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Comparação do duplo produto entre sessões 

de musculação e de exercício funcional resistido

Comparación del doble producto entre sesiones de musculación y de ejercicio funcional de resistencia

 

*Graduado em Educação Física. UNAERP, Riberão Preto, SP

Pós-graduando em Fisiologia do Exercício: Fundamentos

para Performance, Reabilitação e Emagrecimento (UFSCar – São Carlos, SP)

Membro pesquisador do CEFEMA (Centro de Estudos

em Fisiologia do Exercício, Musculação e Avaliação Física – Araraquara, SP)

Membro da Oficina de Projetos em Esfigmomanometria

da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, USP

**Mestre em Ciências Fisiológicas (UFSCar, São Carlos- SP)

Docente UNIARA, UNICEP, Centro Universitário Moura Lacerda

Faculdades COC ; Diretor do CEFEMA (Araraquara – SP)

***Mestre em Medicina (Clínica Médica) (USP, Ribeirão Preto – SP)

Docente FAFIBE (Bebedouro – SP)

Raphael Santos Teodoro de Carvalho*

raphaelstcarvalho@gmail.com

Cássio Mascarenhas Robert-Pires**

cefema2010@hotmail.com

Cássio Ricardo Vaz Fiani***

cassio.fiani@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo do estudo foi comparar as respostas do duplo produto (DP) entre os exercícios de musculação (resistidos tradicionais) e os exercícios resistidos funcionais, em séries de alta intensidade. Foram recrutados 10 voluntários de ambos os sexos, com idade média de 23 ± 3,8 anos e experiência prévia de ao menos um ano em musculação. Os voluntários realizaram 2 séries dos exercícios leg-press horizontal e supino reto na sessão de exercício resistido tradicional e 2 séries dos exercícios agachamento na cama elástica e supino com halter na bola, na sessão de exercício resistido funcional. Em ambas as sessões de treino, foram realizadas 8 repetições com 75%1RM e intervalo de descanso de 90 segundos. A pressão arterial e a freqüência cardíaca foram medidas ao final das séries. Os resultados encontrados demonstraram que o duplo produto foi significativamente maior nos exercícios funcionais resistidos. Provavelmente, essa diferença tenha sido decorrente do fato de que os exercícios funcionais resistidos promovem maior ativação de músculos sinergistas e estabilizadores para que o movimento ocorra com maior eficiência. Dessa forma, esse maior nível de recrutamento motor pode ser responsável pela maior resposta aguda do DP. Conclui-se que o treinamento funcional resistido provoca maiores elevações do DP do que exercícios semelhantes utilizados no treinamento de musculação (resistido tradicional).

          Unitermos: Exercício resistido. Treinamento funcional. Pressão arterial.

 

Abstract
         
The objective was to compare the responses of the rate-pressure product (RPP) between weight lifting exercises (resistance traditional) and functional resistance training, in a series of high intensity. We recruited 10 volunteers of both sexes, aged 23 ± 3.8 years, and previous experience of at least one year in bodybuilding. The volunteers performed two series of exercises horizontal leg press and bench press in the traditional resistance exercise session and 2 sets of squats exercises on the trampoline and dumbbell bench press with the ball in the resistance exercise session functional. In both sessions, eight repetitions were performed with 75% 1RM and rest interval of 90 seconds. Blood pressure and heart rate were measured at the end of the series. The results showed that the double product was significantly higher in functional exercises resistance. Probably, this difference was due to the fact that resistance exercise promotes greater functional activation of synergist muscles and stabilizers for the movement to occur more efficiently. Thus, this higher level of motor recruitment may be responsible for most acute response of RPP. We conclude that functional resistance training causes higher rates of RPP than similar exercises used in strength training (resistance traditional).
          Keywords: Resistance exercise. Functional training. Blood pressure.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 151, Diciembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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I.     Introdução

    O baixo nível de condicionamento físico é considerado fator de risco para mortalidade, tão importante quanto à hipertensão arterial, diabetes melittus, dislipidemia, obesidade e tabagismo (CIOLAC & GUIMARÃES, 2004). Diversas atividades visam à melhora do condicionamento físico, diminuindo assim a morbi-mortalidade e, consequentemente, levando à melhora da qualidade de vida. Duas das atividades que mais crescem e são recomendadas para a prevenção e tratamento de doenças cardiovasculares e outras doenças crônicas, são o treinamento resistido, ou comumente chamado de musculação, e o treinamento funcional resistido.

    O treinamento resistido tradicional (musculação) e o treinamento funcional resistido também são muito utilizados na melhora da performance, em ambos os âmbitos, esportivo e terapêutico, proporcionado inúmeros benefícios. Dentre os benefícios do treinamento resistido, observa-se o aumento da força (FLECK & KRAMER, 1999), aumento da resistência muscular (BITTENCOURT, 1986), aumento da densidade óssea (POLLOCK & WILMORE, 1993), correções de posturas corporais (CARNAVAL, 1995), prevenção e tratamento da obesidade (NAVARRO & SCUSSOLIN, 2007).

    Embora menos estudado, mas não menos importante, o treinamento funcional resistido é um treinamento que visa melhorar a capacidade funcional, que é a capacidade de realizar as tarefas do cotidiano com maior autonomia, eficiência e independência, realizando nos treinamento, exercícios que simulem os movimentos específicos de cada pessoa no seu cotidiano (CAMPOS & CORAUCCI NETO, 2004).

    Dentre os benefícios que as duas formas de treinamentos propiciam, diversos estudos têm se preocupado em analisar as adaptações provocadas por ambos os treinamentos sobre o sistema cardiovascular. Para entendimento da sobrecarga imposta ao sistema cardiovascular, e a própria segurança cardíaca durante esses treinamentos e em outros, nos quais o sistema cardiovascular é exposto a um maior trabalho, a variável a ser analisada é o Duplo Produto (LEITE & FARINATTI, 2003). O Duplo Produto (DP) é obtido através da multiplicação da freqüência cardíaca (FC) pela pressão arterial sistólica (PAS), sendo uma variável importante que informa sobre a demanda de oxigênio do miocárdio e, conseqüentemente, o trabalho cardíaco (McCARTENEY et al., 1993; BENN, McCARTNEY & McKELVIE, 1996).

II.     Objetivo

    O objetivo do estudo foi comparar as respostas do duplo produto entre os exercícios de musculação e os exercícios funcionais resistidos em indivíduos saudáveis praticantes de musculação há um ano. A expectativa do estudo foi verificar a existência ou não de diferenças na demanda cardíaca mediante os dois tipos de treinamento com pesos.

III.     Metodologia

    A amostra foi composta por 10 indivíduos saudáveis de ambos os sexos com idade média de 23 ± 3,8 anos, praticantes de musculação há, no mínimo, um ano.

    Os indivíduos foram submetidos a um exercício para membros superiores e um para membros inferiores, tanto no treinamento tradicional de musculação, como no treinamento funcional resistido. Na primeira semana foram realizados testes de repetições máximas nos exercícios de musculação para encontrar o peso de 75% 1 RM e, na segunda semana, foram realizados testes de repetições máximas nos exercícios funcionais resistidos para também determinar o peso correspondente a 75% 1 RM, o qual consistiu no peso de treino para verificação do comportamento agudo do duplo-produto. Os exercícios de musculação realizados foram o supino reto com halteres no banco e o leg-press horizontal. Os exercícios funcionais resistidos realizados foram o supino reto com halteres na bola e o agachamento com halteres na cama elástica. Em ambos, foram realizadas 2 séries de 8 repetições com intervalo de 90 segundos entre cada série. O valor considerado do DP foi aquele medido ao final da 2ª. série do protocolo de treinamento.

    Para a determinação da FC e pressão arterial (PA) iniciais, os voluntários eram posicionados de forma que estes ficassem em repouso absoluto por um período de cinco minutos, sentados em uma cadeira com encosto, costas apoiadas, pernas relaxadas, pés paralelos, e braços relaxados. Para a mensuração da FC foi utilizado um frequencímetro (Polar, RS800CX). A PA inicial foi medida por meio do método auscultatório, com o avaliado sentado e o braço na altura do coração, ao final do período de 5 minutos de repouso. Para a medida da PA em ambos exercícios, o avaliado realizava a série com o manguito posicionado no braço e, no início da fase excêntrica da 8ª. repetição, o manguito era inflado, de modo que os valores medidos de PA correspondessem ao final da série (fase concêntrica da última repetição). O valor de FC considerado era exatamente aquele medido ao final da fase concêntrica da última repetição.

    Os dados foram expressos em média ± desvio padrão. Para análise das diferenças entre os dois protocolos de treinamento, foi aplicada ANOVA (one way) e teste t-Student, adotando como significativo um valor de p<0,05.

IV.     Resultados

    Os valores do DP nos dois protocolos de treinamento estão apresentados no Gráfico 1. Na sessão de treinamento resistido tradicional, no exercício supino reto no banco, o DP apresentou valores de 15590 ± 3282 e no exercício leg-press horizontal o DP foi de 15254 ± 2920. Essa diferença entre os dois exercícios não se revelou estatisticamente significante. Na sessão de treinamento resistido funcional, os valores do DP obtidos foram de 16985 ± 3578 no exercício supino na bola, e de 17425 ± 3386 no exercício agachamento na cama elástica. A diferença entre os dois exercícios também não se mostrou estatisticamente significativa. No entanto, esses resultados foram significativamente diferentes dos resultados obtidos na sessão de exercício resistido tradicional, quando se comparando os respectivos exercícios para membros superiores e inferiores entre si (p < 0,01). O DP no exercício supino com halter na bola, também foi significativamente maior do que o DP no exercício leg-press horizontal (p<0,05), da mesma forma que o DP no exercício agachamento na cama elástica foi estatisticamente diferente do DP no exercício supino reto no banco.

V.     Discussão

    Os resultados do presente estudo demonstraram que os dois exercícios realizados na sessão de treinamento resistido funcional, determinam valores de DP significativamente maiores do que os exercícios realizados na sessão de treinamento resistido tradicional. Outros estudos têm demonstrado aumentos do DP mediante realização de séries de intensidades variadas em exercício resistido. Os valores obtidos de DP no presente estudo, em ambos os protocolos de treinamento, estão em conformidade com os resultados encontrados na literatura, nos quais a monitoração da PA também foi realizada por meio do método auscultatório. Em termos gerais, a literatura tem apontado para a verificação de maiores respostas de DP mediante utilização de exercícios que recrutem grandes grupos musculares, denotando uma influência da massa muscular envolvida, sobre o comportamento das variáveis cardiovasculares no exercício resistido. Neste sentido, D’Assunção et al. (2007), encontraram valores de DP ao final da 2ª. série dos exercícios rosca direta e cadeira extensora, da ordem de 17.383 e 16.779, respectivamente, após 10 repetições máximas, com intervalos de recuperação de 2 minutos. Castanheira-Neto et al. (2010), observaram valores de DP ao final da 2ª. série de execução do exercício leg-press, de cerca de 19.000 e 20.000, após realização de 6 e 12 repetições máximas, respectivamente. Esses valores ligeiramente superiores aos encontrados no presente estudo nos exercícios agachamento com bola e leg-press horizontal e supino, podem ser explicados pelo fato de que, nos estudos citados, os voluntários realizaram séries com repetições máximas, enquanto no presente estudo, foram realizadas séries com 8 repetições submáximas, ou seja, sem falha concêntrica. Séries realizadas até a falha concêntrica geralmente exercem maior efeito cronotrópico e pressórico sobre o sistema cardiovascular, repercutindo diretamente sobre o duplo-produto (FLECK & KRAEMER, 1999). Adicionalmente, o número de repetições também parece influenciar a resposta da FC e da PAS, as quais tendem a serem maiores em exercícios de força associados a intensidades menores e maior número de repetições (FARINATTI & ASSIS, 2000). O momento de tomada da PAS também pode ter influenciado os resultados, uma vez que no presente estudo, optou-se por realizar a medida imediatamente ao final das séries (para uniformização entre os exercícios de membros inferiores e superiores), o que pode ter sido decisivo para determinar uma redução dos níveis atingidos durante a última repetição (POLITO & FARINATTI, 2003).

    Estudos conduzidos com o intuito de comparar as diferenças nas respostas agudas do DP no exercício resistido, têm produzido resultados elucidativos quanto à influência da massa muscular na determinação da magnitude do DP nas sessões de exercício resistido. MacDougall et al. (1985), em um estudo clássico, com medida direta da PA, observaram maiores valores de DP em séries realizadas no leg-press, em comparação às séries no exercício flexão do cotovelo. No presente estudo, esse efeito da massa muscular foi observado somente nos exercícios resistidos funcionais, uma vez que não houve diferença significativa do DP entre os exercícios leg-press horizontal e supino reto no banco. Esse resultado é corroborado pelos resultados do estudo de D’Assunção et al. (2007), que não verificaram diferenças de DP entre o exercício rosca direta e cadeira extensora. Os autores argumentaram que o fato do exercício rosca direta requerer maior nível de coordenação intermuscular para sua realização, pode ter influenciado a atividade eferente cortical para o centro cardiocirculatório no tronco cerebral e, assim, denotado maior resposta de DP. Da mesma forma, a menor árvore vascular envolvida na rosca direta, pode ter causado maior acúmulo de metabólitos, aumentando a ação dos mecanismos periféricos de controle da F.C e da P.A., compensando a maior massa muscular recrutada no exercício cadeira extensora. Esse fato pode explicar a ausência de diferenças entre o supino reto e o leg-press horizontal nas séries de exercício resistido tradicional.

    Por outro lado, nos exercícios funcionais, além de ocorrer diferença significativa na comparação entre os tipos de exercício, também houve diferença na comparação com os dois exercícios resistidos tradicionais. Acredita-se que nos exercícios funcionais há uma maior ativação de músculos sinergistas e estabilizadores para que o movimento ocorra com maior eficiência, uma vez que as bases menos estáveis (bola e cama elástica) exigem maior ajuste do esquema corporal para manutenção do equilíbrio. Dessa forma, esse maior nível de recrutamento motor pode ser responsável pela maior resposta aguda do DP nas sessões de exercício resistido funcional, em comparação ao exercício resistido tradicional, também realizado com exercícios de semelhante engajamento de massa muscular. Vale também ressaltar que, caso o exercício funcional mobilize maior massa muscular em decorrência do maior sinergismo muscular para manutenção do equilíbrio, essas ações musculares estabilizadoras são, em geral, efetivadas mediante contrações isométricas, as quais costumam promover maiores elevações da PA, devido ao maior aumento da resistência periférica, em relação ao exercício isotônico, influenciando assim, o comportamento agudo do DP (FLECK & KRAEMER, 1999). Na sessão de treinamento funcional, o exercício de membro inferior utilizado foi o agachamento na cama elástica, ao invés do leg-press horizontal na sessão de musculação. Isso pode ter contribuído também para os maiores valores obtidos de DP na sessão de treinamento funcional, uma vez que o agachamento promove um recrutamento de uma massa muscular maior do que o leg-press (ESCAMILLA et al., 2001). A própria postura corporal também pode ter influenciado o maior valor de DP no agachamento, em função das diferenças na massa muscular envolvida. Simão, Lemos e Polito (2003) demonstraram que o exercício de agachamento apresentou maior DP quando realizado em pé em relação à posição deitado (SIMÃO, POLITO & LEMOS, 2003).

    Um último aspecto que merece menção é o fato de que no presente estudo, as mensurações da PA foram realizadas por meio do método auscultatório, o qual apresenta certa imprecisão para detecção dos valores reais de PA durante séries de treinamento resistido (POLITO & FARINATTI, 2003), fato que pode ter comprometido os resultados ora levantados. Apesar desta subestimação dos valores de DP, no presente estudo, em nenhum dos protocolos adotados, o DP ultrapassou o ponto de corte para angina de 30.000 (POWERS & HOWLEY, 2000), permitindo assim, supor o exercício resistido, aplicado em condições semelhantes às do presente estudo, seguro do ponto de vista cardiovascular, fato que tem sido reforçado enfaticamente na literatura (TRAN, 2005; EBBEN & LEIGH, 2006). Mesmo diante do baixo risco cardiovascular associado ao exercício resistido, e dos baixos níveis atingidos de DP no presente estudo, os dados obtidos levam à suposição de que o exercício resistido funcional pode oferecer maior risco aos indivíduos cardiopatas submetidos ao treinamento com pesos. Esse fato talvez mereça maior apreciação por parte da comunidade científica, e novos estudos devem ser conduzidos para melhor compreensão das reais demandas cardiovasculares do treinamento resistido funcional. Apesar das limitações na interpretação dos resultados, provavelmente, a principal contribuição do presente estudo resida no fato de que parece ser o primeiro a comparar os efeitos cardiovasculares agudos do treinamento resistido tradicional (musculação), com o treinamento resistido funcional e demonstrar a eventual maior sobrecarga cardíaca do treinamento resistido funcional.

VI.     Conclusão

    O presente estudo mostrou que o treinamento funcional provoca maiores elevações do DP do que exercícios semelhantes utilizados no treinamento de musculação (resistido tradicional). Novos estudos devem ser conduzidos com o intuito de compreender mais precisamente os efeitos cardiovasculares do treinamento resistido funcional.

Referências bibliográficas

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