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Qualidade de vida e a atividade física

Calidad de vida y la actividad física

Quality of life and physical activities

 

Prof. Dr. Universidade de São Paulo

Escola de Artes Ciências e Humanidades

(Brasil)

Marco Antonio Bettine de Almeida

marcobettine@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O artigo discutirá as questões contemporâneas de qualidade de vida, trazendo a superação, os processos de avaliação, formas de construção do conceito e os desafios da sociedade urbano-industrial frente às perspectivas de qualidade de vida que cada vez mais bombardeia o cotidiano em programas jornalísticos, televisivos, entre outros. Mostra o papel da formação acadêmica e dos grupos de pesquisa como principal fonte de enriquecimento e canal de debate dos conceitos. Importante buscar canais de comunicação entre os grupos e valorizar a produção de artigos científicos em revistas especializadas como a Revista Brasileira de Qualidade de Vida

          Unitermos: Qualidade de vida. Conceito. Histórico.

 

Resumen

          En el presente artículo se discutirán los temas contemporáneos sobre la calidad de vida, proporcionando capacidad de recuperación, procedimientos de evaluación, la constitución del concepto y de los retos a los cuales la sociedad urbano-industriales se enfrentan en la perspectiva de la calidad de vida con más bombardeo de información en los programas de noticias diarias, la televisión, entre otros. Muestra el papel de los grupos académicos y de investigación como la principal fuente de enriquecimiento y vehículo para la discusión de los conceptos. Es importante la búsqueda de canales de comunicación entre grupos y mejorar la producción de artículos científicos en revistas tales como la Revista Brasileña de Calidad de Vida

          Palabras clave: Calidad de vida. Concepto. Historia.

 

Abstract

          The article will discuss the contemporary issues of quality of life, providing resilience, evaluation procedures, constitution of the concept and the challenges of urban-industrial society face the prospect of quality of life that more and more bombs in the daily news programs, television, among others. Shows the role of academic and research groups as the main source of enrichment and channel for discussion of concepts. Important to seek channels of communication between groups and enhance the production of scientific articles in journals such as the Brazilian Journal of Quality of Life

          Keywords: Quality of life. Concept. History.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 150, Noviembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Considerações iniciais

    A crescente preocupação com questões relacionadas à qualidade de vida veio de um movimento dentro das ciências humanas e biológicas no sentido de valorizar parâmetros mais amplos do que o controle de sintomas, a diminuição da mortalidade ou o aumento da expectativa de vida. A qualidade de vida passou de uma abordagem mais centrada na saúde, para um conceito abrangente em que as condições e estilo de vida constituem aspectos a serem considerados (ALMEIDA e GUTIERREZ, 2004a).

    A definição, no uso cotidiano, apresenta-se tanto de forma global enfatizando a satisfação geral com a vida, como focando componentes específicos próximos ao conceito geral. A forma como é abordada e os indicadores adotados estão diretamente ligados aos interesses de cada abordagem, seja, por exemplo, jornalística, de divulgação ou mercadológica. Dependendo do interesse o conceito pode ser adotado como sinônimo de saúde, felicidade e satisfação pessoal, condições de vida, estilo de vida (NAHAS, 2003); e seus indicadores vão desde a renda até a satisfação com determinados aspectos da vida. Devido a essa complexidade, conforme aborda Almeida e Gutierrez (2004b), a qualidade de vida apresenta-se como uma temática de difícil compreensão, que necessita delimitações para sua operacionalização em análises acadêmicas.

    Na compreensão do Grupo de Estudo e Pesquisa da Atividade Física e Qualidade de Vida (FEF, UNICAMP), a qualidade de vida é considerada como a percepção do indivíduo de sua posição no contexto da cultura e sistema de valores nos quais vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações, até a dimensão ética e política. É importante salientar que o leitor, qualquer que seja a sua formação, deve se preocupar com textos acadêmicos, artigos de revistas ou jornais que descrevem indicadores sem fazer relações diretas com a qualidade de vida de maneira ampla, ou seja, os textos que tomam características como escolaridade, ausência dos sintomas das doenças, condições de moradia como indicadores de qualidade de vida sem investigar sua dimensão para as pessoas envolvidas. Se, de um lado, isso contribui para as possibilidades de investigações em grandes grupos, por outro, deixa de considerar a subjetividade e a cultura, dimensões onde a discussão sobre qualidade de vida tem muito para contribuir.

Aspectos preliminares do Conceito

    Classificam-se os estudos sobre qualidade de vida de acordo com quatro abordagens: socioeconômica, biomédica, psicológica e geral.

    A abordagem socioeconômica tem os indicadores sociais como principal elemento. As abordagens médicas tratam principalmente da questão de oferecer melhorias nas condições de vida dos enfermos (Minayo et al., 2000). O termo qualidade de vida em relação a seu emprego na literatura médica vem sendo associado a diversos significados, como condições de saúde e funcionamento social. Qualidade de vida relacionada à saúde (healthrelated quality of life) e estado subjetivo e saúde (subjective health status) são conceitos relacionados à avaliação subjetiva do paciente e ao impacto do estado de saúde na capacidade de se viver plenamente. A abordagem psicológica busca indicadores que tratam das reações subjetivas de um indivíduo às suas vivências, dependendo assim, primeiramente da experiência direta da pessoa cuja qualidade de vida está sendo avaliada e indicam como os povos percebem suas próprias vidas, felicidade, satisfação. O fato das abordagens psicológicas considerarem qualidade de vida somente enquanto um aspecto interior à pessoa, desconsiderando o contexto ambiental em que está inserida, é a principal limitação dessa linha de pensamento. As abordagens gerais baseiam-se na premissa que o conceito de qualidade de vida é multidimensional, apresenta uma organização complexa e dinâmica dos seus componentes, difere de pessoa para pessoa de acordo com seu ambiente/contexto e mesmo entre duas pessoas inseridas em um contexto similar. Características como valores, inteligência, interesses são importantes. Além disso, qualidade de vida é um aspecto fundamental para se ter uma boa saúde.

    Em uma tentativa de análise da qualidade de vida de forma mais ampla, saindo principalmente do reducionismo biomédico, Minayo et al., (2000) abordam qualidade de vida como uma representação social criada a partir de parâmetros subjetivos (bem-estar, felicidade, amor, prazer, realização pessoal) e também objetivos, cujas referencias são a satisfação das necessidades básicas e das necessidades criadas pelo grau de desenvolvimento econômico e social de determinada sociedade.

    Os parâmetros de análise mais complexos ficam vinculados à idéia do ser, pertencer e transformar. O ser são as habilidades individuais, inteligência, valores, experiências de vida. O pertencer trata das ligações que a pessoa possui, as escolha, assim como da participação de grupos, inclusão em programas recreativos, serviços sociais. O transformar remete à prática de atividades como trabalho voluntário, programas educacionais, participação em atividades relaxantes, oportunidade de desenvolvimento das habilidades em estudos formais e não formais, dentre outros. Esses componentes apresentam uma organização dinâmica entre si, consideram tanto a pessoa como o ambiente, assim como as oportunidades e os obstáculos.

    Gutierrez e Almeida (2007) abordam ainda que a noção de qualidade de vida tem na relação individual e social algumas referencias como: (a) o desenvolvimento econômico, social e tecnológico da sociedade; (b) valores, necessidade e tradições; (c) estratificações, a idéia de qualidade de vida está relacionada ao bem-estar das camadas superiores e à passagem de um limiar a outro.

O Conceito Qualidade de Vida

    Qualidade de Vida inclui desde fatores relacionados à saúde como bem-estar físico, funcional, emocional e mental, até elementos importantes da vida das pessoas como trabalho, família, amigos, e outras circunstâncias do cotidiano. Conforme sugere a Organização Mundial da Saúde – OMS (1998) reflete a percepção dos indivíduos de que suas necessidades estão sendo satisfeitas ou, ainda, que lhes estão sendo negadas oportunidades de alcançar a felicidade e a auto-realização, com independência de seu estado de saúde físico ou das condições sociais e econômicas.

    Determinados aspectos da nossa vida como a felicidade, amor e liberdade, mesmo expressando sentimentos e valores difíceis de serem compreendidos, não podem ser questionados quanto à sua relevância. Trata-se de conceitos para os quais até mesmo uma definição operacional é difícil de ser elaborada. Qualidade de vida é uma idéia largamente difundida na sociedade, correndo o risco de uma banalização do assunto pelo seu uso ambíguo, indiscriminado ou oportunista como acontece, por exemplo, em textos que prometem elevar a qualidade de vida do indivíduo lançando mão de estatísticas muitas vezes irreais para comprovar suas afirmações. De um lado, existe a exploração oportunista de um conceito o que resulta na sua depreciação e, de outro, o reconhecimento de que esse conceito exprime uma meta nobre a ser perseguida, que resulta na preservação de seu significado e valor.

Avaliação em Qualidade de Vida

    Inúmeras são as formas de avaliação da qualidade de vida, não havendo estudos que expressam o estado da arte. Alguns instrumentos poderiam ser substituídos pela simples avaliação de cada um sobre seu estado na vida, sendo que outros são utilizados devido à falta de clarificação conceitual do tema.

    Os instrumentos para avaliação da qualidade de vida normalmente são traduções que apresentam falhas ao serem aplicados em culturas diferentes e, por esta razão, há a necessidade de validá-los novamente, como sugere a OMS. Os instrumentos variam de acordo com a abordagem e objetivos do estudo. Instrumentos específicos como o Medical Outcomes Study Questionaire 36-Item Short Form Health Survey (SF-36) para avaliação da qualidade de vida relacionada à saúde e do WHOQOL para avaliação da qualidade de vida geral são tentativas de padronização das medidas permitindo comparação entre estudos e culturas. Publicações sobre novos instrumentos de avaliação específicos para populações ou pessoas acometidas por quadros patológicos específicos são crescentes na literatura especializada.

    Esta tendência acompanha as características do cenário político global que sofreu grandes alterações com o fim da experiência socialista. O foco dos diversos grupos sociais em conflito deixou de ser a grande luta entre capitalismo e socialismo, da burguesia contra o proletariado. Agora existem múltiplos grupos independentes que lutam pela conquistas de diversos direitos, pela igualdade e para poder praticar sua cultura sem o preconceito ou exclusão. Esses grupos são constituídos principalmente pelas minorias que se consideram prejudicadas pela sociedade, como por exemplo, negros, homossexuais, mulheres entre outros. As reivindicações desses grupos, com algumas exceções, foram deixadas em segundo plano ou incluídas na lógica da luta capitalismo contra socialismo. Agora essas reivindicações estão em primeiro plano no cenário político global. As alterações nas reivindicações políticas trouxeram também um novo dilema envolvendo esses grupos, que alguns chamam dilema da Redistribuição-Reconhecimento. A questão central desse dilema está no fato dos grupos minoritários buscarem tanto a igualdade econômica quanto o reconhecimento da sua cultura e de suas características próprias. O problema é que, nesta lógica, para atingir a igualdade econômica se busca suplantar as diferenças, enquanto que para valorizar a cultura de cada grupo é preciso valorizar as diferenças (Fraser, 1997 ). É de se esperar que a discussão sobre qualidade de vida tenda a incorporar estas pressões políticas da sociedade em geral.

    Umas das formas mais tradicionais de se avaliar qualidade de vida em grandes populações é através do Índice de Desenvolvimento Humano – IDH. De acordo com relatório divulgado no ano de 2006, pelo Programa das Nações Unidas para o desenvolvimento – PNUD, o Brasil melhorou o seu IDH, mas caiu uma posição no ranking mundial de 68º para 69º, numa lista de 177 países e territórios. O Índice utilizou quatro indicadores: PIB (Produto Interno Bruto) per capita, expectativa de vida, taxa de alfabetização de pessoas com 15 anos ou mais e a taxa de matrícula bruta nos três níveis de ensino (relação entre a população em idade escolar e o número de pessoas matriculadas no ensino fundamental, médio e superior). Os resultados indicam que de 2003 para 2004, o Brasil avançou em duas das quatro dimensões do Índice de Desenvolvimento Humano (longevidade e renda) e estabilizou-se em uma (educação). A decomposição do IDH mostra que o Brasil tem um subíndice de renda superior ao da América Latina, mas inferior à média mundial. Em esperança de vida, supera a média global, mas não a latino-americana. Educação é a dimensão em que o Brasil mais se aproxima dos países ricos e mais se distancia da média mundial.

    O WHOQOL foi desenvolvido pelo grupo chamado World Health Organization Quality of Life, foi traduzido e validado para o Brasil por um grupo de pesquisadores na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e tem por objetivo avaliar a qualidade de vida geral das pessoas em diferentes culturas. Foram validadas duas versões do instrumento. A versão longa “WHOQOL-100” Fleck et al. (1999) considera 6 domínios para análise: físico, psicológico, nível de independência, relações sociais, ambiente e aspectos espirituais/religião/crenças pessoais). A versão curta “WHOQOL Bref” Fleck et al. (2000), considera 4 domínios (físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente) para análise da qualidade de vida. O WHOQOL apresenta a vantagem de permitir a comparação de seus resultados entre diferentes populações e apresentar uma abordagem multicultural.

    Instrumentos como o SF-36 e o WHOQOL apresentam vantagens por que já tiveram sua validade e qualidades psicométricas atestadas, além de permitirem a comparação com outros estudos. No entanto esses instrumentos trazem consigo limitações importantes, pois ao propor indicadores deixam de avaliar as especificidades de cada sujeito em cada contexto de avaliação.

    Quanto mais o instrumento de avaliação se afasta de aspectos concretos, mais difícil se torna a aferição. As quatro questões do sexto domínio do WHOQOL 100 (espiritualidade, religião e crenças pessoais) ilustram bem este problema. As duas primeiras questões relacionam as crenças pessoais com o fato da vida do pesquisado ter sentido. Há aqui uma evidente opção de valor. A grande maioria das religiões e crenças passa pela fé em um ser superior, que pode interferir no nosso cotidiano, com o qual as pessoas se relacionam através de Seu representante institucional. A partir de outra escala de valores, o pesquisador poderia associar a qualidade de vida com a independência do pesquisado em relação a superstições e crendices, tornando-se, portanto, mais autônomo e consciente de sua própria realidade.

    As outras duas questões deste domínio destacam o papel das crenças pessoais no sentido de ajudar a entender e superar as dificuldades da vida. Aqui o problema não é de valores, mas de lógica. O pesquisador associa, de forma positiva, a presença da crença com uma melhor qualidade de vida frente às dificuldades da vida. As questões, na verdade, podem medir exatamente o oposto do que pretendem. Vamos imaginar que o entrevistado tem uma excelente qualidade de vida e não enfrenta nenhuma dificuldade importante em nenhuma de suas esferas. A resposta lógica é que suas crenças, independente de intensidade e qualidade, não o ajudam em nada para enfrentar dificuldades, já que ele não as percebe. As duas respostas, neste caso, abaixam seu escore de qualidade de vida quando, na verdade, deveriam aumentá-lo ou, pelo menos, serem neutras.

Produção acadêmica

    Existem, nas Universidades Estaduais Paulistas, 84 pesquisas que tratam diretamente sobre a aplicação dos parâmetros de qualidade de vida (71,4% dissertações de mestrado, 23,8% teses de doutorado e 4,7% teses de livre-docência). Desses estudos 71,7% foram realizadas em adultos de ambos os sexos, sendo 13,2% com mulheres; 7,5% com idosos; 1,9% com crianças. Em 5,7% não foi possível identificar a população. Desses estudos 69,8% foram realizados com pessoas acometidas por algum tipo de patologia sendo o principal instrumento utilizado Medical Outcomes Studies 36-item Short-Form (MOS SF-36). A produção no Brasil, em parte representada pelas universidades investigadas, está seguindo uma tendência mundial com um aumento da produção e uma ênfase na qualidade de vida relacionada à saúde.

    A produção sobre qualidade de vida no Brasil é relativamente recente e tem aumentado a cada ano, não se restringindo a determinado grupo social, mas sendo realizada em grande parte com adultos acometidos por algum tipo de patologia, refletindo a preocupação em se conhecer de que forma essas enfermidades estão comprometendo a vida dos indivíduos, focalizando as análises na qualidade de vida relacionada à saúde. Esta forma de pesquisa tem recebido críticas, pois, embora o estado de saúde seja bastante importante para a vida das pessoas, nem todos os aspectos da vida humana passam por questões médicas ou sanitárias.

Considerações finais

    A literatura especializada aponta para a grande relevância social e científica da qualidade de vida. Apesar disso, o tema ainda apresenta muitas imprecisões conceituais. O fato da qualidade de vida possuir significados individuais diferentes dificulta sua avaliação e utilização em pesquisas científicas.

    É visível, na análise da produção científica sobre qualidade de vida, a busca dos pesquisadores por uma melhor compreensão do tema. No entanto, parece cada vez mais importante estudos de intervenção como os propostos pelo Grupo de Estudo e Pesquisa da Atividade Física e Qualidade de Vida (CNPq), como por exemplo “Qualidade de Vida na Escola”; “Projeto Alimentação Saudável”; “Qualidade de Vida dos Trabalhadores da Unicamp”; ou ainda a produção e divulgação ampla e gratuita de textos acadêmicos como no site http://www.fef.unicamp.br/departamentos/deafa/qvaf/index.html, procurando construir e discutir a intervenção em qualidade de vida em moldes acadêmicos e metodológicos sedimentados. Estes projetos têm como foco fundamental esclarecer as possibilidades de melhoria da qualidade de vida das pessoas, bem como levantamentos populacionais que apresentem diagnósticos e índices normativos para avaliação.

Referências bibliográficas

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