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Presença de fatores de risco para doenças cardiovasculares em uma

amostra de indivíduos hipertensos no município de Cruz Alta, RS

Presence of risk factors for cardiovascular diseases in a sample of hypertensive individuals in the town of Cruz Alta, RS

 

*Enfermeiro, UNICRUZ. Universidade de Cruz Alta

**Fisioterapeuta, UNICRUZ, Universidade de Cruz Alta

(Brasil)

Roger Flores Ceccon*

roger.ceccon@hotmaill.com

Giovani Sturmer**

giovanisturmer@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O estudo tem como objetivo investigar a presença de fatores de risco para doenças cardiovasculares em uma amostra de indivíduos hipertensos. Foi realizado um estudo observacional, analítico, de caráter transversal, com uma abordagem quantitativa. Os indivíduos avaliados residem na área de abrangência de uma Estratégia Saúde da Família do município de Cruz Alta – RS. Os voluntários foram submetidos à anamnese, através de um questionário semi-estruturado, e exame físico, através da aferição da pressão arterial sistólica e diastólica, peso e altura. A amostra foi composta por 148 indivíduos hipertensos. As variáveis foram apresentadas através de média, desvio padrão e freqüência. Prevaleceu no serviço o gênero feminino (69,6%), cor branca (80,4%); presença de antecedentes cardiovasculares (57,4%), sedentarismo (83,1%) e obesidade (54,1%); as médias das idades foram de 60 ± 13; pressão arterial sistólica 144 ± 21; pressão arterial diastólica 91 ± 11; índice de massa corpórea 29 ± 5. O estudo evidenciou a não adoção de um estilo de vida saudável, presença de antecedentes cardiovasculares, sedentarismo, sobrepeso, obesidade e uma taxa significativa de fumantes. Esses dados reforçam a necessidade da implementação de medidas objetivas em âmbito nacional, visando combater esses agravos à saúde, com vistas à redução da morbidade e mortalidade por doenças cardiovasculares.

          Unitermos: Hipertensão arterial. Fatores de risco. Doenças cardiovasculares.

 

Abstract

          The study has as objective to investigate the presence of risk factors for cardiovascular diseases in a sample of hypertensive individuals. It was realized an observational, analytic, of transversal character, and with a quantitative approach study. The evaluated individuals live in the coverage area of a Family Health Strategy in the town of Cruz Alta – RS. The volunteers were subjected to the anamnesis, through a semi-structured questionnaire, the physical exam, through the benchmarking of the systolic and diastolic arterial pressure, weight and height. The sample was composed by 148 hypertensive individuals. It prevailed in the service the female gender (69,6%), white color (80,4%); and presence of cardiovascular antecedents (57,4%), sedentary (83,1%) and obesity (54,1%); the age measures were around 60 ± 13, systolic arterial pressure 144 ± 21; diastolic arterial pressure 91 ± 11; body mass index 29 ± 5. The study evidenced the non-adoption of a healthy lifestyle, presence of cardiovascular antecedents, sedentary, overweight, obesity and a significant rate of smokers. These data reinforce the need of the implementation of objective measures at national scope, searching to combat these injuries to health, with eyes for the morbidity reduction and mortality by cardiovascular diseases.

          Keywords: Arterial hypertension. Risk factors. Cardiovascular diseases.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 150, noviembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A hipertensão arterial sistêmica é uma síndrome crônica, de evolução assintomática, que se constitui como situação clínica de risco para doenças cardiovasculares (SANTOS, 2001).

    A relevância da hipertensão arterial como importante fator de risco cardiovascular, sua alta prevalência mundial e o aumento da probabilidade de desfechos circulatórios fatais ou não-fatais quando a ela estão associados outros fatores de risco tornam muito importante o conhecimento de sua ocorrência nacional e regional, assim como a correlação com outros possíveis fatores potencialmente desencadeantes de eventos cardiocirculatórios (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2004).

    Para Barreto (2006), além da doença cardiovascular, a hipertensão arterial é fator de risco para doença cerebrovascular, doença vascular periférica, insuficiência cardíaca e doença renal terminal, sendo importantes causas de morbidade e mortalidade, com elevado custo social.

    As doenças cardiovasculares destacam-se como a mais freqüente causa de morte, em especial a doença arterial coronariana, que representa a quinta causa de óbito em todo o mundo, sendo a principal causa de morte na maioria dos países Ocidentais, como Estados Unidos e Brasil. Se medidas preventivas não forem usadas, a doença arterial coronariana está prevista como primeira causa de morte no mundo para o ano 2020 (AMERICAN HEART ASSOCIATION, 2003).

    No Brasil, em 2006, 27,4% dos óbitos foram decorrentes de doenças cardiovasculares, atingindo 37% quando são excluídos os óbitos por causas mal definidas e a violência (BRASIL, 2009).

    As doenças cardiovasculares são multifatoriais, com um longo período de latência, sendo fundamental normalizar os fatores de risco modificáveis, de modo a prevenir ou retardar a progressão da doença (DUNCAN, 2006).

    Seguindo a tendência dos países ocidentais, no Brasil as doenças cardiovasculares representam a principal causa de morte desde a década de 60, representando no ano de 1998, 32% do total de óbitos, sendo a taxa média de 158,44 mortes/100 mil habitantes. Salienta-se que a doença arterial coronariana representa aproximadamente 1/3 destes óbitos. No Rio Grande do Sul, estes valores são ainda mais expressivos, pois é o estado que apresenta a segunda maior mortalidade, onde no mesmo ano correspondeu a 35,4% e a sua respectiva taxa foi de 235,71/100.000 (BARRETO, 2006).

    Para BRASIL (2006), em consonância com as atuais políticas de promoção e proteção à saúde, tem recomendado e promovido ações multiprofissionais na atenção primária à saúde, como o combate à hipertensão arterial. Nesse contexto, insere-se a Estratégia Saúde da Família (ESF), onde a atenção é centrada na família e estruturada em uma unidade de saúde, e a população adstrita está sob a responsabilidade de equipe multiprofissional.

    Sendo as doenças cardiovasculares um importante problema de saúde pública, visto que constituem a principal causa de morbi-mortalidade e os mais altos custos em assistência e tendo seus fatores de risco comprovados, torna-se necessário conhecer a prevalência desses fatores de risco, isolados ou combinados, pois é através de sua redução, com medidas de prevenção primária e secundária, que objetivaremos a efetividade de programas de saúde.

    Devem ser metas dos profissionais de saúde a identificação precoce e a abordagem adequada dos fatores de risco para o desenvolvimento da hipertensão arterial, principalmente na população de alto risco. Entre as medidas preventivas, destacam-se a adoção de hábitos alimentares saudáveis, a prática de atividade física e o abandono do tabagismo (WAXMAN, 2004).

    O objetivo do estudo é investigar a presença e a multiplicidade de fatores de risco para doenças cardiovasculares em uma amostra de indivíduos hipertensos.

Metodologia

    Trata-se de um estudo observacional, analítico, de caráter transversal, com uma abordagem quantitativa. Os indivíduos avaliados pertenciam à população adstrita em uma Estratégia Saúde da Família do município de Cruz Alta – RS. Os indivíduos foram selecionados de forma intencional, a partir do mês de junho de 2009, tendo a pesquisa seu término em março de 2010.

    Foram incluídos na pesquisa indivíduos hipertensos, residentes na área de atuação da Estratégia Saúde da Família e participantes do grupo de acompanhamento terapêutico.

    Os critérios de exclusão foram: (a) pacientes acompanhados, concomitantemente, em outros centros para tratamento da pressão arterial, (b) pacientes com co-morbidades que demandavam atenção domiciliar e, (c) não pertencentes à área da Estratégia Saúde da Família ou que não participavam do grupo de acompanhamento terapêutico.

    A amostra do estudo foi composta por 148 indivíduos hipertensos, pertencentes a um grupo de controle.

    Para a coleta dos dados os voluntários da pesquisa foram submetidos à anamnese, através de um questionário semi-estruturado, com questões fechadas, e exames físicos, através de aferição da pressão arterial sistólica e diastólica, medição de peso e altura. Os voluntários assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, o qual conteve duas vias de igual teor.

    Para a análise dos dados foi utilizado pacote estatístico SPSS 11.5 free. As variáveis foram apresentadas através de média, desvio padrão e freqüência. Todas reagrupadas em tabelas.

Resultados

    Foram avaliados 148 indivíduos selecionados através de um grupo de acompanhamento. As principais características da amostra total serão representadas nas tabelas 1, 2 e 3, respectivamente. Dentre os indivíduos estudados acometidos por hipertensão arterial sistêmica há maior prevalência de mulheres (70%; n: 103); 80,4 % de cor da pele branca (n: 119), seguido de preta e amarela, ambos com 7,4%; e fumantes com representação de 27,7 %.

    A prevalência de indivíduos sedentários e as variáveis sobrepeso/obesidade serão apresentadas na tabela 1 através de freqüências. Observa-se um estilo de vida sedentária (83,0%), com ausência completa de qualquer exercício físico durante uma semana. Mais da metade da amostra está com sobrepeso ou obesidade (54,0%).

Tabela 1. Prevalência de perfil nutricional e nível de atividade física

    As variáveis idade, pressão arterial sistólica (PAS), pressão arterial diastólica (PAD) e índice de massa corpórea (IMC) serão apresentadas através de média e desvio padrão e dispostas na tabela 2.

    Há aumento na idade (60,06 ± 13,1), níveis pressóricos levemente elevados (PAS = 143,51 ± 21,2; PAD = 90,68 ± 11,4) e alto índice de massa corpórea (28,79 ± 5,1), revelando sobrepeso e obesidade.

Tabela 2. Distribuição quanto a idade, pressão arterial sistólica, pressão arterial diastólica e índice de Massa Corpórea

    A tabela 3 apresenta episódios crônicos ou isolados de comorbidades associadas à hipertensão arterial sistêmica e dispõem sobre fator de risco importante para doenças cardiovasculares.

    Dentre as patologias envolvidas destaca-se a presença de antecedentes cardiovasculares (42,6%), diabetes mellitus (25,7%) e coronariopatias (13,5%).

Tabela 3. Presença de antecedentes cardiovasculares, diabetes mellitus, pós infarto agudo do miocárdio, coronariopatias, acidente vascular cerebral e doenças renais

Discussão

    Tornando-se a amostra padrão de 148 pacientes, obtida através de grupo controle, observou-se que 70% dos pacientes eram mulheres, conferindo desproporção com os homens na utilização dos serviços de saúde. Essa predominância feminina tem sido também observada em estudos de prevalência de hipertensão arterial e de adesão ao tratamento (SALA, 1996).

    Para BRASIL (2006), o conjunto das doenças do coração, hipertensão, doenças coronariana e insuficiência cardíaca têm taxas anuais decrescentes de 1,2% para homens e 1,3% para mulheres.

    O sexo masculino é mais propenso à aterosclerose e suas conseqüências, quando os outros fatores de risco são iguais (COTRAN, 1999).

    Segundo Moraes (2003), verifica-se maior prevalência de hipertensão arterial entre indivíduos da raça negra, inclusive no Brasil, onde as classificações raciais têm limitações, devido ao grau de miscigenação da população.

    Os profissionais devem estar atentos para que haja uma diminuição ou um não uso de tabaco pelos indivíduos hipertensos, para que a qualidade de vida dos pacientes não seja acometida e consequentemente sua condição clínica não seja prejudicada (SANTOS, 2001).

    O uso do cigarro é um fator de risco para hipertensão arterial sistêmica e doenças cardiovasculares, potencializado quando associado a outros fatores que podem elevar a pressão arterial (BRASIL, 2009).

    Para Marques (2003) o tabaco ocasiona eventos patológicos pulmonares e cardiovasculares.

    Para BRASIL (2006) o sedentarismo atinge 60 a 85 % dos adultos do mundo.

    Os benefícios mais diretos da atividade física são as adaptações cardiovasculares e musculoesquelética, que aumentam a sua capacidade funcional. (MARQUES, 2003).

    O ganho de peso e o aumento da circunferência abdominal são marcadores importantes para delimitar o risco da população no desenvolvimento de doenças cardiovasculares. (BRASIL, 2006).

    Percebe-se a alta taxa de indivíduos hipertensos com sobrepeso/obesidade, o que pode estar relacionado a um padrão alimentar inadequado, que, associado a outros fatores, potencializa o risco de doença cardiovascular (SANTOS, 2001).

    No Brasil, assim como em diversos países, foi descrita a associação da obesidade como fator independente de risco cardiovascular (BRASIL, 2006).

    As variáveis idade, pressão arterial sistólica, pressão arterial diastólica e índice de massa corpórea se apresentam de forma direta como fatores de risco para doenças cardiovasculares, tendo maior prevalência com o aumento da idade, com altas cifras de pressão arterial e obesidade (DUNCAN, 2006).

    A hipertensão arterial alcança cerca de 5% dos indivíduos entre os 18 e os 24 anos de idade e mais de 50% na faixa etária de 65 anos ou mais de idade (BRASIL, 2006).

    Nos indivíduos maiores de cinqüenta anos, o valor da pressão sistólica sanguínea é mais importante do que a pressão diastólica para o desenvolvimento de doenças cerebrovasculares. (LESLIEI, 2003).

    Para Moraes (2003) a redução da pressão sanguínea produz redução do risco relativo de novo episódio de acidente vascular cerebral de 28 a 29%.

    A decisão relativa à abordagem de portadores de hipertensão arterial sistêmica não deve ser baseada apenas nos níveis de pressão arterial, mas também na presença de outros fatores de risco e doenças concomitantes, tais como diabetes, lesão em órgãos-alvo, doença renal e cerebrovascular. Deve-se também considerar os aspectos familiares e socioeconômicos. (BRASIL, 2009).

    A prevalência de diabetes se dá em 25,7% dos casos, somando-se aos fatores de risco associado à hipertensão.

    No Brasil há indicativos do aumento da freqüência com que este agravo figura nas estatísticas de morbidade e mortalidade, como causa básica ou contributiva, especialmente associada às doenças cardio e cérebrovasculares (BRASIL, 2009).

    Ainda para BRASIL (2009), em pesquisa de prevalência de fatores de risco para doença arterial coronariana, foi constatado que 7% da população adulta era portadora de diabetes mellitus tipo 2. Dentre estes, sabe-se que aproximadamente 50% desconhecem ser diabéticos e, dentre aqueles que o sabem, 50% não estão sob tratamento.

    A hipertensão arterial e o diabetes mellitus representam dois dos principais fatores de risco (TWISK, 1997).

    O infarto Agudo do Miocárdio é uma doença circulatória que tem como um dos fatores de risco a hipertensão, tendo uma recorrência maior em indivíduos que já tiveram um ou mais episódios (MALYUTINA, 2002).

    A cada ano cerca de 900 mil pessoas nos Estados Unidos da América sofrem infarto agudo do miocárdio, das quais 225 mil morrem. Em 1990 o IAM foi a principal causa de morte em todo o mundo, sendo responsável por cerca de 6,3 milhões de pessoas (BRASIL, 2006).

    A taxa de eventos aumenta com a idade em ambos os sexos, sendo maior em homens que mulheres e maior em maior em mais pobres que em mais ricos, em todas as idades. A incidência de morte por IAM tem caído em muitos países ocidentais nos últimos 20 anos (BRASIL, 2009)

    As coronariopatias são mais comuns em pessoas acima dos 50 anos de idade do que em indivíduos jovens e é mais comum em homens (BRASIL, 2009).

    Ainda para BRASIL (2009), a incidência anual geral é de 1,5 a 2,6/1000 homens por ano e de 1,2 a 3,6/1000 mulheres por ano.

    Segundo a SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA (2006) dentre os fatores de risco para mortalidade, a hipertensão arterial explica 40% das mortes por AVC e 25% daquelas por doenças coronarianas.

    Ainda para BRASIL (2006) o acidente vascular cerebral pode ocorrer em qualquer idade, mas metade de todos os AVC's ocorre em pessoas acima de 70 anos de idade.

    Percebe-se no presente estudo a presença de 4,7% de indivíduos que relatam episódio de doença renal.

    Dois estudos prospectivos de observação encontraram que a insuficiência renal aguda estabelecida afeta quase 5% das pessoas hospitalizadas e até 15% das pessoas criticamente doentes, dependendo das definições usadas (BRASIL, 2006).

Considerações finais

    O estudo evidenciou a não adoção de um estilo de vida saudável dentre a população estudada, presença de antecedentes cardiovasculares, sedentarismo, sobrepeso, obesidade e uma taxa significativa de fumantes.

    Esses dados reforçam a necessidade da implementação de medidas objetivas em âmbito nacional, voltadas ao indivíduos, visando combater esses agravos à saúde, com vistas à redução da morbidade e mortalidade por doenças cardiovasculares.

Referencial bibliográfico

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