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Introdução

    Atualmente, já está claramente demonstrado que a nutrição afeta o desempenho físico e que, associado ao potencial genético e ao treinamento adequado, é um fator fundamental para o sucesso. Os nutrientes obtidos por uma alimentação equilibrada são essenciais na formação, reparação, reconstituição de tecidos corporais, mantendo a integridade funcional e estrutural do organismo e tornando possível prática da atividade física (McARDLE et al, 2003 apud KABKE et al, 2009).

    A natação é um dos esportes mais completos que existem hoje. É um esporte recomendado por profissionais da área de saúde, sendo inúmeros seus benefícios, tais como: uma melhor qualidade do sono, resistência muscular, melhor captação de oxigênio pelos pulmões, melhor circulação do sangue no coração, entre outros (BARBIERI et al, 2007).

    De acordo com o Ministério da Saúde e o Ministério da Educação (1986), a infância e a adolescência (a qual compreende a faixa de 10 a 19 anos), são os períodos mais críticos e importantes em relação aos aspectos motores, seja quanto a fatores biológicos ou culturais, nos quais o organismo se encontra especialmente sensível às influências dos fatores ambientais (BARBIERI et al, 2007).

    A adolescência é considerada um período decisivo onde ocorrem várias mudanças na composição corporal. Variação do tamanho, formato do corpo, largura dos ombros, circunferências, tamanho de mãos e pés, massa magra e percentual de gordura são algumas das variações de cada indivíduo. Esses fatores todos estão relacionados com uma melhor performance mesmo nos níveis moderados de exercícios entre nadadores adolescentes (BARBIERI et al, 2007).

    Nos últimos dez anos, considerável número de profissionais do esporte tem se destacado em idades muito jovens. É justamente pelos bons resultados obtidos por esses atletas e pelo interesse em atividades esportivas, que uma elevada proporção de jovens tem procurado os clubes de iniciação esportiva. A idade precoce para o início das atividades esportivas tem ocorrido graças à complexidade dos movimentos técnicos e ao alto grau de habilidade motora requisitado pelos esportes competitivos (BARBIERI et al, 2007).

    A antropometria é um método de investigação em nutrição, baseado na medição das variações físicas e na composição corporal global. Pode ser aplicado em todas as fases de vida e permite a classificação de indivíduos e grupos segundo seu estado nutricional. Dependendo do método utilizado, tem como vantagens ser barato, simples, de fácil aplicação e padronização, além de pouco invasivo. Ademais, possibilita que os diagnósticos individuais sejam agrupados e analisados de modo a fornecer o diagnóstico de coletivo, permitindo conhecer o perfil nutricional de um determinado grupo. A antropometria, além de ser universalmente aceita, é apontada como sendo o melhor parâmetro para avaliar o estado nutricional de grupos populacionais (VIEBIG, 2006).

    Apesar de requerer boa técnica por parte do avaliador, permite estimar não só a gordura corporal, mas também a massa muscular e óssea (BARBIERI et al, 2007).

    Com base nessas informações, o objetivo do presente estudo é avaliar o perfil antropométrico de atletas nadadores da cidade de São Caetano do Sul, São Paulo, através da coleta de dobras e circunferências antes e depois da intervenção nutricional.

    O tema foi escolhido para mostrar a importância da nutrição no esporte e incentivar a participação do profissional de nutrição nessa área ainda pouco difundida.

Metodologia

    Estudo do tipo transversal, constituído de levantamento de dados antropométricos de atletas praticantes da modalidade de Natação da cidade de São Caetano do Sul, estado de São Paulo, no ano de 2009.

    A amostra foi composta por 32 atletas com idade entre 12 e 20 anos, sendo 15 do gênero feminino e 17 do gênero masculino.

    Informações quanto à estatura e ao peso corporal são bastante úteis quanto ao crescimento, porém essas informações isoladamente não são suficientes para responder a uma série de questões relacionadas aos diferentes tecidos que compõe o peso corporal (BARBIERI, 2007).

    Foram coletadas dobras cutâneas (triciptal, biciptal, subescapular, torácica, axilar média, suprailíaca, abdominal, da coxa e da panturrilha), circunferências (da cintura, abdominal, do braço, do tórax, do quadril, da coxa e da panturrilha), além de peso e altura.

    Foram utilizados o adipômetro científico e fita métrica ineslástica da marca Sanny, estadiômetro com alcance de centímetros e balança com precisão de 100g.

    O índice de massa corporal (IMC) foi classificado de acordo com a OMS (1998) para atletas acima de 20 anos, e de acordo com OMS (1995) para os demais atletas.

    Para calcular o percentual de gordura utilizou-se o protocolo de Slaughter et al (1988) para atletas de 12 a 17 anos, o protocolo de Jackson et al (1980) para atletas do gênero feminino acima de 17 anos, e o protocolo de Jackson & Pollock (1978) para atletas do gênero masculino acima de 17 anos.

    Após uma análise desses dados, foi elaborada uma dieta individualizada que deveria ser seguida durante dois meses (de setembro de 2009 à novembro de 2009) para que pudéssemos avaliar eventuais perdas de medidas e gordura corporal.

    Em novembro, novas medidas foram coletadas utilizando-se dos mesmos métodos e equipamentos, para análise da eficácia da dieta em cada um dos atletas. Os dados foram tabulados e analisados por meio de comparação.

Resultados

    Foram avaliados 32 atletas, 15 do gênero feminino e 17 do gênero masculino. As médias de idade e altura encontradas no gênero feminino foram de 15,1 anos e 163,1 cm, respectivamente. Já no gênero masculino 15,3 anos e 173,2 cm, respectivamente.

    As categorias estudadas foram infantil, juvenil, júnior e sênior. Na categoria infantil, estudou-se 7 meninos e 7 meninas. Na juvenil foram estudados 7 do gênero masculino e 4 do gênero feminino. Na categoria júnior foram estudados 3 atletas, 2 do gênero masculino e 1 do gênero feminino. Na sênior foram estudados também 3 atletas, 2 do gênero feminino e 1 do gênero masculino.

    Em relação ao IMC, 29 atletas estavam eutróficos antes da intervenção e permaneceram eutróficos após a intervenção nutricional. Uma atleta estava eutrófica e migrou para faixa de risco para baixo peso. Uma atleta estava em sobrepeso antes da intervenção e continuou sobrepeso, apesar de ter reduzido peso e gordura corporal. E, por fim, uma atleta estava eutrófica e migrou para sobrepeso, por ter ganhado peso após a intervenção.

    Com relação às dobras cutâneas, os indivíduos do gênero feminino apresentaram uma média de redução maior se comparada à média apresentada pelo gênero masculino.

    As dobras de maior redução foram a suprailíaca (DCSI) e a triciptal (DCT) no gênero feminino; e DCSI e abdominal (DCA) no gênero masculino.

    Realizamos a média de perda de dobras cutâneas em milímetros, separando por gênero, como mostra a tabela 1.

Tabela 1. Média da perda, em milímetros, de dobras cutâneas, após intervenção nutricional,

separada por gêneros, em atletas de Natação da cidade de São Caetano do Sul em 2009.

Legenda: DCT dobra cutânea triciptal; DCB dobra cutânea biciptal; DCSE dobra cutânea subescapular; 

DCSI dobra cutânea supra-ilíaca; DCA dobra cutânea abdominal; DCP dobra cutânea da panturrilha.

    Ao analisar as circunferências, percebe-se perda de medidas no gênero feminino e ganho de medidas no gênero masculino. Dos 17 indivíduos do gênero masculino, 14 ganharam medida em circunferência do braço e peitoral e 10 ganharam medida na circunferência da coxa. Em relação aos 15 indivíduos do gênero feminino, 4 ganharam medida na circunferência de peitoral e 3 na circunferência da coxa. Nas outras medidas nenhuma delas apresentou aumento.

    Realizamos a média de perda ou ganho de medidas nas circunferências analisadas de acordo com gênero, como mostra a tabela 2.

Tabela 2. Média de perda ou ganho, em centímetros, de circunferências corporais, após intervenção 

nutricional, separada por gêneros, em atletas de Natação da cidade de São Caetano do Sul em 2009

Legenda: CB circunferência do braço; CP circunferência da panturrilha; CC circunferência da coxa.

    Em relação ao peso corporal, o gênero feminino apresentou perda média de peso de 207 gramas e o gênero masculino apresentou ganho médio de peso de 406 gramas.

    Ao analisar o percentual de gordura no gênero feminino, constatamos uma diminuição em todas as participantes, mesmo que 4 delas tenham tido um pequeno aumento no peso corporal. A diminuição no percentual de gordura variou entre 1,76% e 12,94%, com média de 7,46%, como mostra a tabela 3.

Tabela 3. Comparativo de percentual de gordura antes e após intervenção nutricional em atletas femininas da modalidade de Natação da cidade de São Caetano do Sul em 2009.

    Em relação a percentual de gordura no gênero masculino, dos 17 atletas avaliados 14 tiveram diminuição na porcentagem de gordura corporal, 2 tiveram aumento e 1 manteve a mesma porcentagem.

    Dos atletas que tiveram seu percentual de gordura corporal diminuído, 6 haviam perdido peso após a intervenção. Os demais avaliados que tiveram redução em percentual de gordura, mesmo com aumento de peso, reduziram as dobras utilizadas no protocolo.

    Dos atletas que tiveram seu percentual de gordura corporal aumentado, todos haviam ganhado peso após a intervenção e tiveram todas suas dobras cutâneas utilizadas no protocolo aumentadas.

    O atleta que manteve seu percentual de gordura teve um ligeiro aumento de peso de 200g, mas que não interferiu em suas dobras cutâneas.

    A tabela 4 mostra os percentuais de gordura antes e depois da intervenção nutricional, e a respectiva redução ou aumento em porcentagem.

Tabela 4. Comparativo de percentual de gordura antes e após intervenção nutricional em atletas masculinos da modalidade de Natação da cidade de São Caetano do Sul em 2009

    A média de perda de percentual de gordura entre os gêneros não apresentou grande diferença.

Discussão

    O IMC é uma variável que deixa de considerar a composição corporal do atleta, considerando somente a altura e o peso. Por isso devemos utilizar outras medidas para não se fazer uma classificação errônea da composição corporal (subestimando ou superestimando) (McARDLE, 2001).

    Os estudos de Schneider, Rodrigues e Meyer (2005) e Bencke (2001), afirmam que o incremento na produção de hormônios anabólicos que ocorre durante a puberdade afeta a hipertrofia muscular. Como o gênero masculino tem uma produção maior desses hormônios, eles tendem a ter maior desenvolvimento muscular que o gênero feminino. Isso justifica o fato de a circunferência do braço ter aumentado no gênero masculino no presente estudo.

    De acordo com McArdle (2001), o percentual de gordura de atletas da modalidade de Natação (um esporte de resistência), deve ser no máximo 8% e 16%, para os gêneros masculino e feminino, respectivamente. A média de percentual de gordura encontrado foi acima do proposto por McArdle (2001), sendo de 21,8% e 12,5% para o gênero feminino e masculino, respectivamente.

    Deve-se ressaltar a importância da intervenção nutricional individualizada no desempenho físico do atleta e também em seu estado nutricional.

    Rossi, Tirapegui e Castro (2004) obtiveram resultados que indicam que apesar do curto espaço de tempo, a intervenção nutricional é uma alternativa viável para redução ponderal, com preservação da massa magra e mais aconselhável do que utilização de métodos rápidos, algumas vezes patológicos, que podem colocar em risco tanto o desempenho como a saúde do atleta.

    Schneider e Meyer (2005) encontraram em seu estudo, uma média de idade de 13,6 anos, média de estatura de 1,68 m e média de peso de 56 kg. Em relação ao nosso estudo, na mesma faixa de idade (13,7 anos – categoria infantil) foram encontrados média de estatura de 1,64 m e média de peso de 51,2 kg, mostrando atletas mais baixos e mais leves.

    Lima et al (2001) demonstrou em seu estudo com atletas nadadores e jogadores de pólo aquático, em uma média de idade de 14,9 anos, peso médio de 66,44kg e estatura média de 1,73. No nosso estudo, verificou-se, na mesma média de idade (15,1 anos – categoria juvenil), média de peso de 61 kg e média de estatura de 1,69m. Mostrando assim que os atletas da nossa amostra são mais leves e menores do que os estudados por ele.

Conclusão

    O presente estudo concluiu que uma intervenção nutricional é essencial para uma melhora significativa no desempenho de um atleta.

    Ao avaliar a média das variáveis estudadas, podemos dizer que a intervenção trouxe melhora em perda de gordura corporal, circunferências corporais (que no gênero masculino tem seu tamanho aumentado pelo desenvolvimento da massa magra) e dobras cutâneas. Logo, houve uma mudança no perfil corporal dos atletas.

    Mais estudos precisam ser feitos para que haja uma discussão de resultados mais embasada em dados concretos.

Referências bibliográficas

• BARBIERI, Patrícia Baeta Neves, ADEODATO, Marcela Molinari, SOUZA, Mariana Melo de, ZANUTO, Ricardo. Análise da Composição Corporal de Atletas de Natação da categoria infantil do sexo masculino. Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, São Paulo, vol. 1, nº 2, p. 1-11, Março/Abril, 2007.

• BENCKE, J., et al. Anaerobic power and muscle strenght characteristics of 11 years old elite and non-elite boys and girls from gymnastics, team handball, tennis and swimming. Scand J Med Sci Sports, 2001.

• KABKE, Geórgia Brum, BUCHWEITZ, Márcia Rúbia Duarte, WEYMAR, Antônio. Avaliação Dietética dos Atletas de Natação no período de treinamento em clube de Pelotas. XVIII CIC, XI ENPOS, I Mostra Científica, 2009.

• LIMA, F., et al. Effect of impact load and active load on bone metabolism and body composition of adolescent athletes. Med Sci Sports Exerc, 2001.

• McARDLE, W. D., KATCH, F. I., KATCH, V. L. Nutrição para o desporto e o exercício. Editora Guanabara Koogan: Rio de Janeiro, 2001.

• PRESTES, J., et al. Características antropométricas de jovens nadadores brasileiros do sexo masculino e feminino em diferentes categorias competitivas. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desenvolvimento Humano, 2006.

• ROSSI, L., TIRAPEGUI, J., CASTRO, I.A. Restrição moderada de energia e dieta hiperprotéica promovem redução ponderal em atletas de elite do Karatê. Revista Bras. Ci. e Mov., Brasílis, vol. 12, nº2, junho, 2004.

• SCHNEIDER, Patrícia, MEYER, Flávia. Avaliação antropométrica e da força muscular em nadadores pré-puberes e púberes. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, vol. 11, nº04, jul/ago, 2005.

• SCHNEIDER, P., RODRIGUES, L., MEYER, F. Dinamometria computadorizada como metodologia de avaliação de força muscular de meninos e menias em diferentes estágios de maturidade. Rev Paul Ed Física, 2002.

• VIEBIG, Renata Furlan, PATTON, Cíntia Tamayoshi. Nadadores Mirins Competitivos: Adequação do Estado Nutricional. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, ano 11, nº96, maio/ 2006. http://www.efdeportes.com/efd96/nadador.htm

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