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O desporto e sua influência no desenvolvimento 

local: o caso Runporto em Portugal

El deporte y su influencia en el desarrollo local: el caso Runporto en Portugal

 

*Doutor em Educação Física. Atualmente é professor do Mestrado em

Ciências da Atividade Física da Universidade Salgado de Oliveira e da Unisuam

http://www.carlosfigueiredo.org

**Doutor em Ciências do Desporto. Atualmente é Professor da

Universidade do Porto. Director do Curso de Mestrado em

Gestão Desportiva na Faculdade de Desporto

***Doutora em Ciências do Desporto. Atualmente é professora da

Universidade do Porto no Curso de Mestrado em

Gestão Desportiva na Faculdade de Desporto

Carlos Alberto Figueiredo da Silva*

ca.figueiredo@yahoo.com.br

José Pedro Sarmento de Rebocho Lopes**

psarmento@fade.up.pt

Maria José Carvalho***

mjc@fade.up.pt

(Portugal)

 

 

 

 

Resumo

          Este artigo trata de um estudo acerca de uma instituição portuguesa, o Runporto, cuja missão é desafiar as pessoas do Porto, de Portugal e do Mundo a correr. O objetivo principal deste trabalho é identificar, por meio de um estudo de caso, as formas de atuação desse empreendimento e sua contribuição para o desenvolvimento local por meio do desporto. O artigo utiliza o argumento da hélice tríplice, a matriz de impacto de Preuss e a metodologia SWOT para efetivar as análises. O instrumento utilizado para a coleta de dados foi uma entrevista de profundidade, realizada com o presidente do Runporto.

          Unitermos: Desporto. Desenvolvimento. Hélice tríplice.

 

Resumen

          Este artículo es un estudio sobre una institución portuguesa, Runporto, cuya misión es la de estimular a la gente de Porto, de Portugal y del mundo a correr. El objetivo de este estudio es identificar, a través de un estudio de caso, las formas de acción y su contribución al desarrollo local a través del deporte. El artículo utiliza el argumento de triple hélice, la matriz de impacto de Preuss y la metodología SWOT, para llevar a cabo el análisis. El instrumento utilizado para la recolección de datos fue una entrevista en profundidad con el Presidente de Runporto.

          Palabras clave: Deporte. Desarrollo. Triple hélice.

 

Abstract

          This article is a study on a Portuguese institution, Runporto, whose mission is to challenge the people of Porto, of Portugal and of the world to running. The aim of this study is to identify, through a case study, the forms of action and its contribution to local development through sport. The article uses the triple helix argument, the matrix of impact from Preuss and methodology SWOT, to carry out the analysis. The instrument used for data collection was an in depth interview held with the Runporto's Chairman.

          Keywords: Sport. Development. Triple helix.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 150, Noviembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Dentre algumas das estratégias para enfrentar o grande problema da exclusão social, do absenteísmo, da solidão e da pobreza estão as que contam com o desporto como meio. Entretanto, são grandes os desafios para a inclusão de crianças, jovens, adultos e idosos às diferentes ambiências da prática desportiva, em virtude das dificuldades de acesso, oportunidades e conscientização para a sua prática.

    A Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2003, proclamou 2005 como o Ano Internacional do Desporto e da Educação Física com o intuito de incentivar investimentos nesse campo, de modo a promover melhorias na educação, saúde, desenvolvimento e nos processos de paz. Nesse contexto, algumas ações no âmbito do desporto têm se destacado por apresentarem modelos inovadores. Em Portugal, por iniciativa do Clube de Veteranos do Porto, foi lançado, há alguns anos, o Runporto. Voltado ao atletismo, o empreendimento incentiva os intercâmbios culturais através do desporto.

    O objetivo principal deste trabalho é identificar as formas de atuação do Runporto e sua contribuição para o desenvolvimento local por meio do desporto. Este objetivo desdobra-se em: a) analisar o empreendimento face ao argumento da hélice tríplice (triple helix), observando a sinergia entre universidade-empresa-governo; b) analisar os impactos visível e invisível do empreendimento para a cidade do Porto e seus habitantes e c) identificar os ambientes interno e externo, de modo a identificar os pontos fortes, pontos fracos, ameaças e oportunidades.

    Mostrar a interface que o desporto adquire nas ações de desenvolvimento pode propiciar a vários empreendedores sociais, governos, universidades, empresas e outros atores a oportunidade de construção de um espaço de consenso e inovação, a partir de conhecimentos sistematizados.

Metodologia

    Trata-se de um estudo de caso, descritivo, com abordagem qualitativa. Os dados foram coletados a partir de uma entrevista de profundidade com o presidente do Runporto, Jorge Teixeira. O referencial-teórico metodológico apoia-se no modelo teórico da hélice tríplice (Etzkowitz, 2005, Etzkowitz; Leydesdorff, 1996), no que concerne à análise da sinergia entre universidade-empresa-governo.

    Utilizou-se a matriz de impacto de Preuss (2008), no sentido de analisar o impacto do empreendimento Runporto em relação a aspectos intangíveis. De modo a efetivar a análise do ambiente externo e interno do empreendimento, utilizou-se a metodologia SWOT (Bechara, 2008). Para organizar e interpretar os dados da entrevista utilizou-se a etnometodologia (Coulon, 1995).

Gestão e desporto

    A área de pesquisa em gestão do desporto tem se desenvolvido de forma tímida nos países de língua portuguesa. O número de publicações em periódicos científicos é insignificante comparado, por exemplo, às áreas de educação física escolar, fisiologia, saúde, cultura. O número de especialistas cadastrados na Plataforma Lattes, quando se utiliza o descritor “gestão desportiva”, via Portal da Inovação, é de apenas 22; com o descritor “gestão do desporto”, 5; com o descritor “gestão do esporte”, 31. Acesso em: 28 de julho de 2009.

    No entanto, uma grande iniciativa no campo da gestão desportiva foi a criação da Aliança Intercontinental de Gestão do Desporto (AIGD), cuja reunião inaugural deu-se na cidade de Guimarães, Portugal, em junho de 2009. José Pedro Sarmento Lopes, professor da Universidade do Porto, com o auxílio de seus colaboradores efetivou o projeto da AIGD.

    A Aliança pretende-se tornar num movimento cívico de todos os que se expressem em Português e Espanhol ao qual poderão aderir instituições governamentais e não governamentais, empresas públicas e privadas, universidades e escolas, associações de classe, sociedades científicas, membros do movimento associativo desportivo e pessoas individuais que se assumam como promotores do desenvolvimento Humano através do Desporto. Disponível em: http://mundoaigd.wordpress.com/apresentacao/. Acesso em: 28 de julho de 2009.

    A missão da AIGD expressa a importância da sinergia entre diferentes atores para que o desporto possa promover o desenvolvimento humano; são colocados em destaque: os governos, instituições não governamentais, empresas, universidades e escolas, sociedades científicas, associações e o indivíduo.

    Pires; Lopes (2001) atentam para o fato de que a abordagem apenas pragmática da gestão do desporto, tanto na investigação como no ensino, vem sendo superarada por uma perspectiva que inclua, na abordagem dos problemas, uma visão filosófica. A utilização apenas de uma racionalidade instrumental é ineficaz para a compressão dos processos de gestão desportiva. Há de se lançar mão de uma perspectiva que observe também uma racionalidade substantiva, ligada aos valores, aos sentidos e significados e não apenas à técnica. Nessa perspectiva, a preocupação com a gestão desportiva valoriza os aspectos funcionais, mas não descarta os sentidos e significados que os processos de gestão adquirem no quotidiano do mundo social.

    Silva; Terra; Votre (2006) apresentam uma proposta de formação para o empreendedorismo social, tendo a atividade física, em suas múltiplas manifestações, como fator indutor de desenvolvimento e não vindo a reboque dele. Utilizam o argumento da hélice tríplice para estudar as relações entre universidade-empresa-governo no âmbito do desenvolvimento local, com ênfase na responsabilidade social. Para isso, destacam o papel da universidade e sua forma de atuação, que deve passar a compreender espaços em contextos mais abrangentes. Para eles:

    O modelo descritivo e explicativo proposto por Etzkowitz e Leydesdorff (1996) apóia-se na concepção de que as regiões são vistas e interpretadas pelas universidades e empresas como espaços de inovação e não apenas como áreas geográficas, geoeducacionais, culturais ou empresariais. Portanto, a interação operada e esperada pela hélice tríplice se caracteriza pela presença das universidades como instituições de ciência e tecnologia com responsabilidade social quanto ao retorno de suas pesquisas, com perfil empreendedor e que atuam em conjunto com parceiros governamentais e empresariais (das indústrias e do comércio) como empreendedores cívicos, com vistas a construir estratégias para o surgimento e crescimento de novos espaços pró-ativos nas regiões em que estão inseridos (p. 171).

    Voltando à criação da AIGD, trata-se de um marco na área de gestão do desporto, pois cria um espaço de consenso, onde, diferentes atores poderão interagir e construir sinergias que visam propiciar um espaço de inovação no campo desportivo. O desenvolvimento, segundo o modelo da hélice tríplice, ocorre em três espaços mentais não-lineares: conhecimento, consenso e inovação.

    O espaço de conhecimento provê arranjos estruturais para o saber, transformando o saber tácito em explícito; o espaço de consenso estimula o fazer, levando os atores a trabalharem juntos; o espaço de inovação favorece a organização de novos e/ou velhos elementos de forma criativa, fortalecendo o processo de inovação. Os espaços de consenso e inovação constroem-se cooperativamente nas parcerias entre os atores do desenvolvimento (Etzkowitz, 2005).

    No modelo da hélice tríplice, a interação entre os atores promove uma infraestrutura de conhecimento que alicerça o desenvolvimento das regiões. As relações que se processam permitem às instituições exercerem o papel da outra, produzindo organizações híbridas que emergem das interfaces (Figura 1).

Figura 1. Modelo da hélice tríplice de relações entre universidade-empresa-governo.

Fonte: Etzkowitz & Leydesdorff (2000).

    O argumento da hélice tríplice introduz a tese de que a universidade tem um papel preponderante na sociedade baseada em conhecimento (Etzkowitz & Leydesdorff, 2000), diferentemente, de outros modelos, que preconizam as empresas/indústrias como líderes na inovação (Lundvall, 1992; Nelson, 1993) ou o Estado (Sábato & Mackenzie, 1982).

    O modelo das três hélices propõe que as universidades devem preparar profissionais para promoverem a inovação e o desenvolvimento; os governos devem criar, aperfeiçoar e consolidar políticas públicas e mecanismos de fomento; e as empresas, devem integrar o esquema, com base na responsabilidade social, como parceiras dos dois outros atores.

    Conforme Etzkowitz e Leydesdorff (2000) o modelo da hélice tríplice-1 apresenta uma configuração semelhante ao proposto no triângulo de Sábato (1975), em que o governo engloba a universidade e a empresa, direcionando a relação entre eles. Esse modelo é considerado estático.

    O segundo modelo, a hélice tríplice-2, apresenta um distanciamento entre a universidade, a empresa e o governo. Configura-se como um modelo laizzez-faire. As instituições produzem um movimento no desenvolvimento econômico e social, mas atuam isoladamente.

    O terceiro modelo, e o que até o momento vem sendo utilizado com mais ênfase para explicar a mudança paradigmática da sociedade industrial para a sociedade do conhecimento é a hélice tríplice-3. Neste caso, a interação entre as instituições se realiza de forma efetiva, promovendo uma infraestrutura de conhecimento que alicerça o desenvolvimento das regiões.

O Runporto

    O Runporto é uma empresa privada, tendo o Clube de Veteranos do Porto como principal parceiro. Jorge Teixeira é atualmente o presidente do Runporto e vem se dedicando ao desenvolvimento de eventos na área do atletismo há quinze anos. Dentre as inúmeras ações existentes estão: a Maratona do Porto, a Corrida de São Silvestre do Porto, a Corrida da Mulher, a Corrida do Dia do Pai, o projeto “Todos a andar”, o projeto “Põe-te a mexer”, entre outros. O sucesso do empreendimento já pode ser percebido algures e não apenas na cidade do Porto.

Figura 1. Projeto realizado em regiões fora do centro. Fonte: Runporto

    O Runporto foi precedido pela criação do Clube de Veteranos do Porto (associação de veteranos do atletismo da cidade do Porto, Portugal) e do Terbel (clube de atletismo de alta competição, no qual militaram atletas de valia nacional e internacional). Jorge Teixeira, apaixonado pelas corridas desde moço, vislumbrou a possibilidade de promover o desporto, a saúde, o turismo, por meio do atletismo, e, desta forma, tornar a cidade do Porto referência mundial em eventos relacionados a esse desporto. O passo decisivo para a inauguração do Runporto foi o encontro que teve na Associação Portuguesa de Paralisia Cerebral (APPC). Nessa instituição, Jorge Teixeira conheceu Abílio Cunha (atual presidente da APPC), que lhe mostrou o que estava a ser desenvolvido pelos portadores de paralisia cerebral. Deparou-se com um trabalho magnífico de informática e produção de sites para a internet. O impacto dessa visita foi tamanho que a idéia de construir um site, bem como o nome Runporto e toda a filosofia do empreendimento, surgiram nesse dia.

    Na entrevista que nos concedeu, Jorge Teixeira mostrou-se um empreendedor comprometido com o desenvolvimento de sua cidade e das pessoas que a constroem. O projeto Runporto, no seu ponto de vista, combate o absenteísmo, a solidão e a pobreza.

    A primeira corrida organizada teve 319 participantes. Hoje, mais de 100.000 pessoas participam dos eventos ao ano. Jorge Teixeira diz que é um homem dos 3Ps; planea antes, planea durante e planea depois. Percebe-se a preocupação com um planeamento ativo e flexível. Ou seja, a mudança é componente fundamental. Em relação ao resultado obtido pelo empreendimento, diz que os fatores determinantes são: paixão pelo desporto, trabalhar com grandes profissionais, tratar bem as pessoas e ter concentração máxima nos eventos. Para Jorge Teixeira, “a corrida é o movimento mais democrático do mundo”.

O Runporto e a sinergia entre governo, empresa e universidade

    O Runporto é uma empresa que não recebe qualquer tipo de incentivo do governo central. No entanto, a Câmara Municipal do Porto participa com 4 a 5% do valor investido a fim de custear as despesas com logística. 95% do capital utilizado para desenvolver os eventos vêm das cotas de patrocínio.

    Não existe fomento governamental para as ações empreendidas. Assim, as empresas que patrocinam os eventos não se utilizam de legislações a título de incentivos fiscais. O dinheiro empregado é, de fato, um investimento, com o objetivo de agregar valor à marca. A principal empresa a patrocinar as ações do Runporto é a EDP.

    Para Jorge Teixeira, o governo português deveria empenhar-se em estimular o desenvolvimento do desporto nacional, por meio de incentivos fiscais às empresas que investissem nesse setor. O papel do governo, nesse âmbito, torna-se-ia fundamental para o surgimento de novos empreendedores desportivos.

    Em relação à participação das universidades, Jorge Teixeira foi contundente e disse que há uma ausência completa. Para ele, “a universidade não participa em nada no desporto; deveria estar mais presente no desporto escolar”. Além disso, disse ainda que a universidade deveria ter maior interação com os projetos desportivos.

Elementos intangíveis

    De acordo com Porter (1999 apud Bechara, 2008), os aspectos intangíveis são tão ou mais importantes que os tangíveis. Em muitos casos, por exemplo, em grandes eventos desportivos, os aspectos intangíveis acabam sendo mais importantes para as cidades onde ocorrem as atividades do que propriamente os tangíveis. Se observarmos em termos de marca e marketing para a cidade, os grandes eventos desportivos criam “um sólido argumento de que a cidade é capaz de acolher com simpatia um grande e diversificado espectro de nacionalidades” (Poyter, 2006 apud Bechara, 2008, p. 139).

A Sinalização (Signalling)

    Um dos maiores impactos do Runporto para a cidade é a sinalização. Atualmente, a cidade do Porto é referência mundial no atletismo. A Maratona do Porto e outros eventos já fazem parte do calendário de inúmeros atletas e de pessoas que aproveitam a corrida para conhecer ou rever a cidade. Esta sinalização impacta diretamente no imaginário coletivo, colocando a cidade do Porto como destino para desportos, passeios, compras, lazer, gastronomia, museus etc.

    No sentido de sinalizar as cidades mais pequenas, o Runporto possui um planeamento que visa organizar eventos nesses sítios, de modo a promover o desenvolvimento local a partir de eventos desportivos.

Figura 1. Foto 1.

Maratona do Porto 2008. Fonte: Runporto

A Auto-estima

    De acordo com Jorge Teixeira, percebe-se uma melhoria na qualidade de vida das pessoas. Muitos param de fumar, mudam hábitos alimentares, passam a exercitar-se com mais frequência. O impacto disso é a redução das despesas com remédios e hospitais. O prazer de viver numa cidade que acolhe e inspira talvez não possa ser medido, mas pode ser sentido.

Matriz de impacto de Preuss

    Com base na matriz de impacto de Preuss (2008), destacamos, a partir do discurso de Jorge Teixeira, o impacto visível e invisível a curto e a longo prazo das ações do Runporto.

Tabela 1. Matriz de impacto

Visível – curto prazo

Visível – longo prazo

  • Geração de empregos temporários

  • Geração de empregos efetivos

  • Grande número de turistas durante os eventos

  • Ocupação de hoteis

  • Confraternizações/Comemorações

  • Cobertura da mídia

  • Circulação de dinheiro externo

  • Circulação de dinheiro interno

  • Intensificação da vida diurna e noturna

  • Intensificação do comércio

  • Intensificação da vida cultural

  • Surgimento de desportistas de alto nível

  • Melhora dos resultados desportivos

  • Melhora da auto-estima dos cidadãos

  • Mudança de hábitos

  • Melhora da qualidade de vida

  • Redução das despesas com remédios e hospitais

  • Desenvolvimento local

 

Invisível – curto prazo

Invisível – longo prazo

  • Sentimento de pertencimento

  • Inspiração para novos desportistas

  • Cuidado com a cidade

  • Imaginário positivo para a cidade

  • Prazer em viver na cidade

  • Construção de uma cultura de saúde e desporto

  • Desenvolvimento sustentável

Análise SWOT

    A sigla SWOT significa (strenghts – pontos fortes; weakness – pontos fracos; opportunities – oportunidades e threats – ameaças). Visa-se, com esta metodologia, analisar os Ambientes Interno e Externo do Runporto. A análise desses ambientes permite verificar o posicionamento da instituição e assim projetar o ponto que o empreendimento deseja atingir.

    De acordo com Bechara (2008), a metodologia SWOT deve considerar:

    “1.1. Variáveis controláveis no Ambiente Interno: estrutura organizacional, recursos físicos de infraestrutura, recursos materiais e tecnológicos e recursos financeiros; Pessoal selecionado por competências (conhecimento – habilidade – atitude); O evento propriamente dito, considerando todos os agregados de bens e serviços disponibilizados como oferta aos públicos participantes do evento (Product); Valor agregado ao “Produto”, que justifica a participação efetiva no evento, de forma ativa e/ou receptiva (Price); Local, canal ou meio pelo qual se apresenta e/ou se oferece o produto e como será disponibilizado (Place); Todo o processo de comunicação, relacionamento, gestão da informação e gestão do conhecimento, interno e externo, que ocorrerá antes, durante e depois dos eventos (Promotion). 1.2. Variáveis monitoráveis no Ambiente Externo: Percepção da população na qual ocorrerá o evento; Fatores ambientais, considerando os seguintes cenários: económico, político e legal, social, cultural, geográfico e climático, demográfico, tecnológico e ambiental” (p. 261-262).

    As recomendações de Bechara indicam que no Ambiente Interno os itens devem ser identificados em um check-list e classificados através de uma mensuração quantitativa como pontos fortes e pontos fracos. No caso do Ambiente Externo, as recomendações apontam para classificar as variáveis em oportunidades e ameaças.

    Nesta pesquisa, não foram realizadas análises quantitativas. O instrumento utilizado, a entrevista, não possibilitou a mensuração das variáveis. Entretanto, Jorge Teixeira citou as que considerou como mais importantes.

Tabela 2. Análise SWOT – Ambiente Interno

AMBIENTE INTERNO

Pontos Fortes

Atrai grande número de pessoas para participar dos eventos.

Possui base de dados com todos que já participaram dos eventos, o que permite entrar em contato rapidamente com os cadastrados.

Possui um número significativo de pessoas cadastradas.

Tem grande capacidade de atrair patrocinadores que permitem o crescimento do projeto.

Possui uma equipe administrativa altamente motivada.

Possui uma estrutura administrativa enxuta e ágil.

Tem conseguido crescer de forma sustentada.

Pontos Fracos

Apresenta problemas com a equipe de produção executiva nos dias dos eventos, principalmente em relação à falta de concentração.

Tabela 3. Análise SWOT – AmbienteExterno

AMBIENTE EXTERNO

Ameaças

Possibilidade de atentados terroristas.

O risco de perda de patrocínios em virtude de aspectos econômicos mundiais e regionais.

Falta de apoio da população.

Falta de apoio das instituições governamentais.

Oportunidades

A crise financeira mundial.

A necessidade de signalling de cidades em Portugal.

Conclusão

    A análise empreendida neste estudo constatou que o empreendimento Runporto realiza suas atividades sem grande interação com o governo e a universidade. Na perspectiva do argumento hélice tríplice, o Runporto pode ser considerado uma instituição que atua de forma laizzer-faire, ou seja, nos moldes da hélice tríplice-2.

    Seria conveniente a busca por outros parceiros além das empresas privadas. Com efeito, a aproximação com um centro de pesquisa de alguma universidade portuguesa poderia sistematizar e ampliar o conhecimento que já é construído de forma tácita.

    Os governos também poderiam se tornar aliados importantes para o Runporto, haja vista a importância de signalling, no campo desportivo, o que poderia trazer recursos tangíveis e intangíveis para as cidades. Isto ficou evidenciado a partir da matriz de impacto de Preuss.

    A competência essencial do Runporto é visualizada por meio da análise do ambiente interno nos pontos fortes. A capacidade de atrair um número expressivo de participantes para os eventos indica que existe um imaginário positivo em relação à marca Runporto. Há necessidade do estabelecimento de metas, de forma a preservar e melhorar a capacidade de captação de participantes, pois isso impacta diretamente na resposta dos patrocinadores.

    Os eventos apresentam variáveis intervenientes que, por vezes, tornam-se difíceis de controlar. Verificou-se que a produção executiva local necessita de treinamento, pois, às vezes, existe falta de concentração da equipe o que acarreta problemas no desenvolvimento das ações.

    No ambiente externo, toda a Europa se preocupa com os atentados. Em Portugal, não há um histórico recente que preocupe os organizadores de eventos desportivos, como em outros países. Entretanto, é uma variável que merece atenção. Nesse sentido, a participação do governo é fundamental com sua infraestrutura de segurança. Portanto, destacamos que a sinergia com o governo deve ser aquecida.

    Em relação às oportunidades, constata-se que o Runporto tem expandido suas ações para outras cidades portuguesas. A necessidade de signalling das cidades conjuga-se à vocação do Runporto, por que não Runworld?

Referências

  • Bechara, M. (2008). Modelo M4 para gestão de legados de megaeventos esportivos com foco na responsabilidade social e políticas públicas. In: DaCosta, Lamartine et al. Legados de megaeventos esportivos. Brasília: Ministério do Esporte.

  • Coulon, A. (1995). Etnometodologia. Petrópolis: Vozes, 1995.

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  • Lundvall, B. (1992). National Systems of Innovation. Pinter, London.

  • Nelson, R.R. (1993). National Innovation Systems: a Comparative Study. Oxford Univ. Press, New York.

  • Pires, G. M. V. da S.; Lopes, J. P. S. de R. (2001). Conceito de gestão do desporto. Novos desafios, diferentes soluções. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, vol. 1, nº 1, 88–103.

  • Sábato, J.; Mackenzie, M. (1982). La Producción de Technología. Autónoma o Transnacional. Nueva Imagen, México.

  • Sábato, J. (1975). El pensamiento latinoamericano en la problemática ciencia–technología–desarrollo-dependencia. Buenos Aires: Paidós.

  • Silva, C.; Terra, B.; Votre, S. (2006). O modelo da hélice tríplice e o papel da educação física, esporte e lazer no desenvolvimento local. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v. 28, n. 1, p. 167-183, set.

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