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Inclusão na aula de Educação Física: relato 

de uma realidade no ensino fundamental

Inclusión en las clases de Educación Física: relato de una realidad en la escuela primaria

Inclusion in the lesson of Physical Education: report of a reality in basic education

 

*Profa.do Curso de Educação Física da ULBRA/SM

e Curso de Pedagogia em EAD/ULBRA

Dra. em Psicologia pela PUCRS

Ms. em Ciência do Movimento Humano: Desenvolvimento

Humano-Psicologia do Esporte pela UFSM

Esp. em Pesquisa em Aprendizagem Motora pela UFSM

Líder e coordenadora do Grupo de Pesquisa Psicologia

na Educação Física (GPEF) ULBRA/SM

Coordenadora do Programa Comunitário Educação Física Cidadã na

ULBRA/SM. Coordenadora de Estágio Curricular na ULBRA/SM

**Profa de Educação Física da Rede Publica do

Município de Florianópolis, graduada pela ULBRA/SM

Maria Cristina Chimelo Paim*

Evelise Marconato**

m.crischimelo@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo teve como objetivo verificar como é percebido pelos professores o processo de inclusão de alunos com síndrome de down e se esse processo esta acontecendo de forma positiva para esses alunos em especial nas aulas de Educação Física no ensino regular na cidade de Santa Maria, RS. Participaram do estudo três crianças com síndrome de down, três professores regentes da: educação infantil, segundo e terceiro anos, e um professor estagiário de educação física. Para a coleta dos dados, utilizou-se da entrevista individual semi-estruturada, com os professores regentes das turmas e para o professor de Educação Física, na qual as perguntas versaram sobre o tema inclusão no contexto escolar. E quanto aos alunos utilizou-se a observação dirigida, ou seja, um roteiro de observação com itens que podem contribuir para o estudo. Através da análise dos resultados podemos inferir que: Os professores colaboradores da pesquisa ao serem questionados sobre qual entendimento tinham de Inclusão, revelaram diferentes pontos de vista, e conceituaram-na, de maneira geral, com sendo um fator de interação social; Quanto à participação dos alunos com síndrome de down nas aulas de Educação Física, contata-se que quando há o comprometimento do professor com o aluno, este ganha confiança em si mesmo, e essa atitude do professor faz uma grande diferença no desenvolvimento do aluno, pode-se dizer que com essa atitude começa realmente existir o processo de inclusão.

          Unitermos: Inclusão. Síndrome de Down. Contexto escolar.

 

Abstract

          This study aimed to ascertain how teachers will be perceived by the process of including students with down syndrome and if this process is going in a positive way for these students particularly in physical education classes in regular schools in the city of Santa Maria- RS. Participants were three children with Down syndrome, three of school teachers: kindergarten, second and third years, and a trainee teacher of physical education. To collect the data, we used the semi-structured individual interviews with the teachers of the classes and the teachers of Physical Education, in which the questions were about the subject included in the school context. And the students used the statement addressed, ie an observation script with items that can contribute to the study. By analyzing the results we can conclude that: Teachers research collaborators when questioned about what had understanding of Inclusion, revealed different views, and conceptualized it, in general, as being a factor of social interaction; The participation of students with Down syndrome in Physical Education classes, contact that when there is the commitment of the teacher with the student, it gains confidence in himself, and this attitude of the teacher makes a big difference in student development, it can be say that with this attitude gets really exist the process of inclusion.

          Keywords: Inclusion. Down Syndrome. Educational background.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 148, Septiembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A escolha do tema inclusão de alunos com síndrome de down ocorreu devido ao fato de possuir contato com crianças que possuem esse tipo de deficiência e perceber a difícil aceitação dos mesmos nos bancos escolares. Essa constatação ocorreu durante a realização de projetos extracurriculares, nos quais percebe-se que os alunos com síndrome de down possuem, ainda hoje, uma grande carência de aceitação, embora seja a síndrome mais comum e de maior ocorrência na sociedade.

    A inclusão de alunos com síndrome de down, bem como outros com diferentes necessidades educativas especiais em escolas regulares têm sido um assunto muito citado e discutido entre os educadores. Percebem-se os diferentes pontos de vistas, a favor ou contra a inclusão de crianças com necessidades educativas especiais nas escolas do ensino regular. Desta forma, nota-se que independente do ponto de vista, a inclusão esta acontecendo. Seja a favor ou contra, a inclusão já é uma realidade.

    Para que a inclusão do aluno com síndrome de down no ensino regular realmente aconteça, o professor deve estar disposto e acreditar nela, fazendo com que esta ocorra da melhor maneira possível tanto para o aluno quanto para seus colegas e demais professores da escola, onde todos estejam envolvidos no processo educacional de inclusão dos alunos com necessidades educativas especiais.

    Segundo Mazzota (2003; 2005) a partir de 1990 se reconhece uma tendência das ações governamentais para a educação escolar integrada, com a busca pelo MEC de alternativas que viabilizem a inclusão de portadores de deficiência na rede regular de ensino. Já Castro (2005) corrobora esta idéia ao afirmar que a grande convicção do futuro é que as crianças deficientes tenham as mesmas oportunidades que as crianças não deficientes, pois lhes cabem as mesmas aspirações de realização pessoal e de participação na transformação social. Com isso, as escolas e os professores estão adaptando-se a esta nova realidade. Os professores não devem esquecer que cada aluno é um ser único, uma pessoa que possui uma história de vida diferente, com habilidades, dificuldades e necessidades diversas, caracterizando-se assim um ser com peculiaridades e limitações únicas e irrepetíveis.

    A educação inclusiva tem como base incluir todos os alunos com deficiências no ensino regular. Porem, muitas vezes, não leva em consideração a qualificação e preparo dos professores em receber esses alunos deficientes nas classes regulares. Segundo Winnick (2004); Castro (2005) o programa de educação inclusiva consiste em pôr em prática um novo conceito, que tem como base tornar a educação acessível a todas as pessoas e com isso atender as exigências de uma sociedade que vem combatendo preconceitos, discriminação, barreiras entre indivíduos, povos e culturas.

    Para Mantoan (1998) a educação especial e as conseqüentes discussões sobre a forma de educar crianças com deficiências demonstram novas tendências educativas que convergem para a integração e a inclusão. Cabe redefinir os termos, posto que integração e inclusão, apesar de princípios e propostas semelhantes, compatíveis, constituem conceitos diferentes, sendo a integração anterior à inclusão, e a inclusão uma prática de inserção mais radical, completa e sistemática. Inclusão vai além da simples integração da pessoa ao ambiente escolar normal, ou seja, é integrar desde o primeiro momento, sem exclusão anterior. O conceito refere-se não só a educação, mas a sociedade, e depende da contribuição de todos.

    Para Sassaki (1998; 2006), nos anos 60 e 70 a integração tinha como objetivo preparar a pessoa deficiente para ser aceita na sociedade. Sua prática era baseada no modelo médico da deficiência, segundo o qual tínhamos que modificar (habilitar, reabilitar, educar) a pessoa com deficiência para torná-la apta a satisfazer os padrões aceitos no meio social. Já a inclusão, iniciada nos anos 80 e consolidada nos anos 90, baseia-se no modelo social da deficiência, em que a sociedade deve preparar-se e modificar-se para receber essas pessoas e atender suas necessidades, comuns e especiais.

    Tessaro (2005); Paim (2010) citam que incluir representa muito mais do que inserir fisicamente pessoas deficientes no ensino regular ou em um ambiente comum. Para esses autores, a inclusão implica em dar outra lógica à escola, isto é, pensar em uma escola que não deixe nenhum aluno de fora. Uma escola que atenda a todos sem exceção, que possa ser representada em função das novas demandas da sociedade atual, como também das exigências do novo alunado, é que deve ser instituída. A educação inclusiva propõe acabar com as discriminações com as crianças especiais, educar cidadãos mais conscientes que respeitem o próximo e aprendam a conviver com as diferenças. Se os professores alcançarem os objetivos da educação inclusiva, estará atingindo os benefícios da mesma.

    Pensando nas Políticas Públicas para a Educação Inclusiva, fica decidido na conferência realizada em Salamanca em 1994 que todas as crianças com deficiência devem ser incluídas em escolas comuns, constituindo-se em uma meta a ser atingida em níveis mundiais. Assim pode-se verificar que a Declaração de Salamanca (1994), tornou-se um importante documento que trata dos princípios, da política e da prática da educação para as pessoas com necessidades educativas especiais, reafirmando o direito de todos à educação, Independente de suas diferenças e limitações.

    No site da MEC (2010) encontramos documentos, onde reiteram que a educação das pessoas com necessidades educativas especiais é parte integrante do sistema educativo, ou seja, a lei defende que todos os alunos com necessidades educativas especiais sejam incluídos no ensino regular de qualquer escola, uma realidade que esta acontecendo diariamente.

    Porém, nem sempre, se leva em conta as necessidades de cada aluno deficiente, se o mesmo vai ter benefícios com esta inclusão, também não se leva em conta a preparação dos professores para receber esses alunos. Essas questões devem ser pensadas com muita responsabilidade. Pois quando se acredita na inclusão apenas sob o ponto de vista da legalidade, desconsiderando-se a realidade, restringe-se a uma prática desarticulada, provocando o abandono e o comprometimento da auto-estima das pessoas envolvidas nesse processo.

    Para Tessaro (2005) foi a partir da Declaração de Salamanca que a maioria dos países começou a implantar políticas de inclusão no ensino regular de alunos com deficiência. Dois fatores foram decisivos para que isso pudesse ocorrer: a perspectiva política de construir um sistema escolar de qualidade para todos e a constatação de que todas as crianças possuem características, interesses, habilidades e necessidades individuais, o que torna imprescindível que a escola se adapte a elas. Não se pode deixar que a lei registrada em um papel seja vista como mais importante do que a própria realidade possível.

    Não cabe a esta pesquisa questionar ou criticar sobre o cumprimento destas leis. Mas sim verificar os amparos legais que as crianças especiais têm direito, assim como seus professores também “deveriam” receber respaldo para cumprir com suas obrigações e beneficiar os alunos incluídos. As leis representam um grande avanço no que confere aos direitos do cidadão com deficiência. Também significa uma nova maneira de ver essa parcela da população, tão carente, ainda, de respeito e de espaços próprios.

    A inclusão não dependerá apenas da vontade dos interessados na escola para todos. Não é possível prever o tempo para se alcançar os objetivos da inclusão, mas é preciso iniciar o processo. Deixar de acreditar que as mudanças acontecem tão somente ao se escrever sobre elas, apontando caminhos teóricos para melhoras, sem consolidar a prática.

    Fonseca (1995, p. 202) afirma que “a escola terá de adaptar-se a todas as crianças, ou melhor, à variedade humana”. E ainda, “é falso e displicente supor que as crianças deficientes não dispõem da capacidade de aprendizagem. Nelas a disposição é outra, mais lenta e diferente, mas isso não quer dizer que tal condição seja extinta ou ausente”.

    As discussões sobre integração e inclusão refletem a busca de uma concepção de sociedade menos preconceituosa e segregacionista. A principal meta das escolas inclusivas é desenvolver uma pedagogia centralizada nas crianças, capaz de educá-las sem distinção, além de contribuir para corrigir atitudes discriminatórias e criar uma sociedade mais acolhedora e solidária. Pressupõe-se que diferenças são normais e o ensino deve ajustar-se às necessidades de cada educando, em vez de o aluno ter de se adaptar ao sistema educativo com ritmos e princípios padronizados. Caso contrário ocorre à exclusão.

    Mantoan (1998) defende que “podemos reunir os problemas suscitados pela inclusão de deficientes num conjunto de respostas pedagógicas que buscamos para desvendar sua competência, porque esses alunos têm o direito de viver desafios para desenvolver suas capacidades e de conquistar autonomia social e intelectual, decidindo, escolhendo, tomando iniciativas, em função de suas necessidades e motivações”

    Alguns professores se mostram contrários à inclusão e justificam dizendo não estarem preparados para receber alunos com necessidades educativas especiais, mas é preciso encarar os desafios e buscar as soluções para as dificuldades encontradas com esses alunos.

    Pode-se verificar que a inclusão não é somente inserir o indivíduo nas atividades físicas, em uma integração social, ela é bem mais complexa e séria. Deste modo percebe-se que a inclusão deve ocorrer de maneira completa, respeitando o indivíduo como parte da sociedade de forma produtiva. Neste contexto as aulas de educação física são de fundamental importância para crianças com necessidades educativas especiais, onde os professores devem estar atentos às necessidades e anseios das mesmas, oportunizando varias atividades sociais de maneiras variadas para a integração de toda a turma. Pois é de fundamental importância para o aluno com necessidades educativas especiais se sentir parte de um conjunto de ações, se sentir incluído num grupo com responsabilidades como qualquer outro aluno. O envolvimento do professor de Educação Física nessas atividades é de suma importância, dando uma seriedade para esse tipo de atividade e sem jamais expor o aluno ao ridículo ou deixá-lo ser subestimado. As atividades em grupo são prazerosas e fazem o aluno se envolver de maneira total de maneira harmoniosa.

    Segundo Castro (2005), a atividade física adaptada é composta de uma variedade de áreas de conhecimento com teorias, modelos, ferramentas de ensino e de reabilitação específicos, além de prestar serviços limitados a competências profissionais especializadas. Conforme a mesma autora, o objetivo da atividade física adaptada é integrar e aplicar fundamentos teórico-práticos das várias disciplinas da motricidade humana e áreas vizinhas da saúde e educação.

    Assim, a atividade física adaptada proporciona o desenvolvimento das capacidades dos alunos, bem como a promoção de sua personalidade e a participação ativa na vida social. É de fundamental importância o desenvolvimento psico-social proporcionado durante as aulas de Educação Física, gerando uma maior autonomia nos alunos. As atividades físicas como a dança, o esporte e a recreação desenvolvem nossas habilidades físicas motoras básicas para a vida. Atividades estas que devem ser desenvolvidas com todos os alunos sejam eles deficientes ou não.

    Uma vida ativa voltada ao esporte, recreação e dança é resultante de uma extensa rede de atitudes nos âmbitos político, profissional, social e pessoal. Na política publica de esporte e lazer, desde 1996, a lei é a favor da inclusão. Neste aspecto, a política vigente apóia a participação das pessoas especiais em programas oferecidos à comunidade em geral. Esses programas devem atender as diversas pessoas, oferecendo espaço de integração social (DIEHL, 2006).

    Hoje recebemos diariamente informações e dicas de saúde, beleza e de como adquirir uma vida mais saudável. E com isso podemos perceber que a atividade física traz vários benefícios para saúde. Porem percebe-se que não precisa ser um programa de exercícios potentes e padronizados. Ao contrário, pequenas mudanças que aumentam a atividade física diária permitem que os indivíduos reduzam os riscos de doenças e contribuem para melhor qualidade de vida.

    A atividade física é importante para a boa qualidade de vida de qualquer indivíduo. A aula de Educação Física é fonte de prazer e alegria sempre bem esperada dentro do período na escola. A partir dessas características, percebe-se que a Educação Física pode contribuir com o processo de inclusão de crianças com necessidades especiais na escola regular. Seus conteúdos e objetivos próprios contribuem para o melhor desenvolvimento da criança nos aspectos motor, cognitivo, afetivo e social, lhe proporcionando maior autonomia e qualidade de vida em seu dia a dia.

    Face ao relatado, o presente estudo teve como objetivo verificar como á percebido pelos professores o processo de inclusão de alunos com síndrome de down e se esse processo esta acontecendo de forma positiva para esses alunos em especial nas aulas de Educação Física no ensino regular na cidade de Santa Maria, RS. Através desta pesquisa, pretende-se auxiliar e informar os professores e as pessoas que convivem com crianças com síndrome de down, esclarecendo as dúvidas e os mitos relacionados à discriminação e a inclusão de crianças com síndrome de down. Bem como analisar a aceitação da inclusão em sala de aula, nas aulas de educação física, percebendo as convergências e as divergências do processo de inclusão no ensino regular.

Caminhos percorridos

    Este trabalho encontra-se ancorado na abordagem de pesquisa qualitativa. A pesquisa qualitativa é particularmente útil para investigar questões ligadas à vida das pessoas e aos significados que as mesmas atribuem ao mundo. Silva (2004) coloca que na pesquisa qualitativa, é enfatizada a singularidade e a contextualidade de fatos e eventos, ou seja, os acontecimentos são analisados dentro de um momento histórico específico, buscando examinar o mundo como é experienciado, compreendendo o comportamento humano, a partir, do que, cada pessoa, ou pequeno grupo de pessoas, pensam ser a realidade (BAUER, GASKEL & ALLUM, 2003).

    Conforme Bauer (2003), a pesquisa qualitativa envolve a detenção de dados descritivos obtidos no contato direto do pesquisador com a situação estudada, enfatiza mais o processo do que o produto e se preocupa em relatar a perspectiva dos participantes. O que leva a perseguir essa linha de investigação é, por um lado, o desejo de contribuir para um ensino de qualidade para a maioria da população que freqüenta a escola e, por outro, reconhecimento do importante papel que pode ter o professor nessa qualidade desejada. Diante desta citação, pode-se dizer que essa linha de pesquisa vai ao encontro ao que se quer verificar neste trabalho. Silva (2004) sugere que na pesquisa qualitativa, os sujeitos participantes do estudo são vistos como parte de um todo, em seu contexto natural, habitual, sendo assim o que é mais significativo, são as vivências dos sujeitos, fato que não requer um número grande de participantes. Assim, no presente estudo participou como sujeito três alunos com síndrome de down incluídos no ensino regular do ensino fundamental: anos iniciais; um professore estagiário de Educação Física dos alunos com síndrome de down e três professores regentes da turma de uma escola da Rede Pública de Ensino da Cidade de Santa Maria, RS.

    Para a coleta dos dados, utilizou-se da entrevista individual semi-estruturada, com os professores regentes das turmas e para o professor de Educação Física, na qual as perguntas versaram sobre o tema inclusão no contexto escolar. O objetivo do uso da entrevista em pesquisa qualitativa é a compreensão detalhada das crenças, atitudes, valores e motivações, das/os sujeitos a respeito do que está sendo investigado (BAUER, GASKEL & ALLUM, 2003). E quanto aos alunos utilizou-se a observação dirigida, ou seja, um roteiro de observação com itens que podem contribuir para o estudo. Foi observada a relação do professor com o aluno com síndrome de down e como ele estava inserido nas aulas de Educação Física. Foram realizadas várias visitas a diferentes escolas na cidade de Santa Maria-RS, porém foram encontradas dificuldades quanto à coleta de dados, porque as escolas estavam sem os transportes escolares, inviabilizando a ida dos alunos. Esse problema se dera pela da falta de pagamentos por parte do governo com os transportes, deixando os alunos por meses sem aula. A escolha da escola foi pelo fato de possuir um grande histórico de inclusão, tendo vários alunos com síndrome de down incluídos em diferentes turmas.

    Setúbal (1999) coloca que o procedimento metodológico qualitativo está voltado para o fenômeno a ser estudado, e não para a investigação causal dos fatos ocorridos, tendo, desta forma, como objetivo compreender a experiência humana como um todo. Com este propósito, na presente pesquisa foi utilizada a Análise de Conteúdo (AC), para procedermos à interpretação e compreensão das falas das/os participantes. A análise de conteúdo, segundo Bauer (2003) rompe com os esquemas rígidos e formais de muitos procedimentos de análise de dados, à medida que no seu fazer-se constante se reconstrói para dar conta da reflexão teórica de um conhecimento já construído nas práticas sociais. Apresenta-se assim como outra forma de olhar para as comunicações, o que, dependendo da visão política e teórica, do pesquisador, poderá conduzir à produção de um conhecimento novo, onde estará presente a história e a cultura dos sujeitos participantes.

Resultados e discussões

    A descrição e análise das informações coletadas foram realizadas utilizando como referência as entrevistas individuais semi-estruturadas feitas com o professor de educação física, os professores regentes das turmas; as observações do pesquisador através das anotações no diário de campo e o referencial teórico através da problemática. No processo de análise das informações, procurou-se preservar a identidade dos sujeitos analisados como também da escola selecionada para o estudo. Os alunos então são identificados pelas turmas: aluno da 3° série, aluno da 2° série e a aluna da educação infantil. A partir dessa analise foram elencadas as seguintes categorias: o que é inclusão para os professores e como acontece a participação dos alunos com síndrome de down nas aulas de educação física;

O que é Inclusão para os Professores de Educação Física e os Professores regentes das turmas dos alunos observados

    Os professores colaboradores da pesquisa ao serem questionados sobre qual entendimento tinham de Inclusão, revelaram diferentes pontos de vista, e conceituaram-na, de maneira geral, com sendo um fator de interação social. Conforme os relatos dos professores entrevistados, os alunos com síndrome de down evoluem durante o processo de aprendizagem segundo o seu ritmo porem, possuem dificuldades maiores na escrita e gramática. Considerando o processo de aprendizagem destes são beneficiados pela inclusão principalmente nas aulas de educação física e espaços culturais da escola.

    Percebe-se aqui, que o professor estagiário de Educação Física, tem uma representação de inclusão, construída a partir apenas dos benefícios de interação social, pois para esse professor esta criança não consegue acompanhar a turma, porque o mesmo não sabe ler, nem escrever e participa muito pouco nas aulas de Educação Física, assim sendo a inclusão deste é apenas de caráter social. Segundo o professor:

    “A inclusão é uma forma de inserir alguém em determinado meio”. (Professor de Educação Física)

    Porem, inserir alguém em um determinado meio é fazer com que este seja parte deste meio, interaja com o meio, mas no caso do aluno com síndrome de down não houve isso durante as aulas de Educação Física. Pois o aluno não estava inserido nas atividades, ou seja, não estava participando da aula.

    Essa percepção vem ao encontro com Tessaro (2005), quando explica que o ensino inclusivo não representa apenas juntar em um mesmo espaço físico alunos com deficiência e alunos considerados dentro dos padrões de “normalidade”. Significa, em um sentido mais amplo, incluir todas as pessoas independentemente de seu talento, deficiência, nível socioeconômico ou cultural em salas de aula com todas as suas necessidades atendidas.

    Este ponto de vista salientado é também compartilhado pela professora regente da turma do aluno com síndrome de down da 3º série, onde temos o seguinte recorte:

    “A inclusão do aluno com síndrome de down nesta turma, é social (convívio com os colegas). Na aprendizagem é um aluno que não acompanhou nenhum conteúdo dado. Ele só conhece algumas letras do alfabeto e conta até o número onze. É um aluno que eu tentei começar o processo de alfabetização. Porem, ele resiste. Quando percebe que a atividade não é igual dos outros, não faz. Acho muito difícil de trabalhar com ele. Com a turma de 30 alunos ditos “normais” com dificuldades de ler e escrever, como posso dar atenção especial ao aluno com síndrome de down, para este tentar acompanhar a turma... ele deveria ter vindo a 3° série sabendo ler e escrever, para poder tentar acompanhar a turma. E ainda se recusa a realizar qualquer atividade em sala de aula diferente dos seus colegas, sendo assim como posso alfabetizá-lo?...” (Professora regente do terceiro ano)

    Percebe-se aqui, a incessante preocupação da professora com o aluno incluído, que não apresenta um rendimento escolar satisfatório.

    Conforme Tessaro (2005) aceitar o ideal da inclusão escolar não implica mudanças num “passe de mágicas”, mas sim em ações de toda a comunidade acadêmica, isto é, de professores, alunos, pais e outros na luta pela conscientização do direito à cidadania. Colocam a sensibilização e a conscientização da comunidade acadêmica como pré-requisitos fundamentais para que se consiga refletir criticamente em torno de conhecimentos, informações e sentimentos de pessoas com deficiência.

    Porem, a professora regente da aluna com síndrome de down incluída na educação infantil, relata que:

    A inclusão para ela é uma lei que foi feita e somos obrigados a cumpri - lá, sendo que não recebemos o respaldo necessário para a realização de um trabalho de excelência. Na lei o professor tem direito a assistência e auxilio para trabalhar com alunos especiais em sala de aula, mas na verdade isso não acontece. Não se recebe nenhum auxilio. Então a inclusão é mais uma politicagem, é muito bonita no papel, mas não vai de acordo com a realidade das escolas. Os alunos especiais recebem as mesmas oportunidades que os outros e conseguem aprender alguma coisa. (Professora Regente da educação Infantil)

    Este relato vem ao encontro com Tessaro (2005), onde diz que não basta uma proposta se tornar lei para ser imediatamente aplicada, porque muitos são os aspectos a serem considerados. Não se pode desconsiderar, ignorar as barreiras, as dificuldades, a falta de estrutura, ou seja, as poucas condições ao se implantar um projeto dessa natureza.

    A professora regente também relata que a aluna com síndrome de down da educação infantil, tem oito anos de idade e deveria estar na 1º série, pois se é inclusão ela deveria estar incluída na série conforme a sua idade. Essa aluna já está participando da educação infantil pelo terceiro ano, sendo que este é seu primeiro ano nesta escola.

    Já a professora regente da 2º série do aluno com síndrome de down quando questionada sobre inclusão diz o seguinte:

    “Incluir é aceitar, conviver, trabalhar com as diferenças. O mais importante é você aceitar as diferenças. Dedicar-se a um trabalho sabendo que será exaustivo e difícil, não fazer tudo igual, entender e compreender a criança especial ou não, como única. Exigir quando necessário, “deixar passar” conforme a situação, fazer tudo com objetivo- prudência- paciência - carinho”. (Resposta da professora regente da turma 2º série, questionário)

    Verificou-se durante as observações, o grande carinho e amor que esta professora dedica aos seus alunos. Sempre dedicada com a turma toda, ensinando valores, principalmente o respeito. Comprometida com os verdadeiros ideais de inclusão, de respeito com as diferenças e de estimulo com a participação do aluno com síndrome de down durante todas as atividades. Podemos confirmar isto nos relatos desta professora quanto aos seus sentimentos sobre a inclusão.

    Ferreira (2002) nos diz que a escola regular, se preparada pode ser um ambiente propício para a socialização e a integração. A escola comum só é benéfica se puder atendê-la se estiver contribuindo no processo de desenvolvimento global.

Como acontece a participação do aluno com síndrome de down nas aulas de Educação Física

    Durante as observações realizadas com o aluno da 3º série, verificou–se pouca participação nas aulas de Educação Física. O aluno mantinha-se na maior parte do tempo alheio as atividades praticadas pelos colegas, não lhe eram dadas informações sobre as atividades que seriam realizadas durante a aula, ou seja, do que ele deveria fazer naquela atividade, o que acabava dispersando esse aluno.

    Foram raríssimos os momentos em que o aluno interagia e participava de alguma brincadeira proposta pelo professor. Também pude perceber pouca motivação pelo professor em inserir o aluno com síndrome de down em todas as brincadeiras durante a aula de educação física.

    Contudo, o professor estagiário de Educação Física relata que o aluno participa “normalmente” das atividades propostas pelo professor junto com os colegas, porem não foi o verificado durante as observações.

    O que seria normalmente para este professor? Participar quando bem entender, quando der vontade, ficar sem entender as atividades e manter-se alheio durante toda a aula. Uma aula de Educação Física com todos os alunos participando de todas as atividades propostas pelo professor e motivados acredito que é o normal para o ideal de uma aula de Educação Física. Sendo que, não deve existir exclusão de aluno nenhum em nenhuma atividade, porque independente da cor, estatura ou deficiência, todos os alunos devem participar das aulas de educação física sem discriminação ou exclusão.

    Tessaro (2005) diz que atualmente parece ser um consenso que os professores do ensino regular não têm preparo, seja teórico seja metodológico, para participar da inclusão escolar. Nas aulas ministradas pela professora regente da turma, verificou-se maior participação pelo aluno, maior comprometimento do professor para a participação deste aluno nas atividades. Percebe-se assim que o comprometimento do professor com o aluno faz uma grande diferença na confiança deste aluno em participar da aula, e também a motivação deve ser constante para que o aluno participe de todas as brincadeiras durante a aula.

    Conforme Tessaro (2005) ao pesquisar atitudes de professores em relação às crianças com deficiência incluídas no ensino regular, sugere que as crianças podem incluídas fisicamente, mas serem excluídas por meio de atitudes sociais e acadêmicas dos professores. A relação do professor com o aluno é essencial para que este faça parte do meio em que está inserido, sem haver exclusão em momento algum.

    Já nas aulas de Educação física observadas com a aluna da educação infantil e com o aluno da 2º série, verificou-se que a participação deste foi efetiva em todas as atividades. Pois os alunos realizavam todas as brincadeiras propostas pelas professoras (educação infantil - estagiária de Educação Física, 2º série professora regente da turma) e nos momentos em que se dispersaram a suas respectivas professoras os incluíam novamente nas atividades, sem ficar nenhuma ocasião sem participar.

    Constatou-se durante as observações a semelhança entre estas duas professoras, que estavam preocupadas em incluir seus respectivos alunos especiais em todas as atividades. Sempre buscando despertar a motivação destes alunos nas brincadeiras e um cuidado para que eles não fossem excluídos por nenhum colega.

Conclusões e sugestões

    Este estudo foi uma tentativa de analisar como está acontecendo à inclusão de alunos com síndrome de down, no ensino regular na cidade de Santa Maria, RS. Com base nos resultados encontrados neste estudo, percebeu-se que:

    Os professores colaboradores da pesquisa ao serem questionados sobre qual entendimento tinham de Inclusão, revelaram diferentes pontos de vista, e conceituaram-na, de maneira geral, com sendo um fator de interação social. Apenas uma professora se mostrou realmente a favor da inclusão. Percebe-se também que há despreparo dos professores para trabalhar com alunos incluídos em sala de aula e também há falta de incentivo governamental para sua qualificação no que diz respeito à inclusão.

    Quanto à participação dos alunos com síndrome de down nas aulas de Educação Física, contata-se que quando há o comprometimento do professor com o aluno, este ganha confiança em si mesmo, e essa atitude do professor faz uma grande diferença no aprendizado e interação do aluno durante o desenvolvimento das atividades na aula, sendo a aprendizagem mais lenta quando comparada a dos seus colegas. Pode-se dizer que com essa atitude de comprometimento do professor é que começa realmente existir o processo de inclusão.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 15 · N° 148 | Buenos Aires, Septiembre de 2010
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