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Comportamento do lactato sanguíneo e da freqüência

cardíaca em jogadores juvenis de futebol de campo

Comportamiento del lactato sanguíneo y de la frecuencia cardiaca en jugadores juveniles de fútbol de campo

 

Especialista em Atividade Física, Desempenho Motor e Saúde

Universidade Federal de Santa Maria

(Brasil)

Bruno Prestes Gomes*

Kenji Fuke | Bruno Cattelam Dell’Aglio

Alfredo Leocadio Ribas Lameira | Luiz Osório Cruz Portela

bruninhogomes_@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo deste estudo foi analisar o comportamento do lactato sanguíneo e da freqüência cardíaca de jogadores de futebol em duas situações iguais de testes laboratoriais na esteira ergométrica. O grupo de estudo foi composto por 11 jogadores juvenis de futebol de campo (16,1 ± 0,9 anos, 72,4 ± 6,9 kg, 178,0 ± 5,9 cm), do sexo masculino. Os avaliados realizaram, no intervalo de uma semana, duas sessões (T1 e T2), sob situações de testes progressivos máximos iguais, com aumento progressivo da velocidade de corrida até a fadiga. Foram analisadas as variáveis de esforço: freqüência cardíaca máxima (FC máx), lactato sanguíneo (LA), e tempo e distância. O T1 e o T2 não apresentaram diferença estatisticamente significativa (p<0,05) para o LA e FCmáx. Os achados mostraram que os testes foram semelhantes, apresentando fidedignidade para a metodologia e o protocolo proposto em relação ao grupo estudado e as variáveis LA e FCmáx, indicando confiabilidade nos testes laboratoriais.

          Unitermos: Lactato sanguíneo. Jogadores. Esforço.

 

 
http://www.efdeportes.com/ EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 149, Octubre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A crescente busca por métodos que aumentem a performance em atletas das mais diversas modalidades tem levado a um enorme surgimento de novas pesquisas e publicações na fisiologia do exercício, com a incumbência de nortear profissionais que atuam nesta área.

    O futebol tem sido um dos esportes mais investigados na busca por um acréscimo no desempenho físico, utilizando-se de métodos e recursos capazes de promover melhoria na recuperação orgânica e rendimento atlético. Estudos têm demonstrado que cada vez mais se correlaciona variáveis fisiológicas com o desempenho atlético no futebol e nos desportos em geral (LEAL, 2000; GUERRA, 2005).

    O futebol é uma modalidade de esporte com exercícios intermitentes de intensidade variável envolvendo atividades aeróbicas e atividades anaeróbicas de alta intensidade. Os jogadores de futebol treinam em intensidade moderada e alta, tendo necessidades diárias de energia em torno de 3150 a 4300 Kcal (CANUTO & FAGUNDES, 2006).

    Durante uma partida de futebol a freqüência cardíaca é superior a 150 bpm, com taxas de 85% do consumo máximo de oxigênio em dois terços do jogo. Dada a natureza do jogo, isso corresponde a 80% do VO2máx. A freqüência cardíaca de 80% do VO2máx pode ser explicada pelo fato do futebol ser um exercício intermitente, leva em demasia a temperatura retal em contribuição anaeróbica (KIRKENDALL e GARRETT, 2003). Estes dados sugerem que, o futebol tem um nível de solicitação metabólica, que por sua vez exige e gera adaptações diferenciadas nos processos de produção de energia (REILLY, 1997).

    Desportos de alto rendimento e intermitente como o futebol, exigem de seus praticantes excelente condicionamento físico. Atletas especialistas em eventos de longa duração apresentam altos níveis de capacidade aeróbia e limiar anaeróbio, indicando grande desenvolvimento do sistema cardiorrespiratório e alta capacidade oxidativa do tecido muscular (WILLIAMS, 1996). Sendo assim, o objetivo do estudo em questão foi analisar o comportamento do lactato sanguíneo e freqüência cardíaca dos jogadores de futebol, comparando duas situações de testes progressivos na esteira ergométrica, ambos com protocolos de medidas iguais.

Metodologia

    O grupo de estudo foi composto por 11 jogadores juvenis de futebol de campo (16,1 ± 0,9 anos, 72,4 ± 6,9 kg, 178,0 ± 5,9 cm). Os atletas treinavam de cinco a seis vezes por semana (pelo turno da tarde, de 3 a 4 horas.) e participavam de competições em nível estadual. Os indivíduos foram orientados a não realizar treinamento intenso e não ingerir bebidas contendo cafeína e álcool nas 24 horas que antecederam os testes laboratoriais.

    Os testes foram realizados no LAFEPH (Laboratório de Fisiologia do Exercício e Performance Humana – UFSM), compostos por dois dias de testes (T1 e T2) com protocolos iguais de medidas de esforço. O T1 e o T2 foram separados por uma semana de intervalo e foram realizados nos mesmos horários do dia (±1,5h) com temperatura controlada (21-22oC), tanto o T1 como o T2 foram compostos por: esforço máximo na esteira ergométrica até a fadiga voluntária.

    Para o teste de esforço progressivo máximo utilizou-se uma esteira ergométrica INBRAMED modelo 1020. Adotou-se o protocolo de MADER (1976): - aumento de velocidade de 1,8 km/h a cada 5 minutos de estágio, com inclinação de 1%. Durante o teste máximo na esteira foram coletadas as variáveis: tempo, distância de corrida extraída do visor da esteira. Durante o mesmo, mensurou-se o lactato sanguíneo, que foi coletado após punção do lóbulo da orelha com uma lanceta, sendo coletado em um capilar de 20 microlitros, colocado dentro de um tubo ependorf com uma substância para hemólise sanguínea e levada para análise imediata, e para a facilitação na coleta, uma pomada vasodilatadora foi colocada previamente no local da incisão, sendo que cada coleta foi realizada: primeiramente no repouso, nos 15 segundos finais de cada estágio de 5 minutos de corrida, e 5 minutos após término do teste. O lactato foi medido enzimaticamente no sangue total com o uso do equipamento Biosen 5030® do fabricante EKF Diagnostic. A freqüência cardíaca foi mensurada minuto a minuto durante todo o teste através um frequencímetro da marca POLAR, anexado em uma cinta elástica que foi colocada na altura do peito do avaliado e os dados transmitidos a um relógio digital.

Análises estatísticas

    Os procedimentos utilizados envolveram estatística descritiva (médias ± DP). A normalidade dos dados foi analisada através do teste de Shapiro-Wilk e os resultados comparados através do teste “t” Student pareado. O nível de significância adotado foi de p<0,05, sendo utilizado o programa estatístico STATISTICA 7.0 Stat Soft para analisar os dados.

Resultados e discussão

    Os valores das variáveis de tempo e distâncias do T1 e T2 foram comparados entre si, através do teste t pareado. Os resultados foram iguais, não havendo diferença estatisticamente significativa (p> 0,05), o que indica um ótimo resultado, pois representa que estes esforços foram feitos de formas semelhantes e apresentaram resultados próximos. Como mostra a tabela 1 os valores de tempo e distância não diferiram para T1 e T2.

Tabela 1. Média e desvio padrão das variáveis tempo e distância de corrida

  

T1

T2

Tempo em minutos

12,16 ±0,08

11,54 ±0,09

Distância em km

2,86 ±0,55

2,75 ±0,56

    Estes achados nos mostram que ambos os testes foram realizados sob mesmo esforço, ou seja, os testes foram semelhantes em se tratando de performance de corrida na esteira ergométrica. No estudo presente não foi levado em consideração à posição tática dos jogadores referente ao condicionamento específico de cada jogador. Nossos achados corroboram com um estudo realizado por Balikian et al., (2002) onde foram encontrados dados que apontam diferença apenas entre goleiros e, não entre os demais jogadores das diferentes posições táticas com relação à performance.

    Também não foi encontrado diferença estatisticamente significativa para as variáveis FCmáx e LA (p> 0,05). Os valores médios e desvio padrão da FCmáx encontrados foram: T1=191,27 ± 7,21; T2= 194,18 ±7,40. As figuras 1 e 2 representam o comportamento da FC e LA durante os testes T1 e T2 respectivamente:

Figura 1. Freqüência cardíaca máxima (bpm) nos testes T1 e T2 (os valores representam média + desvio padrão). Teste "t" Student pareado

 

Figura 2. Lactato Sanguíneo (mM) nos testes T1 e T2 (os valores representam média + desvio padrão). Teste "t" Student pareado

    Esses resultados indicam uma perspectiva da fidedignidade do uso de procedimentos laboratoriais para a determinação dos níveis de LA e FC, uma vez que este possui associação com a capacidade atlética, podendo valer-se desses dados para a quantificação e progressão no treinamento físico no futebol e nos demais desportos. Nessa perspectiva Denadai (2002) propõem que a resposta do lactato sanguíneo durante o exercício incremental, tem mostrado maior validade, inclusive em relação ao consumo máximo de oxigênio (VO2 máx) para a avaliação da capacidade aeróbia.

    A dieta alimentar, volume e intensidade do treinamento não foram controlados neste grupo de estudo podendo ser um indicativo de uma possível limitação da investigação. Nessa direção, considerando as limitações do desenho adotado neste estudo, sugere-se a realização de novos trabalhos com controle de outras variáveis fisiológicas de esforço físico.

Conclusões

    De acordo com os achados nesta investigação pode-se concluir que a metodologia empregada, grupo de estudo e o teste proposto, possuem fidedignidade, uma vez que não foi encontrada diferença estatisticamente significativa entre o lactato sanguíneo e a freqüência cardíaca, o que seria um excelente aplicativo para a determinação das capacidades físicas dos atletas.

    Estes resultados encontrados entre o T1 e T2 para as variáveis lactato sanguíneo e a freqüência cardíaca , assim como o comportamento entre tempo e distância nas duas situações de teste, reflete uma confiabilidade para analises fisiológicas realizadas no ambiente laboratorial.

Agradecimentos

    Ao LAFEPH por ceder o espaço e os equipamentos de pesquisa.

    A Universidade Federal de Santa Maria – UFSM por tornar possível este estudo.

Referências bibliográficas

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  • BALIKIAN, P.; LOURENÇÃO, A.; RIBEIRO, L. F. P.; FESTUCCIA, W. T. L.; NEIVA, C. M. Consumo Máximo de Oxigênio e Limiar Anaeróbio de Jogadores de Futebol: Comparação entre Diferentes Posições. Rev Bras Med Esporte – Vol 8, Nº 2 – Mar/Abr, 2002.

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  • KIRKENDALL, D.; GARRETT Jr., W. E. Fisiologia do Futebol: A Ciência do Exercício e dos Esportes, Porto Alegre: Artmed, 2003.

  • LEAL, J. C. Futebol: arte e ofício. Rio de Janeiro: Sprint, 2000.

  • REILLY, T. Energetics of high-intensity exercise (soccer) with particular reference to fatigue. J Sports Sci 1997;15:257-63.

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  • WILLIAMS, M. H. Ergogenic Aids: a mean to Citius, Altius, Fortius, and Olympic Gold? Res Q Exerc Sport 1996;67:S58-64.

  • WILLIAMS, M. H. Nutrição para saúde, condicionamento físico e desempenho esportivo. 5.ed. São Paulo: Manole, 2002.

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