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Estado nutricional relacionado ao desenvolvimento 

neuropsicomotor e sua contribuição para o baixo rendimento escolar

Estado nutricional relacionado al desarrollo neuropsicomotor y su contribución al bajo rendimiento escolar

 

*Acadêmicas do curso de Medicina das FIPMoc

**Acadêmica do curso de Medicina da Unimontes

***Docente das FIPMoc e UNIMONTES

(Brasil)

Êminne Maíra Silva Lopes*

Fernanda Veloso Pereira*

Camilla Martins Leite*

Sara Borges Pinheiro**

Josiane Santos Brant Rocha***

josianenat@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Objetivo: O objetivo deste estudo foi promover uma revisão relacionando a desnutrição infantil com alteração no desenvolvimento neuropsicomotor, que acarreta baixo desempenho escolar. Metodologia: Foi realizada uma pesquisa com procedimentos bibliográficos, exploratória de natureza qualitativa, a partir de materiais já elaborados, constituídos principalmente de livros e artigos científicos. Conclusão: Os dados obtidos nesta revisão demonstram que o quadro clínico da desnutrição infantil está intimamente relacionado com o crescimento da criança e, conseqüentemente, compromete o desempenho das funções corticais. Esse comprometimento acarreta prejuízos na aprendizagem cognitiva, podendo causar até mesmo a repetência escolar.

          Unitermos: Desnutrição infantil. Desenvolvimento neuropsicomotor. Desempenho escolar.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 151, Diciembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Desnutrição, em sentido amplo, inclui todas as deficiências nutricionais. Entretanto, na prática, está relacionada ao quadro clínico produzido pela carência de proteínas e/ou energia. (LEÃO et al., 2005) .

    O Ministério da Saúde utiliza para o diagnóstico nutricional de crianças abaixo de 10 anos diversas curvas de crescimento, mas principalmente duas: peso x idade e peso x estatura. De acordo com a curva peso x idade, são consideradas crianças de “peso baixo para a idade” aquelas abaixo do percentil 3 ou abaixo do escore Z 2 do gráfico; e “peso muito baixo para a idade”, aquelas com peso abaixo do percentil 0,1 ou abaixo do escore Z - 3 do gráfico. De acordo com a curva peso x estatura, são consideradas crianças com “peso baixo para a altura” (emagrecimento moderado) aquelas situado abaixo do percentil 3 ou abaixo do escore Z – 2 do gráfico ; e “peso muito baixo para a altura” (emagrecimento grave), aquele situado abaixo do percentil 0,1 ou abaixo do escore Z – 3 do gráfico (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2007).

    A carência nutricional - como uma síndrome multifatorial - deve-se a várias causas, podendo ser classificada quanto a etiologia em primária e secundária. A desnutrição primária normalmente está associada à pobreza e a falta de alimentos dela decorrentes está relacionada, portanto à ausência de condições mínimas de existência. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009). Os quatro principais aspectos a se considerarem numa análise de possíveis casos de desnutrição primária são: saneamento do meio, poder aquisitivo, higiene, escolaridade materna e acesso à assistência à saúde. (MONTEIRO et al., 2009). A desnutrição secundária, por sua vez, seria decorrente de uma patologia ou condição orgânica que prejudicasse a deglutição, absorção ou o metabolismo energético, a despeito de uma oferta adequada de nutrientes, como na fístula palatina, fibrose cística do pâncreas e síndrome nefrótica. (FERREIRA E FRANÇA, 2002).

    O processo de desnutrição vai caracterizar-se, em sua fase inicial, por um retardo no ganho de peso ou, mesmo, sua perda. Caso o estado de desnutrição se prolongue, surgem sinais e sintomas como anemia, diarreia, baixa estatura e infecções, que poderão evoluir para quadros mais graves, marasmo nutricional e kwashiorkor. Nessas formas graves, há também comprometimento no desenvolvimento neuropsicomotor. (LEÃO et al., 2005)

    Apesar de haver uma tendência à queda nos índices da desnutrição, ela ainda acomete muitas crianças em todo o mundo. (VOLTARELLI E MELLO, 2008). Por ser uma doença de grande impacto na saúde infantil, estratégias de prevenção e promoção devem ser realizadas, cabendo às equipes de saúde orientar sobre a importância dos bons hábitos alimentares, atendimento pré-natal e aleitamento materno. (LEÃO et al., 2005). As políticas públicas também podem contribuir melhorando condições ambientais, econômicas e sociais da população. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009)

    O presente trabalho foi desenvolvido com o objetivo de relacionar a desnutrição infantil com a alteração no desenvolvimento neuropsicomotor, que acarreta baixo desempenho escolar.

Metodologia

    Com a finalidade de atingir os objetivos propostos neste trabalho, foi realizada uma pesquisa com procedimentos bibliográficos, exploratória de natureza qualitativa. (GIL, 2008). A pesquisa foi desenvolvida a partir de materiais já elaborados, constituídos principalmente de livros e artigos científicos. Esta pesquisa tem o intuito de proporcionar melhor visão do problema e torná-lo mais específico, possibilitando a construção de hipóteses e assumindo um caráter de estudo exploratório, visando conhecer os fatos e fenômenos relacionados ao tema.

    Como fontes de dados, foram utilizados artigos científicos originais e de revisão, no período de 1998 a 2006, bem como livros da área da saúde referentes ao tema proposto. A seleção de artigos foi definida pelo seguinte modelo: artigos recentes em português, que relacionam a desnutrição com o desempenho escolar ou neuropsicomotor. Após obter o material, foi realizada uma leitura exploratória das obras bibliográficas, a fim de verificar quais conteúdos dos artigos consultados tinham relação com o tema pesquisado. Em seguida, procedeu-se à seleção do material que de fato estava de acordo com os objetivos visados, bem como à elaboração dos seus respectivos fichamentos. Finalmente, efetuou-se a leitura interpretativa para a elaboração deste artigo.

Discussão

    A desnutrição infantil manifesta-se desde as formas mais leves (perda de peso) às formas mais graves (alterações do desenvolvimento neuropsicomotor).

    A ingestão de uma dieta adequada em quantidade e qualidade é de suma importância na vida do ser humano, visto que a nutrição é um pré-requisito para o bom crescimento e desenvolvimento. (GUARDIOLA et al., 2001)

    Quando o organismo se encontra sob baixa oferta alimentar, a resposta metabólica buscada por ele é adaptar-se à nova situação. Como a desnutrição é um processo evolutivo, o organismo economiza energia e utiliza as reservas mobilizáveis; depois, órgãos menos nobres e funções não-vitais comprometem-se, sendo então, adaptados para garantir a sobrevivência em condições adversas. Permanecendo a carência, órgãos nobres e funções vitais passam a ser ameaçados, representando os níveis mais graves de desnutrição – marasmo e kwashiorkor. (LEÃO et al.,2005)

    Quando ocorre atraso no desenvolvimento do sistema nervoso (SN), o desempenho neuropsicomotor na criança afetada é comprometido. Isso porque, na criança, o período de desenvolvimento cerebral ocorre desde o período gestacional até o final do segundo ano de vida. (GUARDIOLA et al., 2001)

    O retardo do desenvolvimento neuropsicomotor pode estar relacionado com alguns achados que provocam alterações funcionais do cérebro, modificando sua estrutura bioquímica ou anatômica (diminuição do peso encefálico, da mielinização, da produção de neurotransmissores e da velocidade da condução nervosa). (LEÃO et al.,2005; MALTA et al.,1998)

    O cérebro é composto por dois hemisférios, que funcionam como um todo de forma integrada e estruturando a conduta do indivíduo. O hemisfério esquerdo é aquele no qual predominam as funções da linguagem, memória verbal; enquanto o hemisfério direito se relaciona com as localizações espaciais, fisionomias e melodias. (GUARDIOLA et al., 2001)

    A faixa etária da criança influencia na maturidade cerebral, visto que é um processo dinâmico que acompanha o desenvolvimento infantil. Essa maturidade está intimamente relacionada com a completa expressão das funções corticais, como, por exemplo, as praxias (atos motores voluntários que se automatizam por repetição), gnosias (funções ligadas ao conhecimento) e linguagem. (GUARDIOLA et al.,2001)

    A linguagem - função cortical mais especializada do SN - envolve tanto aspectos práxicos como aspectos do conhecimento, abrangendo uma vasta área. Por isso, sua relação com o aprendizado escolar é de grande relevância. Observa-se então, que a exposição ao “deficit” de crescimento ocorrido na infância, causado pela desnutrição, tem relação com o aproveitamento escolar, visto que prejudica a linguagem como função cortical. (LEI et al.,1995)

    Estudos realizados no município de Barueri – SP, com 928 alunos (7 anos de idade) da rede de ensino estadual confirmam uma associação significativa entre o “deficit” estatural e rendimento escolar, de acordo com avaliação geral do professor. (LEI et al., 1995)

    Outras pesquisas realizadas em Osasco - SP em 1995 ainda verificaram que crianças com “déficit” de crescimento apresentavam duas vezes maior chance de repetência escolar do que o observado entre alunos sem retardo do crescimento. (MALTA et al., 1998)

    Além da desnutrição como causa dos prejuízos das funções corticais, que podem afetar a aprendizagem, os fatores ambientais e sócio-culturais também podem influenciar. Segundo Guardiola et al. (2001), há um maior risco de desnutrição associado ao ambiente inadequado e com baixa participação materna na atenção às necessidades do filho.

    Quanto à questão econômica, como determinante da desnutrição, pode estar relacionada ao baixo rendimento escolar. Em um estudo realizado por Malta et al. (1998), 65% das crianças que foram reprovadas no final do ano letivo pertenciam a famílias cuja renda familiar per capita era igual ou menor a meio salário mínimo.

    Entretanto, para Sawaya (2006), não se podem analisar os fatores da desnutrição infantil de uma forma isolada. Deve-se levar em consideração o contexto sócio-ambiental em que a criança e sua família estão inseridas. Afirma, também, que uma grande parcela dos trabalhadores brasileiros não tem condições sequer de adquirir uma cesta básica, e, portanto, devem-se revisar as afirmações que indicam hábitos alimentares incorretos, inexistência de padrões alimentares, descuido da mãe ou descaso na alimentação das crianças, como causadores da desnutrição infantil.

    Então, a partir do processo de exclusão social, a desnutrição, como determinante do desenvolvimento e aprendizagem escolar infantil, necessita de revisão.

Considerações finais

    A desnutrição é uma patologia multifatorial, tendo, portanto, diversas causas, que abrangem toda a gama biopsicossocial. Ela pode evoluir para quadros mais graves, atingindo o desenvolvimento neuropsicomotor da criança.

    Dentre os aspectos abordados nas publicações estudadas, evidencia-se que a desnutrição, em seu estado mais grave, atinge esse estágio patológico quando variante de diversos fatores que se interagem. Dentre eles, estão, por exemplo, as questões sócio-econômicas, ambientais e culturais, que formam o contexto no qual a família está inserida.

    É possível perceber que o quadro clínico da desnutrição infantil está intimamente relacionado com o crescimento da criança e, conseqüentemente, compromete o desempenho das funções corticais. Esse comprometimento acarreta prejuízos na aprendizagem cognitiva, podendo causar até mesmo a repetência escolar.

    Entretanto, relevamos que crianças desnutridas, estatisticamente muito mais inseridas em famílias com baixo nível sócio-econômico-cultural, possivelmente são menos estimuladas pelos seus cuidadores. E sabendo que o desenvolvimento neuro-psico-motor é diretamente influenciado pelos estímulos ambientais, muitas vezes é difícil determinar de modo preciso a preponderância deletéria de um e de outro fator na gênese do déficit cognitivo. Considerado este um viés em muitos estudos que relacionam o baixo rendimento escolar à desnutrição.

Referências

  • Brasil; Ministério da Saúde; Secretaria de Políticas da Saúde; Departamento de atenção básica, Saúde da Criança: acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil. 2002.

  • Brasil; Ministério da Saúde; Secretaria de Políticas da Saúde; Departamento de atenção básica, Protocolo do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional - SISVAN. 2007.

  • FERREIRA, H.S.; FRANÇA, A.O.S. Evolução do estado nutricional de crianças submetidas à internação hospitalar. Jornal de Pediatria, Rio de Janeiro, vol.78, nº6, Porto Alegre, Nov./Dec., 2002.

  • GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4ª Ed. São Paulo: Atlas, 2008.

  • GUARDIOLA, A.; EGEWARTH, C.; ROTTA, N. T. Avaliação do desenvolvimento neuropsicomotor em escolares de primeira série e sua relação com o estado nutricional. Jornal de Pediatria. Rio de Janeiro, v.77, n.3, p.189-196, 2001.

  • LEÃO, E.; CORRÊA, E. J.; VIANA, M. V.; MOTA, J. A. C. Pediatria Ambulatorial. 4ª Ed. Belo Horizonte: COOPMED, 2005. 1060p.

  • LEI, D. L. M.; CHAVES, S. P.; LERNER, B. R.; STEFANINI, M. L. R. Retardo do crescimento físico e aproveitamento escolar em crianças do município de Osasco, área metropolitana de São Paulo, Brasil. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.11, n.2, p.238-245, abr/jun, 1995.

  • MALTA, D. C.; GOULART, E. M. A.; E COSTA, M. F. F. L. Estado nutricional e variáveis sócio-econômicas na repetência escolar: um estudo prospectivo em crianças da primeira série em Belo Horizonte, Brasil. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.14, n.1, p.157-164, jan/mar, 1998.

  • MONTEIRO, C. A.; BENÍCIO, M. H. D.; KONNO, S. C.; DA SILVA, A. C. F.; DE LIMA, A. L. L.; CONDE, W. L. Causas do declínio da desnutrição infantil no Brasil, 1996-2007. Revista de Saúde Pública. São Paulo, v. 43, n. 1, fev. 2009.

  • SAWAYA, A. L. Desnutrição: Consequências em longo prazo e efeitos da recuperação nutricional. Estudos Avançados, v.20, n.58, p.147-158, 2006.

  • SAWAYA, S. M. Desnutrição e baixo rendimento escolar: contribuições críticas. Estudos Avançados, v.20, n.58, p.133-146, 2006.

  • VOLTARELLI, F. A.; DE MELLO, M. A. R. Desnutrição: metabolismo protéico muscular e recuperação nutricional associada ao exercício. Motriz, Rio Claro, v. 14, n. 1, jan/mar, 2008.

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