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Contribuições da consciência corporal através 

da dança para alunos do ensino médio

Contribuciones a la conciencia corporal a través de la danza para alumnos de escuela media

 

Graduada em Bacharel e Licenciatura em Dança

pela Universidade Federal de Viçosa

Pós-graduanda de Teatro e Dança na Educação

pela Faculdade Angel Vianna

Faz parte do grupo de pesquisa Transdisciplinar em Dança

da Universidade Federal de Viçosa, atuando nas linhas

Dança e Educação e Dança e Grupos Especiais

Priscilla Alvarenga Rocha

priscilla_alvr@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo retrata a aplicação de aulas de Consciência Corporal através da Dança para os alunos do Ensino Médio do Colégio Armstrong de Campo Belo-MG. Realizadas durante o mês de julho, de segunda a sexta-feira, as aulas tiveram duração de duas horas e propunham reflexões acerca de partes fragmentadas do corpo, permitindo que em seu cotidiano, o aluno pensasse e refletisse acerca da sua postura, tonicidade, equilíbrio, conscientizando-o das suas possibilidades e limites corpóreos. Através de uma pesquisa qualitativa, este artigo buscou relatar as vivências proporcionadas aos alunos através da dança, fornecendo uma maior pesquisa acerca dos movimentos das articulações dos pés, dos joelhos e da coluna, reeducando e conduzindo-os a sentirem cada parte, vivenciando de forma apropriada e estando consciente dos entraves da vida cotidiana. Por fim, podemos constatar que ao observarem seus corpos em movimento, os alunos puderam orientá-los e alinhá-los as estruturas dos membros (pernas e braços) e focá-los ao ajuste central (coluna e cabeça), evidenciando assim os sinais que seus corpos anunciavam. Além disso, buscaram ajustar de forma consciente a maneira de se locomoverem, suas posturas, percebendo as conexões entre os segmentos e fortalecendo a dinâmica corpo/mente. Enfim, as aulas ministradas proporcionaram aos alunos refletirem acerca da estrutura corporal como um todo, considerando-a uma unidade funcionalmente integrada cuja projeção ocupa espaço, tornando-se, assim, mais atentos para com as suas sensações, a dinâmica dos seus movimentos, a tonicidade e o equilíbrio dos seus corpos.

          Unitermos: Educação corporal. Conscientização do movimento. Dança.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 148, Septiembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    Observamos que os alunos hoje adquirem hábitos e vícios de forma rápida, seja pela postura ao se assentar na sala de aula, o peso das mochilas, a ausência de atividades corpóreas, entre outros fatores. Esses hábitos estruturados ao longo dos anos incorporam-se na natureza dos discentes, tornando-se imperceptíveis e fornecendo tensões.

    Para que ocorra a modificação desses hábitos, segundo Imbassaí (2003) é necessário um sentimento de insatisfação em relação a eles e desejo de modificá-los. A autora afirma, também, que o indivíduo necessita se conscientizar para que novos hábitos sejam criados.

    Essa consciência dos movimentos permite ao aluno utilizar seu corpo da forma apropriada, refletindo acerca de cada movimento, fornecendo atenção as suas sensações, sobre a dinâmica, a postura, a tonicidade e o equilíbrio do corpo.

    Para Imbassaí (2003) a consciência corporal é um instrumento pedagógico, cuja proposta é abrir os canais da percepção sensorial, trabalhando com elementos constitutivos de uma organização corpo-mente sadia, equilibrada, reguladora das tensões, organizadora da postura, promovendo um interrelação entre o mover, o sentir e o pensar.

    Através de aulas de Dança é possível realizar essa conexão, pois aborda todo o corpo, movendo com junturas e músculos, informando sobre a estática, o equilíbrio, além de melhorar as condições posturais, repondo energias desgastadas e harmonizando todo o organismo.

    Observamos, assim que o trabalho com a consciência corporal através de elementos da Dança pode fornecer aos alunos uma maior reflexão acerca de seus movimentos e do seu corpo como um todo, detectando suas tensões e procedendo á regulagem das mesmas, estimulando a sensibilidade própria aos ossos, músculos, tendões e articulações.

    Neste sentido acreditando nos benefícios que o trabalho com a consciência corporal pode proporcionar aos alunos, visamos ministrar no Colégio Armstrong de Campo Belo-MG, aulas de Dança com foco na consciência corporal aos alunos do Ensino Médio, que se encontravam na faixa etária de quinze a dezessete anos, buscando levá-los a pensarem mais acerca de seus corpos, pesquisando os movimentos das articulações dos joelhos, pés e da coluna, reeducando, refletindo e sentindo cada parte, vivenciando de forma apropriada e estando consciente das limitações da vida cotidiana.

2.     Aporte metodológico

    Este estudo consistiu na aplicação de aulas abertas em caráter extra-curricular para os alunos de quinze a dezessete anos do Colégio Armstrong de Campo Belo-MG. As aulas foram no período das férias escolares, contendo vinte adolescentes que já praticavam alguma modalidade de Dança, sendo as mais comuns Balé e Jazz. Essas foram a convite da diretora da escola, que almejava proporcionar aos estudantes do Ensino Médio uma atividade durante o mês de julho.

    As aulas ministradas aconteceram no grêmio do próprio colégio, sendo realizadas de segunda a sexta-feira, com duração de duas horas, em um período de um mês.

    Para realizarmos os relatos acerca das aulas, analisar e descrever como foram as atividades e suas contribuições para os alunos, buscamos trabalhar com um estudo qualitativo, de natureza exploratória que segundo Neves (1996) nos leva a obter dados descritivos mediante o contato direto do pesquisador com o objeto de estudo, procurando entendê-lo, situando suas percepções.

    Os dados foram coletados a partir de um questionário com sete perguntas abertas e uma fechada, buscando informações acerca das aulas e suas contribuições para o discente. Além disso, os entrevistados assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido que nos permitiu analisar e divulgar os conteúdos prescritos.

    Coletaram-se, também, informações dos alunos após cada aula, através de conversas informais sobre suas reflexões e percepções durante as atividades.

3.     Desenvolvimento das aulas

    As aulas de Dança ministradas enfatizavam a Consciência Corporal, conduzindo os alunos a realizarem movimentações mais pensadas e condizentes com a anatomia dos seus corpos, evitando assim possíveis lesões e proporcionando mais equilíbrio, tônus e dinâmica corporal.

    Antes da aplicação das aulas foram relatados aos alunos quais seriam seus objetivos, afirmando que trabalharíamos com a consciência corporal, buscando uma auto-regulação do tônus e de organização postural.

    Foi elucidado, também, à necessidade de estarem mais atentos às sensações, a dinâmica, a postura, a tonicidade, ao equilíbrio e buscarem ter cautela com seus corpos. Vianna (2005, p.139) afirma que “o corpo tem suas leis, como a natureza, é preciso atenção e cuidado para não agredi-lo”.

    Além disso, foi exposto que o trabalho seria com partes fragmentadas do corpo, abordando as articulações dos pés, dos joelhos e da coluna vertebral. As demais articulações não foram abordadas, devido ao pouco tempo que seria realizado o trabalho, buscando assim, o aprofundamento somente dessas, consideradas mais relevantes devido à má postura dos alunos, a curvatura do arco plantar dos seus pés serem planas ou côncavas, a projeção dos joelhos estarem para dentro da linha média do corpo ou demasiadamente para fora, o que futuramente pode afetar a organização corporal desses discentes.

3.1.     Pés

    Inicialmente foi realizado um trabalho com os pés, pois esses facilitam a distribuição da energia acumulada pelas diversas partes do corpo, quando bem utilizados. Porém, muitas vezes o andar acontece em cima dos ombros, o correr com a língua, concentrando a força nas partes erradas.

    Devido a essa importância dos pés no corpo humano e a necessidade de reflexão acerca da sua atuação em movimento, a aula se iniciou com um deslocamento pelo espaço, onde os alunos deviam focar sua atenção aos seus pés, observando como se deslocam, quais as partes entram em contato com o solo, se pisam conduzindo-os para fora ou para dentro e se estão fornecendo espaço ou não para as articulações.

    Essa atividade foi de extrema importância, pois ao observar seus pés, os alunos puderam descobrir o seu próprio corpo, seu ritmo, e somente desse modo começaram a refletir acerca do seu deslocamento cotidiano, sensibilizando essa articulação muitas vezes ignorada. Vianna (2005, p.122) confirma essa afirmação expondo que “[...] por meio da observação e da percepção dos movimentos mais elementares, cria-se um código com o corpo, começa-se a sensibilizar as partes mortas e a liberar as articulações”.

    Além dessa atividade, durante algumas aulas foram realizados exercícios em uma barra,1 como, demi e grand-pliés2 e battement tendus.3 Durante a execução desses movimentos os discentes eram instigados a observarem como seus pés se portavam, se atentando para as bordas internas externas, e as partes que tocavam ou não o solo.

    Durante essa atividade, alguns alunos afirmaram perceber o quanto estavam massacrando suas falanges,4 apresentando muita dificuldade em parar de contraí-las. Os discentes foram orientados então, que fornecessem espaços a esses ossos, permitindo que os pés se movessem sem contrações, apertos ou encolhimentos dos dedos.

    A professora explicitou a importância dessas percepções, pois assim, ao mover a articulação dos pés, o aluno pode espaçar os ossos das falanges, procurando não contraí-las. Além disso, relatou que à medida que começamos a percebê-las e a modificarmos os espaços, trabalhamos também a visão de mundo, ótica das coisas e das pessoas, se tornando pessoas mais conscientes.

    Em outras atividades, a docente também proporcionou aos alunos um maior conhecimento acerca dos seus pés. Como, em uma aula em que foi levado barro e os estudantes deveriam colocar seus pés nessa lama e “carimbá-los” em folhas sulfite. A partir dessa atividade os discentes puderam observar atentamente quais as partes não entravam em contato com a folha e a compará-los com slides levados pela docente que mostravam como poderiam ser classificados.

    Segundo Aragushi (2009) os pés podem ser classificados como, planos, cavos e normais. Os pés planos têm pouca curvatura no arco plantar5 e deixam uma pegada quase completa no solo. Já os pés cavos têm uma curvatura acentuada nesse arco e os neutros apresentam a curvatura normal.

    Ao analisar seus arcos longitudinais mediais alguns alunos desvendaram em qual classificação seus pés se enquadravam. Um dos educandos ao descobrir que seus pés eram planos, pode avaliar o quanto necessitava ter consciência dos seus movimentos, procurando pensar acerca do seu contato com o solo, buscando alinhá-los aos joelhos, não permitindo que as bordas internas tocassem completamente o chão.

    Ao refletir acerca dessa necessidade de se ter mais consciência ao deslocar e mover os pés ao pisar no solo, os alunos poderão evitar futuras compressões da rede nervosa que causam os neuromas de Morton entre os dedos, provocando inflamações intensamente dolorosas, resultando na impossibilidade de caminhar ou simplesmente apoiar-se sobre os pés. (DIAS, 2007, p. 1)

    Buscando então, essa maior consciência, foram realizadas também, reproduções de movimentos criadas pela própria docente, onde os alunos deveriam se atentar para o movimento dos seus pés, não se esquecendo de pensar na execução à medida que os realizava. Essas movimentações se caracterizavam com flex (flexão de 90º dos pés), ponta (extensão dos pés, criando uma única linha entre a perna e os pés.), pliés, petit battements tendu, deslocamentos na meia ponta, com os calcanhares, com a borda externa ou interna em contato com o chão, conduzindo-os a pensarem acerca do seu deslocamento, das partes que entram em contato ou não com o solo, além de trabalhar a musculatura do pé, fortalecendo-a.

    Através dessas atividades, os alunos puderam observar como os pés se portavam ao realizar um giro, ao sustentar o corpo com apenas um apoio, ao se deslocar de costas, refletindo assim, acerca das suas percepções. Os discentes se mostraram muito interessados nessa atividade, perguntando acerca de problemas futuros que poderiam apresentar e concentrados, buscavam analisar os seus movimentos em contato com o solo.

    Observamos, então que o trabalho com essa articulação foi relevante, pois proporcionou aos alunos um maior conhecimento dos seus corpos, permitindo que não realizassem apenas movimentos técnicos pelo espaço, mas que refletissem acerca da maneira de se deslocar, pensando os seus pés como um todo, como um influenciador na dinâmica de outras partes do corpo, como o quadril e joelhos, levando-os a corrigirem sua marcha e a fortalecerem a musculatura dos pés.

3.2.     Joelhos

    Além do trabalho com os pés, foi realizado também, um estudo acerca da articulação dos joelhos.

    Inicialmente os alunos foram questionados sobre a periodicidade da prática de atividades físicas intensas. Muitos afirmaram a freqüência alta de exercícios e foi exposto que estão sujeitos a sofrerem lesões, principalmente nos joelhos, em virtude da exposição e de sua anatomia, bem como pelas necessidades funcionais a ele impostas. Segundo Rodrigues e Silva (2002) o joelho é responsável pelo sistema locomotor, pois ele funciona como uma "dobradiça" que realiza principalmente a extensão e a flexão da perna sob a coxa, permitindo assim nos locomovermos.

    Além disso, cada indivíduo apresenta projeções diferenciadas nessa articulação, que foram consideradas ao se realizar as atividades propostas pela docente.

    Segundo Rodrigues e Silva (2002) os joelhos podem ser valgos, varos e flexos. O valgo se caracteriza pela projeção dos joelhos para dentro da linha média do corpo, causada, geralmente, pela hipertrofia da musculatura lateral da coxa e/ou hipotonia da musculatura medial da coxa. Já os varos são projeções dos joelhos para fora da linha média do corpo. E nos flexos, ocorre a projeção dos joelhos para frente, fazendo com que a linha de gravidade passe por cima ou por traz dos joelhos.

    Buscando realizar atividades que enfocassem essas particularidades dos indivíduos, foram trabalhados exercícios de fortalecimento e alongamento dos músculos, como bíceps femoral, flexores de joelhos (semitendinoso, semimembranoso, bíceps femoral e poplíteo). Além disso, a abdução de quadril, o deslocar com as bordas internas dos pés e alongamentos passivos com medicine-ball (bolas específicas para treinamento físico) entre os tornozelos foram essenciais nas aulas.

    Outras atividades solicitadas foram à realização de movimentos técnicos de balé na barra e no espaço central da sala. Esses se caracterizavam como pliés an dedans (flexões de joelho em que os pés se encontram alinhados para frente), en dehors (flexões em que os pés, coxas e joelhos realizam uma rotação de 180º), passes (uma perna permanece esticada e a outra está dobrada, com o pé ao lado do joelho da perna de sustentação.), norteando esses movimentos sempre pelos joelhos. Os alunos, não apresentaram problemas em realizá-los já que a grande maioria já havia participado de aulas de jazz ou ballet. Porém, a dificuldade enfrentada foi refletir ao executar o movimento, pois não observavam o desempenho dessa articulação, realizando apenas o movimento de forma mecânica. Entretanto, foi solicitada essa percepção, levando-os os alunos a pensarem acerca de sua automação de movimentos, que despreza e prejudica sua qualidade corporal.

    Observamos então, que nas atividades ministradas os discentes tiveram a oportunidade de conhecer melhor a anatomia dos seus joelhos, percebendo-os, analisando-os e buscando movê-los de forma mais consciente. Deste modo, os estudantes puderam trabalhar suas articulações isoladamente, recuperando, assim, a percepção da totalidade.

    Por fim, percebemos que cada aluno pode experimentar as possibilidades de movimento dos joelhos, distinguindo seus limites, reeducando suas posturas e dinâmicas corpóreas.

3.3.     Coluna Vertebral

    A coluna vertebral também foi estudada pelos alunos. De acordo com Rodrigues e Silva (2002) ela é o eixo central do corpo, envolvida no mecanismo de transmissão e coordenação dos movimentos entre os membros superiores e inferiores.

    Buscando trabalhar esse eixo central do corpo, foram ministrados alguns exercícios direcionados para a articulação da coluna, relembrando aos alunos a necessidade da realização dos movimentos de forma consciente, respeitando os limites dos seus corpos, evitando assim, possíveis lesões.

    Os exercícios trabalhados se caracterizavam por Inclinações do tronco para trás e para os lados, rolamentos em várias direções com os joelhos em contato com o peito, giros do quadril para baixo arqueando as costas, giros dos joelhos para o lado e ao mesmo tempo giros com a cabeça para o lado oposto alongando as costas, entre outros.

    Os alunos ao executarem esses exercícios afirmaram sentir muita dificuldade em fornecer espaços nas articulações e muitas vezes almejavam ultrapassar seus limites. Solicitamos então, que cessassem as movimentações e retrocedessem pensando em todas as partes do corpo já trabalhadas. Foi realizada, assim, uma breve revisão, relembrando como cada parte do corpo deveria estar organizada para a realização das movimentações. Esse trabalho não foi simples, pois os discentes se mostravam enfadados e esse refletir sobre as partes internas exigia muita concentração e força de vontade.

    Além dessa revisão, buscamos trabalhar também, a relação da coluna com o sacro. Em uma das atividades os alunos deveriam se deitar no chão e perceberem quais as partes dos seus corpos se encontravam compactadas com o solo. Foram realizados movimentos partindo do centro do corpo e não das extremidades como braços, pernas, cabeça, entre outras, levando-os a moverem inicialmente a coluna vertebral.

    Outros exercícios foram ainda ministrados, voltando-se para o trabalho do abdômen, coluna, sacro e transferência de peso, buscando auxiliar na sustentação do corpo, equilíbrio, postura e força.

    Esses exercícios se caracterizavam por levantar o corpo do solo e formar um “V” com as pernas e a coluna, apoiar a coluna no chão e formar um ângulo de 90º com o quadril, soltar o corpo para frente e para traz em deslocamentos pelo espaço, em pé, inclinar o tronco e esticar os braços formando um ângulo do 90º, entre outros.

    Essas atividades foram de suma importância, pois os alunos puderam perceber que a resposta para todo trabalho corporal é o centro do corpo, pois a partir dele terão mais equilíbrio e uma melhor elaboração dos movimentos. Alguns alunos afirmaram que as aulas e outras atividades extras que realizavam para fortalecimento do abdômen, estavam cooperando para que se equilibrassem mais em algumas movimentações. Esse depoimento comprova o quanto esse fortalecimento é importante para a execução dos movimentos, tornando-os mais sustentados.

    Além dessas atividades, durante algumas aulas foram realizados exercícios de expansão e contração do abdômen. .A partir dessas movimentações os alunos puderam perceber que a espinha, e todo o tronco, podem dobrar-se para frente, para trás, para os lados e ainda torcer-se a partir dos quadris. Este movimento foi possível devido a um grande número de músculos, alguns dos quais permeiam toda a extensão das costas. Rodrigues e Silva (2002) afirmam que alguns músculos estão ligados aos quadris, e estes agem como um apoio seguro quando a espinha é esticada por tensão muscular. Os autores relatam que a torção é produzida pelos músculos do abdômen.

    A partir dessa afirmação, explicamos aos discentes que os ossos e as articulações estão interligados, por isso não devem ir além dos limites forçando a coluna, os pés, os joelhos, e todas as demais articulações e músculos.

    Observamos então, o quanto as atividades que focavam o trabalho com a coluna vertebral foram relevantes, pois proporcionaram aos discentes um maior fortalecimento do abdômen, equilíbrio, força e uma sustentação melhor do tronco, o que promoveu uma melhora na postura. Além disso, os alunos puderam conhecer mais seus corpos, buscando espaços para suas articulações e respeitando seus limites.

4.     Considerações finais

    Através das aulas ministradas, o docente pode averiguar o quanto os alunos construíram e ampliaram seus conhecimentos sobre o corpo, pois observaram cada articulação e cada movimento realizado pelos seus pés, joelhos, quadril e coluna e viram o quanto é importante que os ossos se movam apenas na direção apropriada, de forma a impedir qualquer movimento inadequado.

    Portanto, as aulas de Dança incentivaram os discentes a refletirem acerca das suas próprias existências por meio da consciência e da percepção, o que é confirmado por alguns alunos que relataram que a partir das aulas passaram a perceber seus corpos, conhecendo-os e pensando em seus sistemas físicos (esquelético, muscular, respiratório e articular), o que contribuiu para uma melhor postura e dinâmica corpórea.

    Através das atividades realizadas, os alunos procuraram observar seus corpos em movimento, orientando-os e alinhando as estruturas dos membros (pernas e braços) e focando o ajuste central (coluna e cabeça), evidenciando assim os sinais que seus corpos anunciavam.

    Observamos também, que alguns discentes puderam corrigir de forma consciente a maneira de se locomoverem, suas posturas, percebendo as conexões entre os segmentos e fortalecendo a dinâmica corpo/mente.

    Deste modo, a tomada de consciência das conexões entre os segmentos permitiu aos discentes apreender a estrutura corporal como um todo, uma unidade funcionalmente integrada cuja projeção ocupa espaço.

    Os discentes asseguraram, também, que se tornaram mais atentos para com as suas sensações, a dinâmica dos seus movimentos, a tonicidade e o equilíbrio dos seus corpos.

    Por fim, puderam perceber a resposta dos seus corpos em relação a todo o trabalho realizado, pois se sentiram mais leves e conscientes em relação à postura, ao modo de se deslocar e exercitar.

Notas

  1. Estrutura de madeira presa a parede. Geralmente é utilizada como apoio das mãos durante os exercícios técnicos de Ballet.

  2. Uma dobra de joelhos. Este exercício torna as juntas e os músculos mais flexíveis e maleáveis bem como tendões mais elásticos. Existe o plié, que é uma dobra não muito acentuada dos joelhos, e o grand plié, onde a dobra dos joelhos é bem acentuada, levantando os calcanhares. (PAVLOVA, 2000, p. 171)

  3. O battement tendu é um exercício que trabalha a parte interna da perna. O movimento se caracteriza pela saída do pé de alguma posição do balé (podendo ser 1º, 2º, 3º, 4º ou 5º) sem que os dedos se desloquem do solo, mantendo os joelhos esticados. Os battements tendus também podem ser realizados em demi-plié (pequenas flexões de joelho). (PAVLOVA, 2000, p. 53)

  4. As falanges são os ossos que formam os dedos dos pés dos vertebrados.(RODRIGUES E SILVA, 2002, p. 2)

  5. Vértice formado pela obliqüidade do maior osso do pé (o calcâneo), é indispensável para obsorver as vibrações verticais, que resultam do apoio do pé no solo, quer na simples marcha, como na corrida ou no salto.(RODRIGUES e SILVA, 2002, p. 3)

Referências bibliográficas

  • ARAGUSHI, C. As Classificações dos pés. 2009. Disponível em: <http://www.alexshoes.net/ajuda_detalhe.asp?ID=25. Acessado> em:16 de dezembro de 2009.

  • DIAS, L. Neuroma de Morton. 2007. Disponível em: http://linhapodologica.blogs.sapo.pt/1952.html?view=58016. Acessado em: 10 de junho de 2010.

  • IMBASSAÍ, M. H. Conscientização Corporal – sensibilidade e consciência no mundo contemporâneo. In: Dança e educação em movimento. São Paulo: Cortez, 2003. (p. 47-57)

  • NEVES, José Luís. Pesquisa qualitativa: características, usos e possibilidades. Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, v.1, nº 3, p. 1-5, 2º semestre/ 1996.

  • PAVLOVA, A. Dicionário de Ballet. 1.ed. Rio de Janeiro. Nórdica, 2000.

  • RODRIGUES, D.C.G., SILVA, R.V. Fisiologia articular dos membros inferiores. 2002. Disponível em: http://www.wgate.com.br/fisioterapia/alternativa/fisiologia_membro_inferior.htm Acessado em: 10 de dezembro de 2009.

  • VIANNA, K. A Dança. 3. ed São Paulo: Summus, 2005.

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