esse que pode associar-se ao fato de apresentarem os melhores níveis de força muscular e os melhores níveis de flexibilidade muscular extensora dos quadris. Os atacantes foram os sujeitos que apresentaram melhores níveis de flexibilidade geral muscular e ao mesmo tempo foram os únicos atletas que não apresentaram histórico de fraturas, contusões e luxações. Concluiu-se que existe uma ocorrência significativa de lesões e que as mesmas podem ser minimizadas ao se priorizar o preparo físico dos atletas através de uma equipe integral de saúde.

          Unitermos: Maleabilidade. Força Muscular. Traumatismos Múltiplos. Quadril. Esportes.

 

Abstract

          Football is a sport that deserves recognition for its popularity and the number of injuries resulting from his practice. However, the preservation of muscles and joints can be enhanced by the proper functioning of the musculoskeletal system. This study examined the relationship between flexibility and strength of hip muscles and their influence in this segment injuries among professional football players. This is a descriptive, quantitative, with sample of 21 male subjects, aged over 18 years. We used as instruments for data collection semi - structured questionnaire to assess the incidence of injuries, range of motion by goniometry and muscle strength with the aid a sphygmomanometer. We obtained the data analysis by descriptive statistics and the Pearson correlation test. Adopted were the ethical according to Resolution 196 of the National Health Council found that the goalkeepers were athletes who had a history of at least any kind of injury, given that they can join because they had the higher levels of muscular strength and the highest levels of extensor muscle flexibility of the hips. The attackers were the subjects who were able to improve general muscle flexibility and at the same time were the only athletes had no history of fractures, bruises and luxations. It was concluded that there is a significant occurrence of injuries and that they can be minimized by prioritizing the physical preparation of athletes through a team full of health.

          Keywords: Pliability. Muscle Strength. Multiple Trauma. Hip. Sports.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 151, Diciembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O futebol é um esporte que merece destaque pela sua popularidade e pelo número de lesões decorrentes de sua prática, o que podem resultar em prejuízos econômicos para atletas e clubes. Essa incidência de lesões pode associar-se às exigências físicas cada vez mais intensas e que levam os atletas a trabalhar em seus limites máximos, ao tempo de prática esportiva e ao número de horas de treino semanal (COHEN et al. 1997; DA SILVA et al. 2005). As lesões mais frequentes entre atletas, especialmente no futebol são: contusões, lesões musculares, entorses, luxações e lesões tendinosas (ALLOZA, 2002). É importante ressaltar também os fatores intrínsecos como idade, sexo, condição física, desenvolvimento motor, alimentação e fatores psicológicos. Os fatores extrínsecos relacionam-se à especificidade técnica de cada modalidade, tipo de equipamento usado, organização e cargas de treino e competição, condições climáticas ou a combinação desses (PASTRE et al. 2005).

    No entanto, a preservação de músculos e articulações saudáveis pode ser favorecida pelo bom funcionamento do sistema musculoesquelético que depende basicamente de três componentes: força muscular, resistência e flexibilidade (ALTER, 1999).

    A força pode ser compreendida como velocidade ou resistência. Em ambos os casos são manifestações da capacidade de gerar força que um indivíduo possui. No caso específico da modalidade futebol pode-se dizer que é o suporte condicional do futebolista e o elemento fundamental para as demais habilidades desenvolvidas pelo atleta (LEITE e NETO, 2003).

    A flexibilidade é responsável pela manutenção da amplitude de movimento adequada nas articulações e consequentemente pela melhor eficácia dos movimentos. Além disso, facilita o aperfeiçoamento nas técnicas dos desportos, aumenta a ca­pacidade mecânica dos músculos e articulações com aproveitamento mais econômico de energia e propicia condições para desenvolver agilidade, velocidade e força (DANTAS, 2005; ACHOUR Jr., 2006).

    Ao se considerar essas premissas, o presente estudo propôs verificar a relação entre a flexibilidade e força da musculatura flexora e extensora do quadril e suas influências em lesões neste segmento entre jogadores profissionais de futebol.

Material e métodos

    O delineamento do presente estudo caracteriza-o como pesquisa de natureza descritiva, de abordagem quantitativa e de corte transversal. A população foi composta por atletas profissionais do Funorte Esporte Clube em Montes Claros, Minas Gerais, Brasil.

    A amostra constituiu-se por 21 sujeitos do sexo masculino, com idade acima de 18 anos selecionados de forma intencional e criteriosa. Para realização desse estudo utilizou-se o Formulário de Autorização para Realização da Pesquisa no Centro de Treinamento, Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e Questionário semi – estruturado elaborado pelos autores que avaliou a incidência das lesões em estudo, a força muscular e a amplitude de movimento articular. Para avaliação da flexibilidade –pela quantificação da amplitude de movimento articular- utilizou-se um goniômetro marca CARCI® e para avaliação da força muscular usou-se como recurso um aparelho esfigmomanômetro marca PREMIUM®.

    Na avaliação da flexibilidade realizou-se teste de flexão e extensão passiva do quadril de acordo com recomendações de Dantas (2005), que preconiza a avaliação da goniometria por movimentos passivos, até o final do arco de movimento articular, no momento antes da dor, sem ajuda ou resistência por parte do sujeito avaliado. Para testar a força, o esfigmomanômetro foi posicionado na extremidade distal de cada perna. O sujeito foi orientado previamente para realizar um único movimento de flexão de quadril com esforço máximo. Após essa mensuração dava-se o tempo de descanso de 3 minutos e em seguida repetia-se o procedimento agora avaliando o movimento de extensão do quadril. Os sujeitos foram encorajados a realizar esforço máximo através de estímulos verbais de encorajamento. Obteve-se a análise dos dados por estatística descritiva utilizando-se o software SPSS-18 (Statistical Package for the Social Sciences). Para análise da correlação entre os tipos de lesões, os níveis de força muscular e a avaliação da flexibilidade com as posições ocupadas pelos jogadores em campo utilizou-se o coeficiente de correlação de Pearson. Segundo as diretrizes e normas de pesquisas envolvendo seres humanos o presente estudo adotou os preceitos da Resolução nº 196 do Conselho Nacional de Saúde sendo garantida aos sujeitos envolvidos na amostra, preservação dos dados, confidencialidade pela participação na pesquisa e sigilo das informações relativas à identidade civil.

Resultados e discussão

    A análise descritiva dos dados identificou que 80% dos sujeitos já sofreram algum tipo de lesão, confirmando a elevada incidência de lesões entre os futebolistas. Quanto ao tipo de lesões, 42,9% dos atletas apresentam história pregressa de entorses, 33,3% já sofreram lesões musculares, 23,8% já foram vítimas tanto de contusões quanto de fraturas e 14,3% já foram acometidos por luxações. Pôde-se verificar que a maior parte das lesões ocorreu em movimentos associados à defesa e na explosão da corrida. Ao correlacionar os tipos de lesões com a posição de cada esportista averiguou-se que dentre os zagueiros os principais agravos são contusões, lesões musculares e fraturas enquanto os volantes sofrem mais entorses, lesão muscular e luxações. Entre os jogadores que ocupam posição de meia, as maiores incidências foram levantadas para entorses, contusões, luxações e fraturas e em relação aos atacantes, encontrou-se maior frequência de entorses e lesão muscular. Já em relação aos laterais, esses são mais acometidos por lesão muscular e fraturas e os goleiros foram os que apresentaram menores indícios de lesões.

    Apesar desse resultado, não se permite afirmar que a posição que o atleta atua influencia na ocorrência ou não de lesões, como observado por Stewien e Camargo (2005) que constataram não haver diferença significativa entre a posição do jogador e o risco de lesões esportivas, provavelmente pelo fato do futebol passar por uma transformação tática do jogo, baseado em forte preparo físico e marcação agressiva, ocasionando o maior contato entre jogadores das diferentes posições. Através da análise da força muscular, pôde-se constatar que os goleiros e os volantes foram os sujeitos que apresentaram maiores níveis de força dos complexos musculares anteriores e posterior de ambos os membros. O gráfico 1 apresenta mais detalhes dessa avaliação.

Gráfico 1. Nível de força por posição em campo do sujeito.

Fonte: Relação entre flexibilidade e força e sua influência em lesões da musculatura do quadril em jogadores profissionais de futebol.

    De acordo com Carvalho e Barbosa (2008) o futebol caracteriza-se como uma modalidade esportiva de alta intensidade intermitente. Suas características variam entre os jogadores, sendo determinadas pela posição que cada atleta assume em campo. Dessa forma, é de se esperar que sujeitos na posição de goleiro, apresentem dentre outros quesitos, uma maior força explosiva enquanto a principal características dos atacantes devem ser velocidade. Já os jogadores na posição de meio-campo devem ter como principal propriedade a resistência. Observações essas que corroboram com os dados levantados no presente estudo que averiguou menores índices de força muscular entre os atacantes e meias, principalmente ao se considerar a força do complexo muscular posterior dos membros inferiores. Encontrou-se diferença estatisticamente significativa (p=0,015) entre a força da musculatura posterior do membro inferior direito quando comparada à musculatura posterior do membro inferior esquerdo e aos grupos musculares anteriores de ambos os membros inferiores.

    Na avaliação da flexibilidade do quadril constatou-se que os jogadores que atuavam na posição de atacante tiveram maiores índices de flexibilidade tanto flexora quanto extensora quando comparados aos demais atletas em outras posições. O Gráfico 2 apresenta os resultados encontrados considerando-se as posições em campo e a amplitude articular em graus de movimento (0 a 140º).

Gráfico 2. Avaliação da flexibilidade por posição em campo do sujeito.

Fonte: Relação entre flexibilidade e força e sua influência em lesões da musculatura do quadril em jogadores profissionais de futebol.

    A literatura demonstra que a flexibilidade tem forte contribuição na eficácia do treinamento da força, da resistência muscular além de promover melhora da resistência cardiovascular, da performance e diminuição da suscetibilidade dos atletas às lesões musculares (Fleck e Kraemer, 1999; Farinatti, 2000; Santos e Domingues, 2008). No entanto Araújo e Araújo (2004) afirmam que há evidências limitadas de que o aumento da flexibilidade além do padrão normal esteja associada à diminuição de lesões.

    No presente estudo aferiu-se que os goleiros foram os atletas que menos apresentaram histórico de quaisquer tipos de lesões, dado esse que pode associar-se ao fato de apresentarem os melhores níveis de força muscular e juntamente com os atacantes, detiveram os melhores níveis de flexibilidade muscular extensora dos quadris.

    Os atacantes foram os sujeitos que apresentaram melhores níveis de flexibilidade geral muscular e ao mesmo tempo foram os únicos atletas que não apresentaram histórico de fraturas, contusões e luxações.

    Os atletas da posição de meia foram os que apresentaram menores níveis de força principalmente do grupo muscular anterior da coxa e a menor mobilidade extensora do quadril do membro inferior direito. Fato esse que pode estar associado ao expressivo histórico de entorses entre esses profissionais.

Conclusão

    A partir dos resultados, verificou-se que a maioria dos jogadores investigados sofreram algum tipo de lesão, as quais ocorreram predominantemente durante os jogos. Houve um maior número de entorses seguido de lesões musculares. As variáveis apontadas pelos sujeitos amostrais como favoráveis à ocorrência de lesões foram o salto e a quantidade de jogos realizados.

    A força do grupo muscular posterior direito foi significativamente maior se comparado ao membro contra lateral. Em relação à flexibilidade não houve diferenças significativas quanto aos seus valores, sendo que os goleiros e atacantes apresentaram melhor mobilidade flexora e extensora dos quadris. O que pode estar relacionado ao fato dos goleiros serem os profissionais com menores indícios de lesões prévias.

    Recomenda-se que estudos sobre lesões, força e flexibilidade no futebol sejam realizados com maior frequência, visto que a literatura ainda é limitada nesse campo. Há ocorrência de lesões sim, e num futebol tão competitivo como o atual, são passíveis que ocorreram em grandes números. No entanto essas podem ser minimizadas ao se priorizar o preparo físico dos atletas através de uma equipe integral de saúde constituída por profissionais de educação física, fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos e médicos. Esses devem ter como paradigma não somente a alta performance e os resultados imediatos dos atletas e clubes, mas também priorizar práticas preventivas em relação às principais lesões, respeitando à individualidade de cada atleta, para que ao final dos processos competitivos os clubes possam alcançar resultados satisfatórios mas que seus atletas estejam saudáveis e aptos a continuarem a exercer o seu labor.

Referências

  • Achour Jr, A. Exercícios de Alongamento: Anatomia e Fisiologia. 2. ed. São Paulo: Manole, 2006.

  • Alloza, JFM. As lesões no futebol. Abril 2002. Disponível em: http://www.hospitalar.com/arquivo_opiniao/opi205.html. Acesso em: 25 maio 2009.

  • Alter, MJ. Ciência da flexibilidade. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 1999.

  • Araújo, CGS; Araújo, SDSM. Flexi­teste: utilização inapropriada de versões condensadas. 2004. Rev. Brás. Méd. Esporte, v. 10, n.5, p. 381-84.

  • Carvalho, AM; Barbosa, BTC. Incidência de lesões traumato-ortopédicas na equipe do Ipatinga Futebol Clube-MG. 2008. Movimentum, v. 3, n. 1, p.

  • Cohen, M; Abdalla, RJ; Ejnisman, B; Amaro, JT. Lesões Ortopédicas no Futebol. 1997. Rev Bras Ortop., v. 32, n. 12, p. 940-44.

  • Dantas, EHM. A prática da preparação física. 5.ed. Rio de Janeiro: Shape, 2005.

  • Farinatti, PTV. Flexibilidade e esporte: uma revisão da literatura. 2000. Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, v. 14, n. 1, p. 85-96.

  • Fleck, JS e Kraemer JW. Fundamentos do Treinamento de Força Muscular. São Paulo: Artes Médicas Sul, 1999; p 20 – 27.

  • Leite, CBS; Neto, FFC. Incidência de lesões traumato-ortopédicas no futebol de campo feminino e sua relação com alterações posturais. 2003. Efdeports. Ano 9, n.61.

  • Pastre, CM; et al. Lesões desportivas na elite do atletismo brasileiro: estudo a partir de morbidade referida. 2005. Rev Bras Med Esporte,v.11, n.1. p. 43-7.

  • Santos, CF; Domingues, CA. Avaliação pré e pós mobilização neural para ganho da ADM em flexão do quadril por meio do alongamento dos isquiotibiais. 2008. Rev. Cosncientiae Saúde, v. 7, n. 4, p. 487-495.

  • Da Silva, AA, et al. Fisioterapia Esportiva: Prevenção e Reabilitação de Lesões Esportivas em Atletas do América futebol Clube. Anais do 8º Encontro de Extensão da UFMG. Belo Horizonte: SIEXBRASIL, 2005.

  • Stewien, ETM; Camargo, OPA. Ocorrência de entorse e lesões do joelho em jogadores de futebol da cidade de Manaus, Amazonas. 2005. Acta Ortorp., v. 13, n.3, p. 141-46.

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