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Predição da freqüência cardíaca basal, através 

da mensuração da freqüência cardíaca de repouso

Predicción de la frecuencia cardíaca basal, a través de la medición de la frecuencia cardiaca en reposo

 

*Graduando

Universidade Federal de Juiz de Fora

(Brasil)

Luizir Alberto de Souza Lima Júnior

ljuniorfaefid@hotmail.com

Carlos Magno Amaral Costa*

carlosmagnoac@ig.com.br

Leonardo Martins Capute*

nado_jf@yahoo.com.br

Jorge Roberto Perrout de Lima

jorge.perrout@ufjf.edu.br

 

 

 

 

Resumo

          Introdução: A freqüência cardíaca é um parâmetro de controle e prescrição do treinamento aeróbico. Assim necessitamos da mensuração da Freqüência Cardíaca de Repouso (FCR). Assim o estudo procurou predizer a freqüência cardíaca basal (FCB), através da mensuração da FCR. Materiais e Métodos: Foram 28 sujeitos saudáveis e ativos, submetidos a duas situações experimentais. A primeira mediu a FCR em condições laboratoriais, por três minutos na posição sentada, em dois horários, 8h e 18h. A segunda, ao acordar, antes de se levantar, o indivíduo na posição supina mensurou a FCB por três minutos durante três dias. As duas situações utilizaram freqüêncímetros e o valor médio do tempo medido. Para tratamento dos dados foi utilizado ANOVA, seguida do teste de Tukey. Resultados: Diferenças entre a FCB e FCR (FCB= 61±8 bpm – FCR 8h= 71±10 bpm, FCR 18h= 74±8,7 bpm). Não foram encontradas diferenças entre os dias na medição da FCB (homens FCB = 57 ±4,5; mulheres FCB = 67±8,4 bpm). Discussão: O estudo verificou a diferença entre a FCB e FCR, sugerindo através de uma regressão múltipla uma minimização dos erros de mensuração da FCR.

          Unitermos: Treinamento aeróbico. Avaliação. Mensuração.

 

Trabalho aprovado pelo comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Juiz de Fora MG. Protocolo, 1348.039.2008

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 150, Noviembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Atualmente encontramos diversos parâmetros de controle e prescrição do treinamento físico. Entre estas variáveis podemos destacar o VO2, velocidade, kcal, limiar aeróbio e anaeróbio, freqüência cardíaca (FC), entre outros. Com o grande desenvolvimento e difusão de monitores cardíacos e principalmente pelo alto número de informações cardiovasculares, a FC tem sido bastante utilizada por profissionais da área da prescrição e por praticantes de exercícios físicos no controle do treinamento. A FC é mediada primariamente pela atividade direta do sistema nervoso autônomo (SNA), através dos ramos, simpático e parassimpático sobre a auto-ritmicidade do nódulo sinusal, com predominância da atividade vagal (parassimpática) em repouso e simpática durante o exercício1. A FC reflete a quantidade de trabalho que o coração deve realizar para satisfazer as demandas aumentadas do corpo durante uma atividade2. A utilização da FC para se controlar o treinamento se justifica na sua relação direta com o trabalho desenvolvido pelo coração, ou seja, ao se exercitar a FC aumenta em proporção direta ao aumento da intensidade do exercício2.

    Portanto, atualmente existem algumas fórmulas de predição da FC para efeitos de treinamento, que utilizam algumas variáveis individuais que devem ter seus erros de mensuração minimizados. Dentre as variáveis intervenientes, podemos destacar a Freqüência Cardíaca de Repouso (FCR), que é a freqüência cardíaca de manutenção das funções vitais em repouso. A FCR é regulada pelo Sistema Nervoso Autônomo, predominantemente pela atividade vagal3. Em média os valores da FCR para indivíduos normais não atletas, pode variar de 60 a 80 batimentos. Para indivíduos não-condicionados e sedentários de meia idade, pode ultrapassar 100 batimentos, enquanto atletas de endurance chegam a ter FCR de 28 a 40 batimentos2.

    Atualmente, pesquisas sobre a FCR, têm encontrado evidências de fator de risco para altos valores no repouso,4,5,6 além de relações com a variabilidade da FCR5. A medição da FCR é imprescindível para os profissionais da prescrição de exercícios físicos e treinamento desportivo, que utilizam fórmulas para predições de zonas de FC que auxiliam no controle da prescrição. Portanto a minimização dos erros na mensuração da FCR contribuiria para diagnósticos e prognósticos precisos, além de prescrições mais seguras e correta7. Entretanto não há na literatura consenso para a mensuração da FCR, fato este comprovado por uma revisão sistemática8, que procurou estabelecer uma medida padrão para a variável. Porém no estudo foram encontradas divergências quanto aos métodos que antecedem a mensuração, como postura corporal (ortostática, assentada, supina), condições ambientais (temperatura, estímulos visuais e auditivos), métodos de aferição (ECG, freqüencímetro e palpação) e análise dos dados. Assim concluíram que apesar da importância da variável, não há uma medida padronizada da mesma. Alguns autores2,9,10 defendem como sendo a maneira mais adequada a de mensuração da freqüência cardíaca basal (FCB), no período do despertar matinal, antes de se levantar, durante alguns dias, Contudo tal medida inviabiliza este procedimento por alguns motivos como, tempo (processo demorado), disposição e correto entendimento do protocolo por parte dos testandos.

    Portanto sem uma padronização ou referências fidedignas, a utilização da variável está sujeita a erros e divergências, interferindo em prescrições e diagnósticos. Assim, faz se necessária à busca de meios que permitirão uma adequada verificação desta variável, facilitando esta prática em procedimentos profissionais, como avaliações físicas e clínicas.

    De acordo com o exposto, este estudo avaliou a possibilidade de predizer a freqüência cardíaca basal, medida em condições adequadas2,9,10 através da mensuração da freqüência cardíaca de repouso com valores obtidos em condições laboratoriais.

Materiais e métodos

    O trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Juiz de Fora (Protocolo CEP-UFJF: 1348.039.2008) e os indivíduos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, concordando com a participação voluntária no estudo.

    A amostra do estudo foi composta por indivíduos freqüentadores de uma academia na cidade Juiz de Fora, MG. Foram 28 adultos (Idade 36,1 ±13,5 - 17 homens idade 34,9 ± 13,6 – mulheres idade 37,8 ± 13,9) saudáveis, com pelo menos três meses de exercícios físicos regulares, não fumantes e que não utilizavam medicamentos que interferissem na FC.

    Os indivíduos participantes receberam orientações através de protocolo (em anexo) das duas situações experimentais a que foram submetidos. Dentre as orientações foram precavidos a não consumirem estimulantes cardiovasculares, por pelo menos 30 minutos antes da mensuração11.

    Os dados foram coletados em duas situações experimentais. A primeira foi a mensuração da FCR em condição laboratorial, durante a realização de uma avaliação física, consistindo em 3 minutos de mensuração, na posição sentada, em ambiente com mínimo de ruído e estímulos visuais, sendo registrado o valor médio atingido ao final desse período. Esta situação foi realizada em dois horários diferentes às 8h e às 18h. A segunda situação consistiu em mensurar a FCB, ao acordar, na posição supina, antes de se levantar, durante 3 minutos, repetida durante 3 dias consecutivos, sendo considerado o valor médio da FC registrado após esse período2,9,10. As duas situações utilizaram freqüêncímetros e transmissores Polar. Foi utilizado o software Statística 6 onde os dados foram analisados através da análise de variância (ANOVA), seguidos do teste de Tukey (p<0,05), para identificar diferenças significativas entre os dados das situações experimentais.

Resultados

    A figura 1 mostra que não houve diferença significativa entre as médias da FCB medidas em três dias diferentes, tanto para homens (FCB = 57 ±4,5), quanto para as mulheres (FCB = 67±8,4 bpm).

Figura 1. Média e Desvio Padrão da FCB medida em três dias

(p<0,05)

    Com relação a FCB e a FCR, os dados sugerem uma diferença estatística entre as variáveis. Os valores da FCB são significativamente menores do que os da FCR para ambos os gêneros (FCB= 61±8 bpm – FCR8h= 71±10 bpm, FCR18h= 74±8,7 bpm). (Figura 2)

Figura 2. Média da FCB em 3 dias e média às 8h e 18h

    Posteriormente às análises da FC pode-se estabelecer uma regressão múltipla, através de uma variável dependente (FC) e duas variáveis independentes (sexo e horário da medição), Tal regressão permite estimar a FCB à partir da mensuração da FCR em condições laboratoriais, realizadas em dois horários diferentes.

Regressão Múltipla para avaliação às 8h:

FC basal = 32,3 + (0,44xFC8h) – (4,78 x 0 F ou 1 M)

R2= 0,59

EPE = 5 bpm

Regressão Múltipla para avaliação às 18h:

FC basal = 32,0 + (0,43xFC18h) – (6,21 x 0 F ou 1 M)

R2= 0,57

EPE = 5 bpm

Discussão

    Colaborando com o presente estudo, determinados autores12, mensuraram a FCR à partir do monitoramento do sono de dez mulheres, utilizando eletrocardiograma, durante três dias e concluindo não haver diferença significativa entre as três medidas. Da mesma forma, outro estudo13, não encontrou diferenças significativas nas medidas da pressão arterial (PA) e FC em repouso medidas durante dez dias, de 28 indivíduos cardíacos participantes de um programa de exercícios supervisionado e que utilizaram um tensiômetro digital para aferição da PA e FCR, sendo o procedimento realizado após um minuto de repouso. Estes achados diferem das referências que recomendam a utilização de sete dias de mensuração da FCB como sendo a maneira mais adequada de se registrar o menor valor da variável2,9,10.

    Outro achado do estudo foi a não existência de diferenças estatísticas entre as medições da FCR (8h e 18h). Corroborando com estes achados, outro estudo14, não encontrou diferenças nos horários das 8h, 12h, 16h e 20h nos valores da variável.

    As hipóteses das diferenças entre os valores da FCB e FCR foram confirmadas, pois eram esperados valores menores da primeira variável, em virtude de algumas diferenças fisiológicas como menor temperatura corporal, facilitação da circulação sanguínea através da posição, variações circadianas de luz, jejum noturno, ou seja, mínima necessidade energética.

    Como principal objetivo do estudo, a regressão múltipla estabelecida irá predizer um valor aproximado da FCB, através da FCR, com erro estimado de 5 batimentos, sendo esse erro menor que os valores mensurados durante o dia (FCB= 61±8 bpm – FCR8h= 71±10 bpm, FCR18h= 74±8,7 bpms).

    Assim podemos concluir que mediante a utilização de alguns parâmetros de mensuração da FCR podemos estimar a FCB, minimizando os erros de predição desta variável.

Referências bibliográficas

  1. Almeida MB, Araújo CGS. Efeitos do treinamento aeróbico sobre a freqüência cardíaca. Rev Bras Med Esporte 2003; 9:104-12.

  2. Wilmore JH, Costill DL. Fisiologia do Esporte e do Exercício. 2ª Ed. São Paulo. Manole. 2001.

  3. Tumelero S, Santos Jr. MF, Nunes NCR. Influência da idade sobre os valores de pressão arterial e freqüência cardíaca, em repouso. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires – 2003; Año 9 - N° 60. http://www.efdeportes.com/efd60/repouso.htm

  4. Benetos A, Rudnichi A, Thomas F, Safar M, Guize L. Influence of Heart Rate on Mortality in a French Population: Role of Age, Gender, and Blood Pressure. Hypertension. 1999; 33:44-52.

  5. Jensen-Urstad K, Saltin B, Ericson M, Storck N, Jensen- Urstad M. Pronounced resting bradycardia in male elite runners is associated with high heart variability. Scand J Med Sci Sports. 1997;7:274-8.

  6. Okamura T, Hayakawa T, Kadowaki T, Kita Y, Okayama A, Elliott P, Ueshima H. Resting heart rate and cause-specific death in a 16.5-year cohort study of the Japanese general population. Am Heart J. 2004;147(6):1024-32,.

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  8. Vogel CU, Wolpert C, Wehling M. How to measure heart rate? Eur J Clin Pharmacol. 2004;60:461-6.

  9. Marins JCB, Giannichi RS. Avaliação e Prescrição de Atividade Física - Guia Prático. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Shape; 1998.

  10. Novaes JS, Vianna JM. Personal Training e Condicionamento Físico em Academia. 2ª Ed. Rio de Janeiro. Shape 2003.

  11. American College of Sports Medicine. Diretrizes. Manual do ACSM para Avaliação da Aptidão Física Relacionada à Saúde. 7ª Ed. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan. 2006.

  12. Waldeck MR and Lambert MI. Heart rate during sleep: implications for monitoring training status. Journal of Sports Science and Medicine. 2003;2: 133-38.

  13. Mattioli GM, Teixeira FP, Castro CLB, Araújo CGS. Freqüência cardíaca e pressão arterial em repouso: variação em 10 dias em participantes de um programa de exercícios supervisionado. Revista da Socerj. 2006;19:5.

  14. Afonso LS, Santos JFB, Lopes JR, Tambelli R, Santos EHR, Back FA, Barreto LM, Lima JRP. Freqüência cardíaca máxima em esteira ergométrica em diferentes horários. Rev Bras Med Esporte. 2006;12(6): 318-22.

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