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O despertar das habilidades sociais na 

criança através dos jogos no processo educacional

El despertar de las habilidades sociales en los niños por medio de los juegos en el proceso educativo

 

*Acadêmica/o do 7º período do Curso de Educação Física

**Professora Orientadora. Mestre em Psicologia, PUCRS/UNIVALI

Professora do Curso de Educação Física

Universidade do Vale do Itajaí, UNIVALI

(Brasil)

André Ricardo dos Santos*

andre.ccs@univali.br

Isabela Lorena de Souza Baixo**

isabelalorena@univali.br

Diná Corbetta da Silveira***

silveira@univali.br

 

 

 

 

Resumo

          O presente artigo aborda a problemática do desenvolvimento das Habilidades Sociais da criança em fase de escolarização, bem como as formas pelas quais os professores de educação física podem estar auxiliando esse processo. A problemática se dá devido à necessidade de buscar práticas diferenciadas que possibilitem as crianças a ampliar e a melhorar a qualidade de suas relações sociais. A pesquisa, de abordagem qualitativa na perspectiva da pesquisa-ação, foi desenvolvida através de planos de aula que tornaram-se base para a orientação do trabalho pedagógico e relatórios que detalharam as situações ocorridas nas intervenções. O campo de pesquisa foi uma Escola pertencente à Rede Municipal de Ensino de Itajaí/SC, tendo como sujeito alunos de duas turmas da 5ª série do Ensino Fundamental. Através das intervenções realizadas foi possível observar que houve o aprimoramento das habilidades sociais, pois todas as crianças conseguiram de forma parcial adquiri-las de forma satisfatória. Para nossas experiências como acadêmicos e na atuação futura da nossa profissão, este tema remete à importância da Educação Física no contexto escolar, uma vez que através dela e pela ação docente o aluno pode ampliar suas potencialidades motoras, cognitivas e principalmente sócio-afetivas, necessárias ao desenvolvimento de habilidades sociais que serão levadas consigo durante toda a vida.

          Unitermos: Educação Física. Habilidades e competências sociais. Consciência corporal.

 

 
http://www.efdeportes.com/ EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 149, Octubre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    Desde pequena, a criança começa a interagir com seu meio, e com isto, a interação com o outro passa a ser mais intensa, objetivando a socialização e desenvolvendo das suas habilidades sociais e competências.

    O interesse por este tema surgiu após experiências vividas em outros estágios supervisionados, onde a preocupação maior era uma intervenção mais focada em técnicas e métodos voltados ao conteúdo esportista, como Ginástica Geral e/ou Jogos da Cultura Tradicional, neles o objetivo maior foi encontrar situações de “dificuldades” ou até mesmo “habilidades” quanto ao esporte ou atividade oferecida, mas o que chamava atenção nesta época era a falta de interação, respeito e excessos de atitudes agressivas das crianças com seus colegas, principalmente em atividades competitivas

    Agora que já possuímos uma visão um pouco mais ampla do ambiente escolar e as principais maneiras de atuação de um profissional de Educação Física, sentimos a necessidade de experimentar maneiras de conhecer a criança em sua plenitude, dirigindo nossos olhares para outras habilidades que não somente as motoras. Portanto, não deixaremos de fora qualquer observação física, motora, porém as habilidades sociais e as expressões vividas por cada aluno será o foco principal nesta intervenção. Com isto, buscamos compreender a importância desta disciplina no desenvolvimento das Habilidades Sociais da criança em fase de escolarização, uma vez que as brincadeiras e os jogos utilizados como recursos didático pedagógicos nessas aulas “[...] são experiências significativas para a apreensão da organização social a aprendizagem de regras, a identificação de habilidades associadas aos diferentes papéis e, portanto, para o desenvolvimento da competência social.” (DEL PRETTE e DEL PRETTE, 2002, p.43.).

    Sabemos da importância de estarmos atentos às necessidades de cada criança, a fim de que possamos construir da melhor forma, ações pedagógicas que direcionem o desenvolvimento das habilidades sociais, buscando compreender de que forma as estratégias nas aulas práticas de Educação Física podem favorecer no desenvolvimento das habilidades sociais da criança.

    Existe ainda, neste estágio supervisionado, para alcançarmos nossos objetivos, a necessidade de observar e analisar em cada criança, suas atividades e comportamentos sócio-afetivos em relação às demais. Verificar a importância da socialização no amadurecimento das habilidades sociais da criança; Analisar a capacidade das crianças de articular pensamentos, sentimentos e ações frente a situações adversas; observar a maneira pela qual a criança interage com seus colegas sem discriminá-los por razões físicas, sociais, culturais ou de gênero; e finalmente identificar as atividades que favoreçam a aprendizagem e o aprimoramento das habilidades sociais pela criança.

    Tivemos como campo de pesquisa a Escola Maria Dutra Gomes, da Rede Municipal de Educação da cidade de Itajaí, situado à Rua Jacób Ardigó, nº 170, no Bairro Dom Bosco.

    Para o desenvolvimento das pesquisas, fizemos o uso da pesquisa- ação com abordagem qualitativa, guiada por diário de campo, plano de ação, fichas de observação e diálogos informais devido a sua característica de visar à ação na resolução do problema coletivo. Os pesquisadores e os participantes estão envolvidos de modo cooperativo e participativo. A pesquisa desenvolvida e os dados pesquisados foram analisados em sua dimensão qualitativa, através da interpretação e análise de conteúdo dos registros dos planos de ação e das atividades realizadas. Conforme Tripp (2005, p.445).

    [...] é importante que se reconheça a pesquisa-ação como um dos inúmeros tipos de investigação-ação, que é um termo genérico para qualquer processo que siga um ciclo no qual se aprimora a pratica pela ação sistemática ente agir no campo da prática e investigar a respeito dela. Planeja-se, implementa-se, descreve-se e avalia-se uma mudança para a melhora de sua prática, aprendendo mais, no decorrer do processo, tanto a respeito da prática quanto da própria investigação.

    O mesmo autor ainda acrescenta que “[...] a pesquisa-ação requer ação tanto nas áreas da prática quanto da pesquisa, de modo que em maior ou menor medida, terá características tanto da prática rotineira da pesquisa científica”. (2005, p.446). O trabalho na área da educação com esse enfoque permite que se transcenda a formação profissional do professor à experiência prática, muitas vezes baseada simplesmente nos “achismos” que acabam por limitar a qualidade do ensino.

    Sendo assim, nós professores de educação física em formação, aparecemos como protagonistas neste cenário, onde as demandas do contexto escolar se voltam para construção de um indivíduo capaz de estabelecer relações de amizade, empatia, lidar com as experiências de aceitação e rejeição, seguimento de regras controle de raiva, ansiedade, agressividade e outros indicadores de competência social que podem ser desenvolvidos nas crianças do ensino fundamental.

    Jogos, corporeidade e as habilidades Sociais favorecem as relações interpessoais no contexto escolar.

    A primeira escola na vida de qualquer criança é a família, é por meio das orientações dadas pelos seus pais que ela consegui desenvolver o caráter desde a infância. Depois disso, vem a necessidade de ingressar numa escola, um ambiente que transmitir um novo perfil de educação. É nessa instituição que a criança adquiri os conhecimentos construídos historicamente pela humanidade, junto com as principais disciplinas e aos poucos consegue desenvolver diversas habilidades. Os professores procuram adotar métodos claros que possam colaborar com o entendimento de todos os alunos nesta evolução.

    É na escola que todos aprendem as primeiras lições de cidadania e descobrem o quanto é importante respeitar as diferenças. A família legítima do aluno também deve procurar marcar presença na escola e participar ativamente da vida do filho no ambiente escolar. Os pais devem acompanhar o rendimento do filho e detectar qualquer desvio de comportamento. É necessária uma conscientização muito grande para que todos se sintam envolvidos neste processo de constante que é o “educar”.

    Segundo Arón; Milicic (1994, p.28)1

    [...] ingressar na escola implica abrir-se a influência de relações interpessoais com outros adultos significativos [...] e com os colegas [...] a criança amplia enormemente o seu mundo social e com isso as suas possibilidades de dar prosseguimento a aprendizagem das habilidades sociais. (Arón; Milicic; 1994, p.28)

    O grupo de amigos representa uma parte significativa do contexto escolar que representa outro importante agente socializador da criança. Desta forma Arón; Milicic (1994, p.34) apontam os benefícios de se obter um grupo de amigos, pois com eles “[...] a criança tem a oportunidade de se auto-conhecer e de treinar as habilidades sociais [...] a criança aprende a conhecer suas próprias habilidades e limitações e distinguir entre bom e o mau na esfera das relações interpessoais.”

    Os mesmo autores ainda relatam que a presença de amigos, acaba por gerar momentos de expressões diante do sexo oposto, comportamentos agressivos, atitudes em relação à escola, ao trabalho e a sociedade em geral. E ressaltam ainda que o “[...] grupo de amigos, proporciona a criança a oportunidade de adquirir e aperfeiçoar as habilidades necessárias à interação com os outros.” (Ibidem. 1994 p.36)

    Na mesma linha de raciocínio Del Prette e Del Prette (2001, p.54), abordam que:

    A escola é um espaço privilegiado, onde se dá um conjunto de interações sociais que se pretendem educativas. Logo, a qualidade das interações presentes na educação escolar constitui um componente importante na consecução de seus objetivos e no aperfeiçoamento do processo educacional.

    Tais características ou habilidades segundo os mesmos autores podem ser desenvolvidas desde a infância, através de estímulos e experiências a que são expostas às crianças em sua vida social, familiar, escolar, etc, ou seja, a escola tem também seu papel no desenvolvimento dessas habilidades.

    A criança que tem a oportunidade de aprender e desenvolver suas habilidades sociais não só terá um melhor ajustamento social como encontrará maior satisfação nas relações interpessoais e com isto será capaz de implementar relações sociais mais enriquecedoras para si e para os outros. Importante ressaltar ainda que toda criança que possui suas habilidades sociais bem aprimoradas, acaba estando fora do grupo de crianças que possuem necessidades dentro do sistema educacional.

    Del Prette e Del Prette (2001, p.35) nos relata com muita clareza que a auto-estima “[...] relaciona-se com os pensamentos e sentimentos elaborados pelo indivíduo a partir de seus comportamentos e das conseqüências do meio ambiente”. Os autores comentam também que conforme a pessoa for fazendo o que acredita serem mais correto, mais justo e mais adequado, os sentimentos se tornarão mais positivos, mesmo que não atinja seus objetivos. Desta forma gerará satisfação, auto-avaliação positiva, quando isso ocorre à custa de humilhação ,auto-depreciação, falsas promessas, intimidação pode devido à incoerência entre pensamentos e ações reverter em prejuízos para a auto-estima. A criança dotada de boa auto-estima tem condições de estabelecer uma relação harmoniosa com os demais, que ela consiga solucionar situações de conflito, fazer novas amizades, saber se expressar de forma verbal e corporal sem ofender ou magoar seus amigos.

    De acordo com Del Prette e Del Prette (2002), adquirir tais habilidades é fundamental para uma vida saudável, uma vez que as pessoas socialmente competentes tendem a apresentar relações pessoais e profissionais mais produtivas, satisfatórias e duradouras, além de melhor saúde física, mental e psicológica.

    Mas afinal o que é habilidade social? Uma das mais aceitas definições sobre o termo é a de Combs e Slaby, (1977 apud Arón;e Milicic 1994, p.20) “A habilidade de interagir com outros, em determinado contexto e de maneira específica, socialmente aceitável e valorada, que seja reciprocamente vantajosa ou primariamente vantajosa para os outros.”. Já Del Prette e Del Prette (2001, p. 31) referem-se às habilidades sociais como “[...] à existência de diferentes classes de comportamentos sociais no repertório do indivíduo para lidar de maneira adequada com as demandas das situações interpessoais”.

    Desta forma destacamos as habilidades que estudaremos ao longo deste estágio entre elas a Habilidade Pró- Sociais que está subdividida em: Habilidade Assertiva e enfrentamento que aborda segundo Lange, Jakubowski (1976 apud Del Prette e Del Prette 2001, p.68) “[...] afirmação dos próprios direitos de expressão de pensamentos, sentimentos e crença de maneira direta, honesta e apropriada, que não viole os direitos das outras pessoas.”; Habilidades de Expressão de Sentimento Positivo que trata de atitudes de respeito, solidariedade, amor e amizade e Habilidades de Comunicação que realiza o feedback como avaliador geral do processo onde “[...]dar e pedir feedback constituem habilidades essenciais para regularmos nossos desempenhos e os das pessoas com quem convivemos visando relações saudáveis e satisfatórias”. Por tanto, conforme relatam os autores, sem o feedback, não só o mundo físico ,mas também o mundo social seriam confusos e, em muitas situações as pessoas não saberiam como se comportar”. (Del Prette; Del Prette, 2001, p. 68).

    Não podemos deixar de mencionar a existência das Competências sociais¹ que estão interligadas com as habilidades² que foram utilizadas no referido estudo.

    Os autores salientam que “[...] a competência social implica em um grau de eficiência na relação interpessoal com situações relacionais bem sucedidas e também Em muitos estudos sobre habilidades e competências sociais, os autores, os tratam como sinônimos, porém Curran, Farel e Grunberg (1984 apud Arón; Milicic 1994, p.20) entendem que a “[...] competência se refere à qualidade de adequação a uma tarefa específica, enquanto o termo habilidades sociais relaciona-se ás habilidades específicas que são requeridas de uma pessoa em determinada tarefa. Entendimento este utilizado neste estudo”.

    Mas afinal, como ela, as habilidades sociais podem ser exploradas, no contexto educacional? Este questionamento nos remete ao que entendemos como estratégia pedagogicamente correta, como as aulas de educação física podem levar a criança a aprender de forma divertida. Considerando a aprendizagem um processo interativo, logo, dependente das interações sociais, podendo relacionar a perspectiva de Vygotsky, a qual nos disse que o sujeito aprende à medida que adquire informações, valores, habilidades, etc. Ou seja, é necessário criar condições para que os educandos se tornem cidadãos independentes, que pensem e atuem por si mesmos e compreendam o contexto sócio-histórico no qual estão inseridos. Para Martins (2002, p.7) baseando-se em Vygotsky, “[...] espera-se que eles [os educandos] sejam pessoas livres de manipulações e conduções externas e que consigam ter a capacidade de pensar e examinar criticamente as idéias que lhes são apresentadas e a realidade social que partilham”.

    Promover o aprendizado a partir dessa perspectiva foi o fio condutor deste estudo, no qual as práticas, além de prazerosas, apresentaram relações que não se limitaram ao ensinamento de técnicas meramente esportivas ou de desenvolvimento motor. Ou seja, constituíram-se em um conjunto de atividades que propiciaram a interação social pelas quais, os educandos (re)-constroem significados e aprendem a partir de sua interação com os outros e com o meio.

    As atividades propostas visaram também fomentar o entendimento e a apreensão de regras de conduta social utilizando a regra do jogo, ou seja, tornar conhecidos os limites acerca do que as crianças podem fazer ou não e as regras relativas ao espaço e tempo em que se encontram (educação e disciplina), e o respeito às diferenças.

    Isto porque partimos do entendimento de que a Educação Física ajuda as crianças a perceberem as potencialidades de seu próprio corpo e por meio de atividades e brincadeiras, as crianças desenvolvem suas habilidades motoras, aprendem a se socializar com o professor e com os colegas e interagem com o meio que os rodeia (RAMIREZ 2007). Compreendida dessa forma, que as atividades de Educação Física devem ser planejadas de forma a suscitar o interesse dos educandos pelas aulas, e desta forma conforme aponta Freire (2006), ensinar exige respeito aos saberes dos educandos e, aos educadores, é imperativo respeitar o conhecimento e a experiência social que o educando já tem. Ao respeitar a realidade dos educandos, valorizando e escutando o que dizem e pensam, novos conhecimentos poderiam ser agregados tanto por educandos, quanto educadores.

    Nessa perspectiva, os exercícios escolhidos para a prática das aulas devem partir de uma orientação de ludicidade e a criação de um ambiente descontraído. Isso porque a idéia principal de trabalhar a Educação Física com as crianças é, essencialmente, despertar o interesse das crianças pela prática das atividades, destacando e desenvolvendo os aspectos educativos, motor, cognitivos, afetivos e sociais (ALVES, 2007). Esta abordagem metodológica pode tornar as aulas mais atrativas aos alunos, fazendo com que participem das atividades com mais entusiasmo.

    O processo de ensino e aprendizagem em Educação Física, portanto, não se restringe no simples exercício de certas habilidades e destrezas. Antes, trata de capacitar o indivíduo a refletir sobre as suas possibilidades corporais e, com autonomia, exercê-las de maneira social e culturalmente significativa e adequada. A Educação Física possui conteúdos específicos, que permitem às crianças experimentarem e provarem, de forma rica e variada, diferentes alternativas de movimento. Exercitar-se fisicamente desenvolve a sensomotricidade, a motricidade geral e pode servir de base para um posterior treinamento das habilidades específicas, mas ao mesmo tempo também leva ao desenvolvimento das habilidades sociais.

    Avalia-se também, que é essencial que haja a interação entre professor educando e educando professor para que ocorra uma efetiva troca de experiência entre ambos, e conseqüentemente a aprendizagem seja possível. Concordamos com Oliveira (2004, p. 106), que afirma que

    [...] a tarefa educacional não se resume ao mero exercício de ensinar. Ensinar é um meio, não um fim. ‘Para que’ ensinar está refletido nos objetivos a serem alcançados. ‘O que’ ensinar sintetiza as necessidades dos alunos. ‘Como’ ensinar implica fazer corresponder à ação à intenção pedagógica. Educação não é sinônimo de polidez, quietude, disciplina, obediência, nem mesmo ilustração. Educação também não é sinônimo de aprendizagem, quando despida de valores abonados pelo grupo social. Educação Física é Educação, na medida em que reconhece o homem como o arquiteto de si mesmo e da construção de uma sociedade melhor e mais humana. Onde não será necessário ‘levar vantagem em tudo.

    Portanto, podemos compreender que por meio das aulas desenvolvidas ludicamente, o professor consegue aproximar os educandos cada vez mais de si, e isso faz com que os educandos confiem no professor. Isso nos relata a colocação de Luckesi (2005, p.18), onde afirma que os educadores precisam acolher, nutrir, sustentar e confrontar seus educandos. Isso faz com que os educandos sintam segurança e confiança em seus professores, e assim consigam enxergar na figura do educador uma pessoa que possa lhes ajudar a construir novos conhecimentos.

    Diante desses entendimentos deparamos com a necessidade de compreender que tipo de atividades podem ser utilizadas nas aulas de Educação Física, para que a mesma seja prazerosa aos alunos. Encontramos um caminho nos pequenos e médios jogos, pois os mesmos podem ser utilizados como instrumento para o despertar as habilidades sociais.

    Para as crianças e jovens que estão em fase escolar, nas aulas de Educação Física o esporte praticado, é muitas vezes entendido de maneira competitiva e com a finalidade da participação para a obtenção da nota.

    Com esse entendimento, nós acadêmicos do curso de Educação Física propussemos aos alunos da 5ª série do ensino fundamental da Escola Básica Professora Maria Dutra Gomes, a prática dos pequenos e médios jogos, para desenvolver e aprimorar as principais habilidades sociais capazes de modificar o comportamento individual, favorecendo ao aluno, um convívio de qualidade com seus colegas e a melhor atuação nas aulas práticas.

    Cabe aqui mencionar o conceito dos jogos que utilizamos como referência para o desenvolvendo de nossas intervenções, conforme Lleixá (2002, p.28) citando: Pequeno Jogo que consiste em regras fáceis e em menor quantidade com número reduzido de participantes utilizando locais restritos para execução; e os Médios Jogos que possuem regras pré-estabelecidas, em locais maiores (quadras), com números de participantes distribuídos igualmente entre as equipes.

    Estes jogos serviram de estratégias para alcançarmos o objetivo principal deste trabalho foi onde o aluno poder ampliar suas potencialidades motoras, cognitivas e principalmente sócio-afetivas, necessárias ao desenvolvimento de habilidades sociais que serão levadas consigo durante toda a vida.

    Desta forma, o brincar e o jogo não são apenas atividades realizadas sem um objetivo ou propósito, o jogo é um dos conteúdos previstos nos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998), que “ressalta em benefícios intelectuais, morais e físicos e o erige como elemento importante no desenvolvimento integral da criança”.

    Assim, podemos evidenciar que os jogos são também previstos no PCN, evidenciando sua importância, pois através deles, objetiva-se que os alunos sejam capazes de:

    Participar de atividades corporais, estabelecendo relações equilibradas e construtivas com os outros, reconhecendo e respeitando características físicas e de desempenho de si próprio e dos outros, sem discriminar por características pessoais, físicas, sexuais ou sociais” e ainda “conhecer, valorizar, respeitar e desfrutar da pluralidade de manifestações de cultura corporal do Brasil e do mundo, percebendo-as como recurso valioso para a integração entre pessoas e entre diferentes grupos sociais e étnicos (Ibid, p.63).

    Para o professor de Educação Física as brincadeiras são de suma importância para o desenvolvimento do objetivo de aula, que é dar um grande suporte para o desenvolvimento do aluno. Por isso, podemos afirmar que há um vinculo muito forte entre a Educação Física e os diversos tipos de Brincadeira, principalmente se estas estão inseridas nos pequenos e médios jogos.

    É muito importante para os alunos das aulas de Educação Física, ter em seus professores a confiança de poder brincar e se expressar, a cada minuto da aula.

    Brincar com as crianças e permitir o tempo necessário para que elas possam criar, requer do adulto – educador - conhecimento teórico sobre o brinquedo e o brincar e muita paciência e disciplina, observar sem interferir em determinadas atividades infantis, além da disponibilidade para (re) aprender a brincar recuperando/construindo sua dimensão brincalhona. (FARIA, 1999, p.213)

    Seja qual for a atividade desenvolvida pelo professor, este, não poderá deixar de observar a corporeidade de cada aluno, sendo este, um fator importante que faz com que seu educando tenha expressão corporal e liberdade de ação.

    Neste sentido a categoria corporeidade, revela Santin (2001) é um dos componentes da essência humana entendido como uma parte da totalidade da condição humana. Assim sendo, a educação física busca trabalhar a corporeidade, o ser humano, pensando-o como um ser indivisível, onde seu corpo é o meio maior de expressão do seu eu, ou seja, “a expressão da realidade corporal, e não o discurso de um sujeito pensante sobre seu corpo” (SANTIN, 2001 p. 121).

    Podemos pensar então, no jogo como uma forma de trabalhar esta corporeidade, pois “no jogo está presente a idéia de liberdade e de espontaneidade; a idéia do acaso e da aleatoriedade” (Ibid, p. 129) e ainda “é a restauração dos possíveis como sendo alternativas prováveis de acontecer, enquanto opções resultantes de decisões de vontades conscientes, mas sujeitas à aleatoriedade da mera causalidade. Estamos diante da incerteza do que pode vir a acontecer” (Ibid, p. 130).

    Não podemos deixar de destacar a cultura, sendo ela, um dos principais conteúdos para a Educação Física, porque as manifestações corporais humanas são geradas na dinâmica cultural desde os primórdios da evolução até hoje, expressando-se, se diversificando e com significados próprios no contexto de grupos culturais específicos.

    Percebemos, que aspectos educativos, motores, cognitivos e sociais, são primordiais na vida do ser humano, desta forma não seria diferente no contexto escolar e mais especificamente nas aulas de Educação Física, que é o local da expressão de todos estes aspectos unidos em prol das habilidades sociais.

2.     Análise de dados

    As intervenções que realizamos na Escola Básica Professora Maria Dutra Gomes, representaram para nós acadêmicos do Curso de Educação Física, uma maior visão da importância do profissional desta área. Além disto, nos mostrou a necessidade deste profissional valorizar seus alunos e capacitá-los a refletir sobre as suas possibilidades corporais, e, com autonomia, exercê-las de maneira social, cultural e significativamente adequada, onde as Habilidades Sociais tornam-se naturais em seu cotidiano.

    A partir das intervenções no ambiente escolar, desenvolvemos nossa intervenção do estágio supervisionado com a temática das Habilidades Sociais através dos Jogos, onde trabalhamos atividades relacionadas aos pequenos e médios jogos de maneira lúdica.

    Realizando a primeira intervenção, mostramos aos alunos o objetivo principal de estarmos diante deles. Argumentamos a importância deste processo de estágio para nossa formação e o quanto seria prazeroso e também importante a eles, essa vivência, já que estaríamos trabalhando princípios de respeito a si e aos seus pares, valorização, amizade, compreensão, atenção e aceitação dos professores em aula. Com isso, de acordo com suas possibilidades cada aluno desenvolveu as atividades propostas sem se preocupar com nossa conversa inicial, apenas queriam ter o prazer de jogar e competir. Então, podemos constatar de inicio, que ambas as turmas não apresentavam facilidades referentes às atitudes relacionadas com habilidades sociais, nem tão pouco, possuíam clareza na conversação ao término da aula (feedback). Dentro das habilidades escolhidas com objetivo principal de trabalharmos o respeito e dignidade que são critérios que definem um individuo, escolhemos a Habilidade Social Assertivas, Habilidades Sociais de Expressão de Sentimento e as Habilidades Sociais de Comunicação, pertencentes a um bloco maior, que compõe as Habilidades Pró Sociais, estas que são as mais coniventes com nossa atuação dentro do contexto escolar, desta forma os autores Del Prette e Del Prette (2001,p.54) salientam a importância do desenvolvimento das habilidades sociais no espaço escolar.

    [...] este que é um espaço privilegiado, onde se dá um conjunto de interações sociais que se pretendem educativas. Logo, a qualidade das interações presentes na educação escolar constitui um componente importante na consecução de seus objetivos e no aperfeiçoamento do processo educacional.

    O ponto forte deste planejamento era propiciar o aparecimento de atitudes solidárias dentro do jogo, e elas apareceram de forma tímida, mas devemos ressaltar que ainda foi um saldo positivo em detrimento a quantidade de alunos por sala. Dentre as habilidades sociais de expressão de sentimento, temos a solidariedade, esta depende de um elemento fundamental chamado de interdependência, ela “[...] está relacionada à premissa, defendida por muitos, de que fazemos parte de uma rede que coloca cada pessoa, estando ou não próxima, em dependência recíproca das demais” (Del Prette e Del Prette, 2001, p.218).

    Em um dos nossos planos de aula, elaboramos uma atividade que consistia em cada aluno ficar com os dois pés em cima de uma folha de papel. Esta brincadeira é similar a brincadeira Dança da Cadeira, ao invés do professor retirar a cadeira e excluir um aluno, o mesmo retirava a folha de papel do espaço delimitado e ao som do apito, o aluno que não encontrasse a folha, deveria se unir a outro que estava em cima do papel. Essa atividade foi realizada com o objetivo principal de verificarmos o quanto os alunos estavam divididos em gêneros, relacionamento ou se havia exclusões na turma. O que foi possível perceber que o fator gênero nesta atividade, não causou nenhuma situação relevante, fatores mais comuns são amigos inseparáveis, individualidade (todos querendo uma folha e não pensando em dividi-la) e só realizavam qualquer divisão da folha de papel, caso a voz ativa do professor entrasse em ação, estimulando o compartilhamento do material. Desta forma o professor, orientou-os na direção de atitudes solidárias, estas que poderiam conduzí-los a um melhor aproveitamento no jogo, assim sendo Del Prette e Del Prette (2001, p.100) salientam que a solidariedade deve ser um

    [...] exercício humano [...] que desdobra-se em um conjunto de habilidades que se funda na identificação com o outro,enquanto integrante de uma vida interdependente, na compreensão das contingências a que cada um está sujeito e na disposição de oferecer ajuda.

    Em várias intervenções percebemos que ao realizarmos certas atividades com os alunos, estes não tinham a noção de espaço e tempo, onde muitas vezes aconteciam choques com outros colegas e ocorrência de pequenos arranhões.

    A orientação espaço-temporal tem relação com a capacidade do ser humano de perceber o ambiente e a forma de como se relaciona nele com seu corpo, com os objetos ou com as pessoas, através de suas ações motoras. Essa capacidade está mais relacionada com a forma de perceber as informações relativas às estruturas do meio ambiente e com a duração dos acontecimentos que nele acontecem. (GALLARDO, 2000, p. 42).

    Todas as vezes que aconteciam essas situações tínhamos que parar a atividade, pedir para os alunos terem mais cuidado, respeitar o espaço do colega e ter controle sobre seu próprio corpo.

    Com o decorrer das intervenções, a noção de espaço e tempo foi melhorando gradativamente, mas quando alguma atividade era mais complexa como, por exemplo, uma situação de jogo de competição, novamente tivemos que explicar as noções dos mesmos. Após as explicações, os alunos entendiam e davam continuidade a atividade executando-a de maneira correta. Desta forma o mecanismo que fez a diferença no entendimento das regras foi o feeedback fornecido pelo professor aos alunos a cada momento que a falta de atenção ou de compreensão se fez presente. Portanto podemos dizer que conforme destacam Del Prette e Del Prette (2001, p.68) “[...] dar e pedir feedback constituem habilidades essenciais para regularmos nossos desempenhos e os das pessoas com quem convivemos visando relações saudáveis e satisfatórias”.2

    Outra atividade que destacamos é a brincadeira intitulada Bola nos Cantos, onde propositalmente dividimos a turma em duas grandes equipes A e B, em cada canto da quadra. No lado do time A na parte do fundo colocamos uma base (bambolê) cheio de bolas e no outro canto uma base vazia que era a prisão. O objetivo da atividade consistia em pegar as bolas da equipe contraria e armazená-las no depósito do seu time. O aluno que tentasse atravessar a quadra para pegar a bola e fosse pego pelo time contrário seria encaminhado para a prisão. Este só poderia sair quando alguém do seu grupo atravessasse a quadra e fosse até a prisão resgatá-lo. O objetivo final era pegar todas as bolas e levá-las até a base e salvar todos os integrantes da equipe da prisão. Ao fazermos isso, percebemos que os alunos mais ágeis e populares da sala ficavam de posse da bola e passavam somente para os amigos mais íntimos. Os outros colegas ficavam incomodados com essa atitude e na maioria das vezes não queriam mais participar da brincadeira. Reclamavam que tinha muita gente e pelo espaço ser pequeno (delimitamos meia quadra) não dava para se movimentar. Logo, paramos a atividade, conversamos com os alunos perguntando o que eles tinham achado da brincadeira, procuramos estimular situações em que cada equipe deveria elaborar estratégias para conseguir vencer. Pedimos que todos participassem sem excluir nenhum colega da turma, mas, a quebra de regras por razões do individualismos falou por diversas vezes mais alto. Isso nos remete as colocações de Tani (1988, p.133) quando diz que

    A competição pode revelar o melhor de um indivíduo permitindo-lhe testar a si próprio diante de possibilidades por ele não conhecidas, constituindo-se num aspecto positivo da competição. Porém, quando um indivíduo recorre a meios ilícitos, prejudicando ao outro, o aspecto negativo da competição se faz sentir.

    Portanto, entendemos que quando os alunos competem não significa que eles não entendem as necessidades de respeitar seus colegas e as regras, mas pelo desejo de vencer quebram as regras indo de encontro ao que apontam Del Prette e Del Prette (2001,p.74) quando dizem que a competência assertiva depende do respeito e dignidade dado a seus pares, podendo este “fazer qualquer coisa desde que não viole os direitos de alguma outra pessoa”.

    Cabe destacar também as habilidades de resolver problemas, pois observamos ao decorrer das aulas que os alunos tinham dificuldade em tomar decisões para resolver um problema e organizar equipes.

    Segundo Taffarel (1985, p.24), “os alunos deverão ser capazes de perceber e definir problemas, buscar idéias, avaliá-las e experimentá-las, diversificando suas respostas em relação a determinados problemas da educação física/esportes”.

    Em algumas brincadeiras queríamos que eles conversassem entre si para a conclusão e a definição dos colegas nas equipes. Muitas vezes, nós tivemos que explicar como isso era resolvido, parar as confusões geradas por eles e retomar o que tínhamos solicitado. Para uma melhor compreensão destacamos a brincadeira tradicional chamada de pega corrente, que se caracteriza em pegar um colega objetivando o aumento crescente da corrente ao redor e dentro dos limites da quadra de vôlei. Percebemos que os problemas apresentados se resumiram em dois fatores: o primeiro foi a não preocupação com as limitações do amigo, falta de velocidade e força; o segundo foi à falta de acordo referente aos deslocamentos, ocasionando o rompimento da corrente. Esses fatores causavam a quebra de regras, tombos e discussões. Em nossa compreensão ficou caracterizado no comportamento dos alunos a competição e não a cooperação concordando com De Melo (1981) que salienta que as brincadeiras de pegas e cabo de guerra são jogos de competição aonde se destaca a disputa física entre os participantes. O diálogo e cooperação entre o grupo eram imprescindíveis para este tipo de atividade, e confirmando a importância da cooperação ressalta Seybold (apud Arribas 2002, p.143) que “[...] também na educação física, a prática surte maiores efeitos formativos se cada um não pratica por si só, mas sim, vários juntos com a finalidade de alcançar uma meta comum”.

    No fim, promovemos um momento de reflexão sobre a aula, fizemos perguntas provocadoras para saber a posição dos alunos sobre a atitude do grupo, referente às atividades propostas. Fizemos questão de ressaltar a importância de que cada aluno deve conseguir resgatar e/ou adquirir seus direitos inerentes as habilidades assertivas como estabelecer a defesa dos seus direitos e do outro. Direito de ver suas necessidades consideradas tão importantes quanto às necessidades dos demais. Direito de expressar suas opiniões e direito de ser ouvido e levado a sério, pois conforme destacam Del Prette e Del Prette (2001, p.77) “As divergências devem ser enfrentadas dentro dos princípios do direito a liberdade de expressão e do respeito as diferentes opiniões”.

    Realizamos em outro momento de intervenção, a brincadeira da queimada, pertencente às brincadeiras da cultura popular, pois esta favoreceu nossa análise, considerando uma atividade conhecida pela maioria. Os alunos, não se preocuparam com as regras, apenas se expressaram, desprenderam-se de qualquer preocupação ao cumprir o objetivo da queimada. Com isto, obtivemos uma ampla visão dos alunos. Sendo assim, percebemos que de início as turmas estavam tranqüilas, porém foi no desenvolvimento desta atividade que elas iam confirmando suas habituais atitudes e nos apresentando situações comportamentais diferenciadas. Nossos objetivos nesta intervenção era verificar na atividade principal a compreensão e o respeito às pequenas regras, respeito às limitações do outro e a solidariedade dentro do jogo. O que observamos foi a dificuldade na compreensão e respeito às regras, mas, podemos dizer que quando não existe a compreensão pelo aluno de algo que deve ser realizado, o mesmo acaba não respeitando. Este fato na realidade não significa que não respeitem e sim que seu comportamento é a resposta a sua capacidade de compreender. Portanto, podemos dizer que quando o professor não se faz entender pelo aluno, ele acaba dificultando o processo de aprendizagem do mesmo, pois acreditávamos que por ser uma brincadeira tradicional, todos sabiam seu objetivo principal, o que na verdade não aconteceu. Paramos a brincadeira, explicamos como ela funcionava e com rapidez a atividade foi reiniciada e tudo correu perfeitamente bem.

    Isto nos mostra que para o professor desenvolver nos alunos as habilidades sociais (assertivas, de expressão e comunicação) ele também precisa observar o processo e reconhecer suas limitações, e sendo exemplo de atitudes. Ou seja, conforme destaca Del Prette e Del Prette (2001,p.219) “[...]se traduz pela firme disposição de reconhecer o outro tal como ele é, respeitando as diferenças percebidas, assumindo que qualquer objetivo de mudança deve passar pelo crivo de ambas as pessoas em interação”.

    Salientamos também que ao final de cada aula, quando fazíamos o feedback com os mesmo, perguntávamos o que eles achavam da aula e as sugestões para a melhoria de alguns problemas encontrados pelos próprios alunos e se tinham acontecido nas brincadeiras os objetivos apontados no inicio das aulas. Isso contribui muito para a nossa experiência profissional, pois,

    A comunicação entre professor e aluno/participante deve estender-se igualmente nos três planos da atividade esportiva. Ela deve acontecer de tal modo que não se faça exclusivamente em uma direção, por exemplo: do professor que diz, indica, fixa, explica... para os participantes, enquanto estes fazem, executam, agem... a comunicação deve estar tanto dirigida à forma quanto ao conteúdo. (DIECKERT, 1997, p.81).

    Somente ao final das nossas práticas na escola, percebemos que todas as dificuldades entre os alunos apontadas nesta análise, foi sendo diminuída e que todos chegavam a uma mesma conclusão final, ou seja, percebiam a cada término das aulas as atitudes erradas e quais as possibilidades de resolveram a falta de habilidades sociais. Considerando este um fator positivo pois, a professora regente da turma observou e validou a mudança efetiva de comportamento dos alunos em aula.

    Portanto, percebemos que embora o conteúdo explorado tenha uma continuidade, cada momento de vivência é único, singular e não só pode como deve levar o aluno e também nós professores a reflexão sobre tudo que acontece. Como fala LIBÂNEO (1994, p. 251),

    [...] o professor não transmitem apenas informações ou faz perguntas. Não estamos falando da afetividade do professor para com determinados alunos, nem de amor pelas crianças. A relação maternal ou paternal deve ser evitada, porque a escola não é um lar. Os alunos não são nossos sobrinhos e muito menos filhos. Na sala de aula, o professor se relaciona com o grupo de alunos. Ainda que o professor necessite atender um aluno especial ou que os alunos trabalhem individualmente, a interação deve estar voltada para a atividade de todos os alunos em torno dos objetivos e do conteúdo da aula.

    Aprendemos com as intervenções que todas as ações pedagógicas devem promover oportunidades de respeito mútuo e atitudes solidárias, e que cada aula é singular, correndo o risco de não atingirmos nossos objetivos, todavia a perseverança é um princípio, uma virtude, que o profissional deve cultivar para atingir suas metas.

    Assim, nada mais justo que possibilitar a vivência dos jogos nas aulas de educação física, procurando despertar a importância das habilidades sociais assertivas e de expressão em cada aluno, podendo contribuir como a formação dele enquanto ser humano. Fazendo assim com que estes, adquiram competências para um agir autônomo, consciente e socialmente saudável, buscando ser um cidadão crítico e respeitado.

3.     Considerações finais

    As intervenções realizadas na instituição contribuíram para nossa formação docente e também para o aprimoramento do desenvolvimento motor, cognitivo e social de todas as crianças envolvidas neste processo de construção, estruturando assim o movimento e sua identidade.

    Com a temática, podemos perceber que através das intervenções de Estágio Supervisionado, as aulas de Educação Física podem ter diferentes estratégias para que o “brincar” se torne prazeroso, até porque nestas intervenções, mesmo aplicando jogos com objetivos de vencer ao final, o que estávamos avaliando e observando eram as atitudes de Habilidades Assertivas, Habilidades de Expressão e de Comunicação. Assim possibilitamos aos alunos vivencias com jogos, onde aprenderam explorar seus movimentos livremente para a construção de sua personalidade em convívio com os demais.

    Assim compreendemos que o papel do professor enquanto mediador é muito importante nesse momento, pois dá ao aluno a compreensão de que as atividades lúdicas são as principais maneiras de praticar aulas de Educação Física diferenciadas e divertidas.

    Através dos resultados positivos obtidos neste estudo, o fortalecimento e a nova experiência vivida nas intervenções do Estágio Supervisionado, nos deu a oportunidade de esclarecer que as Habilidades Sociais têm contribuições importantíssimas para a construção da vida da criança/aluno para ser completo e não fragmentado e para nós enquanto professores e educadores para uma vida profissional transformadora e renovadora.

    É com satisfação que relatamos nosso aprendizado nas intervenções, pois a cada dia conseguimos conquistar o respeito e o carinho dos alunos e mais que isso, percebemos que as habilidades assertivas e de expressão de sentimento positivo, já fazem parte da realidade de muitos alunos, principalmente nas aulas de educação física.

    Ao finalizarmos todo esse processo de pesquisa-ação, verificamos as contribuições que o profissional de Educação Física tem a oferecer no processo educacional relacionado ao comportamento dos alunos que ao deixarem a escola estarão utilizando as habilidades sociais por toda a vida.

Notas

  1. Competência Social – Segundo Arón; Milicic, (1994, p. 19) “O conceito de competência social refere-se a conjunto de habilidades que a criança mobiliza ao deparar-se com situações interpessoais.”

  2. Habilidades – As que estarão mencionadas neste artigo serão: Habilidade Pró- Sociais que está subdividida em: Habilidade Assertiva e enfrentamento e as Habilidades de Expressão de Sentimento Positivo .

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