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A indústria do consumo na uniformização dos corpos

La industria del consumo en la homogeneización de los cuerpos

 

*Professor de Educação Física pela UFRRJ

Pós Graduando em Gênero e Sexualidade pela UERJ

**Graduanda em Propaganda e Publicidade pela UNESA

***Graduando em Medicina pela UNIGRANRIO

****Professor de Educação Física pela UFRRJ

Pós Graduando em Gênero e Sexualidade pela UERJ

*****Orientador. Mestrando em Educação Agrícola pela UFRRJ

(Brasil)

Rocindes de Souza Berriel*

rocindesberriel@uerj.br

Rafaela Riqueza de Oliveira**

Gláucio Oliveira da Gama***

glaucio_gama@hotmail.com

Cláudio Oliveira da Gama****

claudiodagama@hotmail.com

Jeimis Nogueira de Castro*****

jeimis@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O tema busca desvendar as formas de poder, que estão alocadas na sociedade. Sociedade esta que migra de formatos repressores de tempos atrás e passa por meticulosas mudanças que deixam a disciplina com aspecto de fraca, tênue, porém, o inverso se faz, quanto mais parece fraca, mas forte esta. Uma vez que ao fazer tal diagnostico da Sociedade percebe-se que o homem nunca foi tão “robotizado”. Deixando uma forma de repressão cada vez mais impossível, já que essa manipulação é consentida. A sociedade, ao desvendar os mecanismos que tornam as crianças vítimas das indústrias de consumo, irão tratá-lo como um problema, criando soluções educacionais, proporcionando a formação critica dentro da escola, para que não sejam vitimas da cultura midiática que vigora. Conceituando o sujeito pós moderno, demonstrando suas fraquezas e ponto forte tornaremos nossa sociedade mais conscientizada.

          Unitermos: Corpo. Consumo. Alienamento.

 

Abstract

          The theme seeks to unravel the forms of power, which are allocated in society. Society is migrating formats repressive old days and goes through changes and make meticulous discipline with respect to weak, fine, but the reverse is done, the more it seems weak, but this strong. Since arriving at this diagnosis of the Society realizes that the man was never * As "robotic." Leaving a form of repression increasingly impossible, as this manipulation is permitted. The society, to uncover the mechanisms that make children victims of consumer industries, will treat it as a problem by creating educational solutions, providing the critical training within the school, so they are not victims of media culture that prevails.
Conceptualizing the postmodern subject, demonstrating their weaknesses and strengths will make our society more conscious.

          Keywords: Body. Consumption. Alienation.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 150, Noviembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O tema trás abordagens que agregam a questão da sociedade, população, classe infantil, mídia, consumismo e poder. Procuro criar um vinculo do tema caracterizando a questões inerentes a condutas, pondo o corpo em destaque, revelando a fragilidade e formas de como somos manipulados. Ao fazer tal diagnostico abre-se possibilidades para um contra poder.

    A investigação cientifica se deterá em questões sociais. De inicio abrangeremos o aspecto inovador do pós modernismo. Revelando o surgimento do fenômeno globalização, sua importância e sua função de promover uma mudança na ordem mundial.

    Após, explanaremos os tipos de mecanismos de controle midiáticos que acabam causando conformismos da massa social. A população passa por contrastes em suas formas de pensar e agir, que irão determinar padrões pré estabelecidas por instancias do consumismo. Chegam ao ponto de agir não mais nos adultos, mas o novo foco se faz acerca da classe infantil. Por ser uma fonte de renda que gera riquezas imensuráveis, a nova sacada publicitária é agir no controle das vontades. E, a criança por ser ainda ingênua, não oferece resistência alguma, sendo um elo relevante para a aquisição de mais poder, por parte das indústrias. As formas de cultura são definidas como dinâmicas e próprias a cada contexto. Torna-se de uma fonte mutável e variada, conforme os interesses dos mecanismos de poder, representando cada um dos indivíduos que a compõem.

    E por último, um breve instrumental, fazendo paralelo ao pensamento do Filosofo, pensador e estudioso Michel Foucault. O poder para ele migra sua forma de ação, deixando de ser repressor e agindo como estimulador. Essa nova metodologia de ação vai agir de forma surpreendente, criando uma classe desesperada, ansiosa e consumista.

    Pensando num mundo com tal objetividade, nos deixamos levar pela aparente subjetividade (que somos livres), criamos formas de pensar, maneiras de agir, formas tão modeladas, que a verdade passa aos nossos olhos e ainda assim, somos meros seres alienados, que cada vez mais somos controlados pelos mecanismos de controle disciplinar. Uma contra proposta, uma revolta contra esse mecanismo seria viável? Benéfica? Devemos incitar este debate no intuito de criar mentes pensantes, gerações futuras que farão a diferença.

Resultados e discussão

    Podemos definir identidade cultural como o sentimento de identidade de um grupo ou cultura, ou de um indivíduo, na medida em que ele é influenciado por pertencer a um grupo ou cultura.

    As identidades culturais, que por muito tempo estabilizaram o mundo social, estão em declínio, fazendo surgir novas identidades. O homem, que antes era visto como unificado, hoje é visto como um individuo moderno. O conceito de identidade é demasiadamente complexo, muito pouco reconhecido e compreendido na ciência social contemporânea.

    Uma crise de identidade poderia ser causada, uma vez que as paisagens, cultura, classe, gênero, raça e até nacionalidades, antes sólidas e embasadas, atualmente se mostram com potencial impar de transformações. A noção de certo e errado passa por meticulosos contrastes, onde o individuo sente-se muita das vezes perdido.

    Estas transformações na identidade cultural estão também mudando nossas identidades pessoais, abalando o que temos de nós mesmos como sujeitos integrados. Esta perda de um sentido de si é chamada de deslocamento ou descentralização do sujeito1 esses deslocamentos ou descentralização dos indivíduos tanto do seu lugar no mundo social e cultural quanto de si mesmo, constitui uma crise de identidade para o individuo.

    Segundo Stuart Hall, pode-se citar três concepções diferentes de identidade: Sujeito Iluminismo, Sujeito Sociológico e Sujeito Pós – moderno.

    O primeiro é o sujeito do iluminismo, “que se caracteriza por uma identidade individual, totalmente centrado, unificado, dotado de capacidades, de razão, de consciência e ação.”2 . O individuo possuía uma essência própria que permanecia imóvel durante todo o processo de vivência do mesmo. A identidade se transforma em uma identidade sociológica, ou cultural, esta identidade não era vista como autônoma e auto-suficiente, mas sim formada nas relações com os outros indivíduos e pessoas importantes para ele, “o individuo passou a ser visto e definido no interior dessas grandes estruturas e formações sustentadoras da sociedade moderna”.3

    O sujeito pós-moderno que antes possuía uma identidade unificada, hoje pode ser visto não só com uma identidade, e sim de varias. Diante desses processos, surge o sujeito pós-moderno, não tendo uma identidade fixa, essencial ou permanente. Segundo Hall: “o sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que não são unificadas ao redor de um “eu” coerente.4

    Segundo Stuart Hall, se sentimos que possuímos uma identidade desde o nascimento até a morte é apenas porque construímos uma historia sobre nós mesmos. Esta é a principal distinção entre as sociedades "tradicionais" e as "modernas". Anthony Giddens argumenta que nas tradicionais valoriza-se o passado e a experiência adquirida para ser passada para novas gerações. Já a moderna se caracteriza como algo em que se valoriza o presente, a comunicação rápida e o dinamismo e alto poder de mudanças.

    Além dos aspectos mencionados até aqui, a identidade está relacionada à modernidade tardia, em particular ao processo de mudança conhecido como ‘globalização’. Conforme o sociólogo alemão Karl Marx:

    ”...é o permanente revolucionar da produção, o abalar ininterrupto de todas as condições sociais, a incerteza e o movimento eternos... Todas as relações fixas e congeladas, com seu cortejo de vetustas representações e concepções, são dissolvidas, todas as relações recém-formadas envelhecem antes de poderem ossificar-se. Tudo que é sólido se desmancha no ar.”5

    As sociedades modernas são, portanto, sociedades de mudança constante, rápida e permanente. Esta é a principal distinção entre as sociedades "tradicionais" e as "modernas". Anthony Giddens argumenta que:

    “...nas sociedades tradicionais, o passado é venerado e os símbolos são valorizados porque contêm e perpetuam a experiência de gerações. A tradição é um meio de lidar com o tempo e o espaço, inserindo qualquer atividade ou experiência particular na continuidade do passado, presente e futuro, os quais, por sua vez, são estruturados por práticas sociais recorrentes.”6

    A modernidade, em contraste, não é definida apenas como a experiência de convivência com a mudança rápida, abrangente e contínua, mas é uma forma altamente reflexiva de vida. Como afirma Giddens: “...as práticas sociais são constantemente examinadas e reformadas à luz das informações recebidas sobre aquelas próprias práticas, alterando, assim, constitutivamente, seu caráter.”7

    Os elementos e identidades das sociedades podem estar articulados sob certas circunstâncias. É por esta razão, que as sociedades não se desintegram totalmente, e não pelo fato de serem unificadas.

    Stuart Hall afirma que no passado as identidades eram divinamente estabelecidas e que não estavam sujeitas a mudanças tradicionais. No entanto, com o nascimento do individuo soberano – que aconteceu entre o humanismo renascentista do século XVI e o iluminismo do século XVII – aconteceu uma importante transformação das identidades. Muitos movimentos importantes na cultura e no pensamento oriental contribuíram para a emergência dessa nova concepção. Essa nova concepção é chamada de Globalização. Assim definida por ser a responsável por integrar o todo no um, num objetivo de crescimento de todas as nações, através de ferramentas: novas tecnologias.

    Cada movimento apelava para a identidade social e seus sustentadores. Assim o fenômeno apelava às mulheres, à política sexual, aos gays e lésbicas, as lutas raciais e negras. Esses movimentos contribuíram para o surgimento da política da identidade.

    A globalização agrega ao seu processo a quebra do espaço Estado-Nação 8 como construtor destas identidades. Hoje em dia as limitações da centralização da identidade construída pelo Iluminismo não se mantêm sem a centralidade da instituição.

    Por esta razão, Hall define que os conceitos de identidade são, na verdade, construções discursivas que só se legitimam a partir do momento que os contextos culturais assim o permitem.9

    O atual contexto cultural da pós-modernidade aponta para conseqüências contraditórias. Primeiro, percebemos uma desintegração das identidades nacionais pela tendência da homogeneização cultural da globalização, segundo, há um reforço das identidades nacionais. Stuart Hall coloca que as identidades culturais são passiveis do jogo e poder e das contradições internas, já que contam com significantes diversidades em suas composições.10 e outras locais e particularistas em virtude da resistência ao processo de globalização e com isso surge uma terceira conseqüência: as identidades nacionais estão em declínio, ou seja, novas identidades estão tomando o seu lugar, essas novas identidades vem surgindo devido a novas culturas.

    Assim, os conceitos que estão impregnados nos discursos, instituem a todo o momento a formação de ideologias junto às populações. Assim, “o discurso é uma forma efêmera para as palavras, que não conduz por si só a uma realidade de manipulações” 11. Estas se reforçam através das suas múltiplas formas de ação, no texto se caracteriza o poder das palavras, na modelagem de condutas, para o controle dos corpos na formação e construção do conhecimento, algo essencial na formação das diversas culturas.

    O termo cultura exerce uma grande admiração por parte dos estudiosos e cientistas sociais de uma forma geral. Evidentemente, ainda se vê muita confusão no uso da expressão "cultura". O termo ainda é muito confundido com conhecimento formal, ou utilizado de forma preconceituosa quando quantifica o grau de cultura. Ainda, como sinônimo de classe social mais elevada, ou como indicador de bom gosto. Visualizamos ainda, com certa freqüência, afirmações de que indicam “mais ou menos cultura", "ter ou não ter cultura", "cultura refinada ou desqualificada" e assim por diante. A cultura é dinâmica e própria a cada contexto. Ela é mutável e, por isso, representa cada um dos indivíduos que a compõem, sendo o conjunto de toda a sua expressão. Segundo Geertz, a cultura se refere

    “a própria condição de vida de todos os seres humanos. É produto das ações humanas, mas é também processo contínuo pelo qual as pessoas dão sentido às suas ações. Constitui-se em processo singular e privado, mas é também plural e público. É universal, porque todos os humanos a produzem, mas é também local, uma vez que é a dinâmica específica de vida que significa o que o ser humano faz. A cultura ocorre na mediação dos indivíduos entre si, manipulando padrões de significados que fazem sentido num contexto específico”12

    Vivemos uma era das facilidades, onde as informações, saltam, mudam e nos fazem mudar conceitos. Ate mesmo um grupo de certa forma inexpressivo, ganhou tal dimensão, que atualmente voltam-se todos os focos para essa classe: a classe infanto-juvenil.

    Ao realizar uma observação dos fatos do cotidiano, não é difícil de encontrarmos os “principais” acontecimentos e fatos. Inevitavelmente percebe-se, partindo de uma velocidade surpreendente, e assim, divulgados numa verdadeira rede de informações pelos quatro cantos do mundo, vislumbramos o poder da mídia. O curioso é que cada vez mais assustadora e pela forma que são passadas, ficam difíceis de serem questionadas, onde, devido à riqueza de recursos e detalhes de uma indústria que não mede esforços para divulgar a “verdade”.

    Somos submetidos a um mercado em pleno crescimento que renova permanentemente as marcas visando à manutenção e à valorização da aparência sob os auspícios da sedução. A mídia disponibiliza produtos da Indústria Cultural que formam uma constelação de produtos desejados, destinados a fornecer a morada na qual o ator social toma conta do que demonstra dele mesmo como se fosse um cartão de visitas vivo. Trata de satisfazer a mínima característica social fundada na sedução, quer dizer, no olhar dos outros.

    No que se refere ao corpo, à sociedade como um todo vem consumindo mercadorias propagandeadas pelos meios de comunicação e imagens que a Indústria Cultural coloca como a melhor, utilizando-se de um discurso enraizado na liberdade de escolha, operando diretamente na defesa da satisfação, convocando os sujeitos a gozar dos objetos que se apresentam no mercado como capazes de atender, não à realização (simbólica) dos desejos, mas à satisfação das necessidades.

    A mídia, como um dos meios de realização da Indústria Cultural e das prevalências da sociedade de consumo, atua diretamente sobre o homem, seja sobre sua forma de ser ou sobre sua aparência. No texto de Rocha,13 a autora identificou um discurso da “Revista Veja” impregnado de fetiches: ser belo é estar de acordo com um padrão científico de normalidade, assim, ser normal significa não ser obeso, ter músculos definidos, conquistar a beleza, manter a juventude. Enfatizam-se as imagens, as cirurgias plásticas, a aparência jovem, as dietas sacrificantes e a forma corporal desejada.

    A transformação de conceitos, muitas das vezes criados pelas propagandas nos faz criar modos de ver o mundo, que se encaixam nos ideais propostos inconscientemente pelas mídias, pois a “iniciação ao sistema de representação e de valores do capitalismo que não mais põe em jogo somente pessoas, mas que passa cada vez mais pelos audiovisuais que modelam as crianças aos códigos perceptivos, aos códigos de linguagem, aos modos de relações interpessoais, à autoridade, à hierarquia, à toda a tecnologia capitalista das relações dominantes.14 O autor já salienta as múltiplas ferramentas que o poder midiático atrai, para criar condutas infantis padronizadas.

    Na sociedade de consumo,15 a criança não mais é colocada como dependente do adulto, seja no âmbito mais amplo da esfera econômico política, seja no plano mais restrito da vida familiar e escolar, mesmo porque o lugar que o mercado concedeu para a criança tem sua história intimamente ligada às transformações das relações entre adultos e crianças.

    Agindo sobre este olhar o consumismo acaba por agregar as crianças nas suas ambições, ela esta cada vez mais autônoma, independente. Criam-se padrões de comportamento infantis a partir de uma necessidade que a criança cria, através das propagandas. Letreiros, luminosos, logotipos, outdoors, bancas de revistas, slogans, marcas, panfletos, imagens e sedução.

    A cidade se oferece em forma de vitrine e ser cidadão é habitar e participar deste mundo com o desprendimento de quem vai às compras, utiliza tal mecanismo como proposta de lazer e bem estar. O consumismo passa por um transformar: antes comprávamos para viver, atualmente o inverso se faz, vivemos para comprar.

    Todos estes apetrechos chamam atenção, e com o publico infantil não é diferente. Enquanto para o adulto tais transformações tecnológicas se apresentam filosoficamente como um problema e implicam sempre uma readequação dos modos de pensar e de viver, para a criança elas se apresentam como constituintes quase que imediatas da sua vida psíquica e tomam a forma de brinquedo a ser explorado de maneira lúdica.16

    Assim, embora essa média seja variável em diferentes países, conforme aponta recente pesquisa organizada pela Unesco, o tempo dedicado à televisão chega muitas vezes a ser superior em até 50% ao dedicado a outras atividades da criança, entre elas fazer dever de casa, ajudar a família, brincar fora de casa, ler, usar o computador, ouvir rádio, fitas ou CDs.17 Essa voraz constatação nos assusta, uma vez que as identidades estão sendo criadas, as características nunca se pareceram tanto.

    A publicidade pondera Toscani,

    “Nasceu de um antigo flerte entre a arte e o mercado. Entretanto, num contexto em que a própria arte foi assumindo a forma de mercadoria, a publicidade acabou por aderir à lógica do mercado, consolidando-se como um discurso de adesão ao consumo. Esquecendo-se de sua dimensão artística, a publicidade vem abrindo mão da capacidade de refletir sobre o mundo em prol da incessante busca de uma boa idéia, confinando-se às leis do mercado.”18

    No casamento entre cultura e arte, surge a proposta publicitária, onde esta assume um caráter assustadoramente mercadológico e fortemente capitalista, discursando através de vínculos de imagens, idéias que vão sendo seguidas e copiadas, criando corpos submissos, maleáveis e dóceis. A criança ao fazer parte deste tipo de formação social, acaba por refletir o espelho dos adultos, tornando uma forma atraente do poder consumista agregar mais adeptos.

    A publicidade é hoje mais formadora de nossa subjetividade do que o ensino escolar. Ela é a maior expressão de nossa época, quantitativamente pelos investimentos que mobiliza, e qualitativamente por seu protótipo cultural, pois o consenso da razão contemporânea parece ser feito de imagens de sonho que nos convidam: “sejam como nós, imagens publicitárias”.19

    Sofrendo intensas e sucessivas influencias, a cultura dos povos na modernidade torna o corpo cultural, um objeto maleável que sofre transformações que os levam em sentido ao aperfeiçoamento. A mídia e a moda são consideradas instâncias que alocam o poder, ou seja, onde o poder se manifesta.

    Michel Foucault, filósofo Francês, ao desvendar dispositivos disciplinares que assombram a sociedade, faz um diagnóstico preciso dos mecanismos do controle disciplinar. Para o pensador vivíamos numa época onde as leis vigoravam na forma de mecanismos de poder de caráter repressor, que dizia “sim ou não”, que nos forçava ao cumprimento das exigências, sob uma força expressiva punitiva. Poder a exemplo de um Rei que comandava seu reino de forma autoritária e egocêntrica. Atualmente tão mecanismo perdeu sua força onde para ele:

    “Se o poder só tivesse a função de reprimir, se agisse apenas por meio da censura, da exclusão, do impedimento, do recalcamento, à maneira de um grande super-ego, se apenas se exercesse de um modo negativo, ele seria muito frágil”20

    Assim, o poder por ser meticuloso, migra sua forma de atuação, passando a agir sob outro ponto de vista, de uma forma mais branda, porém tão efetiva quanto à forma punitiva. O filosofo então faz referencia a um poder inovador, um poder qualificado como um controle estimulação.

    Foucault percebe um controle que vai, de certo modo, agir de forma contínua (constante) e generalizada (em todos os lugares), tornando os sujeitos inconscientes de suas condutas e a mercê de suas ações, fazendo-os agir sob seu comando, de forma sempre sofisticada e articulada, migrando do formato tradicional de coação (repressão) para novos modelos excitatórios (estimulação) que causam uma conformação consentida, no sentido de promover uma notável e surpreendente felicidade, exigidas pelas demandas de consumo (forma de poder que causa um falso autocontrole das vontades, nos faz querer, sem saber o porque).

    Promovendo a articulação de um poder que ao notar que seria tênue, se fizesse uso de sua forma primitiva, parte para um controle que faz do estímulo o crescimento da sujeição dos corpos para a alienação dos indivíduos, sendo esta a forma encontrada para uma eficaz modelagem de condutas. A passagem de um controle rígido sobre o corpo para um controle atenuado marca o início de uma nova forma de agir sobre o corpo.

    A cultura dos povos na modernidade sofre intensas e sucessivas influências tornando o corpo cultural, algo visto como um objeto maleável que sofre transformações que os levam em sentido ao aperfeiçoamento. A mídia e as indústrias do consumo são consideradas instâncias que alocam o poder, ou seja, onde o poder se manifesta.

    No que tange aspectos da cultura infantil, surge uma necessidade atribuída, onde para se tornar ser uma criança feliz e saudável, deve ter uma tipologia padronizada. As crianças desde muito cedo são moldadas a seguir um conceito cultural que esta enraizado na premissa do consumismo. A questão pedagógica construída que criança deve ter autonomia para criar, e não se submetida a padrões comportamentais e imposições midiáticas de consumo e comportamento, caem à medida que percebemos o poder estimulação supracitado, cada vez mais modelador de atitudes. Criando dogmas e imposições minuciosas, criando uma ordem estereotipada de comportamento.

    O consumismo exarcebado cria datas festivas para a aquisição de vendas, atribuem necessidades para as crianças, modelos de artefatos, etc., que vão, de certo modo, criando modelos infantis, que excluem e abominam os que fogem por não terem condições às regras de conduta. A verdade é que ninguém quer ficar de fora dos padrões culturais, até mesmo os que não têm condições financeiras começam a se endividar, afim de respeitar as doutrinas no poder consumista.

    As ferramentas da mídia e moda funcionam para regular o corpo social.

    “pois educa, disciplina e regula os corpos como qualquer outra instância educativa. Atualmente, uma sofisticada ‘maquinaria pedagógica’, incluindo aí revistas, jornais, programas de TV, filmes, músicas, esportes e publicidade, amplia e complexifica a educação dos corpos. Esses artefatos culturais capturam e reproduzem sentidos e significados que circulam na cultura, ‘produzindo sujeitos e identidades sociais em intricadas redes de poder”.21

    Os conceitos de verdade impostos pela mídia são como estratégias nos modos de se manter e colocar em ação os dispositivos de regulação dos corpos, produzindo e guiando condutas de maneira a provocar uma padronização dos corpos.

    “Ela ensina, controla e governa, exercendo, assim, o poder de subjetivação e objetivação dos sujeitos. Pensamos que o corpo tem apenas as leis de sua fisiologia e que ele escapa à história. É um erro: ele é formado por uma série de regimes que o constroem; ele é intoxicado por venenos – alimentos ou valores, hábitos alimentares e leis morais. Assim, cada sociedade tem seu regime de verdade, isto é, os discursos que aceita e faz funcionar, tidos como verdadeiros”.22

    Atualmente, tais ferramentas inventam e disseminam qual é o corpo socialmente aceito, que adjetivos devem conter, para promover a admiração e transformar-se em espelho aos demais. Estabelecendo uma ditadura como a mais bela e necessária para obter-se o consentimento social, para se estabelecer um convívio com as demais pessoas, convívio baseado na admiração, e não no preconceito com os que não se adéquam.

    As crianças por não terem sua formação cidadã ainda desenvolvida, são geralmente acríticas e passivas, logo, são alvos fáceis e diretos nas industrias, tendo, sem dúvida uma decisiva interferência na representação que a criança formará da realidade. E ainda, criando um futuro adulto que irá educar seus filhos da mesma forma que julga ser coerente.

    Para se ter uma idéia dessa dimensão, adolescentes brasileiras gastam em média 60% da mesada com cosméticos e representam, aproximadamente, um contingente de 10 milhões de meninas, em um mercado cosmético que só no ano de 2005 faturou R$947,7 milhões.23

    Mas não é à toa que os jovens estão se tornando, cada vez mais, consumistas. O consumismo na infância tem origem nas agressivas técnicas de marketing. Técnicas que agregam todas as suas forças para a produção de produtos voltados ao mercado infanto-juvenil, que atualmente movimentam verdadeiras fortunas no Brasil e no mundo.

    Este consumo acaba também por acentuar casos de distúrbios alimentares, como obesidade infantil, desgaste familiar além do materialismo excessivo, ou seja, se não remediado cairão como prováveis problemas de saúde publica.

Conclusão

    A moda e a mídia desempenham um papel essencial na construção do corpo ideal, produzindo conceitos que regulam hábitos, conceitos e comportamentos, sendo vista como algo que molda a vida social. Participa com grande influencia, através de recursos de informes, os meios de se adquirir um perfil ideal, socialmente aceito, além de provocar inconscientemente desejos e angustias nas camadas sociais, que sonham em tê-los a todo e qualquer custo, mesmo que coloquem em cheque a sua saúde.

    Atualmente não mais as indústrias que dependem do adulto, como a principio se imaginara, agora as crianças exercem seu papel de cliente que opina, exige e consome. Ocupam cada vez mais o cenário industrial e entra concomitantemente nas miras da Indústria do Consumo de Massa como um grupo, um segmento de mercado a ser contemplado a partir de agora.

    Profissionais do ramo como os publicitários, aproximam seu conhecimento especialmente daquele dos psicólogos e sociólogos. A publicidade cada vez mais se aproxima do campo da psicologia, uma vez que ela se preocupa com o comportamento do ser, e a publicidade por trabalhar com este ramo, aplica-se cada vez mais a explorar e conhecer as suas necessidades, saber as suas carências, e agir no controle de suas vontades, cada vez mais com discursos que mexem com a “cabeça das pessoas”, tocando a “mente do consumidor”.

    Com tamanho conhecimento atual do comportamento humano e por perceber e detectar uma facilidade em influenciar, tais campanhas publicitárias fazem uso da infância para ofertar produtos às crianças, mas não somente isso, ela – a criança - também é posta como co-mediadora de um discurso dirigido ao adulto. Pois tem grande influencia nas atitudes dos pais, que acabam se rendendo ao poder da compra, por notar um querer acima da media dos seus filhos.

    Segundo Featherstone: “o consumo, portanto, não deve ser compreendido apenas como consumo de valores de uso, de utilidades materiais, mas primordialmente como consumo de signos”. Consumos que mudam, exigem e transformam as pessoas.24

    Um olhar tanto quanto critico para tal abordagem deve ser observado. Uma analise do tipo de comportamento que estamos gerando na população, uma vez que somos fruto de uma classe pensante, que passa, passou ou passará por uma formação superior. Profissionais das mais variadas áreas do saber, são responsáveis pela disseminação e a formação das tendências de comportamento, condutas e estereótipos da sociedade. Assim, pensar no tipo de educação que estamos alicerçando na mentalidade das crianças refletira no perfil que elas terão no futuro. Desvincular o consumismo, o desapego das necessidades que não são tão relevantes para o seu desenvolvimento é essencial para o enfraquecimento deste tipo de poder disciplinador que sufoca de forma inconsciente e cria necessidades desnecessárias nos adultos e principalmente nas crianças de nossa sociedade.

Notas

  1. "Nascimento e morte do sujeito moderno" emerge o conceito de descentralização do sujeito. O autor está tratando da morte do sujeito cartesiano. A descentralização, descrevem deslocamentos do sujeito através de uma série de rupturas nos discursos do conhecimento moderno.

  2. HALL,Stuart. A identidade Cultural na pós- modernidade, 1998, p.10

  3. Ibidem, p.30

  4. Ibidem, p.13

  5. Marx e Engels in: Hall, A identidade Cultural na pós - modernidade, 1990, p. 70

  6. Giddens in: Hall, A identidade cultural na pós-modernidade, 1990, p. 37-8

  7. Giddens in: Hall, A identidade cultural na pós-modernidade, 1990, p. 37-8

  8. Estado- nação trata-se da mercantilização de produtos e trabalho assalariado.

  9. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade, 1990, p. 52

  10. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade, 1990, p. 63.

  11. HORTON, R. A crítica da ciência: sociologia e ideologia da ciência. In: Jorge Dias de Deus (Org.). 1979.

  12. DAOLIO, Jocimar. Educação física e o conceito de cultura. Campinas, SP: Autores Associados, 2004. - (Coleção polémicas do nosso tempo).

  13. ROCHA, C. A. A divulgação científica sobre o corpo na Revista Veja. In: XV Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte, 2007, Recife. Anais... Recife, 2007.

  14. GUATTARI, F. Revolução molecular: pulsações políticas do desejo. São Paulo: Papirus, 1987

  15. BAUDRILLARD, J. A Sociedade de consumo. Lisboa: Edições 70, 1995.

  16. FLUSSER, V. Ensaio sobre a fotografia : para uma filosofia da técnica. Lisboa: Relógio D’água,1998.

  17. CARLSSON, U.; VON FEILITZEN, C. (orgs.). A Criança e a mídia : imagem, educação, participação. São Paulo: Cortez; Unesco, 2002.

  18. TOSCANI, O. A. Tchau, mãe! Rio de Janeiro: Revan, 1996a.

  19. TOSCANI, O. A Publicidade é um cadáver que nos sorri. São Paulo: Ediouro, 1996.

  20. FOUCAULT, Michel. “Poder – corpo”. In: Machado, R. (Org.). Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Graal, 1982, p. 145-152.

  21. NIEMEYER, F; KRUSE, M. H. L. “Constituindo sujeitos anoréxicos: discursos da revista Capricho”. Texto contexto - enferm. ,  Florianópolis,  v. 17,  n. 3, set.  2008, p. 457-65.

  22. Ibidem, p. 458.

  23. Valor Econômico de 29.3.2006, caderno B4.

  24. FEATHERSTONE, Mike. Cultura de Consumo e Pós-Modernismo. São Paulo: Studio Nobel, 1995.

Referências bibliográficas

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 15 · N° 150 | Buenos Aires, Noviembre de 2010
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