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A influência da violência do esporte na indisciplina escolar

La influencia de la violencia del deporte en la indisciplina escolar

 

Licenciado em Educação Física pela Universidade Estadual de Londrina

Mestre em Educação pela Universidade Tuiuti do Paraná

Doutorando em Educação pela Universidade Tuiuti do Paraná

Clovis da Silva Brito

crovao_8@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo do presente artigo é refletir a violência no esporte, sua divulgação nos meios de comunicação e a sua influência na indisciplina escolar. Para argumentarmos sobre esse assunto, realizamos um resgate teórico para discutir o tema aqui proposto. O texto utiliza-se dos apontamentos de alguns estudiosos que apresentam as causas da indisciplina escolar e dialogamos com duas das causas externas apresentadas por eles: a violência social e os meios de comunicação. Concluímos o artigo pontuando que a violência nos esportes está influenciando na indisciplina escolar em função da normalização da violência social estimulada pelos meios de comunicação que divulgam, constantemente, eventos violentos dos esportes. Dessa maneira os alunos estão ficando insensíveis e dissimulados e acabam apresentando um tipo de indisciplina: a passividade e a falsidade. Logo, o aluno com um bom comportamento, o quietinho, o não colaborativo, o mentiroso, o falso é reflexo da normalização da violência social.

          Unitermos: Educação. Indisciplina. Violência. Meios de Comunicação. Esporte.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 151, Diciembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O objetivo do presente artigo é refletir a violência no esporte, sua divulgação nos meios de comunicação e a sua influência na indisciplina escolar. Para argumentarmos sobre esse assunto, realizaremos um breve resgate teórico para discorrermos sobre o tema aqui proposto.

    Discutir sobre a indisciplina é falar sobre uma questão recorrente na escola, mas esse assunto, em outros momentos, dificilmente extrapolava os muros das instituições de ensino. Atualmente, diante da crise educacional que estamos vivenciando, algumas questões estão sendo debatidas para compreender o que se passa no interior da escola, como, por exemplo, a indisciplina.

    Hoje estamos percebendo uma preocupação maior com relação à discussão desse assunto. Isso pode ser verificado com o aumento de produções acadêmicas que cresceu sensivelmente desde o final do século XX (BRITO, 2007, p. 14). Também observamos que alguns estudiosos, objetivando o aprofundamento do debate sobre essa temática, estão pontuando as causas da indisciplina escolar com o intuito de proporcionar um maior entendimento das particularidades que envolvem a mesma (GARCIA, 1999; CURWIN, MENDLER, 2003; PARRAT-DAYAN, 2009).

    Ao escrevermos este artigo, procuramos dialogar com duas dessas causas apresentadas por aqueles autores - a violência social e os meios de comunicação –, e notamos uma possibilidade de aproximação com a área esportiva, principalmente, pela questão da divulgação constante dessas práticas nos meios de comunicação e porela sua aceitação no meio social.

    Falar da violência social e da violência no esporte é falar sobre assuntos presentes cotidianamente em nossas vidas. Tais situações são relatadas nas conversas de várias pessoas e em locais diversos. Na escola também é comum ouvir tais relatos seja de funcionários, diretores, educadores ou alunos. Podemos observar, cada vez mais, que esses itens também estão sendo mencionados, constantemente, em reportagens divulgadas pelos meios de comunicação, ou seja, sendo amplamente discutidosa pela mídia.

    Mas, afinal, por que estamos considerando a violência no esporte como uma das causas da indisciplina escolar? Para respondermos essa questão, organizamos o presente artigo da seguinte maneira: no próximo tópico apresentaremos um breve resgate teórico sobre a violência social, abordando como a convivência com fatos violentos está sendo normalizada no meio social; na seqüência discutiremos a questão do esporte e sua relação com os meios de comunicação. E, em seguida, analisaremos como a violência no esporte influencia na questão da indisciplina escolar.

A normalização da violência na sociedade

    Nestse tópico iremos discorrer sobre como a convivência com atos de violência na sociedade possibilita a incorporação dos mesmos pelas pessoas, fazendo com que fatos violentos não sejam mais exceções, mas itens constantes e corriqueiros em nosso dia a dia. Dessa maneira, gradativamente, para as pessoas, deparar-se com situações de violência tornou-se algo normalizado.

    O sentido de normalização que utilizaremos no transcorrer deste texto é o mesmo apresentado pelo filósofo francês Michel Foucault. Este autor empregou o termo para refletir como as instituições de seqüestro da sociedade disciplinar (escolas, hospitais, prisões, casa de correção, hospícios, fábricas, etc.), realizavam a manutenção do poder para conservar um sistema funcionando (FOUCAULT, 2004, p. 167).

    Para Foucault (1986, p. 189), a normalização acontece não como algo oficial ou legal, mas como algo que é utilizado e aceito para a manutenção do poder. Portanto, as leis são legais, são de direito, mas existem ferramentas e estratégias que fazem situações serem aceitas pela sociedade.

    O sujeito, então, dentro dessa visão, vai realizando suas tarefas, sejam profissionais, pessoais ou mesmo sociais [...]. Dessa maneira, acaba executando aquilo que esperam ser o correto, e as suas atitudes acabam sendo normalizadas. (BRITO, 2007, p. 29).

    Nesse sentindo, procuramos pensar que nos depararmos com atos de violência está se transformando, devido a essa normalização, em algo comum e corriqueiro no nosso cotidiano.

    Mas como podemos entender o que é violência? Segundo alguns autores (PORTO, 2002, p. 153; HAYECK, 2009, p. 2), é arriscado expor um conceito da palavra violência, pois ela pode ter vários sentidos. Consultando um dicionário, pudemos constatar essa gama de definições para a palavra violência, das quais destacamos as seguintes:

    [...] ação ou efeito de violentar, de empregar força física (contra alguém ou algo) ou intimidação moral contra (alguém); ato violento, crueldade, força; cerceamento da justiça e do direito; coação, opressão, tirania; constrangimento físico ou moral exercido sobre alguém, para obrigá-lo a submeter-se à vontade de outrem [...]. (HOUAISS; VILLAR, 2008, p. 2866).

    Essa dificuldade conceitual, segundo Porto (2002, p. 153), pode ser compreendida por que a violência é um fenômeno empírico antes de teórico. Sendo assim, sofre a interferência de questões históricas, sociológicas e, até mesmo, antropológicas (HAYECK, 2009, p. 3).

    E como conseguimos identificar quando ocorre a violência? Michaud (1989), nos diz que:

    [...] há violência quando, numa situação de interação, um ou vários atores agem de maneira direta ou indireta, maciça ou esparsa, acusando danos a uma ou várias pessoas em graus variáveis, seja em sua integridade física, seja em sua integridade moral, em suas posses, ou em suas participações simbólicas e culturais. (MICHAUD, 1989, p. 10).

    Nessa citação podemos perceber, também, que não existe uma definição especíifica para o fenômeno da violência, mas uma possibilidade de interpretação através dos atos que podem ser caracterizados como violência. Para prosseguimento destse artigo, iremos compreender esse fenômeno como um ato de obrigar alguém, ou um grupo de pessoas, a realizar algo que ela não concorde, seja com o uso de força física ou não, rompendo com aquilo que é aceito moralmente e legalmente por uma sociedade.

    Embasados nesse entendimento, podemos constatar como, na atual sociedade, a violência está presente em nosso cotidiano, tanto mundialmente como em um universo restrito. Com relação à violência mundial, em grande escala, Foucault (2006) afirma que as guerras jamais foram tão sangrentas e violentas como a partir do século XIX, exaltando a diferença da sociedade da soberania para a sociedade disciplinar. Neste contexto, o que era restrito a uma região passou a ser mundialmente importante, no caso das guerras, passaram a ser divulgadas e necessárias para manter a manutenção da sociedade:

    As guerras já não se travam em nome do soberano a ser defendido; travam-se em nome da existência de todos: populações inteiras são levadas à destruição mútua em nome da necessidade de viver. Os massacres se tornaram vitais. Foi como gestores da vida e da sobrevivência dos corpos e da raça que tantos regimes puderam travar tantas guerras, causando a morte de tantos homens. (FOUCAULT, 2006, p. 149).

    Ao observamos alguns fatos históricos no Brasil, podemos verificar como acontecimentos violentos estiveram presentes em nossa sociedade. A partir da ocupação européia, convivemos com diversas práticas de violência, que muitas vezes foram – e ainda são – aceitas, politicamente, para fazer a manutenção da sociedade:

    Essas violências se fizeram presentes numa política que dizimou toda uma população indígena, que escravizou milhares vindos do tráfico de escravos negros, que torturou e matou durante os anos da ditadura militar e que hoje ainda mata outros mais. (CATROLI, 2009, p. 587).

    Não podemos alegar que a violência na sociedade seja uma questão somente da atualidade. Em outros tempos ela também existia, mesmo que em menor escala e com menor divulgação. Na sociedade contemporânea, segundo Silva (2004, p. 81), as ocorrências de situações violentas elevaram-se significativamente e, além da impunidade, outros fatores corroboraram para esse aumento, como a morosidade do sistema judiciário, a ineficiência das instituições criadas para recuperação dos sujeitos violentos, dentre outros fatores. Com relação a à impunidade, Velho argumenta que:

    A mídia, fundamental numa sociedade democrática, denuncia e divulga o estado de coisas, tornando pública, pelo menos, parte da atividade criminosa. Mas, em poucos casos, existe a percepção de que a denúncia tem conseqüüências, aumentando a sensação de injustiça e impunidade que é, talvez, a principal causa de violência. (VELHO, 2000, p. 59).

    Silva (2004) considera que o aumento da problemática da violência na sociedade está relacionado, também, com a maneira como tais situações são apresentadas pelos meios de comunicação de massa. É comum os programas televisivos, infantis e adultos, exibirem programas (desenhos e filmes) com cenas de violência de todos os tipos: físicas e morais. Ele considera

    [...] como mais um fator de promoção da violência a maneira como ela tem sido veiculada pelos meios de comunicação: a real é transmitida na forma de espetáculo, o que acaba não sensibilizando ninguém, e a virtual com um grau de realismo que faz com que seja confundida, a ponto de não saber mais quando se trata de uma ou de outra. Ao contrário, os meios de comunicação têm contribuído para a banalização deste fenômeno [...] A violência passa a ser vista como algo comum e até certo ponto como um fenômeno normal, e quiçá natural. (SILVA, 2004, p. 82).

    Reiterando tal afirmação, Curwin e Mendler (2003, p. 25) sustentam que as crianças estão, freqüentemente, expostas a todo tipo de violência social – da guerra, do tráfico de drogas, do crime organizado, da criminalidade urbana etc. –, e esse contato direto torna tal situação natural, e, como afirma Velho (2000, p. 58), “banal”, pois o que era inimaginável em outras épocas, como, por exemplo,: o ataque físico a pessoas idosas, crueldades diversas contra crianças e mulheres, etc., está transformando as pessoas em seres insensíveis a esses atos:

    O fato é que a questão sobre a violência começou a ser debatida em maior número [...], quando se toma consciência da dimensão do problema que passa a fazer parte do modo de viver do homem em sociedade, ou seja, a violência torna-se banalizada, passa a ser algo comum entre os homens. (HAYECK, 2009, p. 2).

    A sociedade, sem o uso de uma força explícita, mas de estratégias diversas, está fazendo com que o fenômeno da violência seja aceito e normalizado para a manutenção de um conceito (FOUCAULT, 1986, p. 189).

    Segundo Porto (2002, p. 169), “são múltiplas as causas das violências presentes na contemporaneidade brasileira”, e os meios de comunicação utilizam de notícias que exaltam esse fenômeno para transformá-lo em uma mercadoria que vende seus produtos, e tornam os fatos violentos acessíveis a todos:

    [...] o fenômeno da violência, transformado em produto, com amplo poder de venda no mercado de informação, e em objeto de consumo, faz com que a ‘realidade’ da violência passe a fazer parte do dia- a- dia mesmo daqueles que nunca a confrontaram diretamente enquanto experiência de um processo vivido. (PORTO, 2002, p. 163).

    Podemos observar que os meios de comunicação buscam situações para vender seus produtos, sendo assim, é compreensível a divulgação dos esportes, por esses instrumentos, como sendo um fenômeno que é transformado em objeto de consumo para o público em geral – partindo do pressuposto que o esporte é um atrativo que envolve diversos fatores, tais como: paixão, nacionalismo, saúde, superação, etc. –, transformando diversos fatos que acontecem naquele ambiente como sendo comuns para qualquer pessoa. Como por exemplo, a violência no esporte.

O esporte e os meios de comunicação

    Neste tópico apresentaremos o fenômeno do esporte na contemporaneidade e a sua relação com os meios de comunicação.

    O esporte que, segundo Rubio (2001, p. 108), “é na atualidade um dos principais fenômenos sociais e uma das maiores instituições do planeta”, teve a sua origem, de acordo com aquela autora, relacionada ao período pré-histórico, onde o homem, para sobreviver, necessitava realizar diversas atividades físicas de maneira natural; essa prática foi estruturada e organizada na Grécia como um dos mais importantes eventos da Antiguidade e foi redescobertao, no século XIX como um novo elemento social e pedagógico – pelo fato de poder interagir nas relações sociais diversas e por sua aceitação no meio acadêmico para desenvolver aptidões físicas e intelectuais necessárias para aquele período:

    O esporte e a atividade física chegam ao século XIX acompanhando as transformações políticas e sociais que começaram no século anterior – Iluminismo, Revolução Industrial e Revolução Francesa – demonstrando, desde então [...] uma tendência a servir como um bom veículo para uma série de dramatizações da sociedade. (RUBIO, 2001, p. 123).

    Após o resgate da importância do esporte pelo Barão de Coubertin, e a reinvenção das Olimpíadas Modernas, percebe-se, conforme Rubio (2001), que na atualidade o esporte alcançou uma notoriedade similar aquela àquela que gozava em épocas anteriores. Tal valorização pode ser notada quando visualizamos o aumento da participação nos grandes eventos esportivos mundiais, especialmente com relação às Olimpíadas:

    O crescimento da importância do evento pode ser observado nos números entre Grécia, em 1896, e Sydney, 2000. De 9 modalidades no princípio saltaram para 26. De 13 países participantes passaram para 197. De 250 atletas homens na Grécia o total entre homens e mulheres em Sydney ficou em torno de 10 mil. A evolução dos números é um bom indicador de que na atualidade o esporte adquiriu a importância e o prestígio de que desfrutava na Grécia Helênica. (RUBIO, 2001, p. 131).

    Os meios de comunicação, atentos a esse aumento de praticantes e de pessoas que prestigiam essa prática, gradativamente foram abrindo espaços em seus meios de divulgações para relatar o que acontecem naquele ambiente esportivo. Ainda segundo Rubio (2001, 103), esse destaque, em princípio, era feito pelos jornais, revistas e rádios e, na atualidade, a televisão (que nos últimos 40 anos tem invadido todos os locais), popularizou ainda mais essa prática.

    A mídia precisa destacar situações diárias interessantes para vender seu material e encontrou no esporte, pelo apelo social que propicia, uma fonte onde buscar notícias para comercializar seu produto. Para Rubio (2001, p. 103), o esporte, quando transformado em espetáculo, leva a imagem do viver bem, estar bem consigo, ser vitorioso, “transmitido como ideais a serem atingidos pela [...] população”.

    Os produtos da mídia emergem a partir de um elaborado processo que envolve economia e cultura. O público é atraído por mensagens e valores que refletem as expectativas contemporâneas, porém não de maneira direta e objetiva, mas quase sempre metafórica. (RUBIA, 2001, p. 101).

    Sendo assim, os meios de comunicação, ao narrarem os eventos dos esportes, criam diversos personagens que se aproximam do imaginário da população, apontando, em determinadas situações, estrelas oriundas de classe social mais baixa, vilões, heróis, etc.

    No entanto, ao mesmo tempo em que a mídia realiza a valorização do esporte enquanto prática social – destacando aquilo que as pessoas se identificam –, também enaltece situações que se propagam na sociedade como, por exemplo, a questão da violência. Situações que, algumas vezes, passam despercebidas pelas arbitragens, mas em função de toda exposição dos atletas, são divulgadas nos meios de comunicação.

    De acordo com Gonzáles (2010, p. 8), os meios de comunicação deveriam colocar os atos de violência, durante uma partida de futebol, como situações isoladas sem tanto destaque, porém, ao contrário, enaltecem tais eventos, fazendo com que essas situações extrapolem os campos de futebol.

    Os atores da escola – os alunos – não vivem em um mundo isolado da sociedade. As coisas que acontecem além dos muros dessas instituições – como, por exemplo, a violência no esporte e a divulgação desta pelos meios de comunicação –, adentram tais estabelecimentos, e interferem e interagem com situações que só ali acontecem, como a indisciplina escolar.

Violência no esporte e indisciplina escolar

    Quando se fala que a violência social é uma das causas da indisciplina escolar, as pessoas e alguns professores – no senso comum – imaginam que seja pela questão comportamental, pela agressividade, pelo roubo etc. Segundo Parrat-Dayan (2009, p. 24), “ainda que em muitas ocasiões a violência social e a indisciplina escolar apareçam associadas, elas não são sinônimas”. Com relação a essa questão, Silva (2007, p. 30), afirma que existe uma “polissemia que marca o conceito de violência que, em certos momentos, acaba se confundindo com o conceito de indisciplina”; por esse motivo, pensamos que tais questões devam ser melhor compreendidas no ambiente educacional, proporcionando atuações coerentes quando ocorrerem situações de indisciplina ou de violência escolar.

    A violência pode ser umas das causas da indisciplina escolar, é possível, segundo Parrat-Dayan (2009, p. 24), que a “partir da indisciplina se chegue a à violência”, mas ambas devem ser tratadas de maneiras diferentes:

    É preciso distinguir a indisciplina escolar de outras formas de violência que por vezes afetam a vida das escolas, provocadas muitas vezes por indivíduos que lhes são alheios. Se a indisciplina escolar pode tocar as fronteiras da delinqüência, ela raras vezes é delinqüência, pois não viola a ordem legal da sociedade, mas apenas a ordem estabelecida na escola em função das necessidades de uma aprendizagem organizada coletivamente. (ESTRELA, 2002, p. 14).

    A autora nos alerta sobre a importância em diferenciarmos a indisciplina e a violência, e focalizarmos a indisciplina no âmbito escolar, no processo ensino-aprendizagem e na normalização de regras de boa convivência para o desempenho das atividades.

    Segundo Parrat-Dayan (2009, p. 55), Curwin; Mendler (2003, p. 24) e Garcia (1999, p.104), as causas da indisciplina se dividem em dois grandes grupos: as externas à escola e as internas. Para as causas externas, Garcia exemplifica citando a influência exercida pelos meios de comunicação, a violência social e o ambiente familiar. Para as causas internas, ele menciona o ambiente escolar e as condições de ensino-aprendizagem, os modos de relacionamento humano, o perfil dos alunos e a capacidade deles de se adaptarem aos esquemas da escola. Nas três referências consultadas, encontramos a questão da violência social e os meios de comunicação como sendo duas das causas externas da indisciplina.

    Ao refletir sobre os apontamentos que indicamos no transcorrer destse artigo, podemos afirmar que a violência no esporte, enaltecida pelos meios de comunicação, está auxiliando na normalização da violência social, fazendo com que essa passe a ser vista como algo comum, normal, natural, transformando os cidadãos – incluindo os alunos – em pessoas insensíveis a tais atos.

    Parece-nos que essa insensibilidade, é levada para a instituição escolar, ocasionando a transformação de alguns discentes em alunos passivos, menos colaborativos e menos participativos com as questões da escola, dos colegas e das coisas pertinentes à sala de aula. Se estes não participam do processo pedagógico de maneira ativa, estão negando a eles próprios a aquisição de conhecimentos específicos oriundos desses momentos; portanto, estão sendo indisciplinados, pois o aluno indisciplinado não seria apenas aquele cujas ações rompem com as regras da instituição, mas também aquele que prejudica o seu próprio desenvolvimento cognitivo e social (GARCIA, 2001).

    Um outro item que foi levantado no transcorrer destse artigo, diz respeito a questão da impunidade ou, até mesmo, a à morosidade contra as pessoas que realizam atos de violência, situação que pode ser percebida, constantemente, em transmissões esportivas, onde um jogador que comete um ato de violência, não é punido ou ainda pode levar vantagem em tal evento.

    Os meios de comunicação contribuem também para o aumento da indisciplina porque, permanentemente, põem em evidência pessoas ou instituições reconhecidas socialmente que não respeitam as regras. (PARRAT-DAYAN, 2009, p. 56).

    Relacionando essta situação com o ambiente escolar, podemos entender que violência no esporte pode estar criando alunos dissimulados. Esses discentes esperam não serem percebidos ao cometerem uma indisciplina, ou até mesmo obter alguma vantagem através de tal ato, ludibriando docentes e, inclusive, seus colegas.

Conclusão

    Amparado no que foi apontado nos tópicos desenvolvidos nesse artigo, podemos afirmar que o convívio constante com eventos violentos estão sendo normalizados na sociedade, os meios de comunicação enaltecem estes atos e utilizam da aceitação dos esportes para divulgarem, ainda mais, tais acontecimentos. Essa normalização, acirrada pela divulgação constante de eventos violentos pela mídia, está interferindo, também, na escola.

    Podemos concluir o presente artigo afirmando que a violência nos esportes está influenciando na indisciplina escolar. Podemos deduzir que, em função da normalização da violência na sociedade, estimulada pela mídia ao retratar eventos violentos dos esportes, os alunos estão ficando insensíveis e dissimulados e, sendo assim, levam essas características para o ambiente escolar, apresentando um tipo de indisciplina: a passividade – ou até mesmo a apatia perante uma circunstância –, e a falsidade. Logo, o aluno com um bom comportamento, o quietinho, o não colaborativo, o mentiroso, o falso é reflexo da normalização da violência na sociedade.

Referências

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