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A influência da propaganda de equipamentos de atividade 

física não monitorada e sua relação com saúde e estética

La influencia de la publicidad de equipamiento de actividad física no controlada y su relación con la salud y estética

The influence of advertising equipment not monitored physical activity and its relation to health and aesthetics

 

*Graduandos do Curso de Ciências da Atividade Física

Universidade de São Paulo

**Orientador. Prof. Dr. Universidade de São Paulo

Escola de Artes Ciências e Humanidades

(Brasil)

Bruno Venoso* | Cassio Araujo Rezende*

Danilo Chiba Toledo* | Fábio Da Silva Lourenço*

Helio Loredo Mesquita* | Henrique Chagas Gomes*

Mariana Siqueira Antunes* | Mohamad Amin*

Marco Antonio Bettine de Almeida**

marcobettine@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Uma das características marcantes da atual sociedade é ter a mídia como tendência de comportamento. A busca para atingir certos padrões de beleza pode trazer sérios riscos à saúde, quando os limites fisiológicos são desrespeitados, além de geralmente serem atribuídas a resultados rápidos com pouco esforço. O presente artigo tem como objetivo discutir as relações entre a influência da mídia na aquisição de aparelhos de atividade física não monitorados e a utilização sem o devido acompanhamento profissional. O método de pesquisa consiste analise de uma propaganda e questionário de profissionais de Educação Física, especializados em trabalhar em academias de ginástica e musculação, apontando possíveis riscos detectados à saúde dos usuários. Conclui-se que não há resultados comprovados da utilização dos aparelhos, não há preocupação com a saúde e super-valorização da estética.

          Unitermos: Estética. Corpolatria. Mídia.

 

Resumen

          Una característica común de la sociedad actual es que los medios de comunicación como un patrón de comportamiento. El intento de alcanzar ciertos estándares de belleza puede dar lugar a riesgos graves, cuando los límites fisiológicos no son respetados, y por lo general se asignan a resultados rápidos con poco esfuerzo. Este artículo tiene como objetivo discutir la relación entre la influencia de los medios en la adquisición de equipos para la actividad física y el uso no supervisado sin la supervisión profesional adecuada. El método de investigación es un análisis de la propaganda y un cuestionario sobre los profesionales de la educación física que se especializan en trabajar en los gimnasios y musculación, que apunta a posibles riesgos de salud experimentados por los usuarios. Llegamos a la conclusión de que no hay resultados probados de la utilización de equipos, existe la preocupación acerca de la salud y sobre-valoración de la estética.

          Palabras clave: Estética. Corpolatría. Medios de comunicación.

 

Abstract

          A common feature of current society is to have the media as a pattern of behavior. The quest to achieve certain standards of beauty can lead to serious health risks, when the physiological limits are not respected, and they usually are assigned to fast results with little effort. This article aims to discuss the relationship between the media's influence on the procurement of equipment for physical activity and use not monitored without proper professional supervision. The research method is an analysis of propaganda and a questionnaire about physical education professionals who specialize in working in gyms and bodybuilding, pointing to possible health risks encountered by users. We conclude that there is no proven results of the use of equipment, there is concern about health and over-valuation of aesthetics.

          Keywords: Aesthetics. Corpolatria. Media.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 151, Diciembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    Uma das características marcantes da atual sociedade, segundo (Castro, 2003, p.18) é ter a mídia como “o agente difusor do culto ao corpo como tendência de comportamento”. No Brasil, principalmente a mídia televisiva tem uma forte participação na construção de tendências, padrões e valores sociais relativos ao corpo, e busca conseguir isto através de técnicas de marketing, por vezes apelativas, conhecedoras de seu público-alvo.

    Pesquisas apontam que na década de 1920, o fenômeno de culto ao corpo surge no Brasil, sob influência das indústrias de cosméticos, da moda e das publicidades de Hollywood, em virtude disto, as mulheres passam a maquiagens e a valorizar o corpo magro (Featherstone, 1993). Este fenômeno foi intitulado como “corpolatria”, o ato de cultuar a aparência. Este fenômeno transmitiria a falsa impressão de felicidade, através do bom convívio proporcionado nas inter-relações pessoais.

    A busca para atingir certos padrões de beleza pode trazer sérios riscos à saúde, quando os limites fisiológicos são desrespeitados, além de geralmente serem atribuídas a resultados rápidos com pouco esforço. Alguns comportamentos podem causar desde uma simples lesão a danos que podem limitar ou reduzir a capacidade motora ou fisiológica, ou até mesmo causar problemas irreversíveis.

    O presente artigo tem como objetivo discutir as relações entre a influência da mídia na aquisição de aparelhos de atividade física não monitorados e a utilização deles sem o devido acompanhamento profissional, com base na opinião de profissionais do ramo da Educação Física, especializados em trabalhar em academias de ginástica e musculação, apontando possíveis riscos detectados à saúde dos usuários.

    Para tanto foram reunidas referências bibliográficas com o objetivo de definir conceitos fundamentais para o estudo como saúde, propaganda e corpolatria. Utilizou-se um questionário no qual foi avaliado a opinião de profissionais, de educação física de academias de ginástica, e uma propaganda televisa de um aparelho XX (por motivos éticos não escreveremos o nome do aparelho, pois ele, aparelho, apenas representa a industria do fitness televisivo).

2.     Conceitos

2.1.     Saúde

    Numa primeira concepção, saúde é simplesmente a ausência de doença. Porém, atualmente percebe-se a saúde como um estado de equilíbrio entre fatores físicos, psicológicos e sociais.

    Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), foi idealizado no ano de 1948, a definição de saúde como: Um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de afecção ou doença.

    Através destas observações constata-se que, além da condição individual, o estado de saúde também sofre influência do ambiente, tornando mais complexo atingir o conceito de saúde completa, sendo necessária a avaliação no âmbito de três pontos de vista; clinica, psicológica e social.

    Existem ações que podem contribuir para a manutenção da saúde e o bem-estar do indivíduo, tais como: submeter a determinados hábitos, como nutrição adequada, comportamentos preventivos (utilização de tabaco ou álcool em excesso), vida social ativa e a prática regular de atividades físicas. O conjunto destas medidas, juntamente, com as condições de vida, influencia diretamente no estado de saúde das pessoas no meio social onde vivem.

    A sociedade influi nos conceitos de saúde, impondo estereótipos dos quais as pessoas buscam incessantemente adequar-se. Pessoas pertencentes a estes estereótipos, sentem-se mais valorizadas dentro da sociedade, por estarem de acordo com os conceitos estipulados por ela. Um estereótipo modelo é corpo magro ou escultural podendo representar a falsa impressão de saúde.

2.2.     Propaganda

    A representação nas mídias do corpo, noções de indivíduo, sujeito ou subjetividade, são um objeto apenas da idéia do “eu”. Tal ocorrência vem sendo modificada com o tempo e a cultura predominante. Discursos filosóficos e sociais expõem a representação do “eu” com diferentes tipos de argumentos, contradições e inadequações a respeito das definições estáveis e acabadas do “eu”. Já a mídia, tende a partir para o lado das ilusões com o fim de benefícios institucionais.

    Diante do presente conflito de representações, a definição que mais estará presente na memória das pessoas, não será o ideal da teoria filosófica, e sim o ideal de imagem produzido pela mídia, pela sua maior facilidade de acesso. Esta imagem incentiva o imaginário, que alimenta as miragens do ego: um corpo modelizado como ideal a ser atingido, resultando na promessa superficial de felicidade.

    Ao longo do século XX, através das tecnologias de propaganda e marketing, foram desenvolvidos processos de interação das pessoas com produtos ou modelos da imagem do eu. O que provoca profundo efeito sobre as experiências corporais através da fantasia de determinadas existências de corpo perfeitas influenciando no desejo e sonho de cada um. Como há uma apreciação externa das pessoas, ocorre uma supervalorização da aparência, levando à busca da forma e volume corporal ideal.

    Segundo Castro (2003), a definição de culto ao corpo e sua ação são, respectivamente tipo de relação dos indivíduos com seus corpos que tem como preocupação básica seu modelamento a fim de aproximá-lo o mais possível do padrão de beleza estabelecido e a mídia constitui-se num dos principais meios de difusão e capitalização do culto ao corpo como tendência de comportamento. A hipervalorização da construção corporal, envolve a prática de atividade física, com ou sem acompanhamento profissional, dietas, cirurgias plásticas, uso de produtos cosméticos, em suma tudo que auxilie na aproximação com o corpo ideal.

    A mídia mantém-se presente na vida cotidiana, levando ao leitor novidades tecnológicas, influenciando suas tendências. Para tal fim, recorre ao profissional (conhecido ou não) que tem espaço e sucesso garantido diante do público alvo, usando-o como modelo a ser seguido. Ela divulga resultados que induz o cliente a pensar que é possível atingi-los comprando suas mercadorias, como exemplo as dietas ou os aparelhos de exercícios físicos usados sem monitoramento, sem a devida orientação.

    Santos (2006) menciona a mídia e sua ação na sociedade, afirmando que a propagação de informações gera a manutenção de uma rede de valores, que são cultuados com o intuito de valorizar os modelos culturalmente consolidados a partir da renovação estética, de usos e costumes, comportamentos de moda, garantindo, desse modo, o caráter sublime sob o qual se apresenta esse universo de inovação e manipulação da aparência.

    O que se encontra na imprensa é a proposta a ser seguida e vencida, que vence até mesmo o desenvolvimento natural humano: o envelhecimento. Em função disso, multiplicam-se as academias, spas e centros estéticos para busca da perfeição corporal externa levando ao esquecimento a garantia ou melhoria da saúde física ou mental.

    A Corpolatria, como culto ao corpo, tornou-se comum, a mídia, como instrumento veiculador da propaganda de forma acessível através de canais pagos ou abertos, por rádio ou impressos, divulga formas de obtenção de padrões estéticos.

    A imagem do corpo ideal é aquele padronizado, com formas e volumes perfeitos, livre de rugas ou deformações e doenças, um corpo construído com próteses, retocado através de cirurgias plásticas, em que o natural é substituído por elementos artificiais introjetados como hormônios, anabolizantes, suplementos alimentares, silicones e próteses. Assim, ocorre a transformação da essência natural humana e a suposta perfeição corporal, na decorrência de uma falsa impressão de bem estar, falsa por não incluir a promoção da saúde, do bem estar físico e mental.

3.     Método de pesquisa

    Foram realizadas pesquisas bibliográficas em livros e artigos científicos e pesquisa de campo na forma de questionário com perguntas abertas para profissionais que atuam em academias e análise de propagandas televisivas.

    Conceitos fundamentais como saúde, corpolatria e propaganda foram desenvolvidos com base em bibliografias específicas.

    O questionário abordou aspectos fundamentais da utilização dos aparelhos de exercícios físicos não monitorados e a opinião dos profissionais educadores físicos de academias.

    Uma propaganda televisiva específica foi analisada: aparelho XX, da marca XX.

    Uma junção das análises das pesquisas de campo foi feita, seguida de uma discussão e por fim a conclusão referente à influência da propaganda e sua relação risco à saúde e corpolatria.

4.     Resultados

4.1.     Análise da propaganda

    A propaganda escolhida para análise foi do aparelho vendido pela marca XX, o qual é exposto na televisão ou internet. Ele teria o objetivo de fortalecer músculos como os abdominais, os glúteos e membros superiores e inferiores.

    Durante sua amostra, há citações para a prática de exercício com e sem monitoramento profissional, tenta-se mostrar que ele pode ser usado em qualquer lugar, seja dentro ou fora de casa e até em academias, como é mostrado na XX. No entanto, quando se faz referência ao uso fora da academia, não se demonstra ser necessário acompanhamento profissional.

    Desde o começo da propaganda, a primeira citação é perda de peso, e logo depois queima de calorias, aos quais são adicionados adjetivos como rápida, simples e divertido. Em nenhum momento há a preocupação com saúde, ou estímulo à pratica de exercícios para tal fim, afirma-se que se preserva as articulações sem nenhum impacto a elas e que os resultados são garantidos. Os resultados a que se remete são: tonificação muscular e perda de peso e com isso um corpo bonito.

    Ainda cita-se haver um estudo que comprovaria que o referido aparelho queimaria mais calorias que sessões de bicicleta ou esteira, porém não há referência de carga ou intensidade do treino, podendo tal afirmação ser relativa e incerta. E não há evidências do estudo no site.

    A propaganda demonstra ter finalidade estética, já que usa expressões como: “Bumbum mais sexy, bonito e atraente” , “ Abdômen invejável” e “ Cintura que sempre sonhou”; além de não referir-se à saúde.

4.2.     Análise da pesquisa de campo

    A pesquisa de campo abrangeu um questionário aplicado aos profissionais da área de Academias, no total de dez pessoas, com perguntas relativas ao conhecimento de aparelhos usados sem monitoramento profissional, relatos a respeito do uso questionando benefícios e riscos e finalidade da propaganda dos aparelhos.

    De acordo com as respostas, todos os profissionais relataram: conhecerem algum modelo de aparelho vendido com o intuito de ser usado sem acompanhamento e pessoas que utilizaram algum tipo, o relato das pessoas sempre foi de não obter resultado ou de não obter como o garantido na propaganda e a finalidade da propaganda ser meramente comercial, ou seja, com fins lucrativos.

    Um benefício citado foi o incentivo à prática de exercícios; já os riscos podem ser desde dores a lesões musculares e até arritmia, causadas por uso indevido, sem a avaliação profissional e a não obtenção do resultado almejado.

5.     Discussão

    Como citado anteriormente, durante a propaganda do produto analisado, o termo saúde diretamente não é mencionado nenhuma vez. Enquanto termos como “corpo tonificado”, “perder peso” e “queimar calorias” são citados mais de uma vez. O locutor enfatiza a importância de se obter braços e pernas bem torneados, peito, costas e glúteos atraentes, cintura “dos sonhos” e abdômen enrijecido. Percebe-se que a propaganda não se preocupa com a saúde dos usuários, visando apenas à parte estética, ou seja, a saúde não é ao menos referenciada, não sendo, portanto, o objetivo da venda.

    A propaganda fortalece o desejo da busca do corpo perfeito, potencializando imagens através de atores e o nome conceituado de uma academia, e usando como estratégia de venda os termos “queima de calorias”, “perda de peso” e “corpo tonificado”, pois são estes termos atraentes aos compradores.

    Para otimizar as vendas alguns artifícios são utilizados: pessoas já com corpos modelados utilizando o aparelho, além de profissionais de academias, famosos ou não, imagens de “antes e depois”, entrevistas e gráficos demonstrando a sua suposta eficácia.

    Para que surja o efeito esperado pelo aparelho é necessária à execução correta dos exercícios, algo que exige um acompanhamento de um profissional capacitado. As entrevistas feitas com profissionais da atividade física que atuam em academias relatam pessoas que cessaram rapidamente o uso do aparelho por dois motivos principais: não atingiram o resultado esperado dentro de um período curto de tempo ou porque começaram a sentir dores nas articulações. A partir destas respostas aparenta que existe pouca prevalência de pessoas que somente praticam exercícios físicos com o uso destes tipos de aparelho.

    O questionário apontou um benefício aos aparelhos citados: a prática de atividade física. Em um primeiro momento poderia ser, no entanto, as pessoas tendem a abandonar o uso seja por dores ou lesões causadas pelo mau uso ou por não atingirem o resultado desejado, levando ao término da prática de atividade física. Isso pode ser explicado pelo fato de que o usuário alimenta a ilusão que o uso do aparelho lhe trará o resultado de um corpo perfeito de maneira rápida. Ao ver que este resultado esperado não chega, ou ainda que sofra alguma lesão na musculatura, pois não teve um acompanhamento profissional e executou o exercício de maneira demasiada ou muito intensa, pode-se criar uma espécie de barreira contra a atividade física, pois suas experiências com estes tipos de atividades foram, em sua maioria, frustrantes e negativas.

    Visando investigar o real sentido e a influência que a propaganda do produto XX exerce sobre os compradores, o artigo reuniu avaliações de profissionais de educação física que atuam em academias, constatou-se que: os aparelhos anunciados na mídia televisiva têm o objetivo de promover a prática de exercícios físicos através da exploração estética, não transmitindo a importância de praticar atividade física em benefício da saúde e a instituição da mídia possui fins comerciais em detrimento de fins positivos à saúde.

6.     Considerações finais

    Conclui-se que mediante análise do estudo a mídia influencia tendências e padrões de estética, os usa através da promoção da prática de atividade física com intuitos comerciais vendendo aparelhos. Não menciona em momento algum se a atividade física é benéfica à saúde do usuário e se há riscos ao praticá-la sem um acompanhamento profissional. As pessoas afirmam que com o passar do tempo deixam de usar o aparelho por falta de resultado, falta de estimulo ou por adquirirem lesões.

Referências bibliográficas

  • CASTRO, A. L. de. Culto ao corpo e sociedade: mídia, estilos de vida e cultura de consumo. São Paulo: Annablume: Fapesp, 2003.

  • DIAS, J. A.; PEREIRA, T.R.M.; LINCOLN, P.B.; SOBRINHO R.A.S. A importância da execução de atividade física orientada: uma alternativa para o controle da doença crônica na atenção primaria. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Nov 2007. http://www.efdeportes.com/efd114/a-importancia-da-execucao-de-atividade-fisica-orientada.htm

  • FEATHERSTONE, M. Cultura de consumo e pós-modernismo. São Paulo: Studio Nobel, 1993.

  • SANTOS, M.O.S. A tirania da magreza feminina. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Abr 2008. http://www.efdeportes.com/efd119/a-tirania-da-magreza-feminina.htm

  • SERRA, Giane Molinari, Amaral; SANTOS, Elizabeth Moreira dos. Saúde e mídia na construção da obesidade e do corpo perfeito. Ciência. Saúde coletiva, São Paulo, v. 8, n. 3, 2003.

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